segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Gentle Giant - "Octopus"




Certa vez Tom Jobim, um dos maiores nomes da MPB, se perguntou se o Rock evoluiria para o quarto acorde. Mal sabia ele que sua requintada Bossa Nova seria superada infinitamente em complexidade e riqueza de arranjos e timbres pelo infame estilo que, até então, apenas engatinhava. O Rock, filho maldito do Blues e do Country, mostrar-se-ia um adúltero de primeira, flertando com vários outros estilos e texturas alguns anos mais tarde, como o Jazz, o Bangra, o Folk, o Samba – alguém aí se lembra do Tropicalismo? – e a Música Erudita.

É nesse contexto, de casamento com os mais diversos estilos musicais, que surge o Rock Progressivo, tão martelado por mim nesse blog, e entre os maiores e mais influentes nomes de tal movimento está o genial grupo britânico Gentle Giant. Seu estilo único, abundante em harmonias riquíssimas e melodias pouco convencionais – para não dizer completamente absurdas, em alguns casos –, mesclou com brilhantismo o Rock e a Música Erudita, contendo, inclusive, boas doses de música medieval e renascentista.

O disco escolhido para a resenha de hoje é o quarto trabalho da banda, o reverenciado “Octopus”, de 1973. O Gentle Giant aqui atinge, talvez, seu máximo amadurecimento, estando completamente à vontade no terreno do “Baroque n’ Roll”. Afaste sua irmã adolescente desse disco, e nunca, sob hipótese alguma, mostre-o à sua querida vovó. Os efeitos podem ser extremamente drásticos. A apreciação desse álbum só será possível a mentes extremamente abertas, interessadas por manifestações artísticas ousadas e combinações perigosas. Ser louco também ajuda.



Sem mais delongas, vamos à análise da primeira faixa, “The Advent of Panurge”, um belo exemplo da mistura de influências eruditas de diversas épocas com uma sonoridade mais contemporânea, até mesmo funkeada em alguns trechos. A faixa possui um belo trabalho de polifonia vocal em seu início e em passagens diversas, sempre esbanjando requinte no que tange a instrumentação. É interessante notar os diferentes timbres de sintetizador – jamais ouvidos por mim em nenhuma outra música. O piano também está excelente.

“Raconteur Troubadour”, a mais atmosférica do álbum é, em minha opinião, a decodificação musical de sua capa, totalmente marinha. Em minhas divagações, sempre me ocorre a imagem de um capitão, no interior de seu navio, fazendo anotações em seu mapa – ou diário de bordo – com a lamparina escorregando em cima da mesa, com o balanço do barco; ou então imagino um polvo, lentamente movendo seus tentáculos nas profundezas oceânicas. Onirismo aparte, a faixa apresenta grande variação de timbres e atmosferas, nos transportando do alto-mar para um baile de gala, depois para um circo maluco e, finalmente, de volta para o navio. É, não teve jeito, essa música meche mesmo com minha imaginação...

A mais, digamos, “Rock ‘n’ Roll” do álbum, é a terceira faixa, “A Cry For Everyone”, possuindo um riff mais pesado do que de costume dentro da sonoridade da banda, mostrando sua diversidade e riqueza musical. A faixa, como não poderia deixar de ser, apresenta diversas variações rítmicas e, apesar de não constar entre as mais belas obras do grupo, possui arranjos bem trabalhados e inusitados.

Agora, leitor, prepare-se para uma obra-prima: “Knots”, um dos mais complexos trabalhos de polifonia vocal já ouvidos em todo a música pop. A obra pegará de surpresa o ouvinte menos experiente, e soará a ele como uma incompreensível maçaroca sonora. Aos ouvidos mais maduros, porém, será um sólido alimento, abundante e riquíssimo em arranjos e texturas, além de super original. É de dar nó na cabeça.

A faixa seguinte, “The Boys in the Band”, está entre as favoritas da maior parte dos fãs da banda. O Gentle Giant mostra que realmente não está de brincadeira, esbanjando talento e virtuosismo nos 4:32 minutos de duração da música, explorando os mais variados timbres de seu arsenal em uma massa sonora lancinante. Minha única crítica negativa à faixa é a excessiva repetição de temas que, apesar de excelentes, tornam-se um pouco cansativos. De qualquer forma, eu desafio qualquer banda a executar “The Boys in the Band” sem suar frio.

Depois de todo o exagero sonoro da última faixa, a banda alivia um pouco com “Dog’s Life”, predominantemente acústica e não tão inovadora, apesar de ainda apresentar arranjos e timbres bastante inusitados. Mesmo sem receber grande destaque, trata-se de uma bela faixa.

Dotada de singeleza e doçura pouco comum na discografia do gigante, “Think of Me With Kindness” abunda, ainda, em sons acústicos e baseia-se, principalmente em sua melodia principal, se grandes voos instrumentais. Ainda que mais poderosa e classuda que a faixa anterior, “Think of Me With Kindness” mostra-se também comportada em relação ao restante do álbum.

O disco chega ao fim com a esquisitíssima melodia de “River” – completamente esquizofrênica – que retoma o clima aquático evocado pela segunda faixa. No meio da música, Gary Green ataca com um ótimo solo de guitarra, sustentado por acordes embalados e descontraídos executados por instrumentos tradicionais de Rock. A faixa possui, portanto, passagens mais inventivas e outras mais convencionais e funkeadas – que, sinceramente, chegam a agradar mais, nesse caso específico.

Considerações finais: “Octopus” é considerado um dos grandes álbuns do Rock Progressivo setentista, constando de qualquer lista dos melhores e mais importantes álbuns do gênero. Encontramos aqui uma banda madura que, por mais que escorregue em alguns pontos, consegue firmar-se definitivamente como uma gigante do estilo, ao lado de grupos consagrados como Yes, Jethro Tull e ELP – por mais que não tenham obtido o sucesso comercial das mesmas.

O álbum foi lançado com duas capas distintas: uma feita pelo lendário padrinho do Prog Roger Dean e outra produzida para o mercado norte-americano. Ambas são belíssimas obras, estampando – como não poderia deixar de ser – imagens de um polvo, representando muitíssimo bem a musicalidade do disco – principalmente a versão americana, por apresentar um tom esverdeado, bem marítimo.

Então, caros leitores, a próxima vez que encontrarem um ensoberbecido boêmio, entusiasta dos grandes e renomados mestres da bossa, façam o favor de tacarem-lhe um Gentle Giant na cara para mostrá-lo que o Rock, há muito, não se resume a jaquetas de couro e um balançar de pélvis.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Campanha Jornalista Esperança

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terça-feira, 18 de agosto de 2009

Devaneios de um bêbado insone

Já são quase duas da manhã e eu não consigo dormir. Acho que vou colocar um vinho no congelador. É, vou colocar. Vinho tinto. Catarinense. Safra 1997. Pronto. Já coloquei.
Não sei por que ainda não dormi. Minha cabeça tá vazia, pra variar, era pra eu dormir como há muito não consigo. Um silêncio tumular aqui, por vezes quebrado por um solitário latido de um cão. Óbvio, por que se é latido, de gato não haveria de ser mesmo.
Estou tentando ouvir música, mas não tá adiantando muita coisa. Amy Winehouse. Eu casaria com ela. Ou não. Pensa, ela sussurando no meu ouvido "cause you're my fella, my guy..." . É. Eu casaria com ela. Ela bebe Stella Artois. Eu também. Acho que seríamos felizes por um bom tempo. Até ela morrer por overdose.
É curioso como o tempo não passa nas noites insones. Geralmente nessas ocasiões, quando vejo que não vou conseguir dormir, pego um papel e tento escrever alguma coisa. Claro, pego a caneta também. Até música já saiu. Só não chegou ainda.
Me fala de você... E a vida? Como anda? Com os pés? Minha irmã me mostrou uma música legal, em breve a coloco aqui. Representa alguém. Não o "alguém", alguém tipo eu. Ou não. Vou tentar dormir. Falou proceis.
...
Já são quatro horas e cinquenta e sete minutos. Nem dormi. Fui pra cama e voltei pra cá. Fiquei pensando merda nessas horinhas. Com a devida licença, Mano Brown em "Jesus Chorou": "Sozinho eu penso merda pacaraio."
Putz! Sou um animal mesmo. Esqueci o vinho no congelador. Tá vendo o que a insônia faz? Por isso que eu prefiro a Sônia da rua de cima. Fiu-Fiu. É melhor eu ir dormir. Tchau, ladies. A todos vocês um vinte e três por oito até a goela. Ah... Evaristo? Bichinha! Boa noite e até... Até não sei quando, até mais uma noite sem sono. Rá!

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Paixões Proibidas

Quando eu tinha uns 15 anos, costumava passar os dias quentes de verão dentro de casa, ouvindo o meu LP dos Smiths, uma banda que eu adorava. Meu pai, com medo de ver o filho se tornar um garoto muito introspectivo, talvez com alguma tendência suicida, resolveu dar um conselho.
- Filho, você precisa sair mais de casa. Por que não vai a um puteiro?
Aceitei o conselho. Achava que a visita ao local seria desastrosa, mas curti a experiência. A menina, só um pouco mais velha do que eu, tinha olhos e lábios lindos, era inteligente, gostava de conversar. Voltei para casa e fui falar com meu pai. Estava encantado pela moça, queria levá-la ao cinema no dia seguinte.
- Porra, meu filho, ficar apaixonado por puta não dá.
Não a levei ao cinema no dia seguinte. Nunca mais a vi.
Lembrei essa história muitos anos depois, quando fui tomar uma cerveja com um velho amigo da faculdade de jornalismo, que há tempos havia mudado de ramo e se tornado um pequeno empresário de sucesso. Contei a ele sobre meu desemprego, e ele quis me convencer a trabalhar como representante comercial (vendedor) de um purificador de água que a empresa dele fabrica. Um fixo todo mês, comissões, chance de ascensão.
Expliquei que, apesar de estar sem emprego, tenho me virado bem com meus frilas. Disse ainda que não consigo fazer outra coisa além de ser jornalista, que amo esta profissão.
- Porra, Duda, ser apaixonado pela profissão de jornalista não dá.
Texto escrito pelo nobre amigo e colaborador Duda Rangel.

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