domingo, 21 de novembro de 2010

Morrer a vida e viver a morte


Começa-se a vida após anos de morte.

Sob os versos fúnebres a morte só lhe trás sorte.
O acaso da verdade secreta,
Cai nos braços do apostador,
Que no embaralhar das cartas.
Só falta a melancolia de quem fecha os olhos e vê a solidão.
O contato por traz da morte, aos olhos de quem quer sorte.
Ao lado da vida, aquele que olha ao norte,
A rosa dos ventos lhe mostra o caminho,
Mas neste caminho não seguirei nunca mais.
Morro hoje sob as carícias do vento do leste.
Procurei por anos e anos o sabor da vida.
Já fazem décadas de morte,
Aonde nunca tive sorte.

domingo, 7 de novembro de 2010

30 horas

São seis da manhã. Acordo, mais um dia se inicia. Preparo um café bem forte e como um pão amanhecido. Escovo os dentes. Tomo um banho, me visto. Já são sete horas, estou atrasado. Não deveria perder tanto tempo pensando naquela modelo gostosa do Pará. Chego no trabalho e começo a revisar os depoimentos sobre a vida dura das prostitutas do DER-GO. Simpáticas aquelas mulheres. Disse que eu precisava passar pelas experiências que seus clientes passavam, para, como bom jornalista, mostrar os dois lados da história e só tive que pagar umas Schins para elas. O trabalho tem seu lado positivo afinal.


Meu editor-chefe está me enchendo o saco. Ele não quer este tipo de reportagem no nosso jornal, diz que é um jornal de família. Eu digo para ele, mas ele não acredita. Puta tem família, olha o tanto de filho da puta no mundo! Já entendi, ele não quer que eu invada a privacidade da mãe dele. Bom, eu já revisei os depoimentos, as mulheres falam sobre o ganha pão delas. Ganham pão distribuindo roscas. Estranho... A maioria sofreu abusos na infância, outras desistiram de procurar emprego. Há aquelas que escolheram a profissão por que gostam mesmo, estão torcendo para encontrar algum otário rico que se apaixone por elas.


Termino a reportagem. Faço algumas pautas. Jogo um pouco de paciência. Xingo no twitter. Ameaço o editor com algumas fotos que eu tirei dele lá no DER-GO. Agora ele está todo empolgado em publicar minha matéria. Ela vai sair no jornal de amanhã. Já são cinco horas. Vou para casa. Ligo para meu filho. Que desgraça! O moleque agora quer que eu o leve para o DER-GO. Não devia ter falado da matéria com ele. A minha ex vai me matar se eu o levar para o trabalho dela. Sou um otário, ela só queria meu dinheiro. Puta desgraçada.


Durmo cedo, quero ser o primeiro a ler o jornal de amanhã. Acordo. Vou para a banca, o vendedor está irritado. Não sei por quê. Minha reportagem ficou em destaque. “Reportagem Especial”. Muito bem Seu editor! Está logo após o caderno dedicado às donas de casa e antes do de esportes. Gostei. Ficou bem estratégico. Fico em casa. Meio-dia. Está na hora. Ligo a televisão, todos os jornais estão comentando minha reportagem. Mostram até pessoas nas ruas protestando.


Parece que o meu jornal: “Correio Universal do Reino de Deus” está vendendo mais que água. Opa, estão me ligando. Convite para participar do Hoje em Dia. Programa do Jô. Altas Horas. Estão me chamando para ser VJ da MTV! Hum, que beleza! Agora tenho status. Tenho que escrever um livro. Gregory Morgan não soa muito bem. Meu nome artístico vai ser Gregory Surfistinha! Quem sabe até eu consiga um convite para participar de A Fazenda. Seria o mínimo de gratidão que os donos do jornal poderiam ter por mim afinal. Rumo ao sucesso.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Ele queria cantar a própria vida


Mesmo sendo o baixista da banda Okotô, Jair Naves, um ser inquieto nos palcos, queria um espaço para tocar suas próprias composições. No final de 2000, reuniu alguns conhecidos, procurou um estúdio e gravou quatro músicas. Assim surgiu Ludovic. Depois de 8 anos e dois álbuns, a banda chegou ao fim.

Em fevereiro de 2010, Jair Naves lançou um EP chamado “Araguari”, o seu primeiro trabalho solo. O autor de letras, como ele mesmo afirmou, “indisfarçavelmente autobiográficas”, faz referência a cidade que fica no norte do Triângulo Mineiro, local onde passou parte de sua infância. Na entrevista ele conta sua trajetória e revela, “já começamos as gravações do meu próximo disco, que deve sair em 2011”.

Quando você percebeu que a música era o seu lugar?
Para dizer a verdade, nunca tive essa convicção. Acho que enveredei por esse caminho porque gosto de escrever e creio ter uma certa facilidade com letras de músicas. Mas não me considero um grande instrumentista, um músico nato ou algo do tipo. Tanto é que só criei coragem para aprender a tocar e para compor minhas próprias canções porque na adolescência me envolvi com punk rock, com aquela história de que não é preciso ter grande conhecimento técnico ou um talento extraordinário para se expressar musicalmente. Tenho conhecimento das minhas limitações e me esforço muito para superá-las cotidianamente.

Como é o seu processo de composição? As suas letras são autobiográficas?
São. Indisfarçavelmente autobiográficas.

Como surgiu o Ludovic?
Aos 18 anos eu comecei a tocar baixo numa banda chamada Okotô, que já tinha um trabalho estabelecido no cenário paulista desde o começo da década de 90. Eu adorava estar inserido naquilo, na verdade me sentia até honrado, uma vez que eu ainda era praticamente uma criança e já tinha a oportunidade de fazer música profissionalmente, além de conviver com músicos experientes, talentosíssimos. Ainda assim, o fato de eu não ter espaço para poder tocar minhas próprias composições me frustrava um pouco. Então no fim de 2000 resolvi sair do Okotô , reunir alguns conhecidos e entrar em estúdio para gravar quatro das músicas que eu tinha escrito na época. Assim nasceu o Ludovic.

Você escreveu no twitter que o show do Ludovic no Goiânia Noise de 2005 está gravado na sua memória. O que teve de especial?
Esse show foi algo verdadeiramente mágico. Nós já tínhamos tocado em Goiânia uma vez, no Vaca Amarela de 2004, mas na ocasião tivemos uma recepção bem discreta, então não esperávamos muito. E acabou sendo uma das apresentações mais fortes que fizemos em toda a nossa história. Enquanto fazíamos a passagem de som, as pessoas cantavam trechos das nossas músicas a plenos pulmões do lado de fora. Chega a ser difícil explicar o que foi aquilo.

Ludovic no Goiânia Noise de 2005

O Ludovic tinha como uma de suas características a intensidade nos shows. No antigo site da banda tem um pedido de desculpas referente a um show no qual se machucaram algumas pessoas. Você acha que em alguns lugares falta maturidade e respeito por parte do público?
Essa observação era mais relacionada à forma como as pessoas reagiam à nossa música. Como o Ludovic tinha uma sonoridade mais agressiva e atingia as pessoas de outra maneira, às vezes parte da platéia se comportava de maneira equivocada e acabava se expressando com alguma violência, colocando a segurança de outras pessoas em risco.

Você já fez algum show que deu vontade de acabá-lo no meio e ir embora?
Infelizmente já. Poucas sensações são piores do que essa.

Em janeiro do ano passado, Ludovic acabou. Foram oito anos, dois discos e vários shows intensos. O que esse período significa para você hoje?
Um grande aprendizado, acima de tudo. O Ludovic não só me proporcionou algumas das experiências mais marcantes da minha vida, mas também ajudou a moldar a pessoa que eu sou hoje. A grande questão relacionada à banda, que algumas pessoas não entendem, é que as coisas mudam. Da mesma maneira que você não se apaixona duas vezes por uma mesma pessoa, é impossível viver tentando recriar um estado de espírito que não existe mais. Mas foi ótimo, valeu a pena. Quando eu me lembro daquela época, tenho a sensação de dever cumprido.

Qual o sentimento de ver a banda acabar em um momento tão bom artisticamente?
Um dos motivos preponderantes para o fim da banda foi justamente que não nos entendíamos mais tão bem artisticamente. Nos preparativos do que seria o nosso terceiro disco, ficou bem claro que cada um de nós tinha intenções e necessidades artísticas bem diferentes. De certa maneira, até incompatíveis. Teria sido um erro tentar levar o Ludovic adiante naquele momento.

No seu último show em Goiânia, tinha algumas pessoas gritando o nome de algumas músicas do Ludovic e você disse, “essa banda não existe mais” e agradeceu o carinho. Está sendo difícil desvincular sua imagem do Ludovic? Afinal, foram 8 anos de banda.
Não acho que algum dia eu vá conseguir me desvencilhar por completo da minha antiga banda. Basta olhar para exemplos de outros artistas com um histórico parecido: quando falam do Mark Lanegan, por exemplo, sempre falam do Screaming Trees. A mesma coisa acontece com o Lou Reed e o Velvet Underground, com o Arnaldo Baptista e os Mutantes, com o Damon Albarn e o Blur, o Wander Wildner e os Replicantes, enfim... é natural. Ainda que me incomode em alguns momentos, não tem como fugir dessa associação.

Você já pensava em um trabalho solo?
Não, de forma alguma. Foram as circunstâncias que me empurraram pra essa condição de “artista solo” – coisa com a qual eu ainda estou aprendendo a lidar, pra dizer a verdade.

Quando surgiu a idéia do EP “Araguari”?
Quando eu decidi que iria passar a gravar e lançar músicas sob o meu próprio nome, me pareceu que o primeiro passo ideal seria falar sobre algo que me fosse muito pessoal, sobre minhas origens e coisas assim. Acabei escrevendo duas músicas que falavam de Araguari (MG), a cidade natal do meu pai, onde passei boa parte da minha infância. Acreditei que seria um conceito interessante para um primeiro disco.

Alguns “críticos” disseram que seu trabalho solo demonstra amadurecimento. Quando você começou a pensar o conceito e tema do EP?
Logo depois do fim da minha antiga banda. Na época tive um certo receio de que as letras seriam quase indecifráveis para as outras pessoas, justamente pelo fato de eu estar tratando de um assunto muito íntimo. Felizmente, a aceitação para esse EP acabou sendo muito melhor do que eu poderia esperar.

É difícil para algumas pessoas imaginar como Jair Naves, um ser inquieto no palco, será Jair Naves cantando “Araguari”. O que as pessoas podem esperar do show de Araguari?
Não sei. Cada show é único. Todas as apresentações são especiais para a gente, nos emocionam de formas diferentes. Só posso dizer que essas músicas são muito importantes para mim, que nós nos esforçamos para apresentá-las da melhor maneira possível e que eu fico feliz em notar que há quem queira ouvi-las.

Você já tem algum novo trabalho em mente?
Sim, já começamos as gravações do meu próximo disco, que deve sair em 2011. Ainda não posso falar muito a respeito, mas eu sinceramente não poderia estar mais empolgado.

Como e quando você chegou a conclusão que Goiânia é a cidade mais “rockeira” que você já tocou?
“Rockeira” não é bem o termo certo que eu usaria, mas eu realmente acredito que Goiânia tem uma platéia especial. São pessoas que reagem de forma extremamente passional com a música que ouvem, muito acolhedoras e calorosas. Sempre que tenho a chance de tocar por aí, fico impressionado com a reação do público. Dificilmente se encontra público como o de Goiânia. Entre as cidades em que eu já toquei, acho que a única comparável é Mogi das Cruzes, no interior de São Paulo.

Em sua opinião, como está hoje o rock independente no país?
No que diz respeito à qualidade artística, acho que vive um dos melhores momentos da história do Brasil. São incontáveis os artistas e bandas que eu realmente admiro: Charme Chulo, Vincebuz, Suéteres, Nevilton, Quarto Negro, Hierofante Púrpura, Mamma Cadela, Macaco Bong, Eletrofan, The Soundscapes, André Mendes, Repentina, INI, Seamus, Alarde, Pale Sunday, The Name, Gigante Animal... enfim, a lista é longa. Infelizmente, os velhos problemas de sempre continuam: a dificuldade para alcançar uma profissionalização dentro do circuito, a falta de estrutura, etc.

Por Leandro Gel e Yuri Montanini

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

O último romance


Muita gente me perguntou sobre o festival. Alguns comentaram o suposto porquê de não ter falado nada a respeito. Vivo dando explicações. Explicando pra mim mesmo cada segundo. E assim vou perdendo minha existência. Estou a criar constantemente teorias que eu sei que já existem e se é que não, creio que sim e se perdem numa folha qualquer. E em vão, massageio meus delírios de grandeza com essas palavras difíceis por serem belas mas não menos superficiais. E estou sempre repetindo.



Amizade Transcendental .


Eu encontrei quando não quis encontrar. Quando mais desprezei e menos fiz questão de agradar. Quando fui então autêntico. Havia desistido desses amores que nunca se faziam reais. Percebi que eu não era um cara de amores. E eu disse o que era o sufoco. E eles se dispuseram a sempre me acompanhar. Eu encontrei e todos queríamos duvidar, afinal tanto clichê deve não ser.E em períodos diferentes, você me falou pra não me preocupar e ter coragem no amor. E hoje só de te ver, eu penso em trocar o meu crachá e a rotina num jeito livre de te levar. Afinal de contas essas questões metafísicas em um guardanapo de bar pra nós é se aventurar.



Um casal de velhos?


A morte.


[A paixão pela tênue linha entre a vida e a morte que seduz desde criança. A beleza de tudo que a tem e que flerta perigosamente com ela. O único ponto final real dessa vida hipotética em todas as constantes. Talvez a morte como produto final. Afinal não seria ela o verdadeiro último romance? Afinal por mais complexa que seja, a música fala basicamente de um amor ou de uma tendência ao mesmo. E não seria então o amor uma tendência suicida? Qualquer que seja o objeto que motiva essa paixão?

Como diria Raul: A morte surda caminha ao meu lado e eu não sei em qual esquina ela vai me beijar. Essa paixão que segue pela vida e se desenvolve. De todos os amores perdidos e amigos não feitos, da saudade de tudo que nunca se vê. Tem se então na paixão que sempre te seguiu no suicídio o último romance.]


Eu encontrei. Quis duvidar. Tanto clichê. Deve não ser. Afinal de contas, pra nós dois sair de casa é se aventurar. Me diz o que é o sossego que eu te mostro alguém afim de te acompanhar. Pra te acompanhar...




Fazenda maeda. 9 de outubro de 2009.


Uma menina linda, linda mesmo, loira dos olhos azuis beija e abraça seu namorado também muito bonito ao som dessa música. Exalam seu amor no ar para sempre e para todos. Aquele amor era o último romance de cada um e era eterno.



Um jovem solitário traga seu cigarro de maconha com paixão intensa. Encontrou a quando não quis. Para os dois sair de casa é se aventurar. E até quem o vê lendo o jornal na fila do pão sabe que ele a encontrou. Uma dádiva potencial afinal uma vida sem vícios é uma vida sem virtudes. E se o caso for de ir a praia leva a sua casa numa sacola. Quando a encontrou quis duvidar, afinal tanto clichê deve não ser. E só de a ver ele pensa em trocar a sua tv num jeito de a levar a qualquer lugar... Aquela música era para ele sua paixão, naquele momento.





E esse momento nunca acabou na minha cabeça. Numa complexa noção de tempo ainda estou parado no dia 9 de outubro, vendo o casal loiro do meu lado irradiando amor. O maconheiro na minha frente irradiando não menos paixão que o casal. E penso nisso todos os dias. Afinal o que é o último romance? São inúmeras definições dessa obra genial do grupo Los Hermanos. Fugi desse debate. E ele me encontrou. E como já diriam os quase famosos, a música te encontra. E além disso também. O que é pra ser te encontra. Essa teoria claro, também não é minha .

De tanto fugir resolve encontrá-lo. Cheguei a conclusão de que a definição é altamente variável, se encontrando aí a beleza e genialidade única da obra. Afinal de contas a fórmula da imortalidade é muito simples. Para quanto mais pessoas o seu discurso se faz importante e interessante de se ouvir mais importante ele se torna. E conforme o número de pessoas aumenta a durabilidade do mesmo na nossa sociedade e o seu raio de influência aumenta. Logo que alguém já deve ter registrado essa "descoberta" também.

Exaltamos tanto o belo porque ele não existe. Somos todos feios, cheios de vícios e pecadores. Cante para os feios, para os putos, para os fumantes e para as putas ( tem gente que me pergunta porque falo tanto delas...e eu falo: Somos todos prostitutas. Inexoravelmente.) Nesse último romance que acontece toda vez que nos prostituímos, nessa relação de vida curta com certeza apenas do fim . Dentro de sua existência a se renovar. Se prostituir não se confunde com a vida. É a vida. Cante para o último romance.
Talvez o grande mérito dessa obra seja a sua capacidade de se fazer íntima a cada um que a escute. Mas isso é óbvio. Mas eu não sou mais que o óbvio. Sou apenas a sua redefinição em um clichê.




Para a amizade mais transcendental de todas,

Para o amor mais amor de todos,




De todos os tempos da última semana. De todos os tempos do último romance.

sábado, 23 de outubro de 2010

Sinto



Vivo sentindo a falta do sentir.


Parece sem sentido.


Talvez por que não tenha.




Sinto muito.


Tristeza?


Dor?


Alegria?


Sinto por não os sentir.


Por não viver...



Sinto muito por isso.


Aquilo? Também.


Mas não por ti.


Por mim.



Porque não viver?


Por causa de ti?


Sem sentido mesmo...


Por isso agora vou esquecer


e começar a sentir.



Tristeza!


Dor!


Alegria!


Viver para sentir


e não sentir por viver.

domingo, 17 de outubro de 2010

Como sempre fiz

Fui criticado por não conseguir escrever duas linhas sem citar um outro autor, uma música ou ainda uma frase que já usei. Acendo um cigarro, não tão melancólico quanto outrora e percebo que realmente é verdade. Nada que escrevo é meu de fato, de direito. Por mais que o momento seja meu, meus dedos tremem de vontade de sair citando músicas e frases que se encaixam no contexto. Por vezes não fazem sentido algum. Ou por vezes não é pra ser entendida por todos, ou por ninguém. O fato é que infelizmente, eu não sei escrever.

Sou uma cópia de letras e poesias e sofrimentos alheios, como um Lego textual. Como uma porção de recortes, daqueles que você fez cortando as letras coloridas da revista de moda da sua mãe pra mandar um bilhete pra menina mais bonita da sala. Se me pedir pra escrever uma receita do macarrão que eu mesmo inventei, é bem provável que ganhe trechos de Agagê e ganhe forma de música não gravada com palavras clichês copiadas de algum cancioneiro.

Estou sempre martirizando e torturando o papel com verbos que já foram conjugados em outros pergaminhos, por outras pessoas. Às vezes penso que a caneta irá se mover sozinha, por que até ela já deve ter decorado ou sabido o trecho adequado a tal situação ou protótipo textual. E eu não sei usar os porquês.

Bato a cinza do Lucky e reflito: será que eu estou no curso errado? Deveria eu estar fazendo contas ou discutindo a Teoria do Princípio da Incerteza de Heisenberg? Pelo menos, eu teria a certeza de que não sou original e não me decepcionaria tanto. Quem sabe...

Guardo o papel listrado num bolso, a caneta Bic e o isqueiro no outro. Paro num ponto de ônibus e espero, como um sujeito qualquer, como um mortal qualquer, como o que sou. Fosse eu imortal, não estaria numa esquina qualquer, esperando um caixote metálico qualquer. Isso é tema pra outra E-storia. Agora é chegar em casa e copiar, como sempre fiz.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Eu sei

Às vezes apenas não há uma segunda chance. A palavra proferida, a boca suja do dissabor do fim. Palavras gastas, gestos exaustos, olhares mórbidos e tudo está acabado. Sem segunda chance. Não há que se pedir perdão, não há o que se perdoar. A noite acabou e eu preciso fugir sem você ou fugir de você. A derrota é um sentimento que todo mundo experimenta. O grande mal é quando se experimenta durante a vida inteira. É fácil falar de perda, de dor, de coração partido, de enganos, de ilusão e outros sonhos dantescos. Falar o quê sobre felicidade? Amores que deram certo não é um tema que faz muito sucesso, a não ser em livros de auto-ajuda.
Não tenho como falar de amores, nunca os tive bem, talvez por não me permitir, talvez por falta de sorte mesmo. Não sou mais, ou talvez nunca tenha sido, aquela garota, tão diferente do aparente, tão distante do constante. Tão dupla, tão dual. São sinais da não existência de uma segunda chance, a beleza que não perdurou, os óculos que se quebraram, o tapete que voou sozinho, o amor, negro, que foi engolido pelo céu que rachou, diante do sol, que apesar da dor, brilhava, ou, pela dor, brilhava.
É esse o motivo da raiva. Não são os erros, os sonhos em vão, não são seus olhos, a lembrança do seu abraço. O que dói é ver que existem flores, e outros tantos amores que persistem nesse dia branco, sem cor. É nessas horas que eu queria ter uma bomba pra poder me livrar do trágico efeito de tantos clichês, te fazer enxergar o meu mundo que você não crê. Mas não existe uma segunda chance. E aqui estou eu, chorando baixinho, sonhando acordada, engolindo lágrimas, numa triste tentativa de não sentir dor.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Passos lentos

Meu Deus! Quem é esse preparando uma apresentação sobre “accountability e a comunicação”, perdido em textos revisando o conceito de esfera pública, lendo a evolução do espaço público e cansado das eleições 2010?

O quarto escuro, a luz branca do computador com o editor de texto aberto brilha em seu rosto. O rosto gordo que já foi magro um dia. O rosto gordo e cansado. O rosto gordo que tem olhos que não querem mais dormir.

Vamos lá! O fim de semana está chegando. Aguente firme, José Dutra. Está chegando, está chegando. Ele repetia isso escutando Explosion in the Sky em seu player chinês. A cabeça encostada no vidro embaçado do ônibus, os fones no ouvido com o tu nin nin nin tu nin nin nin num do Explosion, sem neve e pouca luz. Ele está chegando, ele está chegando. O fim de semana está chegando. O fim de semana está chegando. Parece que a vida se tornou isso, a espera pelo fim de semana. Um ciclo vicioso, um cachorro que corre atrás do próprio rabo. Não importa, ele não quer saber, José Dutra só quer o fim de semana.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Enlatado

Em uma ponte qualquer, numa dessas grandes cidades. Podia ser Roma, Paris, Londres, Berlim ou mesmo São Paulo. Quiçá Goiânia. Uma paisagem complexa, moderna e difusa. Meio hemisfério Norte e Sul. Um clipe sem nexo. Um pierrô retrocesso meio bossa nova e rock and roll. Um garoto desses crescidos com seus cabelos loiros descendentes de um nobre inglês qualquer,um bom bigode português de orgulhar o mais selvagem motociclista ianque de um porte negro. Um céu azul.



Embaixo de uma ponte, uma vitrola velha em que john frusciante dedilha sua melodia. Ecoando pela fumaça da metrópole em meio ao estrelado céu azul, na mais bela figura de um gibi. Ecoando em meio ao fedor do belo rio. O rio como a sociedade e as pessoas da vida moderna, mais lindas e belas que nunca, porém cada vez mais próximas da destruição final, da morte interior e da podridão impossível de se escapar. Nas estrelas, cazuza voando e disparando rajadas de mágoa em sua mais bela performance anacrônica de barão vermelho dos filmes de guerra e canções de amor.



Esse belo garoto, que como eu amava os Beatles e os Rolling Stones, de repente se vê sujo. A barba por fazer e o seu all star não mais azul. John Frusciante não para de tocar under the bridge. Em sua companhia apenas grafitado no muro o cavalo de chico que só falava inglês. Olhando então perdido escrevendo obras do além mar do mais salgado espírito lusitano. Olhando para as janelas das grandes cidades e sentindo falta de tudo aquilo que ainda não viu. E morrendo de sentir do que viu. Do que se perde,que vai e não volta nunca mais, afinal as vezes apenas não há uma segunda chance. De quando a maturidade é o preço e de todas as pessoas que não deu valor.



Cada janela amarela daquela cidade depois da ponte, naquela paisagem daquele quadrinho de gibi havia uma e-stória qualquer. Um casal fazendo amor. Outro fazendo sexo.Aquele seu melhor amigo que ele amou mais do que o mais nobre cavaleiro. E que hoje é apenas mais uma janela amarela na caricatura da cidade. Sente falta de tanto amor que recebeu e desperdiçou. Queria reunir todos aqueles que lhe deram atenção no bolso e simplesmente poder dizer, obrigado. Sinto muito se os perdi pelo caminho, mas eu realmente amo todos vocês.
Mas a vida não é uma estória em quadrinhos. E o barco com a vitrola vai passando, passando. E enfim, nem a música lhe faz companhia mais.


quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Crônica de uma morte anunciada





O Amor!


Antes, na paixão a troca de olhares das rimas medíocres do pseudo intelectualismo da mesa de um bar.

Do verdadeiro intelectualismo do amor que apenas se sente . De quem respira poesia.

A morte da arte, da vida. Arte pela morte. Arte pela arte.

Das revoluções que nunca se farão e dos mares nunca navegados.

Numa esquina por aí.

No metrô, nas coxas alheias ou nos sorrisos tristes. Sempre lá. O amor, a crônica dessa morte anunciada que é a única certeza de uma vida triste.



Aquela velha sensação. Um frio na barriga, angústia talvez. Um pesadelo, um amor indigesto. A sensação enfadonha de ser infantil e achar viver é morrer de amores. Talvez seja vontade de fumar, esse suicídio industrial, apoteose pseudo intelectual. E de tragar palavras travestidas trotoantes, seduzindo o medo que nunca te abandona, do velho frio na barriga. Então assim, se entregar a medíocridade e quem sabe. Quem.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Diário de Morte


Aquele que anda descalço é livre, ele está totalmente em contato com a natureza. Os pés descalços naquela terra firme e seca, nem me imagino a 40 anos atraz. Sabia que esse dia chegaria.

Nossa árvore traz toda a nossa fonte de energia, todos por aqui construiram suas casas em volta dela. Sua sombra atinge toda a cidade, e traz-nos aquela sombra dia e noite. Como é bom respirar esse ar tão puro, as vezes nem me reconheço sem essa máscara.

As crianças brincando de pique-esconde. Da última vez tivemos que procurar além do alcance da nossa árvore. Essas crianças não tem limites mesmo. Já avisei e continuo avisando, " não vão por aqueles lados, la vivem aqueles que nunca nos ajudaram, aqueles que não respiram o mesmo ar que nós ", toda vez tropeço neles, acho que nunca irão acabar.

Esses dias olhei la no meio da nuvem, e vi rastros de luz, imediatamente mandei todos para suas casas. Eles estão evoluindo, nunca vi algo tão grande, aqueles tentáculos, cada dia que passa dou falta de uns e outros por aqui. Acredito que tenham achado outro lugar bom para se morar, mas também creio que possam ter ido para o inferno.

Estou tão cançado de tudo isso, não tenho sossêgo nem um dia sequer. Nosso médico sofre alucinações, um dia desses ele operava um dos nossos trabalhadores e achou que era um cozinheiro, picando as verduras e legumes, o enfermeiro tentou tirar o bisturi das suas mãos e foi atacado também, precisou de 4 pessoas para parar aquele louco. O nosso cozinheiro ainda é pior, ele acha que o mundo acabou e no Natal ele tentou matar a todos colocando veneno de rato na nossa sopa. Sei que ele não tinha más intenções, pois essa vida não está sendo fácil.

Faço todo o trabalho pra esse povo, lembro de quando me chamaram para se juntar a eles. Foi algo tão grotesco, me fez tremer de raiva, não sabia do que eles eram capazes, só pude perceber depois daquele dia.

Toda noite que me deito ao lado da minha mulher, e passo a mão na sua perna, lembro de quando ela perdeu uma delas, não gosto nem de pensar.

Hoje vou me deitar cedo, amanhã é um novo dia, mesmo com toda essa escuridão dá pra ver que não perdemos o nosso calendário. Abro meu diário e começo o cabeçålho;


Terra, Os sobreviventes

Dia 20 de março de 2127


Mais um dia sobre a sombra das nuvens negras, respirando o ar de máscaras de oxigênio, andando pelo chão que não semeia, em busca da natureza colorida que não vejo a mais de décadas. Essa poluição matou todos os animais, separou as classes e exterminou a fé.

Mensagem de hoje será a mesma de ontem;


Aquele que anda descalço é livre, ele está totalmente em contato com a natureza...

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

O maior Grenal de todos os tempos dos últimos cem anos


*Texto de autoria de alguém que assinou Chokito na seção de comentários das colunas do site globoesporte.com , *


Antes de começar a partida, um contraste já é notório: as chuteiras. Os colorados desfilam com belos e ousados modelos roxos, lilás, amarelos e mais uma infinidade de cores e estilos. Guinazu é o único que usa uma preta, e é motivo de piada entre o grupo. Tayson e Bolívar sempre puxam seu calção nos vestiários por causa disso. No lado Tricolor, todos com chuteiras pretas. Paulo Nunes cogitou colocar uma branca nesse jogo, mas Dinho não deixou. Na verdade ele apenas comentou que não era boa idéia, mas sugestão do Dinho é ordem. Felipão ficou sabendo e deu razão ao cangaceiro dos pampas. O comandante gremista olhou pro diabo loiro e disse: tu não te fresqueia, guri. Recado dado.
Durante o aquecimento, o simpático e malemolente Tinga se aproxima de Rivarola sorridente e pergunta: que legal, to vendo que você está com uma chuteira maior que a outra. É a nova moda? Riva, com a cara fechada, sem olhar pro moleque, responde num bom portuñol: “não. Estoy com una unha encrabada”. Alecssandro dá uma bela risada, achando que era piada. Ao ver que o gringo não riu, calou-se e fugiu pra perto de seus amigos.
Começa a partida, saída para o Inter. O estádio desaba em vaias. O experiente D’alessandro se assusta e se livra da bola, toca pra trás. O colorado toca uns 3 ou 4 passes assustado e se atrapalha: lateral para o Grêmio. O estádio vai abaixo, vibração total. Lá pelos 25min a equipe colorada já está mais tranquila e começa a jogar. D’alessandro dá lançamento espetacular para Tayson, que pedala na frente de Rivarola e só não morre porque é rápido: escapa da tesoura do paraguaio e toca para Tinga, que dribla Adilson e chuta no canto de Danrlei. Indefensável. Grêmio 0, Inter 1.
Felipão vira bicho. Xinga até a nona geração do time todo. Se revolta com Rivarola por não ter matado o pequeno Tayson. O time do Grêmio se possui. Dinho coloca em prática sua máxima: “por mim só passa o jogador ou a bola, os dois juntos não dá”. Até o leve e saltitante Paulo Nunes vira um monstro, contagiado pelo resto da equipe ele bufa e dá carrinhos. O estádio vibra a cada chutão, a cada falta dura e demais lances de certa truculência.
Mas com a bola nos pés esses caras também têm bala na agulha, meu amigo. Arce dispara na direita, passa pela marcação, cruza com uma perfeição poucas vezes vistas no esporte bretão e, Jardel, cuja absurda impulsão faz com que consiga colocar a cabeça acima da altura das mãos de muitos goleiros, pula com maestria e confere um testaço em direção ao chão, fazendo a bola quicar pouco antes da linha e morrer no fundo das redes. Explosão geral de euforia na Azenha: 1×1.
O Inter se desconcentra. Carlos Miguel faz boa jogada, toca pra Arilson, que dá uma janelinha em Tinga, devolve pra Miguel, que encontra Paulo Nunes bem colocado. O diabo loiro invade a área, corta pra direita e é derrubado por Índio. Pênalti. Dinho dispara uma bomba no ângulo esquerdo de Renan. Inapelável. Grêmio 2, Inter 1. O Inter acorda, voltam a jogar bem. Felipão surta com o time. Fim do 1º tempo.
O gol do Inter parece iminente na 2ª etapa. O Grêmio se retrai demais. O time colorado têm muita habilidade. E jogam pra cima. Dessa vez é D’alessandro quem pedala pra cima de Rivarola. Dessa vez Riva não perdoou: coice. D’ale chora rolando no chão. Jogadores do Inter cercam o juiz, que é uruguaio e não muito tolerante. Não é tolerante com frescuras: só amarelo pra Rivarola. D’alessandro lesionado, entra Giuliano no seu lugar. Danrlei aproveita a discussão pra chamar Alecssandro num canto e dizer, com o dedo em riste, que se eles continuarem fazendo gracinhas, alguém ia quebrar a perna ali hoje. Alecssandro vai relatar ao árbitro a ameaça que recebeu e o juizão o ignora, mandando ele parar de chorar e jogar bola.
Dinho fica um pouco frustrado com a saída prematura de D’alessandro. Ele tinha prometido durante a semana para uns 37 torcedores que iria quebrá-lo. Riva foi mais rápido. Tudo bem, bola pra frente.
Tinga faz boa tabela com Giuliano, que devolve pra Tinga, que tenta driblar Goiano e… TUM! “Pega o que te mandaram”. Luis Carlos Goiano dá no meio do Tinga. Tinga lesionado. Mais um teatrinho do elenco colorado pressionando a arbitragem. Amarelo para Goiano. Andrezinho entra no lugar do lesionado. O Dinho bem que avisava: “o Goiano é bandido também, dá tanto pau quanto eu. A diferença é que ele é educado, atleta de Cristo. Ele pede desculpas, eu bato e saio sem nem olhar pro cara”.
A equipe colorada perde duas das suas principais peças, mas segue perigosa. O Grêmio, entretanto, equilibra mais a partida. Aos 35 do 2º tempo, Adilson, exausto de tanto desarmar guri novo, sai aplaudidíssimo por sua quase perfeita atuação. Luciano entra. Aos 41min é Paulo Nunes quem cruza, Jardel voa e destroça a bola com a testa, ela explode no travessão, volta para a entrada da área, Carlos Miguel vem correndo de trás e dá um bico na gorduchinha, que vai morrer no fundo das redes de Renan: 3×1, festa total. Pra ganhar tempo, Felipão tira os também cansados Jardel e Paulo Nunes, e coloca Nildo e Alexandre Xoxó (Alexandre Gaúcho).
Nos minutos finais o Inter ensaia uma pressãozinha, pra tentar reduzir os prejuízos e facilitar sua vida no jogo de volta. Já estávamos com 46min (faltando mais 3 para o término do jogo, já que ele deu 4 de acréscimos) quando Giuliano escapa bem pela direita, dribla dois, e aí comete um ledo engano: pedala na frente do Dinho. Se driblasse o Dinho, sairia na cara do Danrlei, gol quase certo. Mas era o Dinho. Faça o que tu quiseres na frente do Dinho, só não saçarica. Giuliano toma uma entrada que chegou a arrancar um “ooooh” do estádio inteiro. Um “ooooh” seguido de comemoração. Essa nem o juizão cisplatino engoliu: Dinho na rua. Aplaudido de pé. Evitou uma chance clara de gol e deixou o garoto Giuliano rolando no chão. Danrlei foi até ele e disse: “eu avisei”. E avisou mesmo: Giuliano fratura a perna.
Roger ergue os braços chamando a torcida. Olímpico pulsa. Grêmio segura o Santos nos minutinhos finais. Eram 10 contra 10 (Inter já tinha feito 3 substituições). Mais espaços no campo favoreciam a molecada ligeira do inter. Mas a torcida do Grêmio preencheu esses espaços com urros e cânticos de guerra. Tudo sob controle. Fim de jogo. Grêmio 3, Inter 1.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Catarse

Em uma sala calma com azulejos brancos ficou pensando sobre a vida, buscou todos os lixos em seu interior, meditou, respirou fundo e olhou para o telhado baixo do local. Gotas de suor desciam do alto de sua cabeça acariciando seu rosto. Podia sentir, estava próximo, as impurezas seriam expurgadas de seu corpo, mas, antes um pequeno prenúncio, um “luuuz” sonoro e fino. E tudo começou, atingiu a catarse e bem ali, no quarto branco, tudo seria exposto. Tudo que se embrenhava em suas vísceras seriam jogados diante dos olhos de quem quisesse ver. E então, sentado no lindo e cheiroso vaso, que brotava uma essência de pinhos, cagou.

sábado, 14 de agosto de 2010

Os velhos males do Zé (Parte I)

Me acostumei tanto com meu estilo delicado de lenhador russo que toda palavra minha tornou-se irremediavelmente condicionada a abrir lascas também irremediáveis na carne dos sensíveis. Não posso evitar, e muitas vezes me pergunto se quero.

Talvez um simulacro de idade da pedra me caísse melhor, com trogloditas letrados que ofender-se-iam mutuamente sem a necessidade do recurso da pedra lascada. Só mesmo palavras pontudas voando a esmo na atmosfera aridamente confortável.

Ou talvez o cavalheirismo e os direitos humanos tenham destruído a arte do livre bullying, que compõe as melhores histórias de nossos pais e as mais interessantes mesas de jantar. Talvez sim, talvez não. O fato é que eu me sinto um pouco incomodado.

Como eu já disse, me acostumei tanto com meu estilo lenhador russo que não controlo mais o fio de meu machado esguio. Saibam então, meus amigos, que boa parte dos golpes desferidos são realizados por distração ou desleixo, e vocês podem ter levado algumas machadadas fraternais.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Alvitre de procurar


Confortável e obsceno, quando olho no reflexo da luz no espelho eu vejo coisas obscenas.

Reflexo e confortável, o vento que balança as árvores no horizonte me traz lembranças confortáveis.
Complexo e vital, aquele dom perplexo evita o rastejar do verme que prejudica os sintomas.
Louco e infertil, era para depositar o fruto da loucura infertil que não semeia nas terras do imaginário.
Perfeito e incompleto, não modelei os sonhos do preferido, só acho-os incompletos.
Lâmpadas e paralelepípedos, no passo a passo do iluminismo, só acreditei quando dei de cara no chão.
Amor e razão, ainda procuro a flor do talento, sem mistério e sem solução.

domingo, 18 de julho de 2010

Almôndegas - "Almôndegas"


A internet tem sido o mais eficiente meio de difusão de novos sons para quem tem o apetite sempre aberto aos diferentes estilos musicais do mundo todo. Para os exploradores de tesouros musicais escondidos então, tal ferramenta parece ter sido enviado pelos deuses diretamente do Olímpo. Muitos internautas adoram “cavucar” o Rock ‘n’ Roll dos buracos e cavernas mais obscuros da Terra, usando e abusando da tecnologia dos tão infames programinhas de compartilhamento, tão acusados de tirar o ganha-pão das pobres gravadoras, mas, por outro lado, responsáveis por revelar inúmeras bandas e artistas a um público que jamais teria acesso a eles, levando-os, inclusive, a adquirir os álbuns conhecidos graças aos downloads ilegais. Irônico, não?

Não obstante, é sobre outra grande ironia que pretendo discorrer na resenha de hoje. Os protagonistas dessa história de contradições são um conjunto das longínquas terras de Pelotas – e peço maturidade, querido leitor – cujo nome revela o teor altamente descontraído e natural de suas letras e filosofia de vida: Almôndegas. Pra quem não conhece, essa foi a primeira banda de Rock/MPB dos irmãos Kleiton e Kledir, famosos posteriormente por sua carreira como uma dupla. E não, eles não tocam música sertaneja, para a tristeza de muitos e minha profunda alegria.

“Mas onde está a ironia nisso tudo?”, pergunta-se o curioso internauta. A resposta é simples: uma das mais fortes características do grupo gaúcho era justamente a profunda aversão ao progresso e à modernidade, incluindo, é claro, a tecnologia, meio pelo qual eu tive o grande prazer – e agora você também, espero eu – de entrar em contato com essa música tão rica e arraigada à cultura gaúcha.

O álbum já começa com uma ode à vida simples no campo, “Sombra Fresca e Rock no Quintal”, talvez a faixa que mais aceite o rótulo de “Rock Rural”, estilo atribuído aos Almôndegas por muitos críticos – embora, em minha opinião, elementos da MPB predominem no trabalho deles, ao menos neste disco de estréia. Assim como a primeira faixa, a terceira e mais genial composição do disco, “Teia de Aranha”, parece ter sido cunhada por JJ Veiga, tamanha a ojeriza provocada na banda por quase tudo o que pode ser conectado à tomada. “Sou humano, mas namoro um computador / O progresso engoliu a nossa paz / E a teia engoliu a própria aranha”;

Ainda nesse espírito, a faixa “Almôndegas” trata do mesmo tema, só que dessa vez de forma mais bem humorada, utilizando-se de linguagem caipira e lógica simples, do tipo “Pra quê comprar Lamborghini se tem perna pra andar?”. Confesso, leitor, que eu responderia a essa pergunta sem grandes dificuldades.

“Olavo e Dorotéia (Uma Louca Estória de Amor)” é outra composição que merece destaque. Uma canção de belíssima singeleza, apesar do título um tanto piegas – odeio essa palavra, mas contento-me com ela no momento. Digna de nota também é “Daisy, My Love”, mais uma letra sensacional do grupo, unindo espírito crítico a humor.

Poupo meus internautas do enfado de um texto deveras longo – a recente profissão de publicitário vem me ensinando a importância da síntese – e já me despeço por aqui. Recomendo fortemente o álbum a quem deseja um pouquinho de cheiro de mato e bosta de cavalo impregnado nos muros de concreto da cidade, mesmo que somente pelos breves 33 minutos de duração do disco. Ou, se o ouvinte for um pouquinho espírito de porco, colocará o bucólico disco dos Almôndegas para tocar em seu “Lamborghini”. Prometo que não conto nada pro Kleiton. Nem pro Kledir. Até a próxima!

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Dos mais belo feio que escreve





De repente se faz o poema,
O poema dos medíocres,
Das arquibancadas pulsantes,
Rimas tristes, apaixonados delirantes.

Das ruas, vielas, becos e praças.
Do mais feio belo que escreve,
Para que passa,
que passa,
passa.


Talvez seja moderno,
Antagônico e não menos cruel
Não tenha um final e poderia ser melhor,
Assim como a vida.

Esse poema sobre a saudade do que nunca se viu,
Das revoluções perdidas que nunca à luta,
Da moça de família, apaixonada.
Sim, ela, aquela vigorosa prostituta.

Esse poema que nunca se faz,
Se faz assim como eu,
Todo amores e saudades,
De dias e tons impensáveis.

Talvez esse poema, a cada verso imortal
Cometa assim suicídio em cada rima pobre.
E assim como eu, não viva eternamente jamais.

Poema esse,
Eu, assim,
Como esse mundo vil e banal.
Que insiste em se reinventar,
Embora não consiga.

Poema esse,
Que assim como eu,
Poesia essa [vida]
Assim como eu
Assim como eu, mortal

sábado, 3 de julho de 2010

Inocente


Estava eu observando um homem caido no chão a uns cinco metros de mim. Olhei de vários ângulos e só consegui imaginar um cara que teria bebido demais. Tentei reconhecer o rosto e não conseguia ver direito no meio daquela escuridão. Procurei por sangue e nada. Dei uma palmada forte com a mão, tentando acordá-lo. Muito acontece, lugar errado na hora errada. Vai que o cara morreu. E eu ali parado olhando pra ele, era flagrante na certa. Dei uma olhada em volta, não via nenhuma pessoa por perto. Meio com medo decidi chegar mais perto. Fiquei a um metro de distância, olhei por cima e reconheci o rosto. Era o vendedor de picolé que passava toda semana por ali. Encostei a mão nas suas costas e balancei-o um pouco na esperança de acordá-lo. Nada aconteceu. Vou embora desse lugar. Dei dois passos para trás e me virei abruptamente, e dei de cara com um homem. Fiquei sem reação, não sabia se gritava, corria, perguntasse algo, fiquei ali parado encarando aquele homem. Ele olhou-me no fundo dos olhos, chegou bem perto do meu rosto, deu uma forte fungada com o nariz e desviou de mim. Ajoelhou-se ao lado daquele homem, virou-o de barriga para cima e colocou a orelha perto da sua boca, tentando ouvir sua respiração. Depois botou o ouvido no peito do homem e disse: "É, morreu mesmo." Não falei nada. O cara levantou-se olhou nos olhos novamente e disse: "Se contar que me viu aqui, te mato do mesmo jeito que o matei." Balancei com a cabeça, confirmando que não falaria nada. Ele desviou de mim novamente, subiu a rua deserta, escura e sombria. Fiquei ali estático, sem mover um músculo sequer. Eu me perguntava: " Por que eu? Por que eu? O que eu fiz?" Tudo que pensava naquela hora era o que estava pensando desde o começo, lugar errado na hora errada. Não sabia se chamava a polícia, se contaria a verdade a eles, que havia visto um homem que confessou ter matado-o. Estava confuso demais. Decidi ir para casa. Passei do lado daquele homem e segui para casa, pé ante pé, corria como um corredor de marcha atlética, olhava muitas vezes para todos os lados. Cheguei na rua de casa, corri para o portão, o abri rapidamente e entrei mais rápido ainda. Aquele acontecimento não me deixava pensar em outra coisa. Passei por todos em casa, não falei com ninguém, entrei no meu quarto, deitei na cama, fechei os olhos e tentei dormir. Passei mais ou menos uns vinte minutos com os olhos fechados, por cansaço enorme, peguei no sono. Meus sonhos não me davam trégua. Acordei morto de sono, continuei deitado na cama por mais trinta minutos após ter acordado. Peguei meu celular, olhei as horas, onze horas. Dei um pulo de susto. Perdi minha aula. Levantei da cama, coloquei meus chinelos, abri a porta do quarto, fui até o banheiro, lavei o rosto, fiz minhas necessidades, escovei os dentes. Saindo do banheiro, não ouvia a voz de ninguém. Olhei por toda a casa e não sabia aonde poderiam ter ido. Olhei novamente o celular, e percebi que era dia de sábado. Lembrei que talvez estavam almoçando na casa da minha avó. Abri meus contatos no celular, liguei pra minha mãe. O celular apitou, olhei na tela e vi. O aparelho estava sem sinal, nem um pontinho sequer. Soltei logo o xingamento contra a empresa que só me deixava estressado. Larguei o celular de lado, sai para a frente da casa e escutei: Parado, mãos na cabeça! Não entendi o que estava acontecendo, olhei para os lados, sete viaturas da polícia me cercaram, armas apontadas para mim, cães latindo por todos os lados, e avistei do lado meus familiares, que me olhavam tristes e abalados. Com os braços na cabeça, fui algemado e levado para a traseira da Blazer da Rotam. Todos que estavam ali na rua me olhavam incrédulos, os que me conheciam, não me olhavam nos olhos, os desconhecidos nem se preocupavam se as algemas estavam apertadas ou se o policial iria me espancar quando chegasse na delegacia. Tudo aquilo me deixou mais louco, pisquei várias vezes os olhos na esperança de tentar acordar desse pesadelo. Me colocaram no carro e deram uma coronhada na minha cabeça. Acordei dentro de uma cela, quatro metros quadrados, uma cama, privada, enjaulado.

" E voce acha que essa história vai comover o juíz? Acorda garoto, todos nós somos inocentes. É como eu sempre digo, - Cumpriremos a pena, o quanto antes sairmos, melhor."

" O que me encabula em meio a isso tudo, são as acusações".


Crime ....

terça-feira, 22 de junho de 2010

Aniversário de 40 anos




Um aniversário de 40 anos é importante para qualquer um. Imagina um título. Mas não é um título qualquer. É um título Mundial. Uma seleção que marcou época. Dia 21 de junho de 1970, exatamente nesse dia a seleção brasileira de futebol conquistava seu terceiro título. Com jogadores bem distribuidos taticamente, com talentos individuais fantásticos, como o rei do futebol Edson Arantes do Nascimento o Pelé e o furacão da copa de 70, Jairzinho, e como grande mestre daquela equipe aquele que ja era campeão mundial como jogador: Zagallo.


Uma seleção que marcou época com um futebol muito eficiente e bastante funcional. Toda grande equipe começa com um grande goleiro. Funcionalidade começa com 'F', de Félix. Uma muralha contra aqueles que eram atuais campeões. Vitória suada, na raça, brigada contra os ingleses por apenas 1 a 0. Briga começa com 'B', do grande zagueiro brasileiro Brito. Seleção que mostrava patriotismo. 'P' de Piazza. Grande quarto zagueiro. Time especial, com 'E' maiúsculo, de Everaldo. Lembrando que o jogador com o nome mais bonito era titular e se machucou. O lateral - esquerdo Marco Antônio. Uma defesa completa, que tinha comando, um capitão. Nesse ano, capitão era sinônimo de Carlos Alberto Torres. Aquele que levantaria a taça Jules Rimet.

A partir daí, começava um meio de campo com classe, categoria, que começava pelo volante que inovaria na marcação e na saída de bola: Clodoaldo. Fez uma jogada fantástica driblando quatro marcadores na final da copa que resultou num belo gol. Gol que começa com 'G' de Gérson. Segundo volante daquela seleção. aquele que tinha a função de levar a bola aos maestros da seleção. Um passe, um toque altamente refinado. 'T' do mineiro Tostão, que como nascido em Minas Gerais comeu pelas beiradas e fez um belíssimo mundial. Fechando o meio de campo daquele time, um rei que não era rei. Mas tinha um chute digno de realeza. 'R' de Roberto Rivellino, repetidas vezes.

O ataque dispensava comentários. O camisa sete daquela seleção era Jairzinho, considerado o Jogador daquele mundial. A camisa 10 é inexplicável. A magia que ela exerce, todo o brilhantismo que ela demonstra só por existir. Aquela memorável atuação por si só na semifinal contra o Uruguai. Um chute do meio do campo passando rente a trave. Aquele drible da vaca de corpo que caprichosamente insistiu em não entrar. Ele, com 'E' maiúsculo, como se fosse Deus, mas não o é pelo fato de que não precisamos roubar para sermos campeões igual aquele lá. Edson Arantes do Nascimento, o Pelé. Jogadas fantásticas que entraram para a história e dificilmente veremos de novo. Parabéns a seleção e a todos os jogadores que fizeram parte daquele time. Para terminar, aquele que possibilitou tudo. O técnico do tri tem 13 letras: Zagallo. Enfim, parabéns pelos quarenta anos Tri.

sábado, 19 de junho de 2010

Velho, Cachimbo e Rock and Roll


Fui no circo. Um show de rock. Mais uma festa estranha com gente esquisita. Vi uma banda legal tocar com instrumentos que combinam com as ruas de uma capital européia que eu nunca visitei. Vi outra banda, na mesma esquina de muitas outras bandas e algumas canções. Por um segundo assistindo senti um pouco de inveja. Talvez admiração. E pensei algo como: Queria ter uma banda. E lembrei que eu já havia estudado música e que não era a minha.

Então apenas me contentei em admirar. Posso até ter as tatuagens e o cabelo grande, mas definitivamente essa não é a minha. Talvez apenas mais uma blusa no meu guarda roupa e mais algum aspecto definidor dos traços marcantes de minha personalidade. Aquela construção. Um Kurt aqui, Gessinger ali e um Waters acolá. Mas são tantos quadros na parede. O canivete hereditário que eu não uso na cintura. A botina travestida em design urbano e as palavras disfarçadas de modernidade.

Queria ser também um volante desses clássicos. Que poderia ser a maior banda de todos os tempos da última temporada, mas que não se vende na mídia. Afinal nem todos somos prostitutas. E nem sempre os melhores são realmente cultuados. Aliar técnica raça e agressividade. É a mais sublime expressão poética do futebol . O carinho , o talento pra bater na bola. A incapacidade de se render e o espírito guerreiro de alguém sempre a marcar. Não dava pra ser brasileiro. Afinal nossa graça é outra. Mas esse volante também não sou.

Sou um velho com um cachimbo perdido em meio a essas anotações em aposentos caóticos. Um vício cruel em uma droga impiedosa. Nostalgia. Nessas heranças da juventude ecoam em minha mente uma banda cantando que em livros de histórias seríamos as memórias dos dias que viriam, se é que viriam. Pois bem, eles chegaram e cá estou. Perdido no meio da fumaça de um cachimbo, música desconhecidas e milhares de folhas escritas por todos os lados.

Sinto saudade de todas essas e-stórias, da França não ocupada em Casablanca e de cantar a marselhesa. E de chorar, aos 10, aos 20, aos 30 e até hoje nos 60. Só pra ver até quando amor agüenta. Das arquibancadas gritando: DILL! DILL! DILL! Mas não adiantar contar essas histórias fantásticas pra essas crianças de hoje em dia. E eu nunca pensei que viveria para ver Goyaz campeão do mundo. Meus papéis desorganizados e a fumaça de meu cachimbo me fazem companhia. Mas não me importa, nós sempre teremos Paris.

Esse velho em roupas velhas esperando a morte chegar sozinho em uma sala com certeza há de se aproximar mais rápido do que o mais ousado pensamento se faça. E o fato é que esse velho parou nos vinte (quilômetros por hora?) ou não. Não se esquece do dia em que uma garota disse que ele era escritor e que tinha 17, não 57 e que era normal que tudo fosse aprendizado. E ainda disse mais: Você é bom.

Então quando eu estou em um circo vendo uma banda batendo cabelo com belas tatuagens e acordes não sinto inveja e sim admiração. Pois sei que naquele momento um velho de 60 anos está escrevendo mais um dos capítulos de suas desventuras nostálgicas. Admiro um volante Italiano. Mas prefiro ser um volante português de 20 e meter aquela bola de três dedos, que vai chegar redonda e letal no final da minha vida. E alguém não dirá joga demais, mas sim: Escreve demais! Nas arquibancadas, nas cadeiras, nas gerais, um velho triste com umas tatuagens também velhas vive seus vinte. Anos ou kilomêtros por hora.

Enquanto isso, em tudo que eu faço, dos livros que eu leio, ou não, de todas as músicas, de todas as jogadas e a cada única palavra já sinto a responsabilidade de ter alguém na platéia. Em cada palavra, cada letra, já não sou mais tão solitário e espontâneo. Sinto alguém no meio de todas aquelas cadeiras vazios olhando sem parar para mim. Sempre.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Bisavô


Pulou para a morte de peito aberto e braços esticados. Sem medo do porvir. Como um louco pula do penhasco e sente seu rosto cortar o vento, como uma águia em uma rasante, os olhos fixos na presa. Foi assim que se entregou a morte. Negro, 93 anos, olhos claros, esbanjava saúde, mas não alegria. Morreu quem ele amava, vivia aonde não queria e em suas costas pesava o tempo de uma longa vida. A poesia já não brotava de sua boca como nos bons tempos, os bons livros se perderam entre as traças.
Assim se foi: negro, 93 anos, olhos claros e esbanjando saúde.

Fodi a loucura

Se há genialidade perdida nesse deserto de emoções, deve estar ali entre o rio Tigre e Eufrates. Um beijo na loucura. A fodi de quatro e a fazia gritar e gemer. Fodi a loucura antes que ela colocasse seu strapon colossal e me fodesse. Soquei a cara dela. Chutei o seu estômago. Linda mulher de lábios doces e traiçoeiro é a loucura. Sedutora.
Voltei ao campo de concentração moderno. Faça o que eles mandam. Calado. Apenas faça. No fim dos tempos uma câmara de gás te espera. Voltei para o campo. A mesma rotina, sempre a mesma. Roupas listradas nos diferenciam daqueles que mandam. Os uniformes deles estão limpos... todo o tempo.
- HEY! A GUERRA NÂO ACABOU! - gritei para Pascoal. Mas ele não ouviu. Pobre coitado. Nunca fudeu a loucura.

Dezoito

Não adianta me olhar
Com esses olhinhos tortos
Nem com esse nariz vesgo;
Suas cicatrizes e sua manha,
As manhas e as manhãs,
Para calar a boca, maçã.

Médios lábios, doces,
Acompanhados por uma voz sedosa
De éter e bruma e chocolate,
18 anos de um coração forte
Que derrubam o sujeito mais fraco do norte;
Para calar a boca, Pessoa.

Um corpo. Na essência das linhas,
[As linhas mais perfeitas que eu já vi]
Por falar em linhas,
Mania de dezoito
Uma linha para cada 'eu te amo'
Dito numa hora de sessenta amores.

Quatorze horas

Ponteiros parados, os dois
Com que rosto ela virá?
No meio de um copo de uísque
Um cigarro, uma cara
O dissecamento de um corpo,
Amor.

Como num processo sistemático
De empalhamento venoso
Te detesto e amo ao mesmo tempo
Talvez seja o segredo dessa vida,
Dois sextetos,
Amor.

Me escondo atrás do cálculo idiota
Dois menos um, zero,
Na palavra rude num fast food,
Sozinho, nu, na cama, no sítio,
Entretanto, solidão, só sei ser seu, fato,
Amor.

Para a mulher mais amor de todos os tempos. E ponto.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

O meu mundo Paradís



Lembranças de uma viagem sem muito sentido. Elas andavam e zanzavam pelos cantos da floresta do imaginário, deixando para trás, todo o pólen, fazendo as coisas florescerem, crescerem, darem vida a tudo. Eu olhava para o céu, na copa das árvores, via todo o brilho que produziam, ouvia aquela música suave, relaxaram meus músculos, me deram sono, me fizeram cair. Aquela imensidão da floresta, cercada por árvores enormes, animais encantados e flores que cantam. Eu abria devagar meus olhos, meio embaçados, meio pesados, mas abri. Meus músculos pulavam, meus ossos estralavam, meus órgãos gemiam e me pus em pé. Me assustei. Meu coração doía, tudo girava muito rápido, fui ficando zonzo, cai de joelhos no chão, tapei meus olhos, que ardiam como se fossem pimentas, vomitava uma gosma verde, e voei longe com a explosão. Levantei mais atordoado, corri para detrás da árvore e me escondi. Olhei para o céu e vi fumaça, pedras de fogo, dragões negros, insetos que me agonizavam ainda mais. Senti uma ferroada no braço, olhei, já sendo atacado por mariposas gigantes, levantei e corri velozmente sem olhar para trás, corri para longe do ataque, pulei raízes enormes, bati de cara nas plantas exóticas daquele lugar, virei para a direita, corri mais alguns metros e tropecei no cipó de uma árvore e cai novamente. Entrei em um sono profundo, via coisas girarem e girarem, cores e formas, números, pessoas, retornava a minha... Acordei. Ofegante. Suado. Era dia, eu estava deitado numa cama meio dura, de palha. Pisquei rápido, vi coisas, ouvia vozes, choros, gritos. Apoiei-me nas paredes, segurei meu corpo. Lembranças, viajei para um mundo que era tão real, era tão estranho. Era o futuro. Corri para fora dali, abri rapidamente a porta, e os raios daquele sol amarelado me cegaram temporariamente. Consegui abrí-los e me confortei. Era dia, 11 de fevereiro. Era tudo um horrível pesadelo, um horrível visão do futuro. Eu finalmente acordei no paraíso das tulipas, o mundo das cores, o meu Paradís.

domingo, 13 de junho de 2010

Divagações de um velho louco – PARTE TRÊS



Um velho louco que descobriu o mundo dos blogs pediu que postassem aqui suas injúrias, pensamentos e qualquer outra merda que saia dos toques dos seus dedos no seu teclado sujo de café e cinzas de cigarro. Amém!

Merda. Tinha aquela garota. A pele dele brilhava mais que o sol no verão em Salvador. Ela era diferente. Seu sorriso... E eu não passava de um mancebo de 25 anos. Foi a única que amei. Queria chamar a garota para sair. Minha cabeça estava enfiada na merda, eu precisava respirar um pouco, espairecer... Convidaria aquele lindo corpo na esperança que fosse acompanhado por um cérebro. Ela trabalhava em uma livraria no centro, o lugar era muito frequentado por jovens escritores pseudo-qualquer-bosta, todos querendo ler os clássicos.

Eu nunca conversei com ninguém lá, a maioria daqueles caras era um chute no saco. Então, o que importava era ela. Tinha dezenas de livraria na mesma rua do centro, algumas até mais vazias do que essa, mas eu tinha que ir lá ver a garota. Eu era um maldito cagalhão, não tinha coragem de falar com ela, era a primeira vez que sentia aquilo, tudo isso era novo pra mim: o coração acelerava quando a via, minha respiração alterava e sentia um frio desconfortável na barriga.

Resolvi falar com ela, parecia com um daqueles filmes que eu tinha que ver no cinema para conseguir tocar nas coxas de uma garota, conseguia ouvir a trilha sonora, tocava "There is a light that never goes out" do The Smiths, e tudo estava em câmera lenta, era a sensação que eu tinha.

            - Oi, sempre te vejo por aqui e... – eu disse sorrindo.
            - Não temos esse livro – ela disse me interrompendo.
            - Não é um livro, é que eu te acho bonita e...

Escutei um disparo, o sangue dela espirrou na minha cara. Do outro lado da rua dois babacas brigavam, um estava armado, o que não estava correu em direção a livraria, um dos quatros disparos que o sujeito armado deu foi direto na cabeça dela. A última imagem que eu tenho dela gravada em minha memória é do seu corpo estendido na poça de sangue no chão. Isso não parecia com os filmes que eu via no cinema para tocar nas coxas das garotas.      


Leia também: Divagações de um velho louco - PARTE UM
                        Divagações de um velho louco - PARTE DOIS

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Bolero

Eu fui sincero como não se pode ser
Contei-te meus segredos, meus medos
Busquei compreensão, perdi meu poder
Fiquei frágil, revelei meus sentimentos

Busquei a mesma confiança
Desesperado por sua aceitação
Almejando uma aliança
E recebi nada mais que educação

Um vinho barato, um Marlboro vermelho
Ajudam a esconder-me de mim mesmo
Mas a mascara e o rosto trocam de lugar
Quando vejo minha cara embriagada no espelho do banheiro

E hoje você chega e me chama
Impede-me de deixar seu labirinto
Seu olhar sempre distante sempre me engana
E acabo voltando sempre ao mesmo lugar

Now & then, the Soul

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Porcos voam enquanto há álcool e dinheiro


Era um bar qualquer e eu sentado no balcão tomando uísque sem gelo e fumando um cigarro. Ela chega e pergunta, “Você tem fogo?”. Olho para ela, com o cigarro na mão e com um sorriso de canto de boca e respondo, “É claro”. Tiro o isqueiro do bolso e o levo até o cigarro que está na boca dela. Ela acende, dá uma tragada longa, olha para mim e pergunta, “Você não é aquele escritor do Por que é proibido pisar na grama!?”.  Esse era meu terceiro romance, o mais famoso e o que me deu mais, mas não quer dizer muito, dinheiro, o que fez eu trepar mais durante a semana, graças a ele meu Corolla cheira  à boceta e hoje sou um solitário desgraçado  em algumas partes do dia e um bêbado em outras. Mas foi o caminho que escolhi. “É, eu que escrevi essa merda”, respondi.        

Eu já tinha sacado ela na outra mesa, me olhando e tudo mais, eu encarei ela também, mas fiquei na minha. Ela estava enlouquecendo, querendo perguntar se eu era eu mesmo. Um pouco de fama e algum dinheiro, foi isso que  a literatura me deu. Só ganhei dinheiro porque um editor europeu casado com uma mulata baiana leu um livro meu, gostou e levou para vender lá fora. Foi a mulata que deu o livro para ele. Se eu estivesse com uma mulata rabuda daquelas não perderia meu tempo lendo um lixo daqueles. Mas ainda acho que foi ela que convenceu ele a publicar o livro. Até então, ganhava uns trocados com essa de vender livros, mas precisava trabalhar no jornal ainda, pura merda.

Tem uns pseudo-intelectuais, loucos, loucas, atores, atrizes  e garotas de programa de luxo que liam o que eu escrevia. E eu sempre encontrava essas mulheres que liam o que eu escrevia.  Sempre era convidado para essas festas que aparecem artistas de todas as laias, esse povo de gosto estranho queria que eu desse as caras. Eu pouco fodia para eles, o que queria era beber e  conseguir uma boa trepada.

– Escritor maldito, marketing barato para enganar adolescentes. Eles leem e se acham os fodões subvertidos, os contraculturas de 2010 - disse ela antes de mais uma tragada.
– Aceita uma dose? - eu disse enquanto levantava o copo.
– Pode ser.
– Eddie, uma dose para a garota aqui. Então, acha que é tudo marketing?
– Você é daqueles que só come uma mulher pagando.
– E qual é seu preço?
– Mais que uma dose de uísque ou qualquer outra coisa que seu dinheiro europeu possa pagar.

Dei outro sorriso e virei o resto da dose de uísque, olhei nos olhos dela, ela tinha um olhar profundo, daquele que lê sua alma e faz seu pau ficar duro.

 – Foi o que eu pensei, não há dinheiro no mundo que pague uma trepada com você. Mas você veio até aqui. Ficou me encarando antes, levantou da sua mesa e está aqui ainda - eu disse.
– Pelo jeito até no ego você gosta de copiar esses escritores malditos.
– É, eu sou uma cópia maldita de escritores escrotos que já se foram. Nunca serei um Machado de Assis, Lima Barreto. Deixe a genialidade para eles e o dinheiro que banque meu uísque para mim. Não me orgulho disso. Mas foi como consegui sobreviver. Trinta e seis anos, classe média, sem uma esposa, sem filho, nenhum  cachorro para cuidar, essa é a vida que levo porque não queria ser mais um desses babacas com suas vidas mortas, cheia de trilhos, de horários para cumprir. As mesmas coisas todos os dias. Mas veja só, estamos aqui, eu e você, somos tão babacas quanto eles, somos solteiros, mas queremos mais que uma trepada, queremos algo para tampar o vazio em nossos peitos. Mas nessa merda de oceano de pessoas ninguém está limpo, não há alguém para morrer de mãos dadas na velhice. Não há saída para o labirinto da  vida medíocre. E estamos todos megulhados no mesmo esgoto.
– Vamos sair daqui - disse ela.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

A primeira vez

Ah, que saudades desse blog... Meu amigo cinzeiro, quixotesco, pequeno-burguês e solitário. Uma multidão de um só; (lamento!].


No dia 17 de outubro de 2003 meu pai me buscou na escola. Fomos em uma direção totalmente desconhecida da cidade e paramos em algum lugar na avenida Anhanguera. Ele disse que havia contratado uma garota de programa confiável, limpa e pronta para que eu tivesse minha chamada “primeira vez”. Obviamente, entrei em pânico. E obviamente também, era uma brincadeira. Atravessamos a rua e entramos em uma loja da militaria e comprei meu presente, um dos mais legais que já ganhei por sinal, uma jaqueta camuflada com vários emblemas.


Hoje no ônibus chegando do trabalho uma mulher bêbada começa a falar comigo por causa da dita blusa. Disse que morou a vida inteira em um quartel e que eu deveria ser importante por usá-la. Bastou algumas palavras e disse que eu era melhor do que ela. E eu disse que não, que somos todos iguais. E ela retrucou falando que alguns tem mais oportunidades. Então me peguei a pensar nessas oportunidades. Mas não vamos nos perder nessa estética textual agradável, afinal blog maldito que somos devemos falar dos imundos.


Pensei em todas as minhas primeiras vezes. O primeiro beijo, o primeiro Goiás e Vila e porquê não(?) o primeiro amor. Mais algumas canções na mesma esquina. A primeira. A relação das primeiras experiências é intrínseca com a existência daquilo que as segue em nossas vidas. Talvez não tivesse visto jogos tão vibrantes não teria me apaixonado por essa torcida. Talvez não tivesse lido olhos tão brilhantes não teria me apaixonado por aquela garota.


Lembrei da primeira vez que fui em um puteiro. O nojo que tomava conta de mim e todo o clichê desfilando, cegando meus conceitos. Sentia nojo até mesmo de respirar. Via as putas como algo inatingível, em outra esfera. Uma esfera dos mágicos, de Gabriel García Márquez e Charles Bukowski. E eu ali, cheirando macdonald's e imperialismo barato. Cheirando revoluções fast food latino-americanas. Percebi que existiam tipos diferentes de putas.


Tinham as que se apaixonavam pelos clientes. Tinham as mercenárias. As que se perdiam numa profusão de interesses que as fazia perder o próprio sentido, estando a mercê de suas vidas e seus respectivos hábitos. Tinham as que fingiam sorrisos e as naturalmente simpáticas. E inevitavelmente havia aquelas que você se dava o luxo de julgar lamentável o fato de serem putas. Simples assim.


Em antagonismo a isso, resolvi me lembrar da primeira vez que fui em um bar gay. Dividi os gays em três tipos. Os gordinhos, os magrelos e os fortes. Percebi que alguns se beijavam demais e outros não tanto assim. Que alguns se vestiam afim de provocar escândalo. Que outros não eram tão sutis assim e gritavam sua personalidade no mais sutil tragar de um cigarro, outros não.


Logo, vi também que as pessoas normais também são fortes, gordinhas ou magras. Que alguns casais não se beijam e outros se beijam demais. Que algumas pessoas provocam escândalo mesmo. E o que o ato mais sublime pode se tornar poesia ou comédia. Que algumas garotas são interesseiras e que outras se perdem em uma profusão de estilos a qual acabam ficando a deriva das próprias jornadas. Que algumas são simpáticas e outras são falsas. Assim como as putas.
Ela não sabe, mas sim, no fundo somos todos iguais. A única diferença é que uns são mais iguais que os outros.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Telegrama

Como as coisas andaram largadas por aqui recentemente. E volto mais uma vez para cantar as mediocridades dessa vida. Tento escutar uma música para relaxar. Talvez chico. Só consigo escutar João e Maria. Tantas referências. Me lembro de lisbela. E alguma coisa sobre querer ser o Bruce Lee do maranhão. O fato de não ter feito nada memorável é assombroso. Não sou bom de bola. Um guarda caças não me avisou que eu era um bruxo com 11 anos. Muito menos alguns jedis me acharam com 10. Não entrei em uma escola militar aos 15 muitos menos uma formatura emblemática aos 18. E não terei outra formatura emblemática aos 22. Parece que o único dom é o de estragar tudo.
Não virei pastor como queria aos 12 e provavelmente aos 30 não estarei no ministério das relações exteriores como quero aos 22. Os pesadelos nunca passam. Já decorei cada fração de segundo de infinita highway e ainda assim continuo acordando todas as noites molhado de suor. Antes eu até me apavorava. Hoje, já faz parte de mim. Apenas acordo, me acalmo, espero um pouco e volto a dormir.
Não sei se um dia realmente terei orgulho de mim. Talvez assim como os pesadelos, essa palavras tristes se tornem tão comuns que passem desapercebidas e não atrapalhem o teatro de uma vida feliz. Algo como escola cinema, clubes filhos ou televisão.
As fases vem e vão. Me falaram pra parar de falar de amor e que preferem as tendências suicidas. E no outro canto da mesma, na mesma esquina em outra canção me falaram que talvez o amor seja a maior das tendências suicidas. As vezes vejo essas ausências criativas. Talvez uma hora uma delas chegue e nunca mais se vá. E então com 40 eu poderei pensar que não sou o escritor das causas perdidas que me dava o luxo de sonhar aos 21.
Vejo poesia em todos os cantos da cidade. No mendigo na calçada. No grafite. Nas arquibancadas. Nos bares. Há quem diga que eu sou melhor em prosa do que poesia. E eu digo que essa poesia por segundos preferidas e universal, num trago qualquer de uma noite memorável foi embora e acho que nunca vai voltar. Lamento que tanto encanto tenha se perdido em vão numa noite, que assim como os pesadelos, prefiro esquecer. E o final continua por esperar. Mas a vida não é feita de finais.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Bem aqui

Quirinópolis. Um sufixo helenístico que domina as denominações interioranas e agrada a gregos e goianos. E um prefixo que não me remete a nada. Nem idéia. Talvez ser chamada de Criminópolis fosse mais adequado. Não que a pacata cidade (pelo menos enquanto o sol ilumina) fosse a capital da violência travestida ou a casa das incidências de homicídio. Mas, que a cidade reserva raras emoções, isso é indubitável.

E não guarda a sete ou oito chaves. Muito pelo contrário. Guardar é um verbo muito fechado, com o perdão do trocadilho. As emoções estão lá, disponíveis pra quem quiser. Pra qualquer um que se disponha a ouvir um sincero 'vou realizar seu sonho', um beijo metálico ou um trago azul num Derby. Pra qualquer um que tenha um bom coração e se dispa de determinados dogmas e preconceitos formados em decorrência da criação burguesa que lhe foi imposta.

Quirinópolis. Interior. Muito mais palheiro. Vômito. Derby é obra, é concreto, é asfalto. É capital que se ergue a cada dia numa velocidade assustadora, como a vodka que atinge o cérebro e te joga no chão. Como o rio que deságua nas águas turbulentas de algum mar ao sul de lugar nenhum.

Piercing. Coloque-o no meu caminho, que eu quero passar. Me faz ouvir as picapes de um dj numa boate abafada e sem área de fumantes. Ou admirar o nariz daquela que me faz bobo e já disse que não. Piercing. Quer algo mais urbano? Derby. Emoções. Mensagens coladas no celular dela.

Coloco uma pipoca no microondas, só que desligado. Muitas vezes, o que você busca está a dois passos de você, como a garota que pita cigarro de pedreiro e tem uma argola na língua. E mora a três quadras de você. Mas você não enxerga. Temos a mania de procurar longe o que está bem debaixo do nosso nariz. A felicidade não está necessariamente onde o vento faz a curva, ou depois dela. Pode estar a duas ou três quadras de você, bem debaixo do seu nariz e ofuscada pela mais digna sensação de solidão.

Está tudo bem agora. E em algum lugar desse chão goiano, alguém vai dormir com um gosto diferente na boca. Talvez gosto de fumaça da capital. E em algum lugar dessa metrópole, um alguém se deita com um gosto de vento interiorano na boca. Mas um gosto diferente do da pipoca que espera dentro do microondas desligado.


Homenageando Rafael Rabelo, baseado em fatos reais.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

A felicidade não se compra na feira.


Hoje é o dia, é o dia que tudo vai por água a baixo. Você pensou que era simples assim. Simples assim. Não, não é. Você me traz péssimas lembranças, você acha que tudo está nas mil maravilhas. Que tudo que passamos não significa nada pra você, ao contrário que pra mim significou pelo menos o amor que um dia imaginei ter vivido ao seu lado. Pois é minha cara, esse é o mundo em que vivemos, isso tudo é real. Suas mentiras e suas idiotices fez você cair nesse buraco sem fundo, nesse mundo infantil. Apague este cigarro, não está vendo que falo sério com você? Tudo pra você foi somente isso, somente poluição, somente a dor no peito alheio, a dor da sua mãe que tentou te ajudar quando percebeu a sua deficiência, e você fez o que? Descarregou sua raiva toda em cima dela. Sempre imaginei, você em cima de um castelo protegida por um dragão, que te proíbe de fazer suas coisas. Mas você de certo modo agiu como um cavaleiro, tapeou o dragão e saiu por ai, cantarolando suas canções medíocres, ao som da noite, das baladas, do seu mundinho de merda. Quero esquecer esse inferno de Dante, esse inferno que foi ao seu lado. Vou te deixar, espero que não corra atras como fez das outras vezes, agora digo que acabou de vez, nada me faz mudar de idéia. Acabou. Não encoste em mim. Tire suas mão malignas daqui. Pobre garota, pra finalizar te digo: Bem vinda ao mundo real.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Day by day


Todo dia é a mesma coisa, acordo cedo, vou para o centro de aperfeiçoamento intelectual, e caio mais tarde no processo de cópias de uma vida sem limites.

Assim como o garçom trabalha todos os dias sem horário, vou entrando em um mundo sem volta, e acabo me deparando com a sociedade diversificada, costumes, culturas, que me dão uma base para seguir neste ramo.
Vejo o mundo de uma forma sábia, coisas que aprendi com o tempo, que hoje tenho facilidade e que me fazem levar a vida sem hora de parar, nem ao menos pra fumar um cigarro.
Bato a cara no monitor, escrevo frases erradas, mas tudo é fruto da vida.
Vou indo adiante e sei que tudo um dia acaba.
Tudo, mais tudo mesmo tem começo, meio e fim. Um exemplo mais certo disso é a vida, nasce, cresce, reproduz, e morre. Coisas que aprendi com a vida, lá atrás, la perto do meu mundo imaginário, das bandas do imortal, do mundo em que tudo era as mil maravilhas, que eu não soube dar valor.
Mas a vida é uma caixinha de surpresas, a vida é tudo que eu tenho, é tudo que eu preciso pra seguir em frente, por que quem sabe faz a hora, não espera acontecer.
Frases aleatoriamente coladas, não faz de nós revolucionários, mas espero que tanta conversa fiada me faça ver o mundo com os olhos de criança. 
Todo dia é a mesma coisa... 
 

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