sábado, 23 de outubro de 2010

Sinto



Vivo sentindo a falta do sentir.


Parece sem sentido.


Talvez por que não tenha.




Sinto muito.


Tristeza?


Dor?


Alegria?


Sinto por não os sentir.


Por não viver...



Sinto muito por isso.


Aquilo? Também.


Mas não por ti.


Por mim.



Porque não viver?


Por causa de ti?


Sem sentido mesmo...


Por isso agora vou esquecer


e começar a sentir.



Tristeza!


Dor!


Alegria!


Viver para sentir


e não sentir por viver.

domingo, 17 de outubro de 2010

Como sempre fiz

Fui criticado por não conseguir escrever duas linhas sem citar um outro autor, uma música ou ainda uma frase que já usei. Acendo um cigarro, não tão melancólico quanto outrora e percebo que realmente é verdade. Nada que escrevo é meu de fato, de direito. Por mais que o momento seja meu, meus dedos tremem de vontade de sair citando músicas e frases que se encaixam no contexto. Por vezes não fazem sentido algum. Ou por vezes não é pra ser entendida por todos, ou por ninguém. O fato é que infelizmente, eu não sei escrever.

Sou uma cópia de letras e poesias e sofrimentos alheios, como um Lego textual. Como uma porção de recortes, daqueles que você fez cortando as letras coloridas da revista de moda da sua mãe pra mandar um bilhete pra menina mais bonita da sala. Se me pedir pra escrever uma receita do macarrão que eu mesmo inventei, é bem provável que ganhe trechos de Agagê e ganhe forma de música não gravada com palavras clichês copiadas de algum cancioneiro.

Estou sempre martirizando e torturando o papel com verbos que já foram conjugados em outros pergaminhos, por outras pessoas. Às vezes penso que a caneta irá se mover sozinha, por que até ela já deve ter decorado ou sabido o trecho adequado a tal situação ou protótipo textual. E eu não sei usar os porquês.

Bato a cinza do Lucky e reflito: será que eu estou no curso errado? Deveria eu estar fazendo contas ou discutindo a Teoria do Princípio da Incerteza de Heisenberg? Pelo menos, eu teria a certeza de que não sou original e não me decepcionaria tanto. Quem sabe...

Guardo o papel listrado num bolso, a caneta Bic e o isqueiro no outro. Paro num ponto de ônibus e espero, como um sujeito qualquer, como um mortal qualquer, como o que sou. Fosse eu imortal, não estaria numa esquina qualquer, esperando um caixote metálico qualquer. Isso é tema pra outra E-storia. Agora é chegar em casa e copiar, como sempre fiz.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Eu sei

Às vezes apenas não há uma segunda chance. A palavra proferida, a boca suja do dissabor do fim. Palavras gastas, gestos exaustos, olhares mórbidos e tudo está acabado. Sem segunda chance. Não há que se pedir perdão, não há o que se perdoar. A noite acabou e eu preciso fugir sem você ou fugir de você. A derrota é um sentimento que todo mundo experimenta. O grande mal é quando se experimenta durante a vida inteira. É fácil falar de perda, de dor, de coração partido, de enganos, de ilusão e outros sonhos dantescos. Falar o quê sobre felicidade? Amores que deram certo não é um tema que faz muito sucesso, a não ser em livros de auto-ajuda.
Não tenho como falar de amores, nunca os tive bem, talvez por não me permitir, talvez por falta de sorte mesmo. Não sou mais, ou talvez nunca tenha sido, aquela garota, tão diferente do aparente, tão distante do constante. Tão dupla, tão dual. São sinais da não existência de uma segunda chance, a beleza que não perdurou, os óculos que se quebraram, o tapete que voou sozinho, o amor, negro, que foi engolido pelo céu que rachou, diante do sol, que apesar da dor, brilhava, ou, pela dor, brilhava.
É esse o motivo da raiva. Não são os erros, os sonhos em vão, não são seus olhos, a lembrança do seu abraço. O que dói é ver que existem flores, e outros tantos amores que persistem nesse dia branco, sem cor. É nessas horas que eu queria ter uma bomba pra poder me livrar do trágico efeito de tantos clichês, te fazer enxergar o meu mundo que você não crê. Mas não existe uma segunda chance. E aqui estou eu, chorando baixinho, sonhando acordada, engolindo lágrimas, numa triste tentativa de não sentir dor.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Passos lentos

Meu Deus! Quem é esse preparando uma apresentação sobre “accountability e a comunicação”, perdido em textos revisando o conceito de esfera pública, lendo a evolução do espaço público e cansado das eleições 2010?

O quarto escuro, a luz branca do computador com o editor de texto aberto brilha em seu rosto. O rosto gordo que já foi magro um dia. O rosto gordo e cansado. O rosto gordo que tem olhos que não querem mais dormir.

Vamos lá! O fim de semana está chegando. Aguente firme, José Dutra. Está chegando, está chegando. Ele repetia isso escutando Explosion in the Sky em seu player chinês. A cabeça encostada no vidro embaçado do ônibus, os fones no ouvido com o tu nin nin nin tu nin nin nin num do Explosion, sem neve e pouca luz. Ele está chegando, ele está chegando. O fim de semana está chegando. O fim de semana está chegando. Parece que a vida se tornou isso, a espera pelo fim de semana. Um ciclo vicioso, um cachorro que corre atrás do próprio rabo. Não importa, ele não quer saber, José Dutra só quer o fim de semana.

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