domingo, 21 de novembro de 2010

Morrer a vida e viver a morte


Começa-se a vida após anos de morte.

Sob os versos fúnebres a morte só lhe trás sorte.
O acaso da verdade secreta,
Cai nos braços do apostador,
Que no embaralhar das cartas.
Só falta a melancolia de quem fecha os olhos e vê a solidão.
O contato por traz da morte, aos olhos de quem quer sorte.
Ao lado da vida, aquele que olha ao norte,
A rosa dos ventos lhe mostra o caminho,
Mas neste caminho não seguirei nunca mais.
Morro hoje sob as carícias do vento do leste.
Procurei por anos e anos o sabor da vida.
Já fazem décadas de morte,
Aonde nunca tive sorte.

domingo, 7 de novembro de 2010

30 horas

São seis da manhã. Acordo, mais um dia se inicia. Preparo um café bem forte e como um pão amanhecido. Escovo os dentes. Tomo um banho, me visto. Já são sete horas, estou atrasado. Não deveria perder tanto tempo pensando naquela modelo gostosa do Pará. Chego no trabalho e começo a revisar os depoimentos sobre a vida dura das prostitutas do DER-GO. Simpáticas aquelas mulheres. Disse que eu precisava passar pelas experiências que seus clientes passavam, para, como bom jornalista, mostrar os dois lados da história e só tive que pagar umas Schins para elas. O trabalho tem seu lado positivo afinal.


Meu editor-chefe está me enchendo o saco. Ele não quer este tipo de reportagem no nosso jornal, diz que é um jornal de família. Eu digo para ele, mas ele não acredita. Puta tem família, olha o tanto de filho da puta no mundo! Já entendi, ele não quer que eu invada a privacidade da mãe dele. Bom, eu já revisei os depoimentos, as mulheres falam sobre o ganha pão delas. Ganham pão distribuindo roscas. Estranho... A maioria sofreu abusos na infância, outras desistiram de procurar emprego. Há aquelas que escolheram a profissão por que gostam mesmo, estão torcendo para encontrar algum otário rico que se apaixone por elas.


Termino a reportagem. Faço algumas pautas. Jogo um pouco de paciência. Xingo no twitter. Ameaço o editor com algumas fotos que eu tirei dele lá no DER-GO. Agora ele está todo empolgado em publicar minha matéria. Ela vai sair no jornal de amanhã. Já são cinco horas. Vou para casa. Ligo para meu filho. Que desgraça! O moleque agora quer que eu o leve para o DER-GO. Não devia ter falado da matéria com ele. A minha ex vai me matar se eu o levar para o trabalho dela. Sou um otário, ela só queria meu dinheiro. Puta desgraçada.


Durmo cedo, quero ser o primeiro a ler o jornal de amanhã. Acordo. Vou para a banca, o vendedor está irritado. Não sei por quê. Minha reportagem ficou em destaque. “Reportagem Especial”. Muito bem Seu editor! Está logo após o caderno dedicado às donas de casa e antes do de esportes. Gostei. Ficou bem estratégico. Fico em casa. Meio-dia. Está na hora. Ligo a televisão, todos os jornais estão comentando minha reportagem. Mostram até pessoas nas ruas protestando.


Parece que o meu jornal: “Correio Universal do Reino de Deus” está vendendo mais que água. Opa, estão me ligando. Convite para participar do Hoje em Dia. Programa do Jô. Altas Horas. Estão me chamando para ser VJ da MTV! Hum, que beleza! Agora tenho status. Tenho que escrever um livro. Gregory Morgan não soa muito bem. Meu nome artístico vai ser Gregory Surfistinha! Quem sabe até eu consiga um convite para participar de A Fazenda. Seria o mínimo de gratidão que os donos do jornal poderiam ter por mim afinal. Rumo ao sucesso.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Ele queria cantar a própria vida


Mesmo sendo o baixista da banda Okotô, Jair Naves, um ser inquieto nos palcos, queria um espaço para tocar suas próprias composições. No final de 2000, reuniu alguns conhecidos, procurou um estúdio e gravou quatro músicas. Assim surgiu Ludovic. Depois de 8 anos e dois álbuns, a banda chegou ao fim.

Em fevereiro de 2010, Jair Naves lançou um EP chamado “Araguari”, o seu primeiro trabalho solo. O autor de letras, como ele mesmo afirmou, “indisfarçavelmente autobiográficas”, faz referência a cidade que fica no norte do Triângulo Mineiro, local onde passou parte de sua infância. Na entrevista ele conta sua trajetória e revela, “já começamos as gravações do meu próximo disco, que deve sair em 2011”.

Quando você percebeu que a música era o seu lugar?
Para dizer a verdade, nunca tive essa convicção. Acho que enveredei por esse caminho porque gosto de escrever e creio ter uma certa facilidade com letras de músicas. Mas não me considero um grande instrumentista, um músico nato ou algo do tipo. Tanto é que só criei coragem para aprender a tocar e para compor minhas próprias canções porque na adolescência me envolvi com punk rock, com aquela história de que não é preciso ter grande conhecimento técnico ou um talento extraordinário para se expressar musicalmente. Tenho conhecimento das minhas limitações e me esforço muito para superá-las cotidianamente.

Como é o seu processo de composição? As suas letras são autobiográficas?
São. Indisfarçavelmente autobiográficas.

Como surgiu o Ludovic?
Aos 18 anos eu comecei a tocar baixo numa banda chamada Okotô, que já tinha um trabalho estabelecido no cenário paulista desde o começo da década de 90. Eu adorava estar inserido naquilo, na verdade me sentia até honrado, uma vez que eu ainda era praticamente uma criança e já tinha a oportunidade de fazer música profissionalmente, além de conviver com músicos experientes, talentosíssimos. Ainda assim, o fato de eu não ter espaço para poder tocar minhas próprias composições me frustrava um pouco. Então no fim de 2000 resolvi sair do Okotô , reunir alguns conhecidos e entrar em estúdio para gravar quatro das músicas que eu tinha escrito na época. Assim nasceu o Ludovic.

Você escreveu no twitter que o show do Ludovic no Goiânia Noise de 2005 está gravado na sua memória. O que teve de especial?
Esse show foi algo verdadeiramente mágico. Nós já tínhamos tocado em Goiânia uma vez, no Vaca Amarela de 2004, mas na ocasião tivemos uma recepção bem discreta, então não esperávamos muito. E acabou sendo uma das apresentações mais fortes que fizemos em toda a nossa história. Enquanto fazíamos a passagem de som, as pessoas cantavam trechos das nossas músicas a plenos pulmões do lado de fora. Chega a ser difícil explicar o que foi aquilo.

Ludovic no Goiânia Noise de 2005

O Ludovic tinha como uma de suas características a intensidade nos shows. No antigo site da banda tem um pedido de desculpas referente a um show no qual se machucaram algumas pessoas. Você acha que em alguns lugares falta maturidade e respeito por parte do público?
Essa observação era mais relacionada à forma como as pessoas reagiam à nossa música. Como o Ludovic tinha uma sonoridade mais agressiva e atingia as pessoas de outra maneira, às vezes parte da platéia se comportava de maneira equivocada e acabava se expressando com alguma violência, colocando a segurança de outras pessoas em risco.

Você já fez algum show que deu vontade de acabá-lo no meio e ir embora?
Infelizmente já. Poucas sensações são piores do que essa.

Em janeiro do ano passado, Ludovic acabou. Foram oito anos, dois discos e vários shows intensos. O que esse período significa para você hoje?
Um grande aprendizado, acima de tudo. O Ludovic não só me proporcionou algumas das experiências mais marcantes da minha vida, mas também ajudou a moldar a pessoa que eu sou hoje. A grande questão relacionada à banda, que algumas pessoas não entendem, é que as coisas mudam. Da mesma maneira que você não se apaixona duas vezes por uma mesma pessoa, é impossível viver tentando recriar um estado de espírito que não existe mais. Mas foi ótimo, valeu a pena. Quando eu me lembro daquela época, tenho a sensação de dever cumprido.

Qual o sentimento de ver a banda acabar em um momento tão bom artisticamente?
Um dos motivos preponderantes para o fim da banda foi justamente que não nos entendíamos mais tão bem artisticamente. Nos preparativos do que seria o nosso terceiro disco, ficou bem claro que cada um de nós tinha intenções e necessidades artísticas bem diferentes. De certa maneira, até incompatíveis. Teria sido um erro tentar levar o Ludovic adiante naquele momento.

No seu último show em Goiânia, tinha algumas pessoas gritando o nome de algumas músicas do Ludovic e você disse, “essa banda não existe mais” e agradeceu o carinho. Está sendo difícil desvincular sua imagem do Ludovic? Afinal, foram 8 anos de banda.
Não acho que algum dia eu vá conseguir me desvencilhar por completo da minha antiga banda. Basta olhar para exemplos de outros artistas com um histórico parecido: quando falam do Mark Lanegan, por exemplo, sempre falam do Screaming Trees. A mesma coisa acontece com o Lou Reed e o Velvet Underground, com o Arnaldo Baptista e os Mutantes, com o Damon Albarn e o Blur, o Wander Wildner e os Replicantes, enfim... é natural. Ainda que me incomode em alguns momentos, não tem como fugir dessa associação.

Você já pensava em um trabalho solo?
Não, de forma alguma. Foram as circunstâncias que me empurraram pra essa condição de “artista solo” – coisa com a qual eu ainda estou aprendendo a lidar, pra dizer a verdade.

Quando surgiu a idéia do EP “Araguari”?
Quando eu decidi que iria passar a gravar e lançar músicas sob o meu próprio nome, me pareceu que o primeiro passo ideal seria falar sobre algo que me fosse muito pessoal, sobre minhas origens e coisas assim. Acabei escrevendo duas músicas que falavam de Araguari (MG), a cidade natal do meu pai, onde passei boa parte da minha infância. Acreditei que seria um conceito interessante para um primeiro disco.

Alguns “críticos” disseram que seu trabalho solo demonstra amadurecimento. Quando você começou a pensar o conceito e tema do EP?
Logo depois do fim da minha antiga banda. Na época tive um certo receio de que as letras seriam quase indecifráveis para as outras pessoas, justamente pelo fato de eu estar tratando de um assunto muito íntimo. Felizmente, a aceitação para esse EP acabou sendo muito melhor do que eu poderia esperar.

É difícil para algumas pessoas imaginar como Jair Naves, um ser inquieto no palco, será Jair Naves cantando “Araguari”. O que as pessoas podem esperar do show de Araguari?
Não sei. Cada show é único. Todas as apresentações são especiais para a gente, nos emocionam de formas diferentes. Só posso dizer que essas músicas são muito importantes para mim, que nós nos esforçamos para apresentá-las da melhor maneira possível e que eu fico feliz em notar que há quem queira ouvi-las.

Você já tem algum novo trabalho em mente?
Sim, já começamos as gravações do meu próximo disco, que deve sair em 2011. Ainda não posso falar muito a respeito, mas eu sinceramente não poderia estar mais empolgado.

Como e quando você chegou a conclusão que Goiânia é a cidade mais “rockeira” que você já tocou?
“Rockeira” não é bem o termo certo que eu usaria, mas eu realmente acredito que Goiânia tem uma platéia especial. São pessoas que reagem de forma extremamente passional com a música que ouvem, muito acolhedoras e calorosas. Sempre que tenho a chance de tocar por aí, fico impressionado com a reação do público. Dificilmente se encontra público como o de Goiânia. Entre as cidades em que eu já toquei, acho que a única comparável é Mogi das Cruzes, no interior de São Paulo.

Em sua opinião, como está hoje o rock independente no país?
No que diz respeito à qualidade artística, acho que vive um dos melhores momentos da história do Brasil. São incontáveis os artistas e bandas que eu realmente admiro: Charme Chulo, Vincebuz, Suéteres, Nevilton, Quarto Negro, Hierofante Púrpura, Mamma Cadela, Macaco Bong, Eletrofan, The Soundscapes, André Mendes, Repentina, INI, Seamus, Alarde, Pale Sunday, The Name, Gigante Animal... enfim, a lista é longa. Infelizmente, os velhos problemas de sempre continuam: a dificuldade para alcançar uma profissionalização dentro do circuito, a falta de estrutura, etc.

Por Leandro Gel e Yuri Montanini

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

O último romance


Muita gente me perguntou sobre o festival. Alguns comentaram o suposto porquê de não ter falado nada a respeito. Vivo dando explicações. Explicando pra mim mesmo cada segundo. E assim vou perdendo minha existência. Estou a criar constantemente teorias que eu sei que já existem e se é que não, creio que sim e se perdem numa folha qualquer. E em vão, massageio meus delírios de grandeza com essas palavras difíceis por serem belas mas não menos superficiais. E estou sempre repetindo.



Amizade Transcendental .


Eu encontrei quando não quis encontrar. Quando mais desprezei e menos fiz questão de agradar. Quando fui então autêntico. Havia desistido desses amores que nunca se faziam reais. Percebi que eu não era um cara de amores. E eu disse o que era o sufoco. E eles se dispuseram a sempre me acompanhar. Eu encontrei e todos queríamos duvidar, afinal tanto clichê deve não ser.E em períodos diferentes, você me falou pra não me preocupar e ter coragem no amor. E hoje só de te ver, eu penso em trocar o meu crachá e a rotina num jeito livre de te levar. Afinal de contas essas questões metafísicas em um guardanapo de bar pra nós é se aventurar.



Um casal de velhos?


A morte.


[A paixão pela tênue linha entre a vida e a morte que seduz desde criança. A beleza de tudo que a tem e que flerta perigosamente com ela. O único ponto final real dessa vida hipotética em todas as constantes. Talvez a morte como produto final. Afinal não seria ela o verdadeiro último romance? Afinal por mais complexa que seja, a música fala basicamente de um amor ou de uma tendência ao mesmo. E não seria então o amor uma tendência suicida? Qualquer que seja o objeto que motiva essa paixão?

Como diria Raul: A morte surda caminha ao meu lado e eu não sei em qual esquina ela vai me beijar. Essa paixão que segue pela vida e se desenvolve. De todos os amores perdidos e amigos não feitos, da saudade de tudo que nunca se vê. Tem se então na paixão que sempre te seguiu no suicídio o último romance.]


Eu encontrei. Quis duvidar. Tanto clichê. Deve não ser. Afinal de contas, pra nós dois sair de casa é se aventurar. Me diz o que é o sossego que eu te mostro alguém afim de te acompanhar. Pra te acompanhar...




Fazenda maeda. 9 de outubro de 2009.


Uma menina linda, linda mesmo, loira dos olhos azuis beija e abraça seu namorado também muito bonito ao som dessa música. Exalam seu amor no ar para sempre e para todos. Aquele amor era o último romance de cada um e era eterno.



Um jovem solitário traga seu cigarro de maconha com paixão intensa. Encontrou a quando não quis. Para os dois sair de casa é se aventurar. E até quem o vê lendo o jornal na fila do pão sabe que ele a encontrou. Uma dádiva potencial afinal uma vida sem vícios é uma vida sem virtudes. E se o caso for de ir a praia leva a sua casa numa sacola. Quando a encontrou quis duvidar, afinal tanto clichê deve não ser. E só de a ver ele pensa em trocar a sua tv num jeito de a levar a qualquer lugar... Aquela música era para ele sua paixão, naquele momento.





E esse momento nunca acabou na minha cabeça. Numa complexa noção de tempo ainda estou parado no dia 9 de outubro, vendo o casal loiro do meu lado irradiando amor. O maconheiro na minha frente irradiando não menos paixão que o casal. E penso nisso todos os dias. Afinal o que é o último romance? São inúmeras definições dessa obra genial do grupo Los Hermanos. Fugi desse debate. E ele me encontrou. E como já diriam os quase famosos, a música te encontra. E além disso também. O que é pra ser te encontra. Essa teoria claro, também não é minha .

De tanto fugir resolve encontrá-lo. Cheguei a conclusão de que a definição é altamente variável, se encontrando aí a beleza e genialidade única da obra. Afinal de contas a fórmula da imortalidade é muito simples. Para quanto mais pessoas o seu discurso se faz importante e interessante de se ouvir mais importante ele se torna. E conforme o número de pessoas aumenta a durabilidade do mesmo na nossa sociedade e o seu raio de influência aumenta. Logo que alguém já deve ter registrado essa "descoberta" também.

Exaltamos tanto o belo porque ele não existe. Somos todos feios, cheios de vícios e pecadores. Cante para os feios, para os putos, para os fumantes e para as putas ( tem gente que me pergunta porque falo tanto delas...e eu falo: Somos todos prostitutas. Inexoravelmente.) Nesse último romance que acontece toda vez que nos prostituímos, nessa relação de vida curta com certeza apenas do fim . Dentro de sua existência a se renovar. Se prostituir não se confunde com a vida. É a vida. Cante para o último romance.
Talvez o grande mérito dessa obra seja a sua capacidade de se fazer íntima a cada um que a escute. Mas isso é óbvio. Mas eu não sou mais que o óbvio. Sou apenas a sua redefinição em um clichê.




Para a amizade mais transcendental de todas,

Para o amor mais amor de todos,




De todos os tempos da última semana. De todos os tempos do último romance.

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