quinta-feira, 26 de maio de 2011

Toda forma de poder

Um discurso em praça pública. Na contramão, atrapalhando o sábado. Mais um sábado, ou menos um. O primeiro, desde que voou. A história se repete. Mais uma vez, fico distante, ligado apenas por um monitor. E por alguns gigas de sentimento. Deve ser algum manifesto. Garotos com a camiseta mais pop da contemporaneidade: a cara do Che. Bigodes, machados, bigornas.

Como a agulha que fura a veia e prova do mais vermelho dos nossos corpos, é a nostalgia de quem sente saudades dos anos sessenta em um manifesto assim. Não é mais o grafite que risca a folha. É a folha que risca o grafite. Costumavam jogar damas e discutir futebol por aqui. E os sinos da igreja de Nossa Senhora do Rosário repicam numa fúria nunca vista.

E as batidas entram pelos poros do meu corpo, transitando sem rumo pelos meus órgãos vitais, provocando uma convulsão anatômica, escorrendo depois como uma geléia pelas minhas pernas e ganhando a sarjeta, perdendo-se nos bueiros e me deixando com uma sensação de desorientação. É assim que me sinto. E atrapalho o tráfego dos manifestantes clichês. Por esse pão pra comer.

- E outra coisa. Fui informado de que Leonel Brizola recebeu alguns milhões de dólares de Fidel Castro para dar início à guerrilha no Brasil, você está sabendo. Cercando a praça, os camburões da PM formam uma muralha compacta e ameaçadora. Jã não ando mais sozinho, começo a cambalear e derrubo um senhor de barba que esbraveja um ‘presta atenção’.

Recoloco o livro na estante para fugir à resposta e me deitar, após mais um sonho grotesco e febril. A saudade faz com o nosso corpo o que bem quer. Me sinto carente de comunicação, mas me contenho. Minha situação recomenda cautela. E eu até que tento. Presto atenção no que eles dizem, mas eles não dizem nada.

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