quinta-feira, 21 de março de 2013

6:55 am

Um dia que se inicia chuvoso e frio é algo tão belo quanto uma
desilusão amorosa. Eu que não fumo, queria um cigarro e um café
quente, numa padaria bem honesta, dessas de periferia, com um
motorista de ônibus do meu lado e um pedreiro do outro. Após virar uma
madrugada lendo, realmente acordo e não lembro mais do tempo que
passou. Acontece apenas, que essa imagem cinza, me deixa apaixonado.
Apaixonado por essa cor cinza, justamente por ser uma cor sem cores.
Uma cor mórbida. Uma cor que deixa confortável porque sou um covarde. Covarde
porque as cores são emoções e prefiro não sentí-las. E essa paisagem
cinza então, me deixa apaixonado por tudo que não consigo sentir.
Cinza, como a fumaça de um cigarro. Cinza. Cinzas.  Caminho por um
terminal de ônibus lotado, possuído por um silêncio ensurdecedor. Ando
pela rua cantarolando canto para minha morte. Passa um senhor uns 60
anos mais velho que eu cantarolando Martinho da vila. Diz que deixa a
vida o levar. Me vejo inerte segurando um guarda-chuva. Não há nada
mais deprimente ou melancólico do que um homem segurar um
guarda-chuva. E me pergunto, quando me tornei uma pessoa tão
deprimente. Ou melancólica.

quarta-feira, 6 de março de 2013

Querido diário... [me deixa em paz]

Cara, esses dias eu senti um desejo tão grande por uma menina, que eu fui lá, grudei no ouvido, no pescoço, nas costas, no queixo, falei, funguei, beijei... Beijei tudo o que eu podia.

Eu já a tinha beijado antes, mas a iniciativa tinha sido dela. Pra mim, essa foi como uma segunda primeira vez. Nunca tinha sentido esse ímpeto, nunca tinha tido essa coragem. 24 anos nas costas; 2,4cm de barba na cara.

Ganhei coragem e ganhei o mundo. Ganhei alguns centímetros de pele, e o ar desceu cheiroso pra caramba pros meus pulmões. Ganhei um não. Alguns.

Beijei tudo o que eu podia. Mas não pude beijar a boca. Ela tinha namorado. Eu sabia. 24 anos nessa bagaça, e eu nunca tinha desistido tão declaradamente de ser covarde. Apesar de ter sido covarde pra caralho com um outro cara que não estava lá.

Sejamos francos? Eu nunca tinha feito isso antes por covardia mesmo. E eu adoraria dizer que havia sido por princípios. Não foi. Cagaço mesmo. Mas nesse dia a vontade foi maior, pela primeira vez em 24 anos.

E nunca a coisa errada pareceu tão certa.

Alguns dias depois ganhei um esporro. Pedi desculpas. Uma merda. E cá estou eu novamente, sozinho e pensando nela. Com 10 anos de atraso.

Que feiura...

Me deixa em paz


Se você não me queria
Não devia me procurar
Não devia me iludir
Nem deixar eu me apaixonar

Se você não me queria
Não devia me procurar
Não devia me iludir
Nem deixar eu me apaixonar

Evitar a dor
É impossível
Evitar esse amor
É muito mais
Você arruinou a minha vida
Me deixa em paz

Se você não me queria
Não devia me procurar
Não devia me iludir
Nem deixar eu me apaixonar
Não devia me iludir
Nem deixar eu me apaixonar

Essa foi a trilha sonora do meu dia hoje. Com 24 anos nas costas e 2,4cm de barba na cara. Que feiura...

Há um ano eu não entenderia uma letra assim, e hoje ela está tatuada na minha testa.

Tudo muda, nem sempre pra melhor.

Mas Milton me disse que nada será como está amanhã ou depois de amanhã.

No Milton eu acredito.

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