quinta-feira, 21 de março de 2013

6:55 am

Um dia que se inicia chuvoso e frio é algo tão belo quanto uma
desilusão amorosa. Eu que não fumo, queria um cigarro e um café
quente, numa padaria bem honesta, dessas de periferia, com um
motorista de ônibus do meu lado e um pedreiro do outro. Após virar uma
madrugada lendo, realmente acordo e não lembro mais do tempo que
passou. Acontece apenas, que essa imagem cinza, me deixa apaixonado.
Apaixonado por essa cor cinza, justamente por ser uma cor sem cores.
Uma cor mórbida. Uma cor que deixa confortável porque sou um covarde. Covarde
porque as cores são emoções e prefiro não sentí-las. E essa paisagem
cinza então, me deixa apaixonado por tudo que não consigo sentir.
Cinza, como a fumaça de um cigarro. Cinza. Cinzas.  Caminho por um
terminal de ônibus lotado, possuído por um silêncio ensurdecedor. Ando
pela rua cantarolando canto para minha morte. Passa um senhor uns 60
anos mais velho que eu cantarolando Martinho da vila. Diz que deixa a
vida o levar. Me vejo inerte segurando um guarda-chuva. Não há nada
mais deprimente ou melancólico do que um homem segurar um
guarda-chuva. E me pergunto, quando me tornei uma pessoa tão
deprimente. Ou melancólica.

quarta-feira, 6 de março de 2013

Querido diário... [me deixa em paz]

Cara, esses dias eu senti um desejo tão grande por uma menina, que eu fui lá, grudei no ouvido, no pescoço, nas costas, no queixo, falei, funguei, beijei... Beijei tudo o que eu podia.

Eu já a tinha beijado antes, mas a iniciativa tinha sido dela. Pra mim, essa foi como uma segunda primeira vez. Nunca tinha sentido esse ímpeto, nunca tinha tido essa coragem. 24 anos nas costas; 2,4cm de barba na cara.

Ganhei coragem e ganhei o mundo. Ganhei alguns centímetros de pele, e o ar desceu cheiroso pra caramba pros meus pulmões. Ganhei um não. Alguns.

Beijei tudo o que eu podia. Mas não pude beijar a boca. Ela tinha namorado. Eu sabia. 24 anos nessa bagaça, e eu nunca tinha desistido tão declaradamente de ser covarde. Apesar de ter sido covarde pra caralho com um outro cara que não estava lá.

Sejamos francos? Eu nunca tinha feito isso antes por covardia mesmo. E eu adoraria dizer que havia sido por princípios. Não foi. Cagaço mesmo. Mas nesse dia a vontade foi maior, pela primeira vez em 24 anos.

E nunca a coisa errada pareceu tão certa.

Alguns dias depois ganhei um esporro. Pedi desculpas. Uma merda. E cá estou eu novamente, sozinho e pensando nela. Com 10 anos de atraso.

Que feiura...

Me deixa em paz


Se você não me queria
Não devia me procurar
Não devia me iludir
Nem deixar eu me apaixonar

Se você não me queria
Não devia me procurar
Não devia me iludir
Nem deixar eu me apaixonar

Evitar a dor
É impossível
Evitar esse amor
É muito mais
Você arruinou a minha vida
Me deixa em paz

Se você não me queria
Não devia me procurar
Não devia me iludir
Nem deixar eu me apaixonar
Não devia me iludir
Nem deixar eu me apaixonar

Essa foi a trilha sonora do meu dia hoje. Com 24 anos nas costas e 2,4cm de barba na cara. Que feiura...

Há um ano eu não entenderia uma letra assim, e hoje ela está tatuada na minha testa.

Tudo muda, nem sempre pra melhor.

Mas Milton me disse que nada será como está amanhã ou depois de amanhã.

No Milton eu acredito.

sábado, 17 de novembro de 2012

A morte. Uma figura decadente. No escuro.

A morte. Sim . Ela. Vocês já pensaram nela? Eu penso nela todos os dias. As vezes mais, as vezes menos. Tem dia que penso, tem dia que não penso. E o engraçado é que os dias que eu penso eu construo hábitos e decisões que assassinam os dias em que quero viver.  E quando eu quero viver, meus pulmões estão cheios de fumaça, minha conta está negativa e eu tenho AIDS. Quero bater uma bola com meus amigos, mas não tenho fôlego. Quero pegar um ônibus e ver a cidade, conto as moedinhas e elas não bastam. Busco uma puta no lugar errado e aquela menina sensacional nunca mais vai falar comigo. O espelho do banheiro nas entrelinhas da ressaca e as meninas agora são mulheres.  Nada me faz tão mal quanto eu. Estrago todas as músicas. Perco todos amigos. Todos os dias. E sequer tenho coragem pra morrer. Morro assim aos poucos. Um covarde.



Uma figura decadente. Largou uma mulher incrível pra sentir uma dor colossal. Talvez seja doença. Talvez ele seja gay. Enquanto mergulha na madrugada se embriagando de tristeza eis que surge uma linda garota de 17 anos na tela do seu monitor.  Aqueles olhos. Sempre os olhos. Atravessam os séculos e as palavras ainda não esquecem os olhos. Parecem desenhados com o mais nobre pincel. O mais nobre pincel com a mais honesta arte desenharam aqueles olhos puxados, lindos. Só olhos tão lindos são capazes de fazerem com que um fumante de 49 anos, que não vê os filhos há 3 meses, já perdeu tudo que construiu, feliz. A sua esquerda, um jovem de 20 anos deitado em sua cama. Na sua frente, aqueles olhos.  Deixa aqueles olhos lindos. Apaga seu último cigarro. Sobe no parapeito de sua cobertura.


No escuro se acende um isqueiro. Um círculo se abre lentamente na luz que é criada junto com a chama. No   som, começa a tocar aquela música. Falando de um sexo que pegava fogo. 24 anos, uma camiseta velha e de calcinha, fumando aquele cigarro. Ela não fuma. O cigarro era dele, que a abandonou. A camiseta também. O sexo e o fogo são delas. Acende aquele cigarro. Mais uma vez ela fuma, só pra poder assim sentir o gosto dele em sua boca mais uma vez.


domingo, 19 de agosto de 2012

Só isso faz com que eu me sinta vivo



Queria escrever um texto. Ultimamente como se eu fosse um efeito especial, me sinto como se estivesse desaparecendo. Como se eu não existisse mais e aos poucos. Efeitos especiais, Alzheimer, maturidade e várias formas duras de definir. Sabe, eu gosto de correr. Tenho esse hábito há alguns anos. As vezes eu corro demais e as vezes não. Mas to sempre aí, correndo sempre que eu posso. Por mais infantil e ridículo que possa parecer, eu tinha desde criança esse delírio, essa viagem de que alguma pessoa ligada a mim poderia voltar do futuro. Loucura, não? Pois é. Sempre que via alguém emblemático na rua, pensava que poderia ser meu filho, minha filha ou o amor da minha vida voltando pra me ver. E por anos pensei assim. E um dia desses tava correndo, vi um cara parado no escuro olhando pra mim e pensei mais uma vez que ele poderia ter vindo do futuro. Então pela primeira vez pensei: Que viagem! É só uma pessoa normal, que ocasionalmente passou por você. A vida é assim. Pessoas se encontram, as vezes deixam impressões e vão embora. E um dia você vai embora também, vai morrer sei lá e é só isso. Simples assim. Aceite. E a parte mais assustadora, pasmem, é que eu aceitei. Aceitei a verdade em toda essa reflexão que durou um segundo, falei pra mim mesmo um simples: É. Em uma reflexão de um segundo, eu, o cara que adora falar difícil, que acha que falar complicado é falar bem e que sempre quis ser foda demais, intelectual e filósofo aceitou a verdade de uma forma simples.

E tem mais. Não foi a primeira vez que isso aconteceu. Esses dias tava praticando meu esporte predileto com meus melhores amigos, que é falar mal das pessoas. Então, num pequeno momento de lucidez, eu pensei: Porque definir tanto os defeitos da pessoa? Isso só vai fazer a definição ficar mais incerta e complexa. É uma perda de tempo e de saliva. Não seria mais fácil simplesmente falar, fulano é paia ? E desse dia em diante, desisti de ser um grande analista de mentes e simplesmente aceitar o fato que tal pessoa não me agrada. Desse dia em diante, passei a falar: Mano, que cara paia. Ela é paia, saca? Só isso. Simples assim. O que me assusta? Bom, pra começar,o que me assusta é que nada me assusta. Isso sim já é um susto. A serenidade e a simplicidade que a maturidade vem me mostrando realmente ser são o susto. Sempre como jovem vi a vida adulta como uma vida complexa e agitada, cheia de desejos e sonhos. E hoje percebo que cada passo além que se dá na vida, é um passo na verdade que se dá para trás. Cada passo tentamos voltar a uma essência que devemos encontrar. Cada passo tentamos definir a nossa existência de uma forma simples, porque é aí que mora a verdadeira complexidade. Quanto mais reflexões, sofrimentos, anos e experiências, mais simples de coração a pessoa se torna. E quando mais acumula, paralelamente, mais complexa é a sua experiência de vida.

Agora porque eu to falando isso tudo? Porque ultimamente, como ia dizendo, me sinto como se desaparecesse aos poucos. Sabe, um dia desses aí, numas semanas que passaram, fiz sexo com uma garota. Falei pros meus amigos que foi surreal. Acho que ninguém entendeu a complexidade de ser algo surreal. Acho que ninguém aqui entende o que eu to falando. EU TO FALANDO QUE EU ME SINTO COMO SE EU NÃO EXISTISSE, VOCÊS ENTENDERAM? Podem falar, também acho que tô pirando de vez. Enlouqueci. Um sexo surreal, é algo triste. Você sabe como é ficar com uma garota e quando você tá ficando com ela você tem a impressão que tá sonhando? E no outro dia, a lembrança não consegue ser mais interessante que um sonho? E você não consegue lembrar realmente o que você sentiu? Apenas sabe que algo legal aconteceu? Você consegue imaginar como é se sentir como se você não existisse, como se você não fosse de verdade?

Talvez seja uma nova etapa chegando, e realmente nessa transferência eu não exista mais. Ou talvez eu simplesmente esteja desaparecendo. Odeio a internet e todas as redes sociais. Mas não tenho coragem de odiar completamente o mundo que eu vivo e renunciar minha existência e continuo vivendo. Assim como não tenho coragem de deletar meu inútil perfil virtual e continuo lá, existindo. Ouvindo uma música paia, não falando com ninguém e apertando f5 na porra da tela. Sigo não existindo. E o único momento que eu me sinto vivo, que eu existo, é quando eu corro. Aquele parque, amigo de tantos anos, funciona como uma espécie de purgatório para mim, uma realidade paralela sabe? Quando eu tô lá, to desligo e me desapego de tudo que existe no mundo. Nada existe para mim, mas EU EXISTO! Todos os meus pensamentos dos meus últimos cinco anos vêm a minha mente numa tempestade cerebral. O parque é o meu diário. Enquanto corro releio em cada falha da pista todas as emoções dos últimos anos da minha vida. Tá tudo anotado lá. Lembro-me de quando eu tava correndo e a mulher que eu amava passou tatuada nas costas de outro cara. Lembro dos meus melhores amigos. Todas as minhas músicas prediletas tocam na minha mente. Vivo todos meus personagens prediletos. E por oito quilômetros, eu existo. Eu, que estou me sentindo como se estivesse desaparecendo no mundo, me sinto vivo e presente. Mais do que sexo. Mais do que futebol. Só isso faz com que eu me sinta vivo

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Moça, olha só, o que eu não te escrevi.



Hoje minha professora falou que quando tinha 22 anos quis fazer uma tatuagem mas não fez porquê achou que tava velha demais.  Também tenho essa doença, desde que eu tenho uns 15 anos. Queria muito saber o motivo. Me sinto eternamente velho. Acho que quem vive muito, envelhece rápido, talvez. Sobre isso também, meu pai falou uma vez quando eu reclamei que tava me sentindo velho, gordo, que nosso corpo é igual um carro, se a gente pisar fundo chega mais rápido mais gasta mais. Não sei, as vezes eu acho que eu vivo muito e que vou morrer jovem. Não deve ter muita graça mesmo morrer velho e enterrar todas as pessoas que você ama. Já não consigo conviver com a dor de ter enterrado tanta gente que eu amei viva, imagina morta. Coisas morrem o tempo inteiro. Um dia você vê aquele garotinho que você deu aula pra ele criança passar do seu lado no shopping, com barriguinha de cerveja, barba e uma namoradinha. Aí você se sente velho.
 
Acho que é por isso que amo tudo velho, tudo que tem história. Só assim me dá a chance de me sentir jovem e quem sabe bem. Essas ruas antigas e aquela luz opaca ao longe . Me emociono de saber que meu escritor predileto carregou cadernos juvenis por essas ruas, cheio de cartas que ele também nunca iria mandar. Aí vejo que ele já viveu, já se sentiu velho, já ficou feliz e já ficou triste. E daí me lembro que realmente, não tem muito para viver além disso. O pior é saber disso e se conformar que a vida simples. Isso sim é um dom raro e que eu invejo. Saber que a vida é simples e se contentar. Muitas vezes sequer me permiti escrever por achar que era perda tempo. É sempre assim, um dia você acha tá perdendo tempo demais e que tudo é besteira. E tem épocas que você procura tempo e tudo vale a pena. 
 
Gostaria muito que tudo que fosse fácil me seduzisse. Gostaria muito de me apaixonar pela felicidade simples que insiste em bater na minha porta. Mas de coração, sinceramente, eu não consigo.  Queria que meu time me desse alegrias, que o esporte fosse limpo e que tudo que fosse bom não fizesse mal. Queria muito não gostar daquela garota que não se pode gostar. Mas não consigo. Como pode ela ficar sozinha tanto tempo no meio de tanta gente? Só eu que vejo toda aquela beleza nela? Eu olho pra ela, perdida no meio de tanta diversão e ironicamente sinto vontade fazê-la feliz. Talvez por ser um desafio. Talvez porque não sou tão velho e a infância não é tão longe assim e esse sonho me resta. O sonho de fazer uma mulher feliz. Por isso que eu digo, a sua solidão me dói.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Um fantasma e uma tatuagem.




Um dia ouvi dizer que o diabo comprava almas. Não pensei duas vezes, tamanha a minha já então latente desilusão. Fui direto para as ruas tentar vender a minha. Procurei por ele em todos os lugares que falaram que ele morava.  Alimentei todo o meu ódio na esperança que um dia a gente topasse por aí numa esquina.  Mas só encontrei o amor. E essa foi a minha ruína. 

Talvez tenha procurado nos lugares errados. Passei pelos prostíbulos e percebi que as putas também amam. Passei pelos bares e percebi que são apenas pessoas que não encontraram nada. Corri pelas ruas e vi pessoas querendo que fossem encontradas. E nunca são. Fui estudar com um bando de feios e fiz amizade com todos eles. Só encontrei amor. 

Desisti finalmente da minha busca implacável pelo mais belo feio e me rendi aos encantos efêmeros da futilidade. Esses sim, verdadeiros sedutores. Ao desistir da minha busca pelo mal acabei encontrando o amor e isso sim foi a minha ruína.  Tava disposto então a esquecer meus pesadelos no meio da madrugada e viver um vida normal. Um bilhete bastou. O brilho do maldito olhar que nunca mais me deixou em paz. Todos os sonhos enlatados finalmente aparecem. Filhos, uma casa no campo para os finais de semana. Oito mil metros pensando nela em queda livre. Um fantasma e uma tatuagem.

 Oito mil metros se passam em oito minutos, oito meses. Um ou dois a mais de lágrimas. Se foi e tenho certeza de que nunca mais voltará. Todos os dias penso nela e venho admitir publicamente que sinto uma pequena dor. Mas é disso que os homens gostam, de sentir dor. Uns sentam em um bar, outros não se sentam nunca apenas para esquecer. E eu prefiro sentir a minha dor todos os dias assim. Só por saber que no final das contas os pesadelos na madrugada continuam, mas são pesadelos de amor.

Descobri então que finalmente encontrei o diabo. E que naquele bilhete assinei o meu contrato vendendo a minha alma. E nunca mais teria paz, nunca mais. Qualquer olhar, qualquer seio será sempre uma lembrança. E quando desisti de procurar foi quando encontrei, pra sempre. Tento fugir, mas quando penso que consigo algo me traz de volta e perco novamente o sono.  Procuro em todos os carros da rua, em todas as garotas. Na esperança de olhar novamente naqueles malditos olhos que brilham e perceber que não há mais magia alguma, é apenas uma ilusão. E quem sabe poder ser livre novamente. Mas, acho que não.



segunda-feira, 7 de maio de 2012

Ressaca de sonhos


Escuto um barulho que me seduz. Hesito em continuar dormindo mas o sono insiste em se despedir. Em um primeiro momento não a reconheço. E logo, percebo. Aquela melodia já conhecida de outros tempos toca suavemente no rádio. Acordo assustado. Olho para o chão e o pavor me domina completamente. Não tenho absolutamente a menor idéia de onde estive . Folhas rasgadas cheios de texto, escritas por mim que também não me lembro. Roupas pelo chão e garrafas vazias. Resolvo fumar um cigarro e percebo que todas as minhas caixas estão vazias e meus isqueiros não funcionam. Me deparo com meu reflexo no espelho e novamente o pavor me domina. Estou barbudo, gordo e com o cabelo bagunçado. Estou velho.
   
  Tento com bastante esforço me lembrar o que aconteceu antes que eu adormecesse e não me lembro. Pego os jornais que o carteiro jogou por cima do muro e percebo que tudo mudou. O país está completamente diferente.  Me pergunto aonde estarão meus amigos e se eles mudaram tanto quanto eu. A minha casa completamente abandonada com seu aspecto desolador. E pelo contar das datas dos jornais, dois anos se passaram em minha vida. Dois anos de completo sono e agora acordo, gordo e barbudo e já não sei mais nem quem eu sou. Talvez estivesse cansado e quis dormir. Talvez tenha bebido demais. Talvez me atacaram de forma traiçoeira pelas costas, ou pela frente mesmo. Os jornais me apavoram. Alguns perguntam aonde estaria o proeminente escritor boêmio, outros perguntam além, por onde andaria minha inspiração ou se já as tive. 
   
  Há dois anos atrás me lembro que uma das grandes paixões da minha juventude morreu em minhas mãos. O jornalismo se foi e deixou a dúvida se algum dia chegou a existir. Qualquer semelhança com uma história de amor não é mera coincidência. Se eu bebi pra chegar até aqui, foi pra esquecer de uma assim.  Resolvi encarar os fatos e fugir da magia. Talvez tenha dormido lendo um livro de história, sempre foram tão chatos, os fatos. Me lembro de muita pouca coisa. Um amor talvez, um jornal, alguém correndo em um parque com uma tatuagem nas costas que não era minha, nem a tatuagem e muito menos o amor. Só me restou correr.
 
   Criticaram minha semântica textual. Abandonarei as referências. O país mudou e música que toca também um dia muda. Mas cada vez com menos referências. Cada vez com menos graça, essa vida... Um dia muito oportuno para voltar, amanhã é aniversário dela e já faz 10 anos que a conheci. E foi nesse dia que comecei a morrer e nunca mais parei.  Talvez a culpa não seja dela. A vida quis assim, que eu trilhasse esse caminho da dor. Espero que um dia minhas palavras tenham finalmente algum valor. Ou não.  Tenho que ir, procurar meus amigos, que provavelmente desistiram de me acordar e estão por aí. Começarei com aquele italiano safado, que deve estar em alguma esquina com sua boina fumando com garotos 10 anos mais jovens que ele. Preciso saber de tudo e depois, quem sabe voltaremos a escrever.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Foxy Skid


kkk

quarta-feira, 21 de março de 2012

Amanhã (hoje), onde odeio

Alguns latidos lá fora misturados aos choros de uma criança. A madrugada de uma segunda-feira. Pego meu cigarro na sala e vou para o escritório. Só hoje percebo que na porta tem uma chave. A madrugada aguça os sentidos, os sentimentos... São 3 da manhã e a chuva cai calmamente lá fora, enquanto algumas partes da casa escorre água de um telhado mal planejado. Acendo o cigarro enquanto vejo o quintal bucólico pela janela. Meus cachorros continuam deitados, nem aparecem na janela como de costume. Geralmente, eles ficam ali me olhando, esperando algum gesto.

São 3 da manhã, penso que tenho que dormir mais um pouco, que amanhã, ou melhor, agorinha, tenho que ir trabalhar. Penso na humanidade e como a vida parece ser um paradoxo. A simplicidade e o complexo, um reflexo puro do ser humano. Penso o quanto o simples me seduz e que nunca desejei um iate e uísque em um sábado ou domingo ou segunda ou qualquer outro dia. Só quero pagar minha conta no bar sem complicação. Só espero poder ir naquela cidade do interior no fim de semana. Ficar levemente bêbado e rir.

Tenho que dormir mais um pouco, são 3 da manhã. Incrivelmente, quando durmo mais de 6 horas fico com sono no restante do dia. Estranho. Tenho que dormir mais um pouco, já dormi 4 horas seguidas hoje. Não sei se vou passar o dia com sono. 4 horas mais 3 são 7. Não sei se vou ficar com sono durante o dia por ter dormido mais de 6 horas no total ou por ter dormido apenas 3 horas seguidas por último. Nem sei se vou ficar com sono.

A ponta do cigarro brilha na janela. Vou banhar e dormir. O diploma está na estante com os livros. Penso no rumo que tudo tomou. O diploma na estante me faz lembrar em como odeio meu emprego atual. O cigarro chegou ao fim. Vou banhar e dormir mais um pouco. Amanhã, aliás, hoje, tenho que estar lá. E “lá” me desagrada profundamente.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Programa: Que Rock é Esse - Especial Engenheiros do Hawaii



Programa produzido em 2009, para avaliação na disciplina de "Radiojornalismo".
Curso de Comunicação Social - Bacharelado em Jornalismo na PUC-GO.


Locução
: Yuri Montanini e Cecília Preda.
Produção: Leandro "Gel" Pereira, Pedro Henrique Malta e Rafael Rabelo.
Edição: André Safadi

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Radiodocumentário - Locução Esportiva em Goiás



"Esta obra tem como objetivo resgatar a história do futebol em Goiás e da locução esportiva no estado por meio dos depoimentos de Edson Rodrigues, Ledes Gonçalves e Jurandir Santos, os porta-vozes da emoção. Preservar a memória do rádio esportivo goiano, além de traçar perspectivas em relação ao futuro dessa tradição que já perpetua por mais de meio século."

Produzido por:
Luís Gustavo Martins Santos;
Marco Antônio Fernandes Filho;
Pedro Henrique Malta Martins;
Rafael Fonteles Rabelo;
Yuri Marcos Vieira da Cunha Montanini.

domingo, 27 de novembro de 2011

Capítulo Dois

Pra acordar, já vou sair pra trabalhar. Uma rosa na mão esquerda, na outra mão um cartão com desenho. E o monitor de 22 polegadas fica maior que o estacionamento da faculdade. 140 caracteres. Eu tenho um sapato, um sapato branco. Eu tenho um cavalo, um cavalo branco. Eu tenho um riso, um riso amarelo. Cigarros. Nem 5 minutos guardados dentro de cada um deles. 

É muito mais fácil escrever. É novembro. Você me deixa nervoso e eu não consigo falar. E eu não posso fazer as falas como eles falam na TV. Um Romeu apaixonado canta na rua uma serenata. E eu, ainda encantado, continuo mandando cartas. Por vezes penso que você fica ofendida, resmungando que eu não deveria vir aqui, escrever pras pessoas dessa maneira. Mas eu sei que você pode se apaixonar por belos estranhos e pelas promessas que eles fazem. 

Eu, por exemplo. Eu tenho uma bicicleta. Você pode andar nela, se quiser. Ela tem uma cesta, uma campainha que toca e coisas que a fazem parecer boa. Eu a daria a você se pudesse, mas a peguei emprestada. Você é o tipo de garota que se encaixa no meu mundo. E mais uma vez tá aí você, sonhando acordada sentada. Amanhã tem prova de TGP. 

Me diz como é que eu faço, me diz como é que eu posso te encontrar mais uma vez, pela primeira vez. Tão só, tão só. Com o universo ao meu redor. 

Desculpa o cartão molhado, 

é que em novembro sempre chove a tarde.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Morte a todos os malditos índios urbanos




E O PRÊMIO VAI PARA ZÉ BOKINHA, POR ENVERGONHAR O NOME DA POESIA CONCRETA MUNDIAL!


Ao sair da premiação, de luvas brancas, gravata-borboleta vermelha e smoking de um preto impecável, pus-me a refletir:


Será que o preto impecável que me emprestou esse smoking vai se aborrecer se eu lhe disser que...


O pensamento foi interrompido. Às 3h41, na Oskley Avenue, morre Zé Bokinha, vítima de uma flechada na cabeça.

sábado, 19 de novembro de 2011

Querido louco,



Nunca entendi bem porque as cartas começam sempre com “querido”. Procurei num dicionário de sinônimos um jeito melhor de começar, mas percebi que é algo tão clássico que é melhor deixar pra lá. Pois bem, tanto tempo que deixei de te escrever, talvez por não ter obtido respostas das últimas vezes em que te enviei cartas. Lembro-me com saudade nos olhos e no coração das raras vezes em que me materializei na sua existência. Lindos momentos, profusão de sentimentos, faltam palavras. Não só palavras, talvez.
Sei que agora você anda meio distante, meio cabreiro. Gostaria de saber o que se passa na sua mente inconstante de louco. Aliás, talvez aquele louco não seja mais você. Talvez você não seja mais aquele louco. Abandonou todas as suas fontes de juventude e tem se tornado velho. Pelo menos ainda escreve? Cartas eu sei que não. O cigarro, o vinho, a boa cerveja. Não. Nada de loiras. Nada de álcool. Ouvi dizer até que irá escrever um livro.
Tenho ouvido tanto de você! Mas nada por você. Infelizmente? Não sei. Me responda se puder. Ouvi também que está apaixonado e mudou-se para aquele lugar que sempre quis me mostrar, tão tão distante que nem consegui encontrar você.
Diante de todas as notícias que recebi, e da possibilidade de receber tantas outras contidas em cartas que não li, resolvi te escrever de novo. Como desejo nenhum é modesto, só queria que não se esquecesse de mim. Muita pretensão da minha parte depois de tantas e-storias contadas por loucos mais loucos que você era, ouvida por tantos outros. Tantos cúmplices de uma lenda, de um conto, de algo que nunca aconteceu realmente. Apenas conto. Apenas li. Quase acredito que vivi.
Mas, diante do fato de que toda felicidade surge de um pequeno engano, prefiro estar no mundo e não perder a viagem. Gosto mais de acreditar que nada passou de um conto. Uma dessas viagens malucas num mundo de fadinhas e gnomos verdes. Não sou dada a coitadismos, e acho que você também não. Escrevo também para tentar reduzir a distância. Para diminuir o tédio. Para acender... as notícias do jornhaw.
Eu, como criatura fantástica e egoísta, escrevo e peço notícias. Apareça por aqui assim que puder.

Ass.: Loira

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