Chateações de um Chateau
Aquela garrafa já estava cheia. Já estava cheia justamente por ainda estar cheia, pois ainda não havia sido consumida. Só ia sendo consumida a sua paciência, levada pelo tempo. E o tempo se arrastava lento naquela velha adega. A garrafa, originada da vinícola francesa Chateau D’Arignac, safra de 1807, já não podia agüentar a espera... o ócio... o envelhecer.
A cada passagem de ano – e foram muitas – podia ouvir o estalar das rolhas, alegres, festivas, e o canto do vinho que deslizava nas taças sóbrias de cristal para serem degustadas sob brindes recheados de esperança. Garrafas eram abertas também em cerimônias políticas e bailes da mais alta sociedade. Mas não esta garrafa, que tinha a rolha entalada na garganta.
O seu valor, em sua concepção, era sua maldição. Já tinha perdido seu orgulho, seu sonho antigo, da época em que era apenas um tanto de uvinhas grudadas à parreira, sonho de ser aberta em ocasião de grande tratado de paz, ou cerimônia importante e cheia de pompa. Já se contentaria em ser aberta em uma noite de volúpia qualquer, sendo bebida por algum político glutão e sua amante. Engraçado... Era um Chateau D’Arignac com a auto-estima de um “Chapinha”! Só queria ser tomado.
Ah, tempo... tempo monótono... tempo retrógrado, que parecia mover para trás os ponteiros do relógio...
Mais inexorável que o tempo, porém, é o destino. Duzentos anos após seu engarrafamento, o vinho da ansiosa garrafa foi finalmente adquirido por um riquíssimo empresário austríaco para o casamento de sua filha.
A velha garrafa embriagou-se de alegria, pois ignorava seu porvir. O metri da festa de casamento, deixando-se distrair por um decote – encantador, de fato – esbarrou em um convidado. A inércia não poupou a garrafa, que se desfez no chão com grande gemido de dor.
A legítima Chateau D’Arignac, 1807, assim faleceu, aos cascos, com seu vinho espalhado no piso, não tendo sido apreciada nem mesmo pelos ratos, mas apenas pelo tempo, longo e vão.
A cada passagem de ano – e foram muitas – podia ouvir o estalar das rolhas, alegres, festivas, e o canto do vinho que deslizava nas taças sóbrias de cristal para serem degustadas sob brindes recheados de esperança. Garrafas eram abertas também em cerimônias políticas e bailes da mais alta sociedade. Mas não esta garrafa, que tinha a rolha entalada na garganta.
O seu valor, em sua concepção, era sua maldição. Já tinha perdido seu orgulho, seu sonho antigo, da época em que era apenas um tanto de uvinhas grudadas à parreira, sonho de ser aberta em ocasião de grande tratado de paz, ou cerimônia importante e cheia de pompa. Já se contentaria em ser aberta em uma noite de volúpia qualquer, sendo bebida por algum político glutão e sua amante. Engraçado... Era um Chateau D’Arignac com a auto-estima de um “Chapinha”! Só queria ser tomado.
Ah, tempo... tempo monótono... tempo retrógrado, que parecia mover para trás os ponteiros do relógio...
Mais inexorável que o tempo, porém, é o destino. Duzentos anos após seu engarrafamento, o vinho da ansiosa garrafa foi finalmente adquirido por um riquíssimo empresário austríaco para o casamento de sua filha.
A velha garrafa embriagou-se de alegria, pois ignorava seu porvir. O metri da festa de casamento, deixando-se distrair por um decote – encantador, de fato – esbarrou em um convidado. A inércia não poupou a garrafa, que se desfez no chão com grande gemido de dor.
A legítima Chateau D’Arignac, 1807, assim faleceu, aos cascos, com seu vinho espalhado no piso, não tendo sido apreciada nem mesmo pelos ratos, mas apenas pelo tempo, longo e vão.
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