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sábado, 19 de novembro de 2011

Querido louco,



Nunca entendi bem porque as cartas começam sempre com “querido”. Procurei num dicionário de sinônimos um jeito melhor de começar, mas percebi que é algo tão clássico que é melhor deixar pra lá. Pois bem, tanto tempo que deixei de te escrever, talvez por não ter obtido respostas das últimas vezes em que te enviei cartas. Lembro-me com saudade nos olhos e no coração das raras vezes em que me materializei na sua existência. Lindos momentos, profusão de sentimentos, faltam palavras. Não só palavras, talvez.
Sei que agora você anda meio distante, meio cabreiro. Gostaria de saber o que se passa na sua mente inconstante de louco. Aliás, talvez aquele louco não seja mais você. Talvez você não seja mais aquele louco. Abandonou todas as suas fontes de juventude e tem se tornado velho. Pelo menos ainda escreve? Cartas eu sei que não. O cigarro, o vinho, a boa cerveja. Não. Nada de loiras. Nada de álcool. Ouvi dizer até que irá escrever um livro.
Tenho ouvido tanto de você! Mas nada por você. Infelizmente? Não sei. Me responda se puder. Ouvi também que está apaixonado e mudou-se para aquele lugar que sempre quis me mostrar, tão tão distante que nem consegui encontrar você.
Diante de todas as notícias que recebi, e da possibilidade de receber tantas outras contidas em cartas que não li, resolvi te escrever de novo. Como desejo nenhum é modesto, só queria que não se esquecesse de mim. Muita pretensão da minha parte depois de tantas e-storias contadas por loucos mais loucos que você era, ouvida por tantos outros. Tantos cúmplices de uma lenda, de um conto, de algo que nunca aconteceu realmente. Apenas conto. Apenas li. Quase acredito que vivi.
Mas, diante do fato de que toda felicidade surge de um pequeno engano, prefiro estar no mundo e não perder a viagem. Gosto mais de acreditar que nada passou de um conto. Uma dessas viagens malucas num mundo de fadinhas e gnomos verdes. Não sou dada a coitadismos, e acho que você também não. Escrevo também para tentar reduzir a distância. Para diminuir o tédio. Para acender... as notícias do jornhaw.
Eu, como criatura fantástica e egoísta, escrevo e peço notícias. Apareça por aqui assim que puder.

Ass.: Loira

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Querido ausente,

Continuo a considerar as cartas como a melhor forma de expressar todo e qualquer sentimento. É como dizer olhando para o espelho. Não se mente olhando para os próprios olhos, assim como não se mente para si mesmo em silêncio. São os olhos a fonte de expressão da alma, do cérebro, do corpo e do coração. Nada escapa aos olhos. Gostaria de olhar você. Mas você foge de mim. Não conseguirá, porém, fugir das minhas cartas. Talvez escrevesse sambas ao invés de cartas. Saudade faz samba. Eu não sei como fazê-lo. Manterei, pois, as cartas. Ou melhor, a carta. Esta será a última.
Escrevo porque, entre todas as formas que você poderia se manifestar em mim, resolveu ser saudade. Li isso em algum lugar e me lembrei de você, como tudo que eu tenho lido ultimamente. Tudo descreve o que eu sinto, talvez porque a sua falta tem me transformado em um buraco negro que suga tudo o que aparece na tentativa de filtrar dentre tantas inutilidades, algo sobre você.
Já não sei mais por onde você anda e nem quem você é. Não sei o que você tem feito, como tem se alimentado, se tem escrito muito, se tem pensado em mim. Você ainda toca tão bem? Escreve cartas? Talvez sim. É estranho como em instantes eu passei a desconhecer todos os sentimentos que habitam você. Não identifico os demônios, quiçá os anjos.
Acho que eu é que não conhecia você, talvez tenha me enganado sobre esse nowhere man. E realmente você não pertença a nada, nem a ninguém, tão cego quanto se pode ser, vê o que quer. Talvez até me veja. Me enxerga? Não. Mas não tenho pressa. A minha mão está sempre estendida e ao seu alcance. E um dia, você conseguirá ver com uma precisão impossível para o momento, o quanto você está perdendo tempo com suas confusões e finalmente sairá dessa terra de lugar nenhum, deixará de fazer planos de lugar nenhum e reformará suas idéias.
Eu tenho tido pesadelos depois que você foi embora. Senti medo. Mas não chorei, nem reclamei abrigo. Como no Poema, eu paro e sinto. Sinto um abraço, alguma coisa sua ficou em mim, alimentado pela beleza do que aconteceu há um mês atrás. Menos tempo talvez.
E a minha vida se resumiu em esperar você. Uma carta, um telefonema, o interfone. Mas todos os meus planos foram perdidos, todos os meus sonhos caíram em desalento. E eu espero você. Talvez isso seja o que chamam de amor verdadeiro. Aquele que se manifesta de várias formas, apesar de ser igual. Muda o jeito de sentir, mas não muda a essência. E eu perdoo, eu perdoo tudo porque isso também é amor. Eu perdoo você. E eu espero. Espero sem medo, com calma e saudade. Perdoo enquanto espero. Porque independente do que aconteça, e de qual explicação você queira dar, nenhuma será certa para mim. Quero que entenda que não preciso de explicação, preciso de um olhar. Mas caso não queira, me dar sequer um olhar, eu entendo, peço apenas que me responda, que leia minhas cartas.
Um dia você perceberá que pra ser feliz de verdade, é preciso ter o amor por perto. Quando isso acontecer, eu vou estar esperando você, como sempre fiz. Vou passar a mão no seu cabelo, relembrando como eram bons aqueles momentos em que se compartilhava cada sensação. Quando a gente se olhava nos olhos e entendia, e não se preocupava, e o mundo parava. Isso não acaba, não morre, apenas se compartilha, se guarda. E como sempre, mais que nunca, eu estarei com você, aqui, ali, em qualquer lugar.


Ass.: .

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Mesmo que mude

Era uma angústia sem fim. As mãos suavam, a boca seca, tristeza, ansiedade e uma dúvida que consumia. O que será que ele pensava sobre tudo isso? Ela nunca vai saber. Chegou a dizer que aquela música lembrava todos esses últimos acontecimentos, e ele ficou mudo.
Ela mudou, gosta de coisas que ele nunca imaginou. De vez em quando fuma, quase sempre bebe, curte carro e futebol, ás vezes. Fez uma tattoo, arranjou um emprego e está feliz de ver que ele também mudou; aprendeu a gostar de futebol também, mas torce pro time adversário. O que mais está diferente? Ela não sabe mais... incógnita. Ainda assim pode ser que dê certo.
Ela continua lá, em seu reino, seus livros, os mesmos amigos. Pronta para novas paixões, mas não sabe porque, apesar de ter dado o primeiro passo, e de se sentir tão bem, espera que ele ligue a qualquer hora para conversar. E ela dirá que não é tarde demais, que também sentiu saudades e ficará feliz por ele dizer que sentiu falta mesmo sem ter esquecido o que passou.
Passou. Palavras gastas por gastar, acusações desnecessárias que só levaram a um fim doloroso. Um amor ferido a ferro, marcado pelo sofrimento e pelos dissabores. Mas pode ser que ainda dê certo.
Ela não sabe o quanto ele sente sua falta. Não sabe o quanto ele tenta se aproximar de novo, escolhendo um jeito novo de dizer alô. Não sabe o quanto ele teme a sua mudança. Agora ela é uma mulher. Medo que ela esqueça as velhas paixões e os velhos desejos. Mesmo assim não tem coragem de ligar. Pra conversar. Acha que é tarde.
Ela sabe que não é tarde. Pode ser que ainda dê certo. Ela se lembra de cada beijo que deram. Lembra-se de cada momento que viveram. E ela só queria mais um pra lembrar o bom e velho gosto de romance antigo. Meu Deus, era tão lindo!
O que ela não sabe é que ele evita ir até o telefone. Não imagina que compartilham a mesma angústia. Mas, por mais que tentem, por mais que se desconcentrem e se evitem, é sempre amor. Onde quer que estejam, o que quer que façam, ainda que tenha acabado, e que não tenham esquecido e por mais que tudo mude, é sempre amor. Por isso, ou apesar disso, pode ser que dê certo.

sábado, 14 de maio de 2011

Saudades!


Permitam- me, senhores, donos de fato e de direito desse blog, plagiar. Perdoem-me por essa tentativa desesperada de reatar nós, ressuscitar os mortos, pois, o amor é sempre amor mesmo que acabe, mesmo que mude, que se esqueça o que passou. Mesmo que alguém esqueça o que é amor. Na natureza nada se cria, não é mesmo? Bom, espero que o dono do texto que serviu de inspiração para o que se iniciará em seguida me perdoe por isso. Como eu já disse, estou ressuscitando mortos. Vou começar introduzindo o momento, o tempo, que deu início a esse texto em especial.

Era pra ser um dia qualquer, uma noite comum, num pub meio underground como tantos outros que existem por aí, onde tocava uma banda nada famosa, mas que reproduzia um som um tanto quanto adorado por nós. Quem somos nós? Guerreiros da banda do imortal, frágeis testemunhas de um crime, de fato, sem perdão. Palavras ditas sem pensar, um desafio. Eu precisava reconquistar você. Isso soa meio romântico mas não é bem essa intenção.
Fumei seu cigarro, depois pedi um. Um copo quebrado, traço inicial de uma noite inesquecível. Uma carta para suceder tamanho fascínio, emoção e encanto, tudo misturado ao cheiro de cigarro e ao hálito de álcool. Uma carta. Uma carta daquele louco. Uma carta pra eu lembrar. Três páginas escritas em folhas de caderno que ficaram gastas tamanha a força colocada na caneta, tamanha a força dos sentimentos que saíam junto com a tinta.
Dizia mais ou menos assim:
“Loira, não sem nem por onde começar. A profusão de sensações e delírios é tamanha que caio nesse clichê de não saber o que dizer. Logo para você que sempre foi um endereço fixo e instigante das minhas paranoias ou mistificações. Logo para você, desde então, sempre logo, um mito. Na minha pouca e banal esfera literária. A mais incrível personagem. Viva. Tomando uma cerveja comigo e ouvindo músicas que eu provavelmente mais amarei nessa minha existência. Já que sou seu amigo louco, direi as palavras que nunca são ditas. Direi as palavras que não deveria dizer. Direi as palavras que adiante poderão te assustar, agora que nossas mentes, simétricas, se encontraram. Talvez tanta intensidade te assuste. Mas eu te garanto que assustado estou eu. E cada segundo que passa vejo aquela banda tocando e a gente conversando uma coisa qualquer. Você que não fuma, pedindo um cigarro. Eu já vivi vinte anos ou mais e acho que isso não aconteceu mais do que vinte vezes, ou bem menos, possíveis vezes na minha vida. Se eu te assusto, sinto muito. Mas prefiro que você me odeie daqui dez dias do que existam palavras que nunca serão ditas. Preciso exorcizar até a última gota de encanto que reste dessa maldita noite. O melhor de todos os tempos da ultima semana. Você pode se perder, se entediar no meio de tantos delírios e tantas palavras de seu amigo, louco. Mas de todas as personagens que nunca escreverei você é a mais digna de carinho. Talvez isso tudo seja sim, um desatino. Mas as mentiras sinceras também me interessam.”
Não consigo terminar de transcrever sem responder.
“Louco, realmente você é. E começo pelo começo, que é o mais certo. E nada, nem palavra alguma poderia descrever aquele frenesi. E nem nessa, nem em qualquer semana, nem qualquer ano, eu poderia comparar o que houve sem nada ter havido. A intensidade me assusta, assim como esse espelho no qual eu me olho e vejo refletida a sua mente. De maldita nada teve a noite, pelo contrário, foi gloriosa e nela ficamos em paz. Espero que você viva, e se sinta vivo tanto quanto eu ao lembrar de você e de nossos encontros literários e afins. E os delírios em que você habita, nada mais é do que os vastos campos floridos e espinhosos do castelo onde eu vivo. Minhas palavras se repetem justamente porque tudo já foi dito. Se não dito, sentido. Espero ler mais um milhão de cartas e ouvir incontáveis boleros que nunca pararão de tocar. Quanto ao convite feito para sair do castelo, ousei aceitar algumas vezes mas você estava escondido demais nos campos e não pude te encontrar. Mas se um dia isso acontecer, eu é que peço para não se assustar e que nunca confunda minha timidez com arrogância dos mortais. Às vezes, posso parecer um bichinho do mato que repele o sorriso e o agrado, mas insista, que eu me amanso e sento ao seu lado.”

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Eu sei

Às vezes apenas não há uma segunda chance. A palavra proferida, a boca suja do dissabor do fim. Palavras gastas, gestos exaustos, olhares mórbidos e tudo está acabado. Sem segunda chance. Não há que se pedir perdão, não há o que se perdoar. A noite acabou e eu preciso fugir sem você ou fugir de você. A derrota é um sentimento que todo mundo experimenta. O grande mal é quando se experimenta durante a vida inteira. É fácil falar de perda, de dor, de coração partido, de enganos, de ilusão e outros sonhos dantescos. Falar o quê sobre felicidade? Amores que deram certo não é um tema que faz muito sucesso, a não ser em livros de auto-ajuda.
Não tenho como falar de amores, nunca os tive bem, talvez por não me permitir, talvez por falta de sorte mesmo. Não sou mais, ou talvez nunca tenha sido, aquela garota, tão diferente do aparente, tão distante do constante. Tão dupla, tão dual. São sinais da não existência de uma segunda chance, a beleza que não perdurou, os óculos que se quebraram, o tapete que voou sozinho, o amor, negro, que foi engolido pelo céu que rachou, diante do sol, que apesar da dor, brilhava, ou, pela dor, brilhava.
É esse o motivo da raiva. Não são os erros, os sonhos em vão, não são seus olhos, a lembrança do seu abraço. O que dói é ver que existem flores, e outros tantos amores que persistem nesse dia branco, sem cor. É nessas horas que eu queria ter uma bomba pra poder me livrar do trágico efeito de tantos clichês, te fazer enxergar o meu mundo que você não crê. Mas não existe uma segunda chance. E aqui estou eu, chorando baixinho, sonhando acordada, engolindo lágrimas, numa triste tentativa de não sentir dor.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Alucinação


Depois de sonhar com o delegado pra quem mandei flores, acordei assustada por me lembrar que não havia desligado a TV e, passadas tantas horas, percebi que ela estava fora do ar. Eu estava, naquele sonho, vivendo os melhores momentos da minha vida. Estávamos, nós dois, dando voltas pela lua no cavalo de Ogum, após vencer o dragão e fazer da chama, brasa. Brasa. Devaneios tolos me torturam enquanto revejo as fotografias recortadas, me fazendo lembrar com saudade do que já não somos nós.
Talvez nem Freud explique os tempos idos, os copos secos, as cinzas no cinzeiro e o sofrimento do poeta que jamais sentira nada. Tudo isso fez parte do meu sonho. Mais que isso, sonhei que cantávamos a nossa música, aquela que diz algo sobre o sexo ser assunto popular.
Voltando a parte boa do sonho, antes de eu acordar, antes de você me deixar e antes de eu começar a divagar dentro do meu próprio sonho, antes mesmo da chama ardente virar brasa e esta congelar meu sorriso, lembro-me que você me disse que iria comigo, onde quer que eu fosse. E naquele dia branco, que pra mim era como se tivesse mil cores, me lembro que te prometi o sol, se ele saísse, caso você viesse mesmo comigo.
De verdade você veio e eu dei todo o céu, tão imenso como o que eu sentia por você. Te dei a chuva para lavar seu ser. Te dei o sol para que se secasse e se escondesse do frio. Te dei por fim, flores, para que jamais se esquecesse da beleza que existe no amor maior. Percebendo que nada disso tinha te bastaria, lutei ao lado de São Jorge e vencemos o dragão. Ele me emprestou seu cavalo e te coloquei do meu lado para te mostrar a lua. Grave erro. Você se vislumbrou com o alto. Disse que de cima tudo é mais legal, apesar de esquisito, é tudo mais bonito. Comecei a perceber que nada te prenderia a mim se não me tinhas amor. Andei por todo o universo procurando algo que te faria meu, mas não encontrei. E eu trocaria a eternidade para viver tudo isso de novo, com você. Mas nada basta. Só o amor é capaz de se bastar. E a partir daí eu não quero mais reviver. A brasa foi suficiente para acender em mim a realidade.
Deixei você partir. Minha TV está fora do ar. Será que você me olha? Provavelmente não. Do alto é muito esquisito. Você está longe demais das capitais. E pouca coisa me interessa. Não me interessam teorias, coisas do oriente, nem romances astrais. Prefiro não sonhar e me delirar com experiências de coisas reais. Depois que você partiu, tenho raiva até mesmo do sol, dos seus beijos e dos sonhos que sonhei para nós. Depois que você se foi, já ouvi sessenta e três receitas pra te esquecer e eu sei que nada vai resolver.
Me tornei louca. De volta aos bares, fiz amizade com outros loucos, que orgulhosamente seguiam bêbados e orgulhosamente seguiam sonhando. Isso também me deu raiva. Me ensinaram, esses meus novos amigos, que quem inventou a razão, a emoção desconhece. Me fizeram seguir a emoção e parar de pensar em você. Pensar... foi algo que há muito deixei de fazer. O problema é que você tomou conta de tudo. Tudo em mim. Já não há emoção, já não há razão, já não há ninguém por aqui. Nenhum filme na TV, que continua fora do ar. Nenhum carro passa por aqui. Já perdi a conta de quantos cigarros enrolei e não dou a mínima pro que vai acontecer. Só os loucos não desistiram de mim. Dizem que o que eu sinto é moderno. O excesso faz sucesso, o final feliz, não.
Me ensinaram que esse excesso de amor era uma doença ficta. Eu já não sentia amor, sentia prazer em fingir sofrer. Percebi que o único remédio pra essa minha doença era continuar louca. Foi aí que virei poeta.

sábado, 17 de abril de 2010

As cartas que eu mando


De volta em casa, resolvi voltar a escrever as cartas que disse que escreveria para nunca mandar. Verdade seja dita, ainda que não pensada. Falei sem pensar, escrevi sem pensar, bati consciente da dor que causaria, mas não consciente da minha falta de vontade de bater. Verdade seja dita, envelheci dez anos ou mais nesse último mês. Eu que não fumo, pedi um cigarro, implorei um perdão que talvez nem merecesse ter. Verdade seja dita, gostei de pedir perdão, gostei do cigarro e gostei da banda que fez a trilha sonora dessa viagem, a melhor dos últimos tempos da última semana. Pois bem, se não for pra falar a verdade, mentiras sinceras também me interessam.



Meu grande amigo louco,




Eu gosto muito de você! Ontem, naquele encontro de saudades, vontades, sonhos e realidades que se ajuntaram, percebi o quanto eu tinha saudade das minhas lembranças dos fatos que nunca aconteceram. Então, como rainha de um reino de um súdito só, resolvi tomar algumas decisões e gostaria de comunicá-las. Farei isso de forma pública para que todos esses seus amigos das bandas do imortal possam também ouvir. Divulguei então a carta a partir de uma coruja, dessas que não dormem de dia. São eficientes, sabe? Agilizam as notícias.
Pois bem, decidi após a melhor noite dos últimos tempos da última semana, mudar e fazer tudo que eu queria fazer. Me libertar da minha vida vulgar e dar uma chance para essa sua geração insana. A melhor forma que encontrei de conseguir isso foi procurando você. Afinal, somos uma única mente dividida em duas, opostas e conexas, como um espelho. A segunda atitude que tomei foi abandonar meu castelo e deixar a coroa de rainha. Enquanto não arrumo outro rumo, ainda moro por lá, no reino tão distante, mas construí uma ponte de acesso rápido pra facilitar as visitas. Você não precisa mais usar tapete, nem pegar carona em estrelas, tem sido bem mais fácil chegar até lá.
Entre sapos e príncipes, resolvi ficar com a cerveja e me juntar ao seu grupo de loucos. Espero que me aceitem apesar de careta. Mas careta até o diabo é. Descobri isso quando lhe ofereci o cigarro que você me deu e ele não quis aceitar. O encontrei quando o inferno entrou pela porta da frente que você deixou aberta ao sair.
Era isso que queria te dizer, te avisar que eu passei um tempo andando no escuro procurando respostas onde eu jamais acharia. Apesar de ser a causa e a saída de tudo, não conseguia achar o caminho de volta. Mas aí veio a chuva, caiu como uma luva na minha casa, na minha cara, um dilúvio, um delírio. Resolvi, a partir disso, pagar pra ver aonde vai nos levar essa loucura. Pois bem, estou de volta.



Loira

quarta-feira, 3 de março de 2010

As cartas que eu também não mando

Estava pensando desde a semana passada e por coincidência pessoas pensaram como eu: escrever cartas é uma ótima forma de dizer o que quer sem ser censurado. Pois bem... nas próximas (não sei quantas) postagens irei escrever cartas com destinatário certo e conhecido, porem nem sempre declarado. Tentarei me lembrar que disse tudo isso nas próximas postagens.
"Meu caro ex-futuro-grande amigo,
Te escrevo essa carta, que não é de amor, para poder assim lhe dizer um pouco das minhas verdades, duras palavras, para não me dizer depois que é dado a sonhos, que é um dado em minhas mãos e me perguntar até quando eu vou ficar fazendo o que quero com você, e o que mais um poeta louco, louco do que quer que seja, que conversa com putas, outros loucos, outros poetas e tantos feios, que ao se julgarem filósofos torturam-se com seus próprios devaneios, possa dizer.
Pois bem, te digo, meu ex-futuro amigo, que você foi quem estragou tudo. Descobri, sim, através de sábios informantes dessa terra louca, tão louca quanto você, que você me escrevia cartas de amor. Sim, sim... me avisaram inclusive, o conteúdo dessas cartas, tão previsíveis quanto quaisquer outras, já que se trata de amor e o amor nada mais é que um dicionário bem escrito de clichês... Essas meias-verdades repetidas de forma tão incessante que acabam tornando-se poemas decorados e repetidos nas vozes desses tantos portugueses, árabes, feios, sapos e príncipes.
O amor, meu caro, não se resume a poemas decorados e nem mesmo escritos de próprio punho, não se resume a ligações feitas de madrugada do orelhão ou do telefone de um bar que cheira a cigarro e vinho barato, a cartas escritas ou coladas ditas de amor. Por isso mesmo um dia disse que sentia falta de cartas de amor... O amor mais puro, digno e santo é o que se vive calado e não o que se grita aos quatro cantos. O amor não é noticiado, deve ser por isso que você grita. E deve ser disso que eu sentia falta: do que nem mesmo existe. Às vezes a gente se cansa tanto da vida que sente falta de não vivê-la, de ter algo que não tem, de ter algo que não é real.
Foi por isso que um dia eu busquei algo tão próximo de você. Mas ao ver o falso-amor de um poeta e o drama que ele falsamente sente, percebi como é lindo o amor e como é lindo ter amor. Descobri como a vida real pode ser gratificante. Mas não querendo perder algo que julguei já ser meu, quis te trazer à realidade, um amigo. Amigos jamais bastam, e é sempre bom ter mais um. Era só isso que eu queria, ter um amigo. Mas você não veio quando te chamei, por estar longe demais das capitais, por estar fazendo pose e por gostar tanto de andar só. Você preferiu ficar submerso em devaneios, fumando cigarros baratos e conversando com seres mágicos sob a luz de 1001 estrelas, que não quis ser meu amigo. Continuou então escrevendo falsas cartas de amor por também sentir falta de algo que não existia. Começou a sonhar com uma loira linda de óculos que não é linda, apesar de loira e que os óculos só existiam para compor um personagem.
Infelizmente, meu caro ex-futuro-amigo, eu não consegui trazer você. Infelizmente você talvez nem exista e quem esteja delirando ao lado de seres mágicos seja eu, que me ache uma princesa que já encontrou um príncipe. Ou talvez você não considere que no meu castelo não tenha lugar para mais um. Te digo que para amigos, sempre há lugar e que você pode trazer todos que viviam na montanha mágica com você. Eu, por amor a causas perdidas, sempre tenho esperança, todo mundo erra, e é normal entender tudo do jeito que quer e não do jeito que é. Por isso que as vezes dizem que é melhor sonhar que viver, que a realidade não é tão linda como a que vemos em sonhos. Mas se você quiser uma segunda chance de viver a realidade, te busco no meu navio fantasma e tomamos uma cerveja junto com um príncipe, com velhos loucos, com um português, um árabe, e algumas criaturas mitológicas que ando hospedando em minha casa.
Vamos todos juntos, porque ninguém pode faltar.
Com grande apreço,
Loira."

domingo, 21 de fevereiro de 2010

A melhor banda dos últimos tempos
















Depois de ouvir uma propaganda destrutiva no Multishow, eu precisava desabafar. Falava mais ou menos assim: "NX ZERO: a maior banda de rock dos últimos tempos". Eu fiquei perturbada. Eu não sei porque cargas d'água a nossa juventude é tão pobre de idéias e bom gosto. Não sei porque emburrecemos tanto e chegamos no nível de achar que qualidade é emo ou black music. É só isso que se escuta hoje. Aliás, eu até sei. É essa porra de internet que retarda o ser humano que, desprovido de inteligência usa todo o seu poder para o mal. Aí dá nisso... começamos a considerar NX ZERO a maior banda de rock; o melhor canal da tv a cabo, a MTV; a melhor coisa da internet, o MSN. É muita pobreza de espírito.
Aí vem gente falar: "Mas tem muita banda boa nos anos 80/90 que ainda tão por ai". Ok, meus caros. Nosso ídolo mor está aí ainda, sobrevivente de guerra, Gessinger ainda passeia por alguns palcos; Guns, rouco, mas ainda grita; Capital, etc... Tem um monte de banda, com um monte de velho que ainda insiste em cantar... Beleza. A banda é a mesma. A música não. Eu já falei para alguns, mas o melhor CD dos EngHaw é Filmes de Guerra, Canções de Amor. O pior talvez seja o último. Na tentativa desesperada de não cair de moda, de não ser esquecido e de não ter que se aposentar, os feras da década de 80 esquecem suas revoltas e sua qualidade, seu dom e suas obras de arte e se vendam para o modismo que de arte nada entende. É por isso que a modernidade não tá com nada. Porque a modernidade é velho querendo não morrer e jovens sem bons exemplos.
As bandas boas de hoje são as que se despediram ontem. Infelizmente, na música hoje, a gente tem que viver de passado. Ouvir Los Hermanos, CDs antigos dos EngHAw, Beatles, Beach Boys, Bob Dylan, Zé Ramalho, Belchior e tantos outros, e sentir saudades, porque dificilmente veremos ao vivo a qualidade que nossos pais puderam presenciar.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Nota sobre meu sumiço

Acho que andei me poluindo. Isso explica minha ausência e carência de boas palavras. Lendo Harry Potter, assistindo Lua Nova, bebendo de menos e trabalhando demais. Tentando um suicídio menos mortal que cortar os pulsos, que eu resolvi deixar pro final. Uma dose de nostalgia talvez tenha sido meu humanicida. Talvez.
Nostalgia pode ser remédio pro peito, mas como todo remédio, a cura depende da dose. Tentando não pensar no futuro, tentando não pensar em profissão, tentando não pensar em virar gente grande, acabei me formando antes da hora. Tenho estado infeliz, não?!
Eu podei tudo que me dava prazer, não sei se pra ter dó de mim mesma ou pra falar que eu tinha mais o que fazer do que ser feliz. Depois de um click é que eu fui perceber que a hora de ser feliz é agora. E daqui um mês eu vou ter que ter outro click desse porque eu vou esquecer mais uma vez de que a felicidade não se constrói e sim se vive sem planejamento. Isso porque temos uma irremediável mania de deixar tudo pra amanha, até o que a gente sabe que é melhor fazer hoje. Mas fazer o que?! A gente gosta de reclamar e de falar do passado.
É... também sinto falta daquele tempo em que recebia cartinhas de amor, em que minha mãe pendurava o cinto na porta pra eu almoçar olhando pra ele. Sinto falta até mesmo do que me fazia sofrer naquele tempo de criança. Problemas sempre existiram, mas em variadas proporções. Eu achava que nunca me recuperaria do primeiro fora que recebi, do primeiro porre que eu tomei. Achava que iria morrer depois daquele cinco no boletim do primeiro colegial. Achava que jamais me esqueceria daquele primeiro beijo traumático. E naquela época, eu achava que meus problemas eram insanáveis. E hoje eu sou ridícula a ponto de achar que aqueles não eram problemas e assim, vou ser sempre ridícula porque vou sempre achar que os problemas ainda não resolvidos são maiores dos que eu já resolvi.
Engraçado é que a vida nunca muda, por mais que a gente sempre acorde dizendo que amanhã vai ser diferente. Isso me tranqüiliza, sabia?! Porque eu sei que toda a infelicidade não passa de uma fase, a não ser que seja um carma. Não é meu caso. Eu nasci pra ser feliz e não tenho vocação pra sofrimento. Mas todo mundo tem má fase. Estou tentando me recuperar de uma. Peixe fora d’água, borboleta no aquário. É isso. Só tenho que encontrar o meu lugar.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010


Serei feliz quando juntar dinheiro
Der a volta ao mundo e mudar de emprego
Serei feliz quando estiver mais magro
E couber em qualquer roupa que estiver na moda
Serei feliz quando estiver respostas
Quando for famoso e me sentir seguro
Serei feliz quando ela for embora
Quando o meu país me parecer mais justo

Serei feliz quando a dor passar
Serei feliz em outro lugar
Serei feliz quando você ligar
A sorte é que tem sempre alguém pra me lembrar

Que agora é o futuro
Que eu andava esperando
Agora é o futuro
Se não agora, quando?

Serei feliz quando eu tiver dezoito
Sair de casa e comprar um carro
Serei feliz quando aos trinta e poucos
Comprar a minha casa e a vida for mais clara
Serei feliz quando um verso meu
Te fizer chorar e perder a fala
Serei feliz quando eu abrir a porta
E encontrar os meus problemas arrumando a mala

Serei feliz quando o sol nascer
Serei feliz quando Deus quiser
Serei feliz quando merecer
Mas escrevo pelos muros pra não me esquecer

Que agora é o futuro
Que eu andava esperando
Agora é o futuro
Se não agora, quando?



(Leoni)

sábado, 9 de janeiro de 2010

Foi-se 2009

2009 começou como um ano cheio de promessas e foi embora à francesa. Pela minha inércia, meu comodismo ou falta de tempo, nada ficou no lugar ou tudo saiu do lugar certo. Eu não sei bem.
O que eu sei foi que nos últimos meses de 2009, a casa nunca estava arrumada. Minha vida também não. Tudo parecia passageiro. Tudo foi breve nos últimos meses de 2009. As louças sujas na pia, os trabalhos por fazer. A cama desfeita, os lençóis amassados; as roupas sujas enchendo o cesto. O sabão acabou e as compras não foram feitas. A comida acabou, o marcador do livro continuou marcando a mesma página. Nenhum amigo recebeu uma ligação, uma visita ou um consolo. Aliás, não sei se precisaram em algum momento de consolo nos últimos meses de 2009.
Tempo. O tempo se alimenta de nós e nos deixa com fome. Foi mais ou menos isso que aconteceu nos últimos meses de 2009. Nunca adoeci tanto, nunca fui tão sozinha e nunca tive tão pouco tempo para se gastar bem. E nunca tive tanto dinheiro. Por outro lado, nunca cresci tanto em tão pouco tempo e nem mesmo em muito tempo. Um trabalho, um carro, uma batida, um assalto, um salário, um aumento de salário. Uma pequena falta de tempo substituída por total correria. Fui deixada de lado por mim mesmo e é por isso que tudo está fora do lugar nesse começo de 2010. Ainda não me ensinei como eu sou porque na verdade, não sou mais aquela que abandonei e agora, nós duas brigamos para saber quem ocupa essa carcaça que tem mais idade do que aparenta e bem mais velhice do que deseja.



Mas a boa notícia, é que eu voltei.
Vamos fazer um 2010 útil e usável.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Um desabafo nada original

Dia 10/11: fui assaltada voltando do trabalho. Desci do ônibus e atravessei a rua, nesse exato momento dois pivetes levaram minha bolsa recheada. Carteira, dinheiro, cartão de crédito, documentos, chaves, etc. Mas podem ficar calmos porque eu não vou narrar minha experiência, nem falar sobre a vida pregressa dos pivetes, muito menos do crescimento da violência urbana e de como isso é assustador, até porque se eu fosse fazer dessa história algo triste e emocionante, eu teria que dramatizar muito. Violência é um tema que não comove mais e é esse o problema. Eles simplesmente levaram minha bolsa, não me machucaram, não fizeram nada comigo, devo agradecer por isso. Foi o que todos disseram.
No tempo de Renato Russo a violência poderia até ser fascinante. Fins da década de oitenta, início da década de noventa, obviamente já havia violência, mas não como hoje. Nesse período o Brasil passava por uma inflação sem precedentes e um crescimento econômico desordenado em decorrência da baderna que os militares fizeram, o que acabou influenciando o comportamento das pessoas. Com o crescimento houve migrações; pessoas vinham a todo momento de estados em maior dificuldade para tentar a vida nos estados mais desenvolvidos, e se deparavam com crise, crise em todos os lugares. Essa história todo mundo conhece: surgiram favelas nas grandes cidades, e com isso a violência só aumentou. Não há mais fascínio porque não há mais novidade. Não há nada de novo no que se vê hoje, exceto seu poder de disseminação. Não há o que se inventar em matéria de tortura, furtos, agressões, mas há o que se inventar ou reciclar em matéria de repressão. Os policiais, sem nunca terem lido Hobbes, sabem que o homem é lobo do próprio homem e sem nunca terem lido Rousseau dizem que a sociedade corrompe o indivíduo e o sistema favorece ao marginal. Com o perdão da pobre e crua expressão, é o caralho. A sociedade não corrompe e a polícia falha sim. A única coisa que é certa, é que o homem é de fato, o algoz. E o favorecido é o mais forte e o mais esperto. Em tudo é assim, em toda nossa vida, em todos os lugares. Mas o destino desse marginal já é conhecido. Ele não vai pra cadeia, porque a polícia está preocupada demais em fazer greve e a legislação está preocupada demais com os direitos humanos para se preocupar com esses semi-humanos ladrões de dignidade. Eles vão ser mortos por seus superiores. Porque vão transgredir alguma regra da legislação especial que regem suas vidas, não vão vender bagulho suficiente, vão roubar uma bolsa sem dinheiro ou vão se meter em alguma merda. Seleção natural foi o nome que Darwin deu à mesma coisa que Hobbes trata em Leviatã. A força e a superioridade daquele que nasce pra comandar.
Mas em uma coisa Renato acertou, amar ao próximo é muito demodê. Eu diria mais. Respeitar o próximo é muito demodê. E é interessante porque essa galera tarada por direitos humanos na verdade não pensa em respeito e amor ao próximo. Deve-se falar em direitos humanos quando a questão envolve um filho da mãe que rouba, mata, estupra e leva embora a dignidade de outra pessoa, inocente, trabalhadora que ganha a vida de modo honesto? Outro absurdo é a maioridade penal ser 18 anos. Desde 1940 a maioridade penal é 18 anos. Eu não preciso me estender falando sobre a mudança ideológica ocorrida nesses quarenta e tantos anos. Francamente, está tudo errado.
Direitos humanos devia servir para quem é humano, a polícia deveria se organizar melhor, se dividir melhor, ter um melhor planejamento e evitar greves; e a legislação deveria favorecer às pessoas de bem e tratar os desiguais à medida que se desigualam, relativizando até mesmo os tratados internacionais.
Me cabe mais um desabafo. Eu espero, que um dia, nós, sejamos grandes o suficiente pra não precisar agradecer quando alguém simplesmente roubar algo nosso. Que sejamos grandes o suficiente pra poder reaver tudo que perdemos, não só o dinheiro e o sono roubado; que um dia não precisemos passar por nenhum tipo de furto. Que um dia a polícia faça alguma coisa de eficiente, que a legislação seja menos inócua, menos anacrônica e viva, exista e surta efeito em tempo real. Enquanto nós tivermos esse pensamento pequeno e inferior de agradecer por simplesmente termos sido roubados, muita coisa será tirado da gente. Que um dia não ouçamos um policial dizer que não adianta, que o bandido corre muito e ninguém pega. Que a lei mude, que o policial se qualifique e que nós, que nós cresçamos, tomemos atitude e tenhamos vontade suficiente pra mudar o que não nos satisfaz ao invés de reclamar e botar a culpa nos outros.



em off: feliz estou de fazer parte desse um ano, temos que beber uma por isso!!! Amanhã, pode ser? ;D

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Tendão de Aquiles

Aquiles foi um herói da mitologia grega, que participou da Guerra de Tróia, que ganhou fama depois de Ilíada, a grande obra de Homero. Segundo o mito, Aquiles além de mais belo, era o melhor, mais destemido de todos os guerreiros gregos, inatingível, invulnerável em qualquer parte do seu corpo exceto pelo seu calcanhar, onde foi acertada uma flecha invenenada que o matou. O tendão era sua maior fraqueza.
Fui pensar sobre isso um dia desses. Alguém me disse que a solidão era o seu tendão e eu pensei muito... Não... Esse não seria o meu tendão desde que o meu objetivo não fosse viver rodeado de gente.
Qual seria meu tendão de Aquiles, foi o que eu comecei a pensar... E não tive muita dúvida. É o fracasso. Eu não sei perder, é dificil ser derrotado. Quero dizer com fracasso exatamente tudo. Quando se perde um amigo, se fracassa. Quando se perde um amor, por algum motivo, você fracassou. Quando não se ama, o fracasso é permanente. No trabalho, em casa, na rua, na vida, o medo de fracassar é algo que me consome. Não conseguir um objetivo é simplesmente a pior coisa do mundo, independente de qual seja o objetivo e o mundo.
Objetivo. Taí uma coisa que deveria ser universal, uma espécie de lei mesmo. Só deveria existir, no mundo, pessoas que tivessem um objetivo fixo, ou vários deles ao longo da vida. Afinal, estamos em constante mudança e as metas são constantemente superadas para darem início a outras. A gente nasce e já vem logo um objetivo: aprender a entender o mundo, as coisas, as cores, as palavras. Quando a gente começa male male a entender, o objetivo é aprender a transparecer, a expressar o entendimento, aí vem a fala, depois a escrita e pronto! já estamos na escola, na droga de escola, independente do motivo e do meio, o objetivo é o mesmo: terminar logo o fundamental, o ensino médio e durante esse período temos outros objetivos: aprender música, beijar tal pessoa, aprender alguma dança e etc. Quando a gente menos espera, lá estamos: vestibular. O maior objetivo que você pensa que vai ter durante toda sua vida aos dezessete anos de idade. É foda... mal sabemos da OAB, do mercado de trabalho, e cara, mais mil objetivos, mil metas surgem em cinco anos de faculdade. Fora os externos, aquele show, aquele artista que você quer conhecer, aquela menina (ou aquele cara) que você quer ficar, aquele estágio que você sonha em conseguir. E por ai vai... a gente vive pela falta de tempo, vive com a vida cheia, vive pra ter objetivos, vive pra vencer. Mas não dá pra conseguir conquistar todas as pessoas, todos os empregos e concursos sonhados, a melhor faculdade, a banda se desfaz antes de você ter grana pra ir ao show, etc. Assim como metas e objetivos, o fracasso é recorrente. Cabe a cada um saber lidar com ele. Mas eu garanto. Eu não sei. E há pessoas que não sabem mesmo. Fracassar pra mim, é como a morte, irremediável, intolerável e causa um sofrimento terrível. Assim como a solidão pra mim é remediável e para outros não é. Cada um com suas dores, cada um com suas alegrias. O que dá pra garantir é que ninguém suporta tudo e cada um tem aí seu ponto fraco, seu tendão de Aquiles, por mais belo, guerreiro e imbatível que seja, a fraqueza é inerente ao ser humano, que é tão forte quanto o elo mais fraco.

sábado, 17 de outubro de 2009

AMOR (pra não ficar sem título)

(espero estar na fonte padrão porque não quero pagar cocola pra ninguém)



Com o passar do tempo criei um hábito interessante. Sempre que eu assisto um filme, eu guardo dele uma frase ou uma ideia que normalmente me marca. Há um tempo atrás assisti a um filme, brasileiro inclusive, aclamado pela crítica, em que a personagem principal, após uma separação, relaciona-se com um garoto mais jovem que ela e, num diálogo com a amiga, ela diz que o que sente/vive com o garotão não é amor, é melhor. Isso é muito forte, muito interessante. AMOR um tema que jamais se esgota, mas que só é explorada uma variável, uma variação desse mesmo tema.
Criamos, graças a cultura e sei lá mais a que, a ideia de que é obrigatório durante a vida amar alguém. Mas se for parar pra pensar, amor é algo tão comum e tão cotidiano que nem é a melhor coisa do mundo. Ama-se uma banda, um cantor, um tipo de comida; ama-se um time, um lugar; ama a mãe, uma calça velha, uma música, um personagem de novela. E quando se trata de amor conjugal, é a mesma coisa: é amor. Ama-se à primeira vista, à segunda, ama-se a partir de convivência, ama-se por substituição, mas o amor vai sempre ser amor, em qualquer lugar, em qualquer uso da palavra.
Agora me diz, se o amor é tão comum (sem querer diminuir sua importância, pelo contrário) porque ele é tão especial? Ou ele é especial justamente por ser comum? É um verdadeiro paradoxo que eu não sei explicar. Mas vendo pelo lado negativo: o capítulo da novela dá raiva às vezes, o time quando perde, nem se fala, toda banda tem uma música que a gente não gosta, o vocalista sempre faz alguma coisa que desagrada, o jogador também. Agora, mãe e namorado(a) é melhor não comentar.
Fora amar, tudo no amor é ruim. É o egoísmo, o ciumes, a desconfiança que não passa, a gente sofre, se anula, vive pelo outro. Realmente, há coisas melhores que o amor.
PAIXÃO! Ninguém se apaixona a primeira vista, ninguém é apaixonado pela mãe, pela banda, pelo time. Se for, é um caso de subversão, que não cabe aqui. Quando a gente se apaixona, a gente não pensa em ciumes, não pensa em desconfiança, nem quer controlar ninguém, só quer carregar o que é bom, o que realmente importa, o que faz valer a pena. Acho que é justamente o que a Martha Medeiros quis dizer nesse livro que virou filme. Se apaixonar é bem mais fácil e bem melhor que amar, apesar de durar pouco, segundo a ciência. Mas ah, o cigarro dura pouco e quando acaba, o fumante pega outro. Nem por isso é ruim. A música dura três minutos, quando dura mais, quase sempre é chata. O filme dura duas horas, e a gente lembra pro resto da vida. A gente tem é que parar com a mania de achar que o que é pra sempre é o que é bom de verdade.










Pra terminar meu post eu gostaria de fazer uma pergunta: o que será que ela quis dizer? 5 letras, começando com a letra A?

sábado, 10 de outubro de 2009

O QUE É A MORTE NA VERDADE

Eu já morri tantas vezes que perdi a conta. E ressuscitei em todas elas sorrindo, de braços abertos para o novo mundo que eu mesma criava. Eu não nasci para chorar. Certa vez, ouvi num consultório médico um senhor, já de idade, mas relativamente bem disposto dizendo que a idade dilacera. Pensei tanto nisso, que discordei. A idade só dilacera aquele que não se vê vivendo. E quando esse ser acorda, a primeira coisa que faz é se olhar no espelho, e, pela primeira vez, se enxerga de verdade. Percebe o quanto está velho e acabado, começa a identificar quantas fissuras se abriram e quantos cortes nunca se fecharam. Veríssimo diz com propriedade e muita sabedoria que quem quase morre continua vivo, mas quem quase vive, já morreu.
A morte, assim como a vida é irremediável. Morte é o fim inevitável de alguma coisa. Vida, é o início incontestável de outra. Devemos viver o suficiente para morrermos muitas vezes; muitas vezes no dia, no mês, no ano, na jornada inteira. Morrer a criança imatura do ensino médio para nascer um adulto maduro preparado para faculdade, que também tem que morrer para nascer alguém de fato maduro para enfrentar o mundo, o mercado de trabalho; morrer o covarde para dar lugar a alguém dentro de nós com coragem suficiente para ser feliz; morrer a filha, para nascer uma mãe; morrer a pessoa descrente e desacreditada para nascer alguém com ousadia suficiente para contestar. E por aí vai.
Tudo que morre, morre para dar lugar a algo novo. Não se luta contra a morte, pois ela é o fim inexorável de tudo que um dia nasceu. O que dá pra fazer é ter vontade. Vontade para fazer o que vale a pena. Vontade de matar ou de não deixar morrer. Matar o que dói, o que incomoda, o que mofa dentro da gente, o que estraga. Não deixar morrer a alegria e a satisfação de ter prazer: prazer em ser, em ter, em fazer.
Pelo menos pra mim, é assim que se vive e pra isso que se morre. Se morre para se viver, mais e melhor.

domingo, 4 de outubro de 2009

Uma coisa é certa: é muito dificil viver hoje em dia. Tendemos à mediocridade desde o dia que nossa mãe pariu. Nos pariu. Além da tendência à mediocridade, há também uma grande tendência à hipocrisia. Nós fazemos de tudo para parecer diferente, pra tenter fugir do senso comum, do povão. E nesse ponto estamos certos. Acho mesmo que temos que ter medo do povão. Só que francamente: um dia, se não foi esse domingo, foi a menos de um mês atras, você só achou Faustão pra assistir e ainda achou engraçado ou tinha uma dupla sertaneja se apresentando no prograva e que você gostava (escondido, porque goiano adora falar que odeia sertanejo e que Goiânia é uma roça). Voce foi, há menos de três meses na bôite que tá na moda na sua cidade alegando que só estava ali porque era aniversário de algum amigo. Você tenta ler livros de autores que ninguém conhece ou que são muito conhecidos (aqueles que todo mundo já ouviu falar mas nunca leu nada sobre... tipo, dostoiévsky), mas já parou um dia pra ler um livro de auto-ajuda, Harry Potter ou Crepúsculo ou foi ao cinema assistir a algum best-seller que virou filme (pra poder criticar depois, né?!). Tudo hipocrisia.
É bom lembrar o que é hipocrisia. Tem aquele cara que fala esquisito, que compõe, toca sete instrumentos e adoraria que todos reconhecessem sua intelectualidade e que vara a noite lendo os rodapés dos livros pra saber o que dizer no outro dia. E tem aquele cara que adora falar que ficou bêbado, que durmiu fora de casa porque ele acha que a boemia é um estilo de vida louvável não só pra ele mas para os outros também. que ele vai ter prestígio tendo um gênio rebelde-indomável. Esse cara fuma pra caramba, bebe pra caramba e sempre para pra pensar se é mesmo feliz assim ou não. Os dois estão perto da hipocrisia e pra isso só dependem de como se sentem por dentro e de como conseguem controlar sua personalidade. Entre a autenticidade e a mediocridade, e a hipocrisia, há um alinha muito tênue.
De tanta boa escola, contato com professores e outras pessoas com senso crítico aguçado, Jornal Nacional, a gente aprendeu o que não é visto como cult e tentamos nos desvencilhar disso. Mas poxa, as vezes é legal ir pra uma micareta, ficar bêbado sem ver e aí não lembrar o que fez e etc. É legal não pra chamar atenção é ser "massa". É legal porque às vezes é divertido fazer o que é recríminável (por nós mesmos). O interessante é justamente isso: criamos regras que nos fazem em parte, infelizes ou, pelo menos, reprimidos. Sexo depois do casamento, não poder falar palavrão, estereótipos de beleza, roupas que são ou não são bem aceitas, regras idiotas controlando, mascarando ou proibindo coisas que não fazem mal diante da ciência mas que a gente mesmo se força a obedecer. Vê se isso não é hipocrisia? Quantas mulheres (mães) dizem aos seus filhos (homenzinhos) pra não tirar a virgindade de nenhuma menina "de família", mas ela mesmo não casou virgem. Quantas vezes as meninas vaidosas deixaram de tomar um big sorvete, uma pizza ou deixaram de beber cerveja porque "dava barriga"? E porque barriga tem que ser feio? Na Grécia era sexy. E quem inventou que falar palavrão é deseducado? Quem convencionou as regras de educação? O ser humano não gosta de ser feliz. É como se a felicidade fosse um ultraje.
Entregamo-nos tão facilmente aos estereótipos que nem os percebemos mais. Quem faz Direito deve falar um português impecável, andar bem vestido e de nariz empinado. Quem faz jornalismo, publicidade e propaganda, DEVE ir pra facu de all star ou havaianas. E quando alguem subverte essa lei, é quase expulso para o campos com o qual seu estilo se assemelha. E o professor que não se veste de acordo não tem o respeito dos alunos, se é novo demais tem que dar um duro danado pra conseguir confiança. E tudo na vida é assim: baseado no preconceito. Pré-conceito, o conceito que fazemos baseado em assuntos prévios, generalizações ou na nossa cabeça futurista, jamais na ciência e na racionalidade.
É ridículo, mas é verdade. Nesse mundo nosso em que tudo é convenção, que tudo é criado e imposto, a alteridade sai de moda e dá lugar ao preconceito. Impomos a nós mesmos regras que no fundo não queremos obedecer, coisas das quais na verdade não gostamos ou simplesmente nunca paramos pra pensar e fazer uma verdadeira análise. E é assim que acontece. Aos olhos dos homossexuais, os hetero são aberrações.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Muito prazer, meu nome é Isabella

Hoje é minha estreia declarada no jorhaw e estou emocionada! Tremenda responsabilidade a minha, uma vez que sou a única que não faz jornalismo e só escreve por amor, por ter muito que contar ou por ter visto muitas coisas que julguei valer a pena passar adiante. Pra mim, todo mundo sabe escrever, de um jeito ou de outro. Talvez falte o requinte de Lispector, o dom de complicar da Colasanti, ou simplesmente falte assunto para falar. Porque é isso que faz o escritor: criatividade, assunto ou sensibilidade para filtrar temas que constroem o cotidiano. Eu preferi, pra começar, não começar. Preferi, hoje, nesse blog de leituras prazerosas, mostrar um pouco da minha forma de escrever. Sim. Estou me limitando.
Dizem que eu tenho intimidade com as palavras, mas me encaixo melhor na afirmação de Gabriel García Marquez, num trecho extremamente autobiográfico de "Memórias de minhas putas tristes". Assim como ele, "não tenho vocação nem virtude de narrador, ignoro por completo as leis da composição dramática, e se embarquei nessa missão é porque confio na luz do muito que li pela vida afora. Dito às claras e às cegas, sou da raça sem mérito nem brilho, que não teria nada a legar aos seus sobreviventes se não fossem os fatos que me proponho a narrar do jeito que conseguir". Não tenho dom pra escrita, sei escrever de uma única forma, sem mistérios, com clareza e simplicidade para que você, ao ler, veja que também pode fazer isso; para que você veja que escrever é fácil, é gostoso e dá muito prazer. É quase tão terapêutico quanto quebra-cabeças para aliviar stress!! (pra mim, pelo menos) Não sei escrever poemas, poesias, e admiro quem os faz; não saberia nunca começar um livro fantástico como O dia do Curinga, O Código da Vinci, e até mesmo Harry Potter! Como disse a incrível escritora e também colaboradora desse blog, pretendo passar as delícias de ser e existir, usando como ponto de partida coisas que para mim são essenciais para uma vida bem vivida.
É isso aí, agora que eu não preciso de diploma (só pra sacanear vocês), eu vou, pretensiosamente, integrar esse "selecto" grupo, sem saber de forma ou métrica, tendo como únicos requisitos preenchidos, o amor pelo livro, pela música, pela escrita, pela cerveja e pela vida bem vivida. No mais, espero que me leiam em leituras próximas e menos excêntricas.


P.S.: Jardel, você anda relapso com suas escrevinhações!

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