segunda-feira, 24 de maio de 2010

Bem aqui

Quirinópolis. Um sufixo helenístico que domina as denominações interioranas e agrada a gregos e goianos. E um prefixo que não me remete a nada. Nem idéia. Talvez ser chamada de Criminópolis fosse mais adequado. Não que a pacata cidade (pelo menos enquanto o sol ilumina) fosse a capital da violência travestida ou a casa das incidências de homicídio. Mas, que a cidade reserva raras emoções, isso é indubitável.

E não guarda a sete ou oito chaves. Muito pelo contrário. Guardar é um verbo muito fechado, com o perdão do trocadilho. As emoções estão lá, disponíveis pra quem quiser. Pra qualquer um que se disponha a ouvir um sincero 'vou realizar seu sonho', um beijo metálico ou um trago azul num Derby. Pra qualquer um que tenha um bom coração e se dispa de determinados dogmas e preconceitos formados em decorrência da criação burguesa que lhe foi imposta.

Quirinópolis. Interior. Muito mais palheiro. Vômito. Derby é obra, é concreto, é asfalto. É capital que se ergue a cada dia numa velocidade assustadora, como a vodka que atinge o cérebro e te joga no chão. Como o rio que deságua nas águas turbulentas de algum mar ao sul de lugar nenhum.

Piercing. Coloque-o no meu caminho, que eu quero passar. Me faz ouvir as picapes de um dj numa boate abafada e sem área de fumantes. Ou admirar o nariz daquela que me faz bobo e já disse que não. Piercing. Quer algo mais urbano? Derby. Emoções. Mensagens coladas no celular dela.

Coloco uma pipoca no microondas, só que desligado. Muitas vezes, o que você busca está a dois passos de você, como a garota que pita cigarro de pedreiro e tem uma argola na língua. E mora a três quadras de você. Mas você não enxerga. Temos a mania de procurar longe o que está bem debaixo do nosso nariz. A felicidade não está necessariamente onde o vento faz a curva, ou depois dela. Pode estar a duas ou três quadras de você, bem debaixo do seu nariz e ofuscada pela mais digna sensação de solidão.

Está tudo bem agora. E em algum lugar desse chão goiano, alguém vai dormir com um gosto diferente na boca. Talvez gosto de fumaça da capital. E em algum lugar dessa metrópole, um alguém se deita com um gosto de vento interiorano na boca. Mas um gosto diferente do da pipoca que espera dentro do microondas desligado.


Homenageando Rafael Rabelo, baseado em fatos reais.

1 comentários:

André Safadi 27 de maio de 2010 às 22:58  

Retrato falado de um cara que andou sem pernas num mar de facas, descobriu horizontes e caiu do precipício. A neblina que ele produzia, tapou seus olhos e ofuscou o seu desejo, mas não fez ele deixar de sonhar. Um belo piercing, um belo fato, um belo texto.

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