domingo, 18 de julho de 2010

Almôndegas - "Almôndegas"


A internet tem sido o mais eficiente meio de difusão de novos sons para quem tem o apetite sempre aberto aos diferentes estilos musicais do mundo todo. Para os exploradores de tesouros musicais escondidos então, tal ferramenta parece ter sido enviado pelos deuses diretamente do Olímpo. Muitos internautas adoram “cavucar” o Rock ‘n’ Roll dos buracos e cavernas mais obscuros da Terra, usando e abusando da tecnologia dos tão infames programinhas de compartilhamento, tão acusados de tirar o ganha-pão das pobres gravadoras, mas, por outro lado, responsáveis por revelar inúmeras bandas e artistas a um público que jamais teria acesso a eles, levando-os, inclusive, a adquirir os álbuns conhecidos graças aos downloads ilegais. Irônico, não?

Não obstante, é sobre outra grande ironia que pretendo discorrer na resenha de hoje. Os protagonistas dessa história de contradições são um conjunto das longínquas terras de Pelotas – e peço maturidade, querido leitor – cujo nome revela o teor altamente descontraído e natural de suas letras e filosofia de vida: Almôndegas. Pra quem não conhece, essa foi a primeira banda de Rock/MPB dos irmãos Kleiton e Kledir, famosos posteriormente por sua carreira como uma dupla. E não, eles não tocam música sertaneja, para a tristeza de muitos e minha profunda alegria.

“Mas onde está a ironia nisso tudo?”, pergunta-se o curioso internauta. A resposta é simples: uma das mais fortes características do grupo gaúcho era justamente a profunda aversão ao progresso e à modernidade, incluindo, é claro, a tecnologia, meio pelo qual eu tive o grande prazer – e agora você também, espero eu – de entrar em contato com essa música tão rica e arraigada à cultura gaúcha.

O álbum já começa com uma ode à vida simples no campo, “Sombra Fresca e Rock no Quintal”, talvez a faixa que mais aceite o rótulo de “Rock Rural”, estilo atribuído aos Almôndegas por muitos críticos – embora, em minha opinião, elementos da MPB predominem no trabalho deles, ao menos neste disco de estréia. Assim como a primeira faixa, a terceira e mais genial composição do disco, “Teia de Aranha”, parece ter sido cunhada por JJ Veiga, tamanha a ojeriza provocada na banda por quase tudo o que pode ser conectado à tomada. “Sou humano, mas namoro um computador / O progresso engoliu a nossa paz / E a teia engoliu a própria aranha”;

Ainda nesse espírito, a faixa “Almôndegas” trata do mesmo tema, só que dessa vez de forma mais bem humorada, utilizando-se de linguagem caipira e lógica simples, do tipo “Pra quê comprar Lamborghini se tem perna pra andar?”. Confesso, leitor, que eu responderia a essa pergunta sem grandes dificuldades.

“Olavo e Dorotéia (Uma Louca Estória de Amor)” é outra composição que merece destaque. Uma canção de belíssima singeleza, apesar do título um tanto piegas – odeio essa palavra, mas contento-me com ela no momento. Digna de nota também é “Daisy, My Love”, mais uma letra sensacional do grupo, unindo espírito crítico a humor.

Poupo meus internautas do enfado de um texto deveras longo – a recente profissão de publicitário vem me ensinando a importância da síntese – e já me despeço por aqui. Recomendo fortemente o álbum a quem deseja um pouquinho de cheiro de mato e bosta de cavalo impregnado nos muros de concreto da cidade, mesmo que somente pelos breves 33 minutos de duração do disco. Ou, se o ouvinte for um pouquinho espírito de porco, colocará o bucólico disco dos Almôndegas para tocar em seu “Lamborghini”. Prometo que não conto nada pro Kleiton. Nem pro Kledir. Até a próxima!

1 comentários:

Leandro Gel 19 de agosto de 2010 às 15:54  

"Teia de Aranha" é sensacional. Altamente viciante.

No youtube rola um show especial que fizeram em 1990 para comemorar os 15 anos de surgimento da banda. Quem quiser ver é só pesquisar por: "Almôndegas 1990 - show de 15 anos"

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