terça-feira, 14 de setembro de 2010

Diário de Morte


Aquele que anda descalço é livre, ele está totalmente em contato com a natureza. Os pés descalços naquela terra firme e seca, nem me imagino a 40 anos atraz. Sabia que esse dia chegaria.

Nossa árvore traz toda a nossa fonte de energia, todos por aqui construiram suas casas em volta dela. Sua sombra atinge toda a cidade, e traz-nos aquela sombra dia e noite. Como é bom respirar esse ar tão puro, as vezes nem me reconheço sem essa máscara.

As crianças brincando de pique-esconde. Da última vez tivemos que procurar além do alcance da nossa árvore. Essas crianças não tem limites mesmo. Já avisei e continuo avisando, " não vão por aqueles lados, la vivem aqueles que nunca nos ajudaram, aqueles que não respiram o mesmo ar que nós ", toda vez tropeço neles, acho que nunca irão acabar.

Esses dias olhei la no meio da nuvem, e vi rastros de luz, imediatamente mandei todos para suas casas. Eles estão evoluindo, nunca vi algo tão grande, aqueles tentáculos, cada dia que passa dou falta de uns e outros por aqui. Acredito que tenham achado outro lugar bom para se morar, mas também creio que possam ter ido para o inferno.

Estou tão cançado de tudo isso, não tenho sossêgo nem um dia sequer. Nosso médico sofre alucinações, um dia desses ele operava um dos nossos trabalhadores e achou que era um cozinheiro, picando as verduras e legumes, o enfermeiro tentou tirar o bisturi das suas mãos e foi atacado também, precisou de 4 pessoas para parar aquele louco. O nosso cozinheiro ainda é pior, ele acha que o mundo acabou e no Natal ele tentou matar a todos colocando veneno de rato na nossa sopa. Sei que ele não tinha más intenções, pois essa vida não está sendo fácil.

Faço todo o trabalho pra esse povo, lembro de quando me chamaram para se juntar a eles. Foi algo tão grotesco, me fez tremer de raiva, não sabia do que eles eram capazes, só pude perceber depois daquele dia.

Toda noite que me deito ao lado da minha mulher, e passo a mão na sua perna, lembro de quando ela perdeu uma delas, não gosto nem de pensar.

Hoje vou me deitar cedo, amanhã é um novo dia, mesmo com toda essa escuridão dá pra ver que não perdemos o nosso calendário. Abro meu diário e começo o cabeçålho;


Terra, Os sobreviventes

Dia 20 de março de 2127


Mais um dia sobre a sombra das nuvens negras, respirando o ar de máscaras de oxigênio, andando pelo chão que não semeia, em busca da natureza colorida que não vejo a mais de décadas. Essa poluição matou todos os animais, separou as classes e exterminou a fé.

Mensagem de hoje será a mesma de ontem;


Aquele que anda descalço é livre, ele está totalmente em contato com a natureza...

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