quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Enlatado

Em uma ponte qualquer, numa dessas grandes cidades. Podia ser Roma, Paris, Londres, Berlim ou mesmo São Paulo. Quiçá Goiânia. Uma paisagem complexa, moderna e difusa. Meio hemisfério Norte e Sul. Um clipe sem nexo. Um pierrô retrocesso meio bossa nova e rock and roll. Um garoto desses crescidos com seus cabelos loiros descendentes de um nobre inglês qualquer,um bom bigode português de orgulhar o mais selvagem motociclista ianque de um porte negro. Um céu azul.



Embaixo de uma ponte, uma vitrola velha em que john frusciante dedilha sua melodia. Ecoando pela fumaça da metrópole em meio ao estrelado céu azul, na mais bela figura de um gibi. Ecoando em meio ao fedor do belo rio. O rio como a sociedade e as pessoas da vida moderna, mais lindas e belas que nunca, porém cada vez mais próximas da destruição final, da morte interior e da podridão impossível de se escapar. Nas estrelas, cazuza voando e disparando rajadas de mágoa em sua mais bela performance anacrônica de barão vermelho dos filmes de guerra e canções de amor.



Esse belo garoto, que como eu amava os Beatles e os Rolling Stones, de repente se vê sujo. A barba por fazer e o seu all star não mais azul. John Frusciante não para de tocar under the bridge. Em sua companhia apenas grafitado no muro o cavalo de chico que só falava inglês. Olhando então perdido escrevendo obras do além mar do mais salgado espírito lusitano. Olhando para as janelas das grandes cidades e sentindo falta de tudo aquilo que ainda não viu. E morrendo de sentir do que viu. Do que se perde,que vai e não volta nunca mais, afinal as vezes apenas não há uma segunda chance. De quando a maturidade é o preço e de todas as pessoas que não deu valor.



Cada janela amarela daquela cidade depois da ponte, naquela paisagem daquele quadrinho de gibi havia uma e-stória qualquer. Um casal fazendo amor. Outro fazendo sexo.Aquele seu melhor amigo que ele amou mais do que o mais nobre cavaleiro. E que hoje é apenas mais uma janela amarela na caricatura da cidade. Sente falta de tanto amor que recebeu e desperdiçou. Queria reunir todos aqueles que lhe deram atenção no bolso e simplesmente poder dizer, obrigado. Sinto muito se os perdi pelo caminho, mas eu realmente amo todos vocês.
Mas a vida não é uma estória em quadrinhos. E o barco com a vitrola vai passando, passando. E enfim, nem a música lhe faz companhia mais.


quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Crônica de uma morte anunciada





O Amor!


Antes, na paixão a troca de olhares das rimas medíocres do pseudo intelectualismo da mesa de um bar.

Do verdadeiro intelectualismo do amor que apenas se sente . De quem respira poesia.

A morte da arte, da vida. Arte pela morte. Arte pela arte.

Das revoluções que nunca se farão e dos mares nunca navegados.

Numa esquina por aí.

No metrô, nas coxas alheias ou nos sorrisos tristes. Sempre lá. O amor, a crônica dessa morte anunciada que é a única certeza de uma vida triste.



Aquela velha sensação. Um frio na barriga, angústia talvez. Um pesadelo, um amor indigesto. A sensação enfadonha de ser infantil e achar viver é morrer de amores. Talvez seja vontade de fumar, esse suicídio industrial, apoteose pseudo intelectual. E de tragar palavras travestidas trotoantes, seduzindo o medo que nunca te abandona, do velho frio na barriga. Então assim, se entregar a medíocridade e quem sabe. Quem.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Diário de Morte


Aquele que anda descalço é livre, ele está totalmente em contato com a natureza. Os pés descalços naquela terra firme e seca, nem me imagino a 40 anos atraz. Sabia que esse dia chegaria.

Nossa árvore traz toda a nossa fonte de energia, todos por aqui construiram suas casas em volta dela. Sua sombra atinge toda a cidade, e traz-nos aquela sombra dia e noite. Como é bom respirar esse ar tão puro, as vezes nem me reconheço sem essa máscara.

As crianças brincando de pique-esconde. Da última vez tivemos que procurar além do alcance da nossa árvore. Essas crianças não tem limites mesmo. Já avisei e continuo avisando, " não vão por aqueles lados, la vivem aqueles que nunca nos ajudaram, aqueles que não respiram o mesmo ar que nós ", toda vez tropeço neles, acho que nunca irão acabar.

Esses dias olhei la no meio da nuvem, e vi rastros de luz, imediatamente mandei todos para suas casas. Eles estão evoluindo, nunca vi algo tão grande, aqueles tentáculos, cada dia que passa dou falta de uns e outros por aqui. Acredito que tenham achado outro lugar bom para se morar, mas também creio que possam ter ido para o inferno.

Estou tão cançado de tudo isso, não tenho sossêgo nem um dia sequer. Nosso médico sofre alucinações, um dia desses ele operava um dos nossos trabalhadores e achou que era um cozinheiro, picando as verduras e legumes, o enfermeiro tentou tirar o bisturi das suas mãos e foi atacado também, precisou de 4 pessoas para parar aquele louco. O nosso cozinheiro ainda é pior, ele acha que o mundo acabou e no Natal ele tentou matar a todos colocando veneno de rato na nossa sopa. Sei que ele não tinha más intenções, pois essa vida não está sendo fácil.

Faço todo o trabalho pra esse povo, lembro de quando me chamaram para se juntar a eles. Foi algo tão grotesco, me fez tremer de raiva, não sabia do que eles eram capazes, só pude perceber depois daquele dia.

Toda noite que me deito ao lado da minha mulher, e passo a mão na sua perna, lembro de quando ela perdeu uma delas, não gosto nem de pensar.

Hoje vou me deitar cedo, amanhã é um novo dia, mesmo com toda essa escuridão dá pra ver que não perdemos o nosso calendário. Abro meu diário e começo o cabeçålho;


Terra, Os sobreviventes

Dia 20 de março de 2127


Mais um dia sobre a sombra das nuvens negras, respirando o ar de máscaras de oxigênio, andando pelo chão que não semeia, em busca da natureza colorida que não vejo a mais de décadas. Essa poluição matou todos os animais, separou as classes e exterminou a fé.

Mensagem de hoje será a mesma de ontem;


Aquele que anda descalço é livre, ele está totalmente em contato com a natureza...

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