quinta-feira, 21 de março de 2013

6:55 am

Um dia que se inicia chuvoso e frio é algo tão belo quanto uma
desilusão amorosa. Eu que não fumo, queria um cigarro e um café
quente, numa padaria bem honesta, dessas de periferia, com um
motorista de ônibus do meu lado e um pedreiro do outro. Após virar uma
madrugada lendo, realmente acordo e não lembro mais do tempo que
passou. Acontece apenas, que essa imagem cinza, me deixa apaixonado.
Apaixonado por essa cor cinza, justamente por ser uma cor sem cores.
Uma cor mórbida. Uma cor que deixa confortável porque sou um covarde. Covarde
porque as cores são emoções e prefiro não sentí-las. E essa paisagem
cinza então, me deixa apaixonado por tudo que não consigo sentir.
Cinza, como a fumaça de um cigarro. Cinza. Cinzas.  Caminho por um
terminal de ônibus lotado, possuído por um silêncio ensurdecedor. Ando
pela rua cantarolando canto para minha morte. Passa um senhor uns 60
anos mais velho que eu cantarolando Martinho da vila. Diz que deixa a
vida o levar. Me vejo inerte segurando um guarda-chuva. Não há nada
mais deprimente ou melancólico do que um homem segurar um
guarda-chuva. E me pergunto, quando me tornei uma pessoa tão
deprimente. Ou melancólica.

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