segunda-feira, 18 de maio de 2009

Engenheiros do Hawaii - “¡Tchau Radar!”



Resenha escrita especialmente por Haig Berberian

Às vezes a gente pensa que determinados álbuns – daqueles que levaríamos junto se fôssemos a exílio para o Uzbequistão ou Marte – são igualmente considerados importantes para todos os outros fãs da banda que os produziu. Partindo dessa premissa, eu não conseguia entender a razão pela qual “¡Tchau Radar!”, um dos discos mais importantes da minha vida, está a tantos anos fora de catálogo, sendo achado – e a preços absurdos – apenas em sites como o Mercado Livre.

Conversando com uns amigos meus, também fãs dos Engenheiros do Hawaii, a mais controversa banda gaúcha, descobri algo que mudou meu modo de ver o mundo: eles não davam a mínima pro “¡Tchau Radar!”! Relutei em aceitar, bati o pé, impliquei, mas tudo que ouvi foram respostas do tipo “ele não está nem entre os meus 10 favoritos dos Engenheiros”. Será, oh céus, que meu disquinho de estimação não passa de um coadjuvante na discografia hawaiiana?

Bem, é claro que minha opinião a respeito do 11° trabalho de carreira de Humberto e seus capangas é completamente passional. Afinal, esse jovem redator que vos escreve teve tal álbum como porta de entrada ao universo musical dos Engenheiros, há 10 anos, quando o CD foi lançado. Lembro-me, ainda hoje, de assistir aos primeiros segundos do clipe de “Eu Que Não Amo Você” no Top 10 da MTV, e me perguntar “o que diabos seriam esses Engenheiros do Hawaii??”. Essa pergunta precedeu uma explosão mental tão expressiva que, até hoje, depois de ter passeado por vários estilos e tendências roqueiras, “¡Tchau Radar!” ainda configura em minha lista de álbuns mais preciosos.

Mas a obra não é feita somente de nostalgia. Esse é o trabalho de amadurecimento da formação Humberto, Lúcio, Luciano e Adal, grupo que perduraria somente por mais um registro, o matador “1000 Destinos Ao Vivo”, lançado no ano seguinte. Aliás, poucas vezes a banda soou tão poderosa no palco, provando a indubitável qualidade do grupo. Infelizmente o General Gessinger não agüenta ninguém ao seu lado por muito tempo – ou seria o contrário? – e no ano seguinte o exército de um homem só já contava com outra tropa.

“¡Tchau Radar!” já começa com uma porrada, “Eu Que Não Amo Você”, o carro chefe do disco. A tecladeira marcante, a guitarra destorcida e a batera agressiva dão peso à composição, um tanto fechada e escura, assim como a maioria das demais canções do trabalho. Destaque para o solo de guitarra, simples e preciso, dando à faixa exatamente o que ela precisava.

O disco segue com uma brilhante adaptação de “It’s All Over Now Baby Blue”, de Bob Dylan, recriada por Péricles Cavalcante e Caetano Veloso sob o título de "Negro Amor". Humerto ataca com sua gaita, na época não tão utilizada em canções da banda quanto na fase mais recente. A faixa, uma balada semi-acústica, foi extremamente bem produzida e esbanja bom gosto, agradando a gregos e troianos.

A estradeira “Concreto e asfalto”, direta e indomável, faz com que o ouvinte transporte-se imediatamente a uma BR qualquer. Letra e melodia dão show, e a instrumentação mostra-se extremamente competente, com timbragem impecável. A faixa traz consigo um ar nostálgico irresistível, e apresenta coesão perfeita com o restante do álbum.

A melancolia que permeia todo o disco encontra um de seus mais belos momentos em “Até Mais”. Poucas vezes Humberto Gessinger falara de amor tão abertamente, tão assumidamente, tão sentimentalmente até essa canção. Audição agradabilíssima.

“Nada Fácil” e “O Olho do Furacão”, as duas faixas seguintes, abordam temas mais pesados, como suicídio, depressão e desamparo, tendo reflexo em sua musicalidade obscura e febril. Ambas as faixas possuem letras fantásticas, em que HG soube dosar sua compulsão metafórica.

Retomando o tema de “Concreto e Asfalto”, a banda nos traz “Seguir Viagem”, apresentando, a exemplo dessa última, uma ótima orquestração e produção esmerada. Mais um grande momento do disco, lírico e poderoso ao mesmo tempo.

A próxima canção, “1000 Destinos”, outra balada muito elegante, apresenta ótimas letra e melodia.

Quebrando totalmente o clima e diferenciando-se substancialmente de todas as canções anteriores, a descontraída “Na Real” questiona forças transcendentais, misturando um tema de filme de terror e musicalidade western. Humberto diz ter composto a letra sob uma perspectiva literal, mas aprendeu a considerá-la como uma canção de amor, devido ao fato de vários fãs terem a considerado como tal.

O álbum segue com a beleza rara de “3x4”, uma belíssima homenagem de Gessinger à sua esposa. Diferentemente da roupagem “bobo-alegre” dada à canção no show acústico da banda, aqui “3x4” é revelada com sua real essência: vulnerável e sublime. A gaita e o violão envolvem a voz de maneira perfeita, gerando um momento intimista e sincero.

“Melhor Assim”, outro momento um pouco mais descontraído do trabalho, é um conselho de amigo para amigo. A faixa possui bom trabalho de guitarra e teclado, dispensando maiores comentários.

Eu não consigo pensar em uma conclusão melhor para um álbum de tamanha expressão que a releitura de “Cruzada”, composição brilhante de Tavinho Moura e Márcio Borges. O arranjo de cordas desarma qualquer ouvinte, banhando a canção de maneira tocante. É claro que há o dedo de um grande músico por trás uma tão magistral roupagem: nosso velho conhecido Jacques Morelembaum, para quem já rasguei a seda diversas vezes aqui no blog.

“¡Tchau Radar!”, em minha concepção, foi o último grande álbum de estúdio dos Engenheiros do Hawaii, antes de a banda entrar na veia mais modernosa dos álbuns-gerúndio “Surfando Karmas e DNA” e “Dançando no Campo Minado” e, posteriormente, afundar de vez no patty-pop normalzinho dos discos acústicos. Agora resta esperar e rezar para que Humberto apareça novamente com um trabalho de tão poucas vogais e tanta qualidade quanto esse.

5 comentários:

Yuri Montanini 19 de maio de 2009 às 16:29  

“(...) ele não está nem entre os meus 10 favoritos dos Engenheiros”. Já te falei isso. Mas, relaxa, foi só pra te irritar. Está sim entre os dez. É o nono.

Plínio Lopes. 22 de maio de 2009 às 12:35  

é um belo disco,

muito talvez genial,mas infelizmente não chega nem perto de o papa é pop por exemplo,pra não citar outros.(varias variáveis).

Zé Bokinha 23 de maio de 2009 às 14:02  

Ignóbeis! hahah

Plínio Lopes. 30 de maio de 2009 às 21:58  

na verdade eu sinceramente te acho um pouco medíocre por cultuar tanto um disco que pra mim só tem de notável o fato de ser extremamente comum mas de altíssima qualidade.

reconsidero minhas palavras,

genialidade zero.

Plínio Lopes. 30 de maio de 2009 às 21:59  

hehe

  © Blogger template 'Perfection' by Ourblogtemplates.com 2008

Back to TOP