quarta-feira, 9 de junho de 2010

Porcos voam enquanto há álcool e dinheiro


Era um bar qualquer e eu sentado no balcão tomando uísque sem gelo e fumando um cigarro. Ela chega e pergunta, “Você tem fogo?”. Olho para ela, com o cigarro na mão e com um sorriso de canto de boca e respondo, “É claro”. Tiro o isqueiro do bolso e o levo até o cigarro que está na boca dela. Ela acende, dá uma tragada longa, olha para mim e pergunta, “Você não é aquele escritor do Por que é proibido pisar na grama!?”.  Esse era meu terceiro romance, o mais famoso e o que me deu mais, mas não quer dizer muito, dinheiro, o que fez eu trepar mais durante a semana, graças a ele meu Corolla cheira  à boceta e hoje sou um solitário desgraçado  em algumas partes do dia e um bêbado em outras. Mas foi o caminho que escolhi. “É, eu que escrevi essa merda”, respondi.        

Eu já tinha sacado ela na outra mesa, me olhando e tudo mais, eu encarei ela também, mas fiquei na minha. Ela estava enlouquecendo, querendo perguntar se eu era eu mesmo. Um pouco de fama e algum dinheiro, foi isso que  a literatura me deu. Só ganhei dinheiro porque um editor europeu casado com uma mulata baiana leu um livro meu, gostou e levou para vender lá fora. Foi a mulata que deu o livro para ele. Se eu estivesse com uma mulata rabuda daquelas não perderia meu tempo lendo um lixo daqueles. Mas ainda acho que foi ela que convenceu ele a publicar o livro. Até então, ganhava uns trocados com essa de vender livros, mas precisava trabalhar no jornal ainda, pura merda.

Tem uns pseudo-intelectuais, loucos, loucas, atores, atrizes  e garotas de programa de luxo que liam o que eu escrevia. E eu sempre encontrava essas mulheres que liam o que eu escrevia.  Sempre era convidado para essas festas que aparecem artistas de todas as laias, esse povo de gosto estranho queria que eu desse as caras. Eu pouco fodia para eles, o que queria era beber e  conseguir uma boa trepada.

– Escritor maldito, marketing barato para enganar adolescentes. Eles leem e se acham os fodões subvertidos, os contraculturas de 2010 - disse ela antes de mais uma tragada.
– Aceita uma dose? - eu disse enquanto levantava o copo.
– Pode ser.
– Eddie, uma dose para a garota aqui. Então, acha que é tudo marketing?
– Você é daqueles que só come uma mulher pagando.
– E qual é seu preço?
– Mais que uma dose de uísque ou qualquer outra coisa que seu dinheiro europeu possa pagar.

Dei outro sorriso e virei o resto da dose de uísque, olhei nos olhos dela, ela tinha um olhar profundo, daquele que lê sua alma e faz seu pau ficar duro.

 – Foi o que eu pensei, não há dinheiro no mundo que pague uma trepada com você. Mas você veio até aqui. Ficou me encarando antes, levantou da sua mesa e está aqui ainda - eu disse.
– Pelo jeito até no ego você gosta de copiar esses escritores malditos.
– É, eu sou uma cópia maldita de escritores escrotos que já se foram. Nunca serei um Machado de Assis, Lima Barreto. Deixe a genialidade para eles e o dinheiro que banque meu uísque para mim. Não me orgulho disso. Mas foi como consegui sobreviver. Trinta e seis anos, classe média, sem uma esposa, sem filho, nenhum  cachorro para cuidar, essa é a vida que levo porque não queria ser mais um desses babacas com suas vidas mortas, cheia de trilhos, de horários para cumprir. As mesmas coisas todos os dias. Mas veja só, estamos aqui, eu e você, somos tão babacas quanto eles, somos solteiros, mas queremos mais que uma trepada, queremos algo para tampar o vazio em nossos peitos. Mas nessa merda de oceano de pessoas ninguém está limpo, não há alguém para morrer de mãos dadas na velhice. Não há saída para o labirinto da  vida medíocre. E estamos todos megulhados no mesmo esgoto.
– Vamos sair daqui - disse ela.

3 comentários:

Plínio Lopes. 10 de junho de 2010 às 11:02  

BUKOWSKI:Cara sabe quando você se depara com um texto e pensa: Uai, eu escrevi isso.

Mas aí igual quando você acorda numa cama de uma vadia qualquer muito bêbado cheirando camel e percebe não estar em casa.aquela sensação de QUÊ LUGAR É ESSE? Aì depois num flashback degenerativo anacrônico e decrescente você se lembra.


Enfim, algo mais ou menos assim esse texto seu. FODA.


-EU, É verdade que você torce pro vila?


BUKOWSKI:( pausa, traga o cigarro ).


VIIIIIIIIIIIIIIIIIIIILLLLLLLLLLLLLLLLLLAAAAAAAAA!

Pedro Henrique Malta Martins 10 de junho de 2010 às 11:27  

Texto FODA!!


lembrou um tal de hank!

haha

ótimo veín.

tenho que ler bukowski pelo jeito.

Yuri Montanini 15 de junho de 2010 às 14:54  

Por que um dia eu vou ficar velho e terei um cavanhaque e um alargador. E vou pedir que me chamem de Veín. Por que, por vezes, quero ser como você quando eu crescer.

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