quarta-feira, 2 de junho de 2010

A primeira vez

Ah, que saudades desse blog... Meu amigo cinzeiro, quixotesco, pequeno-burguês e solitário. Uma multidão de um só; (lamento!].


No dia 17 de outubro de 2003 meu pai me buscou na escola. Fomos em uma direção totalmente desconhecida da cidade e paramos em algum lugar na avenida Anhanguera. Ele disse que havia contratado uma garota de programa confiável, limpa e pronta para que eu tivesse minha chamada “primeira vez”. Obviamente, entrei em pânico. E obviamente também, era uma brincadeira. Atravessamos a rua e entramos em uma loja da militaria e comprei meu presente, um dos mais legais que já ganhei por sinal, uma jaqueta camuflada com vários emblemas.


Hoje no ônibus chegando do trabalho uma mulher bêbada começa a falar comigo por causa da dita blusa. Disse que morou a vida inteira em um quartel e que eu deveria ser importante por usá-la. Bastou algumas palavras e disse que eu era melhor do que ela. E eu disse que não, que somos todos iguais. E ela retrucou falando que alguns tem mais oportunidades. Então me peguei a pensar nessas oportunidades. Mas não vamos nos perder nessa estética textual agradável, afinal blog maldito que somos devemos falar dos imundos.


Pensei em todas as minhas primeiras vezes. O primeiro beijo, o primeiro Goiás e Vila e porquê não(?) o primeiro amor. Mais algumas canções na mesma esquina. A primeira. A relação das primeiras experiências é intrínseca com a existência daquilo que as segue em nossas vidas. Talvez não tivesse visto jogos tão vibrantes não teria me apaixonado por essa torcida. Talvez não tivesse lido olhos tão brilhantes não teria me apaixonado por aquela garota.


Lembrei da primeira vez que fui em um puteiro. O nojo que tomava conta de mim e todo o clichê desfilando, cegando meus conceitos. Sentia nojo até mesmo de respirar. Via as putas como algo inatingível, em outra esfera. Uma esfera dos mágicos, de Gabriel García Márquez e Charles Bukowski. E eu ali, cheirando macdonald's e imperialismo barato. Cheirando revoluções fast food latino-americanas. Percebi que existiam tipos diferentes de putas.


Tinham as que se apaixonavam pelos clientes. Tinham as mercenárias. As que se perdiam numa profusão de interesses que as fazia perder o próprio sentido, estando a mercê de suas vidas e seus respectivos hábitos. Tinham as que fingiam sorrisos e as naturalmente simpáticas. E inevitavelmente havia aquelas que você se dava o luxo de julgar lamentável o fato de serem putas. Simples assim.


Em antagonismo a isso, resolvi me lembrar da primeira vez que fui em um bar gay. Dividi os gays em três tipos. Os gordinhos, os magrelos e os fortes. Percebi que alguns se beijavam demais e outros não tanto assim. Que alguns se vestiam afim de provocar escândalo. Que outros não eram tão sutis assim e gritavam sua personalidade no mais sutil tragar de um cigarro, outros não.


Logo, vi também que as pessoas normais também são fortes, gordinhas ou magras. Que alguns casais não se beijam e outros se beijam demais. Que algumas pessoas provocam escândalo mesmo. E o que o ato mais sublime pode se tornar poesia ou comédia. Que algumas garotas são interesseiras e que outras se perdem em uma profusão de estilos a qual acabam ficando a deriva das próprias jornadas. Que algumas são simpáticas e outras são falsas. Assim como as putas.
Ela não sabe, mas sim, no fundo somos todos iguais. A única diferença é que uns são mais iguais que os outros.

2 comentários:

Luís Valdívia 3 de junho de 2010 às 13:45  

"Now, the title bitch don't apply to all women, but all women have a little bitch in 'em" - N.W.A.

Yuri Montanini 15 de junho de 2010 às 14:55  

É, meu filho. Like a wine, ok?

Azzurra!

;*

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