sábado, 19 de junho de 2010

Velho, Cachimbo e Rock and Roll


Fui no circo. Um show de rock. Mais uma festa estranha com gente esquisita. Vi uma banda legal tocar com instrumentos que combinam com as ruas de uma capital européia que eu nunca visitei. Vi outra banda, na mesma esquina de muitas outras bandas e algumas canções. Por um segundo assistindo senti um pouco de inveja. Talvez admiração. E pensei algo como: Queria ter uma banda. E lembrei que eu já havia estudado música e que não era a minha.

Então apenas me contentei em admirar. Posso até ter as tatuagens e o cabelo grande, mas definitivamente essa não é a minha. Talvez apenas mais uma blusa no meu guarda roupa e mais algum aspecto definidor dos traços marcantes de minha personalidade. Aquela construção. Um Kurt aqui, Gessinger ali e um Waters acolá. Mas são tantos quadros na parede. O canivete hereditário que eu não uso na cintura. A botina travestida em design urbano e as palavras disfarçadas de modernidade.

Queria ser também um volante desses clássicos. Que poderia ser a maior banda de todos os tempos da última temporada, mas que não se vende na mídia. Afinal nem todos somos prostitutas. E nem sempre os melhores são realmente cultuados. Aliar técnica raça e agressividade. É a mais sublime expressão poética do futebol . O carinho , o talento pra bater na bola. A incapacidade de se render e o espírito guerreiro de alguém sempre a marcar. Não dava pra ser brasileiro. Afinal nossa graça é outra. Mas esse volante também não sou.

Sou um velho com um cachimbo perdido em meio a essas anotações em aposentos caóticos. Um vício cruel em uma droga impiedosa. Nostalgia. Nessas heranças da juventude ecoam em minha mente uma banda cantando que em livros de histórias seríamos as memórias dos dias que viriam, se é que viriam. Pois bem, eles chegaram e cá estou. Perdido no meio da fumaça de um cachimbo, música desconhecidas e milhares de folhas escritas por todos os lados.

Sinto saudade de todas essas e-stórias, da França não ocupada em Casablanca e de cantar a marselhesa. E de chorar, aos 10, aos 20, aos 30 e até hoje nos 60. Só pra ver até quando amor agüenta. Das arquibancadas gritando: DILL! DILL! DILL! Mas não adiantar contar essas histórias fantásticas pra essas crianças de hoje em dia. E eu nunca pensei que viveria para ver Goyaz campeão do mundo. Meus papéis desorganizados e a fumaça de meu cachimbo me fazem companhia. Mas não me importa, nós sempre teremos Paris.

Esse velho em roupas velhas esperando a morte chegar sozinho em uma sala com certeza há de se aproximar mais rápido do que o mais ousado pensamento se faça. E o fato é que esse velho parou nos vinte (quilômetros por hora?) ou não. Não se esquece do dia em que uma garota disse que ele era escritor e que tinha 17, não 57 e que era normal que tudo fosse aprendizado. E ainda disse mais: Você é bom.

Então quando eu estou em um circo vendo uma banda batendo cabelo com belas tatuagens e acordes não sinto inveja e sim admiração. Pois sei que naquele momento um velho de 60 anos está escrevendo mais um dos capítulos de suas desventuras nostálgicas. Admiro um volante Italiano. Mas prefiro ser um volante português de 20 e meter aquela bola de três dedos, que vai chegar redonda e letal no final da minha vida. E alguém não dirá joga demais, mas sim: Escreve demais! Nas arquibancadas, nas cadeiras, nas gerais, um velho triste com umas tatuagens também velhas vive seus vinte. Anos ou kilomêtros por hora.

Enquanto isso, em tudo que eu faço, dos livros que eu leio, ou não, de todas as músicas, de todas as jogadas e a cada única palavra já sinto a responsabilidade de ter alguém na platéia. Em cada palavra, cada letra, já não sou mais tão solitário e espontâneo. Sinto alguém no meio de todas aquelas cadeiras vazios olhando sem parar para mim. Sempre.

0 comentários:

  © Blogger template 'Perfection' by Ourblogtemplates.com 2008

Back to TOP