segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

David Gilmour - "On an Island"


Ainda bem que nem tudo que é bom dura pouco. Se tal máxima fosse verdadeira, não teríamos na ativa, mesmo depois de velhos, grandes bandas e personalidades do mundo do Rock. Em alguns casos, a idade parece não chegar nunca, a exemplo dos Rolling Stones, banda que, debaixo de puros pele e osso, ainda é conservada uma vitalidade invejável e inédita. Em outros casos, há um amadurecimento bastante proveitoso – e não me refiro ao “amadurecimento” que, na verdade, traduz-se como “tornar-se insosso”, como é decorrente em bandas que já carregam mais de 30 anos de estrada nas costas.

É de um caso desse tipo, de “amadurecimento positivo”, que trata a resenha de hoje. David Gilmour, ex-guitarrista do Pink Floyd, e um dos mais importantes e originais em seu instrumento, após adquirir muitas rugas e uma invejável pança, deu as caras novamente em 2006 com uma grata surpresa: seu terceiro álbum solo, “On an Island”.

É evidente que eu não quero dizer aqui que o velho Gilmour superou sua obra produzida juntamente com o Floyd, pois seria um sacrilégio. O que aqueles garotos de Cambridge produziram na década de 70 é inigualável. Posso afirmar, contudo, que, dos três álbuns de estúdio em que o guitar-hero do feeling se aventurou em produzir, esse é o mais consistente. Quem ama os solos épicos de Gilmour – todo fã de Rock setentista – não poderá resistir aos aqui executados. Sim, o velho enrugado e barrigudo ainda está em plena forma.

O disco começa bem com a atmosférica e retalhada “Castellorizon”, antecipando um pouquinho de cada faixa que está por vir. Após essa confusão de diferentes sonoridades sobrepostas e remendadas, Mr. Dave coloca seus dedos e sua guitarra para funcionar – sem mencionar a pedaleira, sempre presente ao longo da obra.

A faixa serve de prelúdio para o carro-chefe do disco, a própria “On an Island”, contando com a participação especialíssima de David Crosby e Graham Nash nos vocais de apoio. Trata-se de uma belíssima canção, certamente uma das melhores do disco. Como era de se esperar, a música contém um grande solo de guitarra daqueles que só David Gilmour poderia criar.

“The Blue”, suave e fluida, é um verdadeiro mergulho em calmas águas, tanto no campo musical quanto no lírico. Aliás, o disco todo possui uma sonoridade meio “aquática” – e isso não é mais um de meus devaneios, mas uma consideração do próprio autor – o que vai bem a calhar tanto com o título do álbum quanto com a arte gráfica. Um resultado belíssimo é conseguido no DVD ao vivo no Royal Albert Hall, em que “The Blue” é combinada com os efeitos visuais tão utilizados por Gilmour desde seus tempos de Pink Floyd.

A faixa seguinte, “Take a Breath”, a mais agressiva de toda a obra, possui algo de Syd Barrett, apezar de conter, também, a sonoridade do Floyd “Era Gilmour”. A cancão destaca-se na obra – mesmo porque quebra a placidez predominante no trabalho – e possui um efeito um tanto hipinotizante.

E quem foi que disse que David Gilmour são só instrumentos de cordas? “Red Sky at Night”, obra instrumental que poderia perfeitamente estar contida no álbum “The Division Bell”, nos apresenta o velho arriscando um sax – pra quê mexer com Dick Perry??, hehehe.

“This Heaven”, com forte influência de música negra americana, é outra canção de destaque, possuindo sonoridade mais rústica e um clima bastante descontraído.

Quem mete o bico no disco dessa vez, em “Then I Close My Eyes”, é Robert Wyatt, um dos nomes máximos do sub-gênero Progressivo conhecido como Canterbury Scene, e integrante fundador do Soft Machine. Wyatt faz sua participação tocando trompete, no bom estilo “Army of Salvation”, como brincou o próprio músico.

“Smile” é mais uma belíssima canção, composta por Gilmour em parceria com sua esposa, Polly Samson, como a maioria das musicas do disco. Bela melodia e instrumentação intimista são as principais marcas da canção, além da voz soprano de Polly.

A próxima faixa, “A Pocketful of Stones”, bela, solitária e misteriosa, me parece uma homenagem a Syd Barrett, membro fundador e ex-lider do Pink Floyd, vítima de seu exagero com as drogas, principalmente o ácido. Syd, ainda jovem, ficou esquizofrênico, recuperando-se, porém, ao longo de sua vida de reclusão. Infelizmente, o músico veio a falecer em 2007.

O disco termina com a canção de maior beleza melódica de toda a obra, “Where We Start”, uma das minhas favoritas. Momento realmente inspirado, simples e verdadeiro, possuindo uma delicadeza e um charme encantadores.

É necessário ressaltar a participação de Richard Wright, ex-tecladista do Floyd, em várias das faixas do disco. Richard faleceu este ano, vítima de um câncer com o qual vinha lutando há algum tempo. Outra grande perda para os fãs do Pink Floyd, como eu.

“On an Island”, um álbum bastante comportado, como era de se esperar, não agradará ouvintes ávidos por maiores audácias sonoras; será um prato cheio, porém, a qualquer pessoa a procura de uma sombra de árvore, vista para o mar, gaivotas no céu, e, principalmente, sossego. Eu aceito a passagem de bom grado.

1 comentários:

Milton 2 de março de 2009 às 00:46  

Cara, excelente sua resenha....esse é um dos melhores discos que já escutei, calmo, gostoso melodias, suaves...eu chego a considerar esse belo disco a continuação do ultimo disco do Pink Floyd...Division Bell ... porque a maior semelhança ao um disco do Pink Floyd, só pode ser o On An Island.....nenhum outro disco vai conseguir tal semelhança....parabéns...abração.

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