sábado, 29 de novembro de 2008

Canetagem

Família

No ar o cheiro da loucura exalada pelos poros misturada com a fumaça dos cigarros. Lá estavam com seus filhos. Enquanto bebiam, os filhos sonhavam, sonhavam no dia que também poderiam encher a cara junto com os familiares, o desejo guardado na gaveta mais obscura das mentes.

Os pais conversavam. Os filhos riam deles. Toda seriedade acabava com alguns copos de cerveja. Os meninos mal sabem dos segredos guardados nas memórias dos mais velhos. De todo o sexo praticado na juventude, de toda droga injetada no corpo, aspirada pelo nariz, sugada pelos doces lábios das mamães, tias, e toda seriedade queimada na ponta de um cigarro de maconha pelos pais.

De todas as vezes que socaram alguém até esguichar sangue e todas vezes que foram socados. Todas as brigas bestas, toda revolta séria, toda luta contra a ditadura. Todo sofrimento, amigos mortos, amigos desaparecidos e nunca encontrados. O passado escondido, valioso, brilha em um baú velho em algum sótão ou debaixo da cama. Toda alegria hoje que um dia foi plantada com suor, sangue, palavras de um sonhador louco, vozes despejadas em protestos. Receitas de bolos no lugar dos textos censurados e um cálice para brindar a censura burra.

Dos velhos amigos poucos ficaram. Das amizades eternas que o tempo desmentiu só resta a lembrança que aperta o coração e faz a saudade arder. Mais um copo de cerveja goela abaixo. E toda a família reunida. As crianças rindo e os adultos contando as histórias vivas na memória.

1 comentários:

Rafael Rabelo 2 de dezembro de 2008 às 16:23  

HAHAHA...uma verdade que poucos querem ver!

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