terça-feira, 22 de junho de 2010

Aniversário de 40 anos




Um aniversário de 40 anos é importante para qualquer um. Imagina um título. Mas não é um título qualquer. É um título Mundial. Uma seleção que marcou época. Dia 21 de junho de 1970, exatamente nesse dia a seleção brasileira de futebol conquistava seu terceiro título. Com jogadores bem distribuidos taticamente, com talentos individuais fantásticos, como o rei do futebol Edson Arantes do Nascimento o Pelé e o furacão da copa de 70, Jairzinho, e como grande mestre daquela equipe aquele que ja era campeão mundial como jogador: Zagallo.


Uma seleção que marcou época com um futebol muito eficiente e bastante funcional. Toda grande equipe começa com um grande goleiro. Funcionalidade começa com 'F', de Félix. Uma muralha contra aqueles que eram atuais campeões. Vitória suada, na raça, brigada contra os ingleses por apenas 1 a 0. Briga começa com 'B', do grande zagueiro brasileiro Brito. Seleção que mostrava patriotismo. 'P' de Piazza. Grande quarto zagueiro. Time especial, com 'E' maiúsculo, de Everaldo. Lembrando que o jogador com o nome mais bonito era titular e se machucou. O lateral - esquerdo Marco Antônio. Uma defesa completa, que tinha comando, um capitão. Nesse ano, capitão era sinônimo de Carlos Alberto Torres. Aquele que levantaria a taça Jules Rimet.

A partir daí, começava um meio de campo com classe, categoria, que começava pelo volante que inovaria na marcação e na saída de bola: Clodoaldo. Fez uma jogada fantástica driblando quatro marcadores na final da copa que resultou num belo gol. Gol que começa com 'G' de Gérson. Segundo volante daquela seleção. aquele que tinha a função de levar a bola aos maestros da seleção. Um passe, um toque altamente refinado. 'T' do mineiro Tostão, que como nascido em Minas Gerais comeu pelas beiradas e fez um belíssimo mundial. Fechando o meio de campo daquele time, um rei que não era rei. Mas tinha um chute digno de realeza. 'R' de Roberto Rivellino, repetidas vezes.

O ataque dispensava comentários. O camisa sete daquela seleção era Jairzinho, considerado o Jogador daquele mundial. A camisa 10 é inexplicável. A magia que ela exerce, todo o brilhantismo que ela demonstra só por existir. Aquela memorável atuação por si só na semifinal contra o Uruguai. Um chute do meio do campo passando rente a trave. Aquele drible da vaca de corpo que caprichosamente insistiu em não entrar. Ele, com 'E' maiúsculo, como se fosse Deus, mas não o é pelo fato de que não precisamos roubar para sermos campeões igual aquele lá. Edson Arantes do Nascimento, o Pelé. Jogadas fantásticas que entraram para a história e dificilmente veremos de novo. Parabéns a seleção e a todos os jogadores que fizeram parte daquele time. Para terminar, aquele que possibilitou tudo. O técnico do tri tem 13 letras: Zagallo. Enfim, parabéns pelos quarenta anos Tri.

sábado, 19 de junho de 2010

Velho, Cachimbo e Rock and Roll


Fui no circo. Um show de rock. Mais uma festa estranha com gente esquisita. Vi uma banda legal tocar com instrumentos que combinam com as ruas de uma capital européia que eu nunca visitei. Vi outra banda, na mesma esquina de muitas outras bandas e algumas canções. Por um segundo assistindo senti um pouco de inveja. Talvez admiração. E pensei algo como: Queria ter uma banda. E lembrei que eu já havia estudado música e que não era a minha.

Então apenas me contentei em admirar. Posso até ter as tatuagens e o cabelo grande, mas definitivamente essa não é a minha. Talvez apenas mais uma blusa no meu guarda roupa e mais algum aspecto definidor dos traços marcantes de minha personalidade. Aquela construção. Um Kurt aqui, Gessinger ali e um Waters acolá. Mas são tantos quadros na parede. O canivete hereditário que eu não uso na cintura. A botina travestida em design urbano e as palavras disfarçadas de modernidade.

Queria ser também um volante desses clássicos. Que poderia ser a maior banda de todos os tempos da última temporada, mas que não se vende na mídia. Afinal nem todos somos prostitutas. E nem sempre os melhores são realmente cultuados. Aliar técnica raça e agressividade. É a mais sublime expressão poética do futebol . O carinho , o talento pra bater na bola. A incapacidade de se render e o espírito guerreiro de alguém sempre a marcar. Não dava pra ser brasileiro. Afinal nossa graça é outra. Mas esse volante também não sou.

Sou um velho com um cachimbo perdido em meio a essas anotações em aposentos caóticos. Um vício cruel em uma droga impiedosa. Nostalgia. Nessas heranças da juventude ecoam em minha mente uma banda cantando que em livros de histórias seríamos as memórias dos dias que viriam, se é que viriam. Pois bem, eles chegaram e cá estou. Perdido no meio da fumaça de um cachimbo, música desconhecidas e milhares de folhas escritas por todos os lados.

Sinto saudade de todas essas e-stórias, da França não ocupada em Casablanca e de cantar a marselhesa. E de chorar, aos 10, aos 20, aos 30 e até hoje nos 60. Só pra ver até quando amor agüenta. Das arquibancadas gritando: DILL! DILL! DILL! Mas não adiantar contar essas histórias fantásticas pra essas crianças de hoje em dia. E eu nunca pensei que viveria para ver Goyaz campeão do mundo. Meus papéis desorganizados e a fumaça de meu cachimbo me fazem companhia. Mas não me importa, nós sempre teremos Paris.

Esse velho em roupas velhas esperando a morte chegar sozinho em uma sala com certeza há de se aproximar mais rápido do que o mais ousado pensamento se faça. E o fato é que esse velho parou nos vinte (quilômetros por hora?) ou não. Não se esquece do dia em que uma garota disse que ele era escritor e que tinha 17, não 57 e que era normal que tudo fosse aprendizado. E ainda disse mais: Você é bom.

Então quando eu estou em um circo vendo uma banda batendo cabelo com belas tatuagens e acordes não sinto inveja e sim admiração. Pois sei que naquele momento um velho de 60 anos está escrevendo mais um dos capítulos de suas desventuras nostálgicas. Admiro um volante Italiano. Mas prefiro ser um volante português de 20 e meter aquela bola de três dedos, que vai chegar redonda e letal no final da minha vida. E alguém não dirá joga demais, mas sim: Escreve demais! Nas arquibancadas, nas cadeiras, nas gerais, um velho triste com umas tatuagens também velhas vive seus vinte. Anos ou kilomêtros por hora.

Enquanto isso, em tudo que eu faço, dos livros que eu leio, ou não, de todas as músicas, de todas as jogadas e a cada única palavra já sinto a responsabilidade de ter alguém na platéia. Em cada palavra, cada letra, já não sou mais tão solitário e espontâneo. Sinto alguém no meio de todas aquelas cadeiras vazios olhando sem parar para mim. Sempre.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Bisavô


Pulou para a morte de peito aberto e braços esticados. Sem medo do porvir. Como um louco pula do penhasco e sente seu rosto cortar o vento, como uma águia em uma rasante, os olhos fixos na presa. Foi assim que se entregou a morte. Negro, 93 anos, olhos claros, esbanjava saúde, mas não alegria. Morreu quem ele amava, vivia aonde não queria e em suas costas pesava o tempo de uma longa vida. A poesia já não brotava de sua boca como nos bons tempos, os bons livros se perderam entre as traças.
Assim se foi: negro, 93 anos, olhos claros e esbanjando saúde.

Fodi a loucura

Se há genialidade perdida nesse deserto de emoções, deve estar ali entre o rio Tigre e Eufrates. Um beijo na loucura. A fodi de quatro e a fazia gritar e gemer. Fodi a loucura antes que ela colocasse seu strapon colossal e me fodesse. Soquei a cara dela. Chutei o seu estômago. Linda mulher de lábios doces e traiçoeiro é a loucura. Sedutora.
Voltei ao campo de concentração moderno. Faça o que eles mandam. Calado. Apenas faça. No fim dos tempos uma câmara de gás te espera. Voltei para o campo. A mesma rotina, sempre a mesma. Roupas listradas nos diferenciam daqueles que mandam. Os uniformes deles estão limpos... todo o tempo.
- HEY! A GUERRA NÂO ACABOU! - gritei para Pascoal. Mas ele não ouviu. Pobre coitado. Nunca fudeu a loucura.

Dezoito

Não adianta me olhar
Com esses olhinhos tortos
Nem com esse nariz vesgo;
Suas cicatrizes e sua manha,
As manhas e as manhãs,
Para calar a boca, maçã.

Médios lábios, doces,
Acompanhados por uma voz sedosa
De éter e bruma e chocolate,
18 anos de um coração forte
Que derrubam o sujeito mais fraco do norte;
Para calar a boca, Pessoa.

Um corpo. Na essência das linhas,
[As linhas mais perfeitas que eu já vi]
Por falar em linhas,
Mania de dezoito
Uma linha para cada 'eu te amo'
Dito numa hora de sessenta amores.

Quatorze horas

Ponteiros parados, os dois
Com que rosto ela virá?
No meio de um copo de uísque
Um cigarro, uma cara
O dissecamento de um corpo,
Amor.

Como num processo sistemático
De empalhamento venoso
Te detesto e amo ao mesmo tempo
Talvez seja o segredo dessa vida,
Dois sextetos,
Amor.

Me escondo atrás do cálculo idiota
Dois menos um, zero,
Na palavra rude num fast food,
Sozinho, nu, na cama, no sítio,
Entretanto, solidão, só sei ser seu, fato,
Amor.

Para a mulher mais amor de todos os tempos. E ponto.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

O meu mundo Paradís



Lembranças de uma viagem sem muito sentido. Elas andavam e zanzavam pelos cantos da floresta do imaginário, deixando para trás, todo o pólen, fazendo as coisas florescerem, crescerem, darem vida a tudo. Eu olhava para o céu, na copa das árvores, via todo o brilho que produziam, ouvia aquela música suave, relaxaram meus músculos, me deram sono, me fizeram cair. Aquela imensidão da floresta, cercada por árvores enormes, animais encantados e flores que cantam. Eu abria devagar meus olhos, meio embaçados, meio pesados, mas abri. Meus músculos pulavam, meus ossos estralavam, meus órgãos gemiam e me pus em pé. Me assustei. Meu coração doía, tudo girava muito rápido, fui ficando zonzo, cai de joelhos no chão, tapei meus olhos, que ardiam como se fossem pimentas, vomitava uma gosma verde, e voei longe com a explosão. Levantei mais atordoado, corri para detrás da árvore e me escondi. Olhei para o céu e vi fumaça, pedras de fogo, dragões negros, insetos que me agonizavam ainda mais. Senti uma ferroada no braço, olhei, já sendo atacado por mariposas gigantes, levantei e corri velozmente sem olhar para trás, corri para longe do ataque, pulei raízes enormes, bati de cara nas plantas exóticas daquele lugar, virei para a direita, corri mais alguns metros e tropecei no cipó de uma árvore e cai novamente. Entrei em um sono profundo, via coisas girarem e girarem, cores e formas, números, pessoas, retornava a minha... Acordei. Ofegante. Suado. Era dia, eu estava deitado numa cama meio dura, de palha. Pisquei rápido, vi coisas, ouvia vozes, choros, gritos. Apoiei-me nas paredes, segurei meu corpo. Lembranças, viajei para um mundo que era tão real, era tão estranho. Era o futuro. Corri para fora dali, abri rapidamente a porta, e os raios daquele sol amarelado me cegaram temporariamente. Consegui abrí-los e me confortei. Era dia, 11 de fevereiro. Era tudo um horrível pesadelo, um horrível visão do futuro. Eu finalmente acordei no paraíso das tulipas, o mundo das cores, o meu Paradís.

domingo, 13 de junho de 2010

Divagações de um velho louco – PARTE TRÊS



Um velho louco que descobriu o mundo dos blogs pediu que postassem aqui suas injúrias, pensamentos e qualquer outra merda que saia dos toques dos seus dedos no seu teclado sujo de café e cinzas de cigarro. Amém!

Merda. Tinha aquela garota. A pele dele brilhava mais que o sol no verão em Salvador. Ela era diferente. Seu sorriso... E eu não passava de um mancebo de 25 anos. Foi a única que amei. Queria chamar a garota para sair. Minha cabeça estava enfiada na merda, eu precisava respirar um pouco, espairecer... Convidaria aquele lindo corpo na esperança que fosse acompanhado por um cérebro. Ela trabalhava em uma livraria no centro, o lugar era muito frequentado por jovens escritores pseudo-qualquer-bosta, todos querendo ler os clássicos.

Eu nunca conversei com ninguém lá, a maioria daqueles caras era um chute no saco. Então, o que importava era ela. Tinha dezenas de livraria na mesma rua do centro, algumas até mais vazias do que essa, mas eu tinha que ir lá ver a garota. Eu era um maldito cagalhão, não tinha coragem de falar com ela, era a primeira vez que sentia aquilo, tudo isso era novo pra mim: o coração acelerava quando a via, minha respiração alterava e sentia um frio desconfortável na barriga.

Resolvi falar com ela, parecia com um daqueles filmes que eu tinha que ver no cinema para conseguir tocar nas coxas de uma garota, conseguia ouvir a trilha sonora, tocava "There is a light that never goes out" do The Smiths, e tudo estava em câmera lenta, era a sensação que eu tinha.

            - Oi, sempre te vejo por aqui e... – eu disse sorrindo.
            - Não temos esse livro – ela disse me interrompendo.
            - Não é um livro, é que eu te acho bonita e...

Escutei um disparo, o sangue dela espirrou na minha cara. Do outro lado da rua dois babacas brigavam, um estava armado, o que não estava correu em direção a livraria, um dos quatros disparos que o sujeito armado deu foi direto na cabeça dela. A última imagem que eu tenho dela gravada em minha memória é do seu corpo estendido na poça de sangue no chão. Isso não parecia com os filmes que eu via no cinema para tocar nas coxas das garotas.      


Leia também: Divagações de um velho louco - PARTE UM
                        Divagações de um velho louco - PARTE DOIS

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Bolero

Eu fui sincero como não se pode ser
Contei-te meus segredos, meus medos
Busquei compreensão, perdi meu poder
Fiquei frágil, revelei meus sentimentos

Busquei a mesma confiança
Desesperado por sua aceitação
Almejando uma aliança
E recebi nada mais que educação

Um vinho barato, um Marlboro vermelho
Ajudam a esconder-me de mim mesmo
Mas a mascara e o rosto trocam de lugar
Quando vejo minha cara embriagada no espelho do banheiro

E hoje você chega e me chama
Impede-me de deixar seu labirinto
Seu olhar sempre distante sempre me engana
E acabo voltando sempre ao mesmo lugar

Now & then, the Soul

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Porcos voam enquanto há álcool e dinheiro


Era um bar qualquer e eu sentado no balcão tomando uísque sem gelo e fumando um cigarro. Ela chega e pergunta, “Você tem fogo?”. Olho para ela, com o cigarro na mão e com um sorriso de canto de boca e respondo, “É claro”. Tiro o isqueiro do bolso e o levo até o cigarro que está na boca dela. Ela acende, dá uma tragada longa, olha para mim e pergunta, “Você não é aquele escritor do Por que é proibido pisar na grama!?”.  Esse era meu terceiro romance, o mais famoso e o que me deu mais, mas não quer dizer muito, dinheiro, o que fez eu trepar mais durante a semana, graças a ele meu Corolla cheira  à boceta e hoje sou um solitário desgraçado  em algumas partes do dia e um bêbado em outras. Mas foi o caminho que escolhi. “É, eu que escrevi essa merda”, respondi.        

Eu já tinha sacado ela na outra mesa, me olhando e tudo mais, eu encarei ela também, mas fiquei na minha. Ela estava enlouquecendo, querendo perguntar se eu era eu mesmo. Um pouco de fama e algum dinheiro, foi isso que  a literatura me deu. Só ganhei dinheiro porque um editor europeu casado com uma mulata baiana leu um livro meu, gostou e levou para vender lá fora. Foi a mulata que deu o livro para ele. Se eu estivesse com uma mulata rabuda daquelas não perderia meu tempo lendo um lixo daqueles. Mas ainda acho que foi ela que convenceu ele a publicar o livro. Até então, ganhava uns trocados com essa de vender livros, mas precisava trabalhar no jornal ainda, pura merda.

Tem uns pseudo-intelectuais, loucos, loucas, atores, atrizes  e garotas de programa de luxo que liam o que eu escrevia. E eu sempre encontrava essas mulheres que liam o que eu escrevia.  Sempre era convidado para essas festas que aparecem artistas de todas as laias, esse povo de gosto estranho queria que eu desse as caras. Eu pouco fodia para eles, o que queria era beber e  conseguir uma boa trepada.

– Escritor maldito, marketing barato para enganar adolescentes. Eles leem e se acham os fodões subvertidos, os contraculturas de 2010 - disse ela antes de mais uma tragada.
– Aceita uma dose? - eu disse enquanto levantava o copo.
– Pode ser.
– Eddie, uma dose para a garota aqui. Então, acha que é tudo marketing?
– Você é daqueles que só come uma mulher pagando.
– E qual é seu preço?
– Mais que uma dose de uísque ou qualquer outra coisa que seu dinheiro europeu possa pagar.

Dei outro sorriso e virei o resto da dose de uísque, olhei nos olhos dela, ela tinha um olhar profundo, daquele que lê sua alma e faz seu pau ficar duro.

 – Foi o que eu pensei, não há dinheiro no mundo que pague uma trepada com você. Mas você veio até aqui. Ficou me encarando antes, levantou da sua mesa e está aqui ainda - eu disse.
– Pelo jeito até no ego você gosta de copiar esses escritores malditos.
– É, eu sou uma cópia maldita de escritores escrotos que já se foram. Nunca serei um Machado de Assis, Lima Barreto. Deixe a genialidade para eles e o dinheiro que banque meu uísque para mim. Não me orgulho disso. Mas foi como consegui sobreviver. Trinta e seis anos, classe média, sem uma esposa, sem filho, nenhum  cachorro para cuidar, essa é a vida que levo porque não queria ser mais um desses babacas com suas vidas mortas, cheia de trilhos, de horários para cumprir. As mesmas coisas todos os dias. Mas veja só, estamos aqui, eu e você, somos tão babacas quanto eles, somos solteiros, mas queremos mais que uma trepada, queremos algo para tampar o vazio em nossos peitos. Mas nessa merda de oceano de pessoas ninguém está limpo, não há alguém para morrer de mãos dadas na velhice. Não há saída para o labirinto da  vida medíocre. E estamos todos megulhados no mesmo esgoto.
– Vamos sair daqui - disse ela.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

A primeira vez

Ah, que saudades desse blog... Meu amigo cinzeiro, quixotesco, pequeno-burguês e solitário. Uma multidão de um só; (lamento!].


No dia 17 de outubro de 2003 meu pai me buscou na escola. Fomos em uma direção totalmente desconhecida da cidade e paramos em algum lugar na avenida Anhanguera. Ele disse que havia contratado uma garota de programa confiável, limpa e pronta para que eu tivesse minha chamada “primeira vez”. Obviamente, entrei em pânico. E obviamente também, era uma brincadeira. Atravessamos a rua e entramos em uma loja da militaria e comprei meu presente, um dos mais legais que já ganhei por sinal, uma jaqueta camuflada com vários emblemas.


Hoje no ônibus chegando do trabalho uma mulher bêbada começa a falar comigo por causa da dita blusa. Disse que morou a vida inteira em um quartel e que eu deveria ser importante por usá-la. Bastou algumas palavras e disse que eu era melhor do que ela. E eu disse que não, que somos todos iguais. E ela retrucou falando que alguns tem mais oportunidades. Então me peguei a pensar nessas oportunidades. Mas não vamos nos perder nessa estética textual agradável, afinal blog maldito que somos devemos falar dos imundos.


Pensei em todas as minhas primeiras vezes. O primeiro beijo, o primeiro Goiás e Vila e porquê não(?) o primeiro amor. Mais algumas canções na mesma esquina. A primeira. A relação das primeiras experiências é intrínseca com a existência daquilo que as segue em nossas vidas. Talvez não tivesse visto jogos tão vibrantes não teria me apaixonado por essa torcida. Talvez não tivesse lido olhos tão brilhantes não teria me apaixonado por aquela garota.


Lembrei da primeira vez que fui em um puteiro. O nojo que tomava conta de mim e todo o clichê desfilando, cegando meus conceitos. Sentia nojo até mesmo de respirar. Via as putas como algo inatingível, em outra esfera. Uma esfera dos mágicos, de Gabriel García Márquez e Charles Bukowski. E eu ali, cheirando macdonald's e imperialismo barato. Cheirando revoluções fast food latino-americanas. Percebi que existiam tipos diferentes de putas.


Tinham as que se apaixonavam pelos clientes. Tinham as mercenárias. As que se perdiam numa profusão de interesses que as fazia perder o próprio sentido, estando a mercê de suas vidas e seus respectivos hábitos. Tinham as que fingiam sorrisos e as naturalmente simpáticas. E inevitavelmente havia aquelas que você se dava o luxo de julgar lamentável o fato de serem putas. Simples assim.


Em antagonismo a isso, resolvi me lembrar da primeira vez que fui em um bar gay. Dividi os gays em três tipos. Os gordinhos, os magrelos e os fortes. Percebi que alguns se beijavam demais e outros não tanto assim. Que alguns se vestiam afim de provocar escândalo. Que outros não eram tão sutis assim e gritavam sua personalidade no mais sutil tragar de um cigarro, outros não.


Logo, vi também que as pessoas normais também são fortes, gordinhas ou magras. Que alguns casais não se beijam e outros se beijam demais. Que algumas pessoas provocam escândalo mesmo. E o que o ato mais sublime pode se tornar poesia ou comédia. Que algumas garotas são interesseiras e que outras se perdem em uma profusão de estilos a qual acabam ficando a deriva das próprias jornadas. Que algumas são simpáticas e outras são falsas. Assim como as putas.
Ela não sabe, mas sim, no fundo somos todos iguais. A única diferença é que uns são mais iguais que os outros.

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