quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Eu me perdi...

Buraco no meu tênis preferido, crédito do celular, passar na matéria da Ângela, passar a camisa pra ir no aniversário do Jardel, consertar a lapiseira da Munique, lavar meu boné preto, comprar outra mochila, ex daqui de perto, pagar a faculdade, depositar o dinheiro pra minha avó, tirar os morangos da geladeira, comprar tinta pra impressora, buscar a nota do inglês, ex lá do Portal, trocar o refil do odorizador, ligar pra minha tia, anotar o endereço que ela falar, convencer ela de que deve terminar...

Pego a camiseta cinza, o boné azul e saio rumo a mais uma caminhada na tentativa fracassada de perder essa barriga 'fofa'. Costumo caminhar em um parque, aqui perto de casa. Grama, árvores, ar puro e bosta de cachorro. Digno. Vejo um macaco. Desses pequeninos, cabe na palma da minha mão. Ele não tem que se preocupar com nada disso aí de cima. Salta na santa paz de Deus, em meio ao mais perfeito caos. Acho que eu queria ter nascido macaco. Seria mais fácil.

Veja só como são as coisas pra esse animal: Ele quer sexo, ou precisa de sexo? Procura uma macaquita no cio e pronto. Tem dezessete filhos e não tem que pagar escola e nem comprar biscoitos recheados pra nenhum deles. Não tem que aguentar a Regina Duarte na TV. Ele sente fome? Jamelões, goiabas, mangas e amoras a sete ou oito saltos daqui. Sim, eu queria ter nascido macaco. Lutar por comida, e só. E nós lutamos por mais o que? Isso por que ainda não sou casado.

Prestação do apartamento, levar o filho mais velho pra escola, deixar recado na portaria, reunião de pauta, puxar o saco da patroa, vender minhas ideologias, deixar a minha filha no balé, marcar dentista pra esposa, olhar o que é o barulho na geladeira, comprar 2 pneus pro carro, Epocler, Cialis, deixar o guri mais novo na creche, como a Palestina, lutando pra sobreviver. Me perdendo na selva de pedra. Eu queria ter nascido macaco. Maldita evolução.

Mas quando olho no fundo dos seus olhos e vejo os meus, mesmo que você esteja chorando, tentando não chorar ou usando um vestido, um colar ou luvas horrorosas, todos os problemas passam a ser do tamanho de uma amora. Você me motiva, me faz ter vontade de ser o que sou. Você me entendeu?

'Mas te vejo e sinto
O brilho desse olhar que me acalma
Me traz força pra encarar tudo
O amor é maior que tudo, do que todos, até a dor

Se vai quando o olhar é natural
Sonhei que as pessoas eram boas
Em um mundo de amor
E acordei nesse mundo marginal'



1 comentários:

Caroline Lucena 18 de dezembro de 2009 às 23:07  

amoras são do meu tamando..
logo nao sao tao pequenas assim..
hehehe
eu gostei desse texto!
;D

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