segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Eu queria ser você

'São Paulo, capital. Um calor do cão, um frio de rachar. Dezembro, mais frio que o normal. E o calor sobe até a garganta e volta até o ventre. Maldita saudade. No som do carro toca Rita Lee. Quinta marcha. Piso fundo, como se pisasse na vontade de te ver. Mas não adianta. Aumento o som.

Como boa moça de família, paro na primeira distribuidora porca e suja e compro um maço de cigarros baratos. Maço azul, de papel 'vagabundo'. Isqueiro laranja. Quero exigir mais de mim, quero me queimar e aprender sozinha a fechar minhas feridas. Quero acabar com a imagem de menina que assiste três espiãs demais.

'Todo dia ela faz tudo sempre igual...' Entro no carro e ouço alguns disparos, longe longe, ali do lado. Aumento mais ainda o som, deixo o carioquês de Chico Buarque invadir meus tímpanos e tentar lavar meu cérebro. Minha cabeça não está aqui. Preciso parar o carro de novo. Posto de gasolina. Martini. Viro tudo, deixo cair no vestido listrado. E no All Star bege. Bege e vermelho, vermelho como o sangue que corre nas veias e me faz viva. Viva como as flores murchas.

Volto pra casa com a vontade de arrebentar essas algemas, de soltar minhas asas e voar ao seu encontro. O tempo parou, feito fotografia. Odeio a Tudos e ao todo, mesmo não conseguindo odiar ninguém. Sonhando como há muito não sonhava. Outra vida é possível. Mas será que é inevitável? Minha cara embriagada no espelho do banheiro.

Será que sou tudo isso que ele acha que eu sou? E será que ele me quer de verdade? Ou será só uma vontade? Como passam as vontades... Que voltam no outro dia. Hora dessas eu queria estar na pele dele, só pra saber como se sente, como está, com quem está. Eu fui sincera como não se pode ser. '



Se estivesse no meu lugar, erraria tudo exatamente igual. É de verdade. Acredite. Pague pra ver.

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