quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Feliz 2010!

Goiânia, dia 31 de dezembro de 2009. Duas horas da tarde. Aqui estou mais um dia. O dia tá chuvoso, o clima tá tenso. Me lembro de um dia assim, há uns seis anos. Meu pai me chamou, no auge dos trinta e poucos anos dele, quando o juízo chega, o cara para de fumar, corta o cabelo decentemente, para de ouvir Rod Stewart e resolve dar conselhos. Pois é. 'Vem cá, senta aí'. Eu, guri de tudo, sentei.

Que que você quer ser? 'Sei lá... Quero ganhar dinheiro fácil e aposentar cedo.' Hahá, falando sério. 'Não sei mesmo.' Uhn, beleza. Vou te dar uns conselhos então, enquanto você ainda não sofreu. Nunca se envolva com alguma guria que tem namorado, vai doer e você vai se drogar ouvindo música triste...

...Não tente dar um passo maior que suas pernas, mas as vezes faz bem cair, levantar faz parte do processo. Não tente roubar um banco, a menos que esteja bem preparado. Aliás, tudo na vida é isso, é o cara estar concentrado, focado, preparado. Não se envolva com ninguém sete anos mais velho que você, e JAMAIS, em hipótese alguma, beije uma garota de programa.

Eu fiquei sem entender algumas coisas, mas tudo bem, catei um taco, uma bolinha e fui jogar bete. Eu era bom nisso, hein? Hoje eu entendo o que ele quis dizer com estar focado, concentrado, preparado. Eu não vou perder o foco. Vou deixar de seguir um dos conselhos dele, mas seguindo outro. E levantar faz parte do processo.

Bom, sendo assim, o Monta's deseja a todos vocês um feliz 2010, cheio de paz, amor, alegrias, saúde, harmonia, tudo de bom mesmo, e não se esqueçam dos conselhos do meu pai. Ele é um sábio. Semana que vem eu volto, relembrando as previsões. E ah, volta logo?


quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Todos iguais.





Uns mais iguais que os outros.

Ouvindo pampa no walkman.




Sinto muito, Luz.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Feliz Natal!

'... dizia ele que lá por aquelas bandas do imortal havia uma garota linda, loira, de óculos, linda mesmo, que não dormia sem ler o Jornalistas do Hawaii...'



Feliz Natal a todos aqueles que, escrevendo, lendo ou sendo inspiração para os textos, fizeram parte desse blog. Que Deus nos abençoe.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Eu queria ser você

'São Paulo, capital. Um calor do cão, um frio de rachar. Dezembro, mais frio que o normal. E o calor sobe até a garganta e volta até o ventre. Maldita saudade. No som do carro toca Rita Lee. Quinta marcha. Piso fundo, como se pisasse na vontade de te ver. Mas não adianta. Aumento o som.

Como boa moça de família, paro na primeira distribuidora porca e suja e compro um maço de cigarros baratos. Maço azul, de papel 'vagabundo'. Isqueiro laranja. Quero exigir mais de mim, quero me queimar e aprender sozinha a fechar minhas feridas. Quero acabar com a imagem de menina que assiste três espiãs demais.

'Todo dia ela faz tudo sempre igual...' Entro no carro e ouço alguns disparos, longe longe, ali do lado. Aumento mais ainda o som, deixo o carioquês de Chico Buarque invadir meus tímpanos e tentar lavar meu cérebro. Minha cabeça não está aqui. Preciso parar o carro de novo. Posto de gasolina. Martini. Viro tudo, deixo cair no vestido listrado. E no All Star bege. Bege e vermelho, vermelho como o sangue que corre nas veias e me faz viva. Viva como as flores murchas.

Volto pra casa com a vontade de arrebentar essas algemas, de soltar minhas asas e voar ao seu encontro. O tempo parou, feito fotografia. Odeio a Tudos e ao todo, mesmo não conseguindo odiar ninguém. Sonhando como há muito não sonhava. Outra vida é possível. Mas será que é inevitável? Minha cara embriagada no espelho do banheiro.

Será que sou tudo isso que ele acha que eu sou? E será que ele me quer de verdade? Ou será só uma vontade? Como passam as vontades... Que voltam no outro dia. Hora dessas eu queria estar na pele dele, só pra saber como se sente, como está, com quem está. Eu fui sincera como não se pode ser. '



Se estivesse no meu lugar, erraria tudo exatamente igual. É de verdade. Acredite. Pague pra ver.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Amável Alice.


Quarta feira, numa dessas capitais de alta densidade urbana, sete e meia da noite.


O ano? Dois mil dez e alguma coisa.


Já vem a noite de um dia comum de primeiro semestre, chegado cedo e rápido. Não são nem oito horas e já está completamente escuro. Olho para baixo e vejo carros, atolados em pequenos engarrafamentos, as luzes dos primeiros letreiros nas suas primeiras horas, buzinas e aquele cheiro nauseante de fumaça de automóveis. Ônibus lotados e pontos cheios. Luzes por todos os lados. Camiseta larga e velha do AC/DC, só de calcinha. No som tocando Beethoven.

Um dia chato pacaralho, acordar cedo, faculdade, trabalho, voltar pra casa e ter a companhia da minha própria solidão. Olho para a minha tatuagem do braço direito, penso em conversar com ela. Acho melhor não. Olho para o céu, as estrelas paradas, não estão em movimento e não estão voltando do trabalho. Vou até a prateleira e pego um dos meus álbuns prediletos, dos Beatles, the Magical Mistery Tour. Coloco pra tocar. Tiro a camisa, apago a luz e deito no chão do meu apartamento e apenas escuto a viagem mágica de alguns gênios de 50 anos atrás.

Algo me chama. Me levanto, vou para a prateleira da minha cozinha, pego a maconha, preparo para uso, enrolo o cigarro e novamente me deito no chão da minha sala. O ambiente é perfeito, uma velinha pseudo intelectual acesa ao som de "Blue Jay Way ". A psicodelia já começa a me envolver e a tomar conta de mim. O som místico que vai e vem já começa a tomar conta de mim antes do efeito da droga. Mas mesmo assim acendo, apago a vela e dou a primeira tragada. A melhor.

Meia hora já se passou e ainda estou no chão do meu apartamento. De repente sinto uma grande explosão de energia no meu ventre e um aparente formigamento começa em minha espinha. Não consigo sentir a minha boca. Viro para o lado no chão e mudo o álbum no som, acho que vou ouvir Sgt.Pepper's. Vou direto para Lucy in the Sky with diamonds. Não há barullho de carros lá fora, não há roupa nenhuma prendendo meu corpo, não sinto minha boca, uma explosão energética desce pela minha medula 3 vezes por segundo. Me envolvo na atmosfera também mágica dessa música atingindo o ápice no refrão. Começo a dançar de forma esquisita, mesmo mole, dopada no chão.

Mas aí algo corta meu barato, uma luz no meio da escuridão de um celular vibrando ao som de Engenheiros, minha paixão de adolescência. Pensei que era meu editor confirmando a pauta de amanhã, mas era meu ex namorado. Não atendo. Passam 30 segundos chega a mensagem: 'Pô Alice, não vai atender mesmo?'


Próxima música, agora já não sinto minhas pernas. Volto para a segunda música do Sgt. Pepper's. E encho o apartamento ao som de minha voz, sem contas, sem poluição, sem politicamente correto, sem amor. Como uma represa turbulenta que de repente as águas se acalmaram. E canto: 'I get high with a little help from my friends!'

Não, não vou atender.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Eu me perdi...

Buraco no meu tênis preferido, crédito do celular, passar na matéria da Ângela, passar a camisa pra ir no aniversário do Jardel, consertar a lapiseira da Munique, lavar meu boné preto, comprar outra mochila, ex daqui de perto, pagar a faculdade, depositar o dinheiro pra minha avó, tirar os morangos da geladeira, comprar tinta pra impressora, buscar a nota do inglês, ex lá do Portal, trocar o refil do odorizador, ligar pra minha tia, anotar o endereço que ela falar, convencer ela de que deve terminar...

Pego a camiseta cinza, o boné azul e saio rumo a mais uma caminhada na tentativa fracassada de perder essa barriga 'fofa'. Costumo caminhar em um parque, aqui perto de casa. Grama, árvores, ar puro e bosta de cachorro. Digno. Vejo um macaco. Desses pequeninos, cabe na palma da minha mão. Ele não tem que se preocupar com nada disso aí de cima. Salta na santa paz de Deus, em meio ao mais perfeito caos. Acho que eu queria ter nascido macaco. Seria mais fácil.

Veja só como são as coisas pra esse animal: Ele quer sexo, ou precisa de sexo? Procura uma macaquita no cio e pronto. Tem dezessete filhos e não tem que pagar escola e nem comprar biscoitos recheados pra nenhum deles. Não tem que aguentar a Regina Duarte na TV. Ele sente fome? Jamelões, goiabas, mangas e amoras a sete ou oito saltos daqui. Sim, eu queria ter nascido macaco. Lutar por comida, e só. E nós lutamos por mais o que? Isso por que ainda não sou casado.

Prestação do apartamento, levar o filho mais velho pra escola, deixar recado na portaria, reunião de pauta, puxar o saco da patroa, vender minhas ideologias, deixar a minha filha no balé, marcar dentista pra esposa, olhar o que é o barulho na geladeira, comprar 2 pneus pro carro, Epocler, Cialis, deixar o guri mais novo na creche, como a Palestina, lutando pra sobreviver. Me perdendo na selva de pedra. Eu queria ter nascido macaco. Maldita evolução.

Mas quando olho no fundo dos seus olhos e vejo os meus, mesmo que você esteja chorando, tentando não chorar ou usando um vestido, um colar ou luvas horrorosas, todos os problemas passam a ser do tamanho de uma amora. Você me motiva, me faz ter vontade de ser o que sou. Você me entendeu?

'Mas te vejo e sinto
O brilho desse olhar que me acalma
Me traz força pra encarar tudo
O amor é maior que tudo, do que todos, até a dor

Se vai quando o olhar é natural
Sonhei que as pessoas eram boas
Em um mundo de amor
E acordei nesse mundo marginal'



quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Dom Quixote


Tava tomando uma gelada com um amigo e conversávamos sobre o blog. É óbvio, esse blog. Quanto mais álcool entra em nosso corpo (via oral, ui), mais sinceridade escapa de nossa boca. 'Ô Monta's, você sempre foi um sujeito engraçado, vive gozando com (não na) cara dos outros, mas lendo alguns de seus posts, percebi que você ficou mais chato que um taxista', disse-me ele. Como ele é que estava pagando as brejas, escutei calado, sem reclamar. No fundo e no raso, ele tá certo. Estou ficando chato. Ranzinza. Pelo menos careca não. Mas será que uma dose de insatisfação e umas gotas de infelicidade são tão ruins assim?

Olha que ano desgraçado: O diploma caiu. O Fluminense não. O Atlético subiu. O Vila não. Zé Bob ídolo. Minha patroa me largou. Álcool. Engordei 12 kg. Quem eu quero ainda não posso ter. Claro, minha vida medíocre resume-se a isso. Mas, tá vendo? Se der uma chuva de CA cai o Banjo na minha cabeça. E eu ainda tenho que ser feliz?


“Viver insatisfeito, em luta contra a existência, significa empenhar-se, como Dom Quixote, bater-se contra os moinhos de vento, condenar-se, de certa forma, a viver as batalhas travadas pelo coronel Aureliano Buendía, em Cem Anos de Solidão, sabendo que as perderia todas. Isso é provavelmente verdadeiro; mas também é verdadeiro que, sem a revolta contra a mediocridade e a sordidez da vida, nós, seres humanos, ainda viveríamos em condições primitivas, a história teria acabado, não teria nascido o indivíduo, a ciência e a tecnologia não se teriam desenvolvido, os direitos humanos não teriam sido reconhecidos, a liberdade não existiria, porque tudo isso nasceu de atos de insubmissão contra uma vida percebida como insuficiente e intolerável.”

Te cuidem, em 2010 continuarei o mesmo gordo chato de 2009. Ou não. Depende da...

O amor fede


Podia ser um dia qualquer dentro de um ônibus qualquer. Mas não foi. O ônibus passou mais rápido que o normal. E o dia, desde quando acordei, me fazia ter vontade de escrever algo, compor uma música, dirigir um filme. Era daqueles dias que eu poderia ficar horas em frente à pintura pálida “A vida” de Picasso, fumando meu cigarro e escutando “I Know it's over” do The Smiths.
Tinha algo que me martelava há semanas, uma pergunta que deve fazer parte da crise de meia-idade: “O que é o amor?”, não o amor entre pais, filhos ou amigos. Era um amor específico. O amor entre um homem e uma mulher. O amor que faz você querer passar o resto da sua vida com ela. Supermercado. Cinema. Almoço de domingo. Filhos.
Entrei no ônibus, essa pergunta ainda martelava em minha cabeça. Comecei a achar que aquilo que eu chamava de amor, era apenas uma paixão, algo intenso com data de validade, nada mais que isso. No ônibus tinha um casal feio. Eram feios mesmo, os dois. Ela descabelada, ele desarrumado. E um odor pairava nos ares do ônibus. Era vômito. A moça feia descabelada tinha acabado de vomitar, tinha pouco tempo, talvez um ponto antes do meu. O cheiro ainda estava forte, uma pessoa de estômago fraco teria feito o mesmo quando aquilo invadisse suas narinas, vomitaria em cima do vômito da feia descabelada.
Fui mais para trás, fiquei olhando os dois, observando. O cara era carinhoso com ela, ela com ele. Não sei o porquê, mas aquilo parecia ser realmente sincero. Ela acabou de golfar em um ônibus e o cara lá fazendo ela se sentir a mulher mais linda do mundo. Especial de verdade. Os olhos dela diziam isso. O sorriso dos dois era como um "eu te amo" sem pronunciar uma única palavra. Que por sinal, falaram poucas coisas um ao outro. Mas a impressão que eu tinha que até um “vamos ao supermercado” soaria como uma declaração de amor entre os dois. Aquilo sim deveria ser amor. Era intenso, mas não como a paixão. Na paixão não cabe tanta sinceridade como essa.
Aquilo era amor, e o cheiro do vômito ficou ligado a isso. E passou a ser algo agradável. Um cheiro bom, que me lembra aquele casal. O que era nojento se tornou agradável, o agradável que me lembra o amor. Toda vez que sinto esse cheiro me lembro do amor. Talvez essa seja uma das façanhas do amor, mudar as coisas, dar novos significados a vida. O que me restou foi chegar à conclusão que o mais perto que cheguei dele foi quando pulei o vômito daquela mulher no ônibus.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

O velho sanfoneiro das bandas do imortal.


E numa dessas esquinas ordinárias das grandes cidades eu vi ele. Velho sanfoneiro, poeta silencioso das esquinas vazias lotadas de vidas banais. Talvez sua poesia silenciosa seja silenciosa porque o mundo de hoje não tenho valor o bastante para escutá-la. Talvez a poesia dele seja silenciosa porque grita por dentro.Talvez não.


Por anos ele ficou lá. Escutei o som solitário e melancólico de sua sanfona no dia em que recebi uma promoção do trabalho. Escutei no dia em que conheci minha esposa, que meus filhos nasceram. No dia em que o salário que era grande se tornou normal. A esposa que era linda, também se tornou normal. Os filhos, cresceram. Os anos, passaram. E o velho lá. Já havia perdido em muito o frescor da juventude e apontavam em minha barba por fazer os primeiros fios brancos. Minha esposa já não era a mesma e se tornou distante. Era um estranho em minha própria casa. Simplesmente de repente tudo perdeu o sentido. Foi uma questão de tempo o casamento se desfazer. As filhas já grandes foram morar com a mãe. Perdi a vontade de trabalhar e larguei meu emprego.

O apartamento que era tão pequeno agora era grande, sento na mesa para fumar um cigarro e vejo um jornal de dois meses atrás. A barba já grande há muito sem fazer o cabelo que já perdeu completamente seu corte. Escuto o barulho dos carros lá fora e vejo um céu cinza ao fundo em plena segunda feira. O rádio tocava uma música qualquer. Percebo que é o último cigarro do maço. Olho para o cinzeiro grande e conto as moedinhas que tem ao seu lado. Faltam um real e 25 centavos. Vou ao cesto de roupas sujas e pego no bolso da calça que usei duas semanas atrás.

Vou a padaria da esquina. Marlboro, vermelho. Não tem troco. E passo pelo velho sanfoneiro e olho para ele, escuto sua música. É uma música que castiga. É como se um reflexo da minha juventude, do meu terno e do meu cabelo molhado com gel, da minha esposa linda com 25 anos, das minhas filhas pequenas passando de bicicleta por aquelas calçadas pulassem em mim, me sufocando e gritassem: Velho fracassado! Olho para o outro lado da rua e me vejo com 23 anos suado voltando de uma corrida olhando para mim velho, aquela barba por fazer branca deprimente, fedendo cigarro com roupas amassadas. O seu olhor de desprezo me consome e atropela cruelmente.

E a música, a música que nunca parou do velho sanfoneiro de repente para. E o velho olha pra mim. Trocamos um olhar intenso por alguns instantes. Eu não falo com ele e ele não fala comigo. Hei, você, peça uma música. E respondo: As músicas que quero ouvir você não sabe tocar. Então o velho ri com desdém e não diz nada, apenas. E novamente a sua música entra gelada como o vento da madrugada pelos meus ouvidos provocando um arrepio de dor pela minha espinha, uma dor na garganta e uma vontade enorme de chorar. Sinto pena de mim mesmo e a da figura reduzida de mim mesmo que me tornei.

O velho percebendo as minhas lágrimas começa a conversar comigo. Me conta da sua vida. Filho de imigrantes desde criança se apaixonou pela sua sanfona. Escrevia as suas poesias de amor da juventude nas notas musicais. Sempre muito admirado em sua cidade não se bastou e resolveu dar seguimento a sua condição eterna familiar de forasteiro. Ganhou a capital, o país. Viajou muito e embalou suspiros utópicos de toda uma juventude. Um dia também foi jovem e sonhava em mudar o mundo duas vezes a cada segundo que passava.

Um dia a juventude passou, seus ouvintes cresceram, os muros caíram, os impérios declinaram e outros ascenderam. Seus amigos já não tocavam com ele. Então ele não quis se vender para a música que tanto amava e era a essência mais profunda de sua alma. Preferiu tocar sanfona em uma esquina qualquer, nessas grandes cidades no pequeno dia a dia. Preferia desaparecer na instrospecção de seu amor do que consumí-lo em vaidades. Então eu perguntei: Em qual banda você tocava?
Nas bandas do imortal.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

E o tempo está no pensamento




Chego em casa. São sete e quinze da manhã. Completamente cansado, mas sabendo que dificilmente conseguirei dormir. Mesmo com chuva. Eu tô com os pés no chão e a cabeça lá na lua. Na rua, na lua, na nasa, em casa. Menos no sono. Meus calcanhares doem como se eu carregasse o mundo nas costas. Eu me deito e não consigo mais me levantar. Puxo um caderno, uma bic azul e começo a escrever bobagens.

'São Paulo, 14 de dezembro de 1977. Escrevo essa carta com a intenção de mostrar a quantas anda minha vida de casado. A quantas anda minha vida fora daí. Não sei por onde começo... Talvez pelo princípio.

Quando me referi a vida de casado, não foi uma reclamação, muito pelo contrário. Acordo todos os dias pensando nela e motivado por estar casado com alguém que eu ame tanto. E quando eu vejo o narizinho dela furando o vento frio de Sampa, me arrependo de não ter me casado com ela antes. Mas talvez eu tivesse perdido uma fase da minha vida. Mas... É, sim, estou feliz.

Mudei de casa! Agora moro na Santo Agostinho, perto do Palestra. Ótima casa, portão branco, de grade, lado da sombra, jardim de inverno, lavanderia, garagem... Taco nos quartos, esquadria de alumínio anodizada... Muito boa. Ah, e a garagem agora é preenchida por um Corcel 73. Amarelo, em bom estado. Eu queria mandar fotos, mas demoram semanas para ficarem prontas. Não consigo entender essa demora. Acho que nasci em época errada. Ou que apareci em época errada.

Bem, é isso. Abraço a todos, mandem notícias, e já sabem que podem (e devem) vir me visitar, em breve. Envio-lhes também o disco 'Meus Caros Amigos', do Chico Buarque. Acho que vão gostar. Saudades, fiquem com Deus. '

Pego as bobagens que escrevi com a bic azul, amasso e jogo pela janela. Na chuva. Sinto a ferrugem, telefone continua calado. Vou buscar um whisky e alimentar mais ainda minha solidão. Eu vou acordar o vizinho, eu vou riscar os corpos, eu vou te telefonar e dizer que eu só preciso dormir. O telefone só toca quando a mente fantasia. Puxo um cinzeiro e...

...Penso em você como há muito não pensava em alguém. Talvez perca o emprego, talvez a sua resposta seja não. Mas eu não me importo. Só quero ter você do meu lado. Eu sei que não é sempre que a gente encontra alguém que faça bem e nos leve desse temporal. E eu quero mesmo que você jogue tudo pro alto. E se cair, eu te seguro. Quando o olhar é natural... Não há como evitar.


domingo, 13 de dezembro de 2009

Teclado Estragado

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Outros Tempos


Quando te vi
tive a impressão de que não era a primeira vez
quando te vi
tive certeza de que não seria a última vez
não, não seria a última vez


?Quem vem lá? quem será?
que passa como um filme
na fumaça de um bar
?quem vem lá? quem será?
que vai me salvar a vida outra vez
vai fazer de novo o que nunca fez


Os tempos são outros
os erros, os mesmos
me diz como é que eu faço
me diz como é que eu posso
te encontrar mais uma vez


Os tempos são outros

os erros, os mesmos

me diz como é que eu faço

me diz como é que eu posso
te encontrar
mais uma vez pela primeira vez




(Humberto Gessinger)

sábado, 5 de dezembro de 2009

A prostituta assassina.


Uma vez quando eu tinha por volta de uns 20 e poucos anos fui no Mato Grosso comprar um gado pro meu pai. Cheguei na cidade com a minha caminhonete suja emplacada de Goiás, chapéu na cabeça e um 38 na cintura. Antes de mais nada parei na primeira praça e perguntei pra um velho caboclo aonde que era o melhor puteiro da cidade. Fui no dito puteiro, paguei as melhores pra todos os meus companheiros e cachaça a vontade pra todo mundo encher a cara. Enquanto todos se divertiam embrigados eu apenas ficava sentado na frente da máquina de música fumando meu palheiro e ouvindo meu modão enquanto a peãozada fazia a farra.

No outro dia bem cedo fomos buscar o gado na fazenda e o dono da fazenda que tinha fama de ser o dono da região, me chamou pra entrar e tomar um café visto moço de família que eu era. Sabe como é, gente como não se faz mais hoje em dia. Me apresentou suas 3 filhas e sua esposa. A mais velho tinha 20 e poucos anos e tinha acabado de voltar pra roça daonde tinha saído novinha pra estudar na cidade. Falava não sei quantas línguas e tinha lido todos aqueles livros e ouvia aquela música daquele povo que eu não sabia o nome. Fiquei impressionado. Rapaz do céu, nunca tinha visto um trem bonito daqueles.

Não me deixando espantar pela fama de brabo do pai dela, visto que eu não tinha medo de nada que respirasse nesse mundo e que meu revólver não pudesse furar fiquei mais uma semana na cidade e mandei um peão avisar a moça que na sexta feira quando o pai dela viesse pra cidade ter com a sua amante eu ia entrar na casa dele e levar ela comigo. Recado dado. Sexta feira chegou e no silêncio da madrugada chego na porta da casa da moça e ela já na porta me esperando de mala e cuia. Do mesmo jeito que chegamos saímos da cidade eu e a peãozada e as vacas todas encaminhas pra Goiás.

Assim que cheguei a desgraça chegou na frente e meu pai vem possuído de raiva falando pra eu devolver a moça antes que o pai dela viesse buscar ela na bala, que pela boa fama da minha família ainda não tinha feito. Então eu pego no meu revólver e falo, só levam ela se me levar morto junto. Então meu pai sem outra opção toma o meu lado. O casamento segue sem a benção da família da moça e construímos uma casa na nossa fazenda. A pele branca dela com a minha pele queimada do sol. O seu perfume da cidade e o cheiro do meu palheiro.

Não tem remédio melhor nesse mundo que o tempo rapaz. Não é que no final das contas a família dela acabou aceitando e de vez em quando até escrever a mãe dela escreve. Mas o pai dela nunca mais ligou nem deu sinal. Ô velho ruim da desgraça. Coração mais seco que pau velho. Acabou morrendo sem nunca mais falar que a filha, com esse desgosto pra eternidade. Criamos ali nosso filhos e fui engordando as vacas que meu pai ia me dando e com o tempo já tinha meu rebanho. Tinha um filha linda igual a mãe e no dia de aniversário de 13 anos dela fizemos uma churrascada pra peãozada e um peão bêbado deu a se engraçar com ela e ali mesmo fiz questar de dar uma surra no caboclo. Filha minha não era pra qualquer peão não.

Mandei ela pra cidade aonde ela cresceu e estudou feito a mãe. E ela voltou pra roça. Assim que ela voltou um rapaz do Tocantins veio assuntar uns negócios comigo, veio uma, duas, três vezes. Comecei a estranhar a repentina amizade do sujeito. E não é que um dia pego ele de conversa fiada com minha menina. E já falou pra ele na frente dela; Escuta aqui rapaz, já vô logo te avisando que minha filha não é pra um merdinha igual você não e se duvida te boto provo na bala vagabundo.

O rapaz calado humildemente pediu desculpa, tirou o chapéu e simplesmente saiu. Minha filha também calada se retirou para seu quarto. E eu fui dormir. Chegou a notícia pra mim que um peão meu tinha levado um tiro numa briga de bar na cidade e fui lá socorrer o coitado. Chego de volta na fazenda horas depois e minha mulher chorando na porteira que a menina dela tinha ido embora fugida com o peão desaforado, que entrou na casa na frente dela e levou minha filha, que não teve coragem de olhar na cara da mãe. Então jurei pra Deus e pro Diabo que nem que fosse no inferno no pé do capeta buscaria o filho de uma puta e mataria ele.

Dito e feito por quase um ano eu e meus peões de mais confiança buscamos o maldito e fomos achar ele amuado com a minha filha em um ranchinho de beira de rio lá perto do Rio dos Bois. E isso só foi possível porque um peão entregou o paradeiro deles sabendo da cabeça a prêmio. Assim que cheguei não me fiz de rogado e nem causei efeito algum. Sem pensar duas vezes e sem olhar na cara de minha filha já meti um, dois, três, quatro e mais tiros no peito do caboclo. Antes mesmo que ele pudesse dizer alguma coisa. Peguei minha filha pros cabelos sem olhar na cara dela e levei ela de arrasto de volta pra nossa terra. Passado uns meses o pai do moço mandou uns peões e recebemos eles na bala também. E fui no Tocantins e matei o velho.

E não é que a menina tava grávida? E uma noite quando tava com uma barriga duns 5 meses fugiu na calada da noite. Com um peão velho da fazenda. Se passaram um ano, dois, três, Dez e ela nunca voltou. Com o tempo minha mulher que nunca renovou seu desgosto da perda da filha e se cansou das minhas putarias voltou pra fazenda da família enquanto minhas outras duas filhas voltaram pra capital. Estava sozinho. E um dia comprando gado lá pro Norte do Mato Grosso fui levar a peãozada para a putaiada de costume e cachaça e encontro o maldito do peão que fugiu com a minha filha. E mais manso que era devido ao tempo passado lhe pergunto apenas se ele sabia dela, ele disse que ela teve uma filha, que morreu ainda criança picada de cobra no pasto.

E ele acabou largando dela e a última notícia que tinha é que ela tinha virado puta e tava pras bandas de Rondônia. E fui lá procurar ela. Velho já sentado com meu chapéu fumando meu palheiro a achei, saindo de um quarto semi nua fumando um cigarro com um peão cheirando cachaça a cinco metros . Era sem dúvida a puta mais bonita do puteiro. Então um fazendeiro com pinta de rico chegou e tirou ela do puteiro nos tapas e murros. Um murro no seu nariz que o sangue desceu me bastou.

Antes que ele sacasse sua pistola dourada meti três tiros em seu peito. E olhei nos olhos dela, a deixei bêbada ensanguentada no chão e saí. E antes de abrir a porta da caminhonete, fui acender meu último palheiro. Quando acendi, traguei, senti o estalo e aquele gelo descendo pela minha espinha. Caio no chão com sangue pela boca e vejo a minha filha com a pistola dourada, mirada pra mim, com os olhos borrados da maquiagem de puta e lágrimas.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Bons sonhos.


A música? Wish you were here. Já ouvi dizer por aí que saudade é uma das palavras mais difíceis de serem traduzidas da língua portuguesa. O culpado? Um sonho cruel. Sonhos são realmente algo bastante enigmático. As vezes tiram o sono e a tranqüilidade. As vezes são arrepiantes. E as vezes são cruéis.


Todas as sensações resgatadas, o perfume, o jeito de falar e as emoções. E o pior é quando esse sonho não é sobre o que passou, mas sobre o que poderia se passar. Uma paixãozinha boba juvenil que traz as melhores sensações. Sentir aquele perfume, escutar determinadas músicas ou determinados hábitos, há muito esquecidos, é a mesma coisa que mergulhar de volta naquele romancezinho praticamente infantil. Mas a sensação é ótima. Para isso nada melhor do que o sonho.


Acordo e percebo que muitos anos se passaram e eu mal sei por onde você anda.Na verdade somos praticamente estranhos e não há nada que possa ser feito. Olho o seu perfil no orkut, sei que você não é tão bonita mas eu ainda te acho linda. Abro aquele álbum escondido no meu computador com as suas fotos mais belas embalado pela sensações relembrados pelo sonho de quase 1 dia atrás já. Olho para o meu criado do lado da cama e uma carta sua que fica jogada por aí insistindo em não se guardar desde que foi escrita anos atrás. Não sei porquê. E a música claro, wish you were here.

É realmente saudade é difícil de traduzir. Eu mesmo gastei esses poucos parágrafos.
Fico contente por ter me lembrado, essas lembranças sempre voltam ocasionalmente. Faz parte. Sensações que se foram, porém bem presentes e bem vivas. Nada tristeou nostálgico. Apenas a agradável e feliz lembrança de alguém que já se gostou muito.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Amor e Sangue




Após seis anos de casado, resolvi me divorciar. Na verdade ela resolveu. E isso já faz um ano. Continuávamos nos vendo, como um casal de namorados que transa escondido dos pais da menina. Assim que nos separamos, ela começou a namorar um cara aí. Babaca. Guitarrista. Tudo o que eu não era. E não sou.

Yara, 32 anos. Minha ex-esposa. Uma mulher atraente, bem atraente. Loira, estatura média. E na cama éramos como chave e cadeado, se é que me entende. Nascemos pra cruzar. Perfeito. Talvez por isso continuávamos nos encontrando.

Nos víamos sempre as quartas-feiras a tarde, quando eu tinha folga na delegacia e ela no fórum. Íamos pro apartamento dela e mal abríamos a porta, porque o desejo era mais intenso e muito mais forte que a gente. E num desses encontros aconteceu.

Quarta-feira a tarde. Saio da delegacia e vou para a casa dela, como de costume. Ela já está lá em cima. Tenho a cópia da chave, abro. Entro no quarto, decorado com círculos laranjas. E ela está nua, me esperando. Tiro a camiseta, a ponto 40 da cintura e coloco sobre o criado mudo. A camiseta enrolada na pistola. Uma. Duas. Sem tirar.

Termino e me sento na cama. Talvez para descansar, ou para pensar. Ela continua deitada, com os olhos semi-cerrados. Visto a camiseta branca com as letras PCGO bordadas logo abaixo do peito. Vejo a maçaneta girar e ouço um estampido que me deixa quase surdo. Minha barriga começa a formigar. Uma poça de sangue encharca minha camisa e Yara, ainda nua, grita.

Sempre pensei que a morte fosse mais interessante. Ou pelo menos mais digna. O sangue não é vermelho como nos filmes e levar um tiro não é tão doloroso. Ouço um 'vagabunda!' e vejo um barbudo cretino apontar a arma pra ela. Por impulso, pego a pistola com o braço trêmulo e aperto o gatilho com força, e repito o movimento com o dedo. Sete tiros, tudo o que tem no pente. O namorado dela cai, morto. Atrás dele, vejo a porta branca com respingos de sangue. Olho pra Yara e fecho os olhos.

Acordo em uma sala branca, fria. Toda azulejada, parece o IML. No meu dedão do pé não tem etiqueta, acho que ainda estou vivo. Minha bunda está gelada. Ainda bem. Minha barriga dói. Olho e percebo pequenos pontos fechando um furo do tamanho de uma azeitona. Pouco acima do umbigo. 'Oi, já acordou? Como se sente? Seu Luiz, visita pro senhor.' Uma enfermeira ruivinha, deve ser estagiária. E a visita é o Celso, meu amigo lá da DPIJ.

- E aí Steve, queria morrer? Comé que cê tá?


- Tô bem, vou morrer é depois que eu sair daqui, o desgraçado é filho de promotor. Cadê a Yara?


- A Yara? Assumiu o assassinato.


- Como assim?


- Ela deu depoimento falando que foi ela que atirou. Tem digitais dela na arma e ela disse que você tava desacordado quando ela pegou a pistola e matou o cara.


- Porra.



Eu daria a vida por ela. E ela se sacrificou por mim. Porque ela é o grande amor da minha vida, e isso só acontece uma vez. Divórcios podem não significar nada.



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