sábado, 24 de abril de 2010
quinta-feira, 22 de abril de 2010
Alucinação
Talvez nem Freud explique os tempos idos, os copos secos, as cinzas no cinzeiro e o sofrimento do poeta que jamais sentira nada. Tudo isso fez parte do meu sonho. Mais que isso, sonhei que cantávamos a nossa música, aquela que diz algo sobre o sexo ser assunto popular.
Voltando a parte boa do sonho, antes de eu acordar, antes de você me deixar e antes de eu começar a divagar dentro do meu próprio sonho, antes mesmo da chama ardente virar brasa e esta congelar meu sorriso, lembro-me que você me disse que iria comigo, onde quer que eu fosse. E naquele dia branco, que pra mim era como se tivesse mil cores, me lembro que te prometi o sol, se ele saísse, caso você viesse mesmo comigo.
De verdade você veio e eu dei todo o céu, tão imenso como o que eu sentia por você. Te dei a chuva para lavar seu ser. Te dei o sol para que se secasse e se escondesse do frio. Te dei por fim, flores, para que jamais se esquecesse da beleza que existe no amor maior. Percebendo que nada disso tinha te bastaria, lutei ao lado de São Jorge e vencemos o dragão. Ele me emprestou seu cavalo e te coloquei do meu lado para te mostrar a lua. Grave erro. Você se vislumbrou com o alto. Disse que de cima tudo é mais legal, apesar de esquisito, é tudo mais bonito. Comecei a perceber que nada te prenderia a mim se não me tinhas amor. Andei por todo o universo procurando algo que te faria meu, mas não encontrei. E eu trocaria a eternidade para viver tudo isso de novo, com você. Mas nada basta. Só o amor é capaz de se bastar. E a partir daí eu não quero mais reviver. A brasa foi suficiente para acender em mim a realidade.
Deixei você partir. Minha TV está fora do ar. Será que você me olha? Provavelmente não. Do alto é muito esquisito. Você está longe demais das capitais. E pouca coisa me interessa. Não me interessam teorias, coisas do oriente, nem romances astrais. Prefiro não sonhar e me delirar com experiências de coisas reais. Depois que você partiu, tenho raiva até mesmo do sol, dos seus beijos e dos sonhos que sonhei para nós. Depois que você se foi, já ouvi sessenta e três receitas pra te esquecer e eu sei que nada vai resolver.
Me tornei louca. De volta aos bares, fiz amizade com outros loucos, que orgulhosamente seguiam bêbados e orgulhosamente seguiam sonhando. Isso também me deu raiva. Me ensinaram, esses meus novos amigos, que quem inventou a razão, a emoção desconhece. Me fizeram seguir a emoção e parar de pensar em você. Pensar... foi algo que há muito deixei de fazer. O problema é que você tomou conta de tudo. Tudo em mim. Já não há emoção, já não há razão, já não há ninguém por aqui. Nenhum filme na TV, que continua fora do ar. Nenhum carro passa por aqui. Já perdi a conta de quantos cigarros enrolei e não dou a mínima pro que vai acontecer. Só os loucos não desistiram de mim. Dizem que o que eu sinto é moderno. O excesso faz sucesso, o final feliz, não.
Me ensinaram que esse excesso de amor era uma doença ficta. Eu já não sentia amor, sentia prazer em fingir sofrer. Percebi que o único remédio pra essa minha doença era continuar louca. Foi aí que virei poeta.
Postado por Isabella Lemes às 22:08 1 comentários
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quarta-feira, 21 de abril de 2010
Telegrama
'Havia lá pra essas bandas loucas , aonde faz um calor do cão e um frio de rachar, um nobre português, que vivia uma maldição. A maldição de ser a encarnação da figura literária do cavaleiro da triste figura. Talvez por ter crescido no meio de tantos livros acabou se tornando um deles, da pior qualidade.'
Tava triste. Sofrendo com essa maldição de ser um eterno e medíocre clichê, sem brilho algum. Nesse meu quixotismo pós-moderno. Andando por aí parei meu rocinante de mil e cem cilindradas e entrei num bar. Não aguentava mais pensar na minha donzela. Que sequer jamais fora minha de verdade. Uma donzela inicialmente eleita por uma força oculta a tomar de assalto.
Queria encontrar alguns moinhos de ventos por aí. Não tenho culpa se nasci numa geração pobre de ideologias e causas. O muro caiu mas ainda sei que existem moinhos abstratos espalhados por algum lugar. Vivo uma aventura heróica em que não só confundo meus vilões, como se quer reconheço-os. E para isso, para alimentar o meu quixotismo, para que possa cavalgar nas estepes desse blog, procuro meus montros em todo lugar. E no final das contas, qualquer beijo de novela me faz chorar. Procuro nas arquibancas, nos muros de lamentações e grafites. Procuro no samba, tango ou nas noites em claro, descendo um serra qualquer nas Minas Gerais. Procuro nas rimas medíocres. Em vão. Não encontro. Jamais.
Entrei no dito bar com meu cabelo de acordo com a mais bela passarela européia, um óculos ray ban e minha jaqueta de couro. No braço um bandeira de rondônia, no peito um escudo do Goiás e no outro braço a bandeira de Goyaz. Arranquei suspiros da garota que estava sentada na cadeira vazia da mesa em frente. A barba por fazer e a morte anunciada no canto da boca. Olhei para a venezuelana doutora em questões transcendetes do balcão e pedi um café.
Dou três passos com minha bota de motoqueiro para a mesa do meio, não sei nem o porquê. Me sento. Percebo um guardanapo largado na mesa com uma marca de beijo, beijo de batom. Minha donzela, que inspirou minhas andanças em um rocinante de mil cilindradas passara por ali antes. Pela milésima vez um encontro casual nos traz de volta. Como o primeiro deles, dez mil anos atrás. Como o último dele, dez segundos atrás. Não sei se ela passara morena, ouvindo sampa no walkman, dez anos mais velha que eu. Não sei se fora loira, encantada e mágica. Ou ruiva, desconhecida. O fato é, que havia ali naquela guardanapo todas as minha sete vidas do amor . Registrados no autográfo mais sublime da arte pela arte.
O fato é que das sete vidas para o amor havia morrido em todos e agora vagava por aí. Na busca de outra garota que ainda me emocione. Sete amores como sete pecados capitais. Nenhum mais pecaminoso que o outro. Já diria a educação de infância: O salário do pecado é a morte.
Sinto saudade da morena, da loira e da outra loira. Sinto saudade do meu coração outrora intacto.
Sinto saudade da arquibancada que pulsa sem mim enquanto tomo um café numa estrada vazia. Sozinho, sozinho. Mais solitário que um paulistano. Pego minha moeda de cruzeiro, especial. Troco da bilheteria do último show dos mamonas. Coloco na jukebox. Essa moeda especial vai deixar ela tocando por dois dias.
Escuta essa música sentindo essa saudade. Do que passou, passa e passará por aqui. Me sinto um louco golpeando o vento, sonhando a dar brilho nos olhos que houvesse alguém pra ser golpeado com aquela espada. Sonhando com o brilho dos olhos de uma criança, que houvesse uma loira igualmente quixotesca, de óculos, a assistir aquele embate e suspirar pelo seu cavaleiro romântico. Dou mil golpes de espada a cada música que me passa. Aí me canso e percebo que realmente o mundo já tem os heróis que precisa e não encontrarei meus monstros. Fecho o meu blog, paro de escrever. Num clique mil e uma cilindradas se desfazem. Num clique não existe loira, não existe banda imortal. Em um clique, ando só.
Postado por Plínio Lopes. às 14:31 0 comentários
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segunda-feira, 19 de abril de 2010
A Loira
Postado por Plínio Lopes. às 14:05 8 comentários
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sábado, 17 de abril de 2010
As cartas que eu mando
De volta em casa, resolvi voltar a escrever as cartas que disse que escreveria para nunca mandar. Verdade seja dita, ainda que não pensada. Falei sem pensar, escrevi sem pensar, bati consciente da dor que causaria, mas não consciente da minha falta de vontade de bater. Verdade seja dita, envelheci dez anos ou mais nesse último mês. Eu que não fumo, pedi um cigarro, implorei um perdão que talvez nem merecesse ter. Verdade seja dita, gostei de pedir perdão, gostei do cigarro e gostei da banda que fez a trilha sonora dessa viagem, a melhor dos últimos tempos da última semana. Pois bem, se não for pra falar a verdade, mentiras sinceras também me interessam.
Meu grande amigo louco,
Eu gosto muito de você! Ontem, naquele encontro de saudades, vontades, sonhos e realidades que se ajuntaram, percebi o quanto eu tinha saudade das minhas lembranças dos fatos que nunca aconteceram. Então, como rainha de um reino de um súdito só, resolvi tomar algumas decisões e gostaria de comunicá-las. Farei isso de forma pública para que todos esses seus amigos das bandas do imortal possam também ouvir. Divulguei então a carta a partir de uma coruja, dessas que não dormem de dia. São eficientes, sabe? Agilizam as notícias.
Pois bem, decidi após a melhor noite dos últimos tempos da última semana, mudar e fazer tudo que eu queria fazer. Me libertar da minha vida vulgar e dar uma chance para essa sua geração insana. A melhor forma que encontrei de conseguir isso foi procurando você. Afinal, somos uma única mente dividida em duas, opostas e conexas, como um espelho. A segunda atitude que tomei foi abandonar meu castelo e deixar a coroa de rainha. Enquanto não arrumo outro rumo, ainda moro por lá, no reino tão distante, mas construí uma ponte de acesso rápido pra facilitar as visitas. Você não precisa mais usar tapete, nem pegar carona em estrelas, tem sido bem mais fácil chegar até lá.
Entre sapos e príncipes, resolvi ficar com a cerveja e me juntar ao seu grupo de loucos. Espero que me aceitem apesar de careta. Mas careta até o diabo é. Descobri isso quando lhe ofereci o cigarro que você me deu e ele não quis aceitar. O encontrei quando o inferno entrou pela porta da frente que você deixou aberta ao sair.
Era isso que queria te dizer, te avisar que eu passei um tempo andando no escuro procurando respostas onde eu jamais acharia. Apesar de ser a causa e a saída de tudo, não conseguia achar o caminho de volta. Mas aí veio a chuva, caiu como uma luva na minha casa, na minha cara, um dilúvio, um delírio. Resolvi, a partir disso, pagar pra ver aonde vai nos levar essa loucura. Pois bem, estou de volta.
Loira
Postado por Isabella Lemes às 18:47 1 comentários
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sexta-feira, 16 de abril de 2010
Do lado de cá
Fui pra Europa, entrei num pub inglês. Pedi uma cerveja alemã e cigarros italianos. Encontrei um desenho no meu bolso, um isqueiro e um chaveiro escrito 'love'. Almocei um bacalhau delícia e me satisfiz com o café na França. By the way, Made in Brazil. Tomei um whisky escocês e pernoitei num luxuoso hotel em Bilbao. Procurei em todas as gavetas do criado-mudo e não encontrei.
Acordei e pensei estar realmente acordado, mas senti a brisa européia no cabelo já castanho. Enfiei a mão no bolso do casaco e tirei um bilhete de loteria, da EuroLotto. 22 01. 2 2. Duas vogais, duas consoantes, um sentimento. Mas ainda não era isso que eu estava procurando. Paro um outro táxi, jogo o cardigã no banco de trás e mando tocar pro mar. Quem sabe está lá, ou a maresia me inspire. Abro o porta-luvas do carro, por via das dúvidas. Uma latinha de remédio, daquelas redondinhas, de metal. Não era isso.
Chego na praia, tiro a camisa, xadrez. Algo diferente do lado esquerdo do meu peito. Uma pintura, recente. Na verdade um nome. Esboço um sentimento que Wolverine deve ter sentido. Mas não. Esse desenho eu permiti que fizessem. Era isso que eu procurava. Procurei em cofres, gavetas, porta-luvas e latas, e esqueci de procurar em mim mesmo. No metal da minha pele, um nome.
Me acordo, agora de verdade. Estou numa cadeira, no sol. Olho pro meu peito e não tem nenhuma tatuagem. Era pra ter. Escuto a voz grave do meu pai: 'Tá do lado de dentro.' Outro assunto, com outra pessoa. Mas me basta. Já encontrei o que eu queria encontrar.
Postado por Yuri Montanini às 13:49 0 comentários
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quinta-feira, 15 de abril de 2010
Anacrônico
Postado por Leandro Gel às 12:49 1 comentários
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quarta-feira, 14 de abril de 2010
C'era un ragazzo che come me amava i Beatles e i Rolling Stones
Volta pra casa, me traz na bagagem, tua viagem sou eu. Essa música não para de tocar na cabeça de um goiano em Porto Alegre, no meio do estádio olímpico. Ele e mais uns 40 mil. Loucos, jornalista, médicos, bêbados, todos do hawaii. No alto pendurada a bandeira que a geral fez para o Humberto, esse sim um ídolo, de músicas que nunca irão tocar, de cartas que eu nunca vou mandar, daquela faixa de capitão que nunca irei pegar. Frio e silêncio lá pras bandas do imortal. De repente uma agitação.Um tambor. Tum-Tum. On and on. É o aniversário de onzenta e um anos das bandas do imortal. Todo ser criativo que não consegue criar deve pular e louvar seus hábitos de sintetizador. A eterna arte de ser medíocre, como ele da bandeira longe longe lá no alto, Gessinger.
Ele, que era um garoto que como eu. Ele, o eterno capitão quixotesco, medíocre potencialmente falho e questionado. De repente um louco vestido de trapos sobe no palo e acende um isqueiro. Todos acendem também. E o tambor continua, tum, tum. E um bêbado sentado lá no canto, aonde alguns miseráveis fumavam drogas, começa a cantar em voz alta. Lá, lá lá ia. Lááá, láláia. E as pessoas começam a repetir. E de repente todos cantando, lá, lá laiá,laláiá. Vamo Vamo Grêmio. Todos começam a pular unísono juntando com o tambor , as luzes se acendem, todos eufóricos e de repente a banda começa a tocar.
A barca negra, o maior sucesso de todos os tempos da última semana. Todos ali, comemorando mais um aniversário, todos que não fumam pedindo cigarros. A bandeira de um garoto como todos aqueles quarenta mil loucos. A bandeira do cara que inspirou cada nota daqueles no palco. Tatuagens, suor, uma camiseta verde, nenhuma camiseta. Cabelos grandes, curtos. Branquinho do shopping, cara de bandido. A magia do espétaculo desce naquele espaço numa profusão de cores sabores, odores e amores. Rimas medíocres, geniais. Tudo ali, azul celeste. Verde por dentro, eternamente. Todos ali para cantar e vibrar.
Acaba o show, tem um louco tomando um chimarrão sentado ao chão. Tem quem tome uma coca e tem quem chore de amor. Tem quem toque uma gaita e tem quem toque um violão. Sento ali no chão, vejo as luzes do engarrafamento, tantas pessoas indo embora da festa. E nós ali, uma, duas horas depois. As luzes se apagam e aquela gaita ecoa solitária e intensa pelas ruas enquanto todos aqueles poucos bêbados divagam. Olho para minha blusa, velha demais. Me lembro de quando eu era um garoto. Me lembro dela. E amaldiçôo minha existência por não tê-la do meu lado.
Anoiteceu em Goiânia.
Em uma cadeira de balanço, numa casa vazia. Uma jovem senhora, com o mesmo rosto de quando tinha 20 anos. Senta, escute sua música. A chuva vem, as folhas crescem. Caem, morrem. Seu cabelo cada dia mais branco. Não consegue conversar, o silêncio é seu dom. Sente falta de seu amor de outrora, de cabelos menos brancos. Sente falta de todas as palavras que nunca disse por não tê-lo do seu lado. E simplesmente olha apaixonada pela janela, pra sempre.
Pela janela vê uma passeata de torcedores do Goiás. O Goiás foi campeão do mundo. São tão jovens quanto seu amor era quando o conheceu. Tão bobos. Tão apaixonados. Tão jovens.
Delira ao imaginar o brilho em seus olhos e chora de tristeza ao pensar em sua alegria. Ela nunca pensou que viveria para ver o Goiás campeão do mundo. Em algum lugar todas as forças das filosofias de nossa existências, ele deve dar aquele sorriso lindo que a deixou apaixonada.
Se cansou de esperar. Dorme essa noite e não espera que acorde amanhã.
-um ruído, alguém coloca a agulha no disco, e a música começa.
Ele olha pela janela. Seu cabelo enorme, a barba por fazer. A janela embaça com sua respiração. Se lembra dela, seu amor.
Um disparo, Um coração.
No meio do peito, dois segundos. Tudo lentamente se vai. O frio. O amor que volta com o vento. Até o fim.
Era um garoto, que como eu, amava uma garota. Pra sempre.
Postado por Plínio Lopes. às 22:33 2 comentários
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Quando a música tocar no rádio
Eu, três dígitos na balança, uma moeda no bolso e uma mancha no pescoço, observo o velho atentamente. É sempre bom fazer esse tipo de coisa, a experiência de vida é mais útil que a inteligência. Uma senhorinha chega, dá um beijo no homem e se senta do lado dele. Ele a abraça carinhosamente. Incrível. Um print screen mental, como provavelmente iria dizer o Samurai. Percebo que a música que toca no rádio dele é a mesma que toca no meu celular.
Tentoentender aquele momento, mais tento inutilmente. Um momento. E só. Desses que valem o ingresso. Cento e oitenta segundos se passam no relógio. Mais cento e oitenta. Saio do shopping e acendo um cigarro. Tragadas fiéis de quem não consegue ser mais direto. Volto e ele ainda está lá. Continuo pensando. E eu, maluco que sou, só chego a uma conclusão, sobre a música, sobre a vida, sobre o momento. Dica: Coração.
É, a conclusão é realmente essa e vem depressa na garganta. As palavras doem de tão agitadas. As letras se movem como se estivessem correndo atrás de uma locomotiva no Texas, se é que lá existem dessas. Toda estrada empoeirada me remete ao Texas. O 'T' passa depressa, assim mesmo, em maiúsculo. Duplo sentido. O 'e' arrasta uma mala com a etiqueta de 'especial'. O 'a' passa voando, alado, como um texto da última semana. A palavra do texto. O 'm' de Monta's passa montado num cavalo marrom, num galope rápido. 'M' de Monta's, de muito, de mesmo. E o 'o' de olhar, aquele castanho-tempestade que você tem quando acorda do meu lado. As letras correm numa sequência clichê. Na velocidade de uma vida. E a vida tem sempre razão.
Me viro do avesso e o simpático velhinho repete as minhas letras no ouvido da vovó. Ela muda a estação e sintoniza no Outono, na mais perfeita sintonia. Ele ouve um pouco e desliga o rádio. Ela não se incomoda. Por que sabe que mesmo quando o rádio estiver desligado, a música deles vai estar tocando. Por que certas músicas nunca param de tocar.
Postado por Yuri Montanini às 13:55 2 comentários
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terça-feira, 13 de abril de 2010
Só li dão Solidão
Quando olho e imagino, é Solidão
Postado por André Safadi às 21:47 0 comentários
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segunda-feira, 12 de abril de 2010
E quem precisa de ficção?
Todos os sinaleiros estão fechados, que beleza. Vontade dar uma castanhada nessas porcarias luminosas. Preciso de um cigarro, mas o acendedor do carro não funciona e alguém lá da rádio roubou meu isqueiro. É preferível que o cara ouça Belo do que roubar isqueiros. Encosto o carro, abro o capô e acendo no motor quente.
Chego no estádio, deveras bonito. Vermelho e branco, se opondo ao verde esmeralda. Da grama. Queria estar no meio da torcida, tomando uma breja com a Joelma. Mas não. Entrada lateral, e me dirijo ao lugar que me foi previamente designado: A cabine mais gelada de todos os tempos do último campeonato. Tudo funcionando, mais um cigarrinho, começa a transmissão.
Puta merda, marcador filho da puta! Gol do Santa Helena. Queria ter narrado assim, mas não posso, sou um dito cidadão respeitável que ganha quatro mil cruzeiros por mês e preciso narrar dentro dos conformes. Um a zero. Porra. Intervalo de jogo. Café, cigarro, tensão. Tensão, cigarro, café. Falta pro Santa Helena. É caixa. Caralho.
Pênalti pro Vila. Gol, caceta! Finalmente, narrei como deveria. Mas, alegria de jornalista dura como uma EP, contra-ataque do Santa Helena, gol. Barbante queimado, Três no um. Sangue na garganta. Deixo cair e mancho o microfone de vermelho. E juro que nunca mais narro futebol.
Podia ter sido assim.
Mas ainda bem que não foi.
E quem precisa de ficção?
Postado por Yuri Montanini às 16:40 5 comentários
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sexta-feira, 9 de abril de 2010
O nosso jorhaw
Não leio notícias, colunas, artigos. Não bebo política nem mesmo engajamento. Afundo, afinal, em fragmentos de impressões e emoções, cotidianos verdadeiros ou forjados, cartas amassadas e jogadas na rua para serem colhidas depois por outros seres andantes que, já há algum tempo, abandonaram a ética linear.
É, não parecemos jornalistas... Mas aí vem a parte “do Hawaii”, e isso talvez faça toda a diferença. Batemos no peito e gritamos o que nem todos conseguem ouvir – hora por negligência, hora por causa de nosso peito falho – e dizemos NÃO, NEM VEM QUE NÃO TEM: NEM TODO SENTIDO É OBRIGATÓRIO!
Queremos derramar aqui o que professores rejeitariam, o que nossos pais não entenderiam, algo de que os cultos ririam, e muito que muitos vaiariam, como vaiaram Caetano, e vaiaram Gilberto, e não calaram ninguém. Lugar de nos humilharmos e de sermos prepotentes, como quando nos comparamos a Caetano e Gilberto...
Barcas, mendigos, loiras, desenhos, corujas, malucos, velhos, crianças, ativos, ausentes. Um exército de meio homens, meio mágoas, meio a meio. Citando as mesmas palavras de outra canção em outro contexto, com textos e mais textos e mais textos que gritam para serem digitados assim, simplesmente, sobre o fundo branco do jorhaw.
Postado por João Lemmos às 00:06 6 comentários
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quinta-feira, 8 de abril de 2010
Nem sei do que estou falando...
Ninguém consegue definir com precisão que diabos de sentimento é esse, até porque, cada um ama de um jeito. Não adianta querer entender, você sempre vai equivocar-se em relação ao amor em algum momento.
Uma coisa é certa, é muito, mas muito fácil confundir o amor. Na verdade, o amor é uma grande confusão. O amor é a espera, o silêncio, a paciência... É a dúvida, o medo e a insegurança. O amor é tudo aquilo que normalmente deixa o ser humano desarmado. Diante do amor o homem não é nada. Não é o homem que sente o amor, é o amor que sente o homem.
Acabam-se as forças, vão-se os conceitos, desacelera a teimosia. O amor definitivamente chega pra mudar quem você é. Pelo menos enquanto estiver cego. O amor é catarata que cobre a visão. O amor é insano. Existem coisas que você só faz quando ama...
Mas, uma vez eu ouvi que amor de verdade é para sempre. Acreditei logo de cara, achei lindo. Porém, sempre soube que não existe para sempre. Já isto, nem é tão lindo assim. Então, se não existe o “para sempre”, o amor nunca será de verdade? É isso? Ah, que embaraço o amor me causa. Porque um dia tudo acaba, a única certeza é de que existe um fim e só não termina o que nunca começa. Às vezes penso que o amor é apenas o começo, toda vida começa com amor, mesmo que muitas se percam durante o caminho. O amor é um início.
Eu acreditei que o amor não passa de um estado, quase que uma patologia, seja crônica ou não. É, acreditei nisto. O amor é inerente ao ser humano. Mas alguns apresentam uma imunidade maior. São mais resistentes, ou acham que são. Muitos amam e nem sabem que amam, e melhor, são amados bem do jeito que são, e nem se quer são gratos por tamanho privilégio.
Alguns se negam a aceitar, não admitem, não assumem, são fortes demais para amar. Esses sofrem. Sofrem porque é bem isso que o amor quer: provocar! Provocar o que muitos chamam de covardia. Mas, a maioria prefere chamar de coragem. O amor se contradiz. O amor é o pai da contradição. O amor é um teste, uma prova, que não há ninguém te julgando, além de você mesmo. A nota para o seu amor é você quem dá.
O amor me deixa sem palavras. Aliás, amor é faculdade sem fundamentos teóricos. Ou você aprende na prática ou não vai saber nem dizer que uma vez ou outra, amou de verdade. O amor é um incômodo. O amor é como cócega, te faz sorrir feito bobo, mas sentir sempre causa certa fadiga. O amor é uma lição, quem sai vivo, sai mais forte e sabe sobreviver. O amor é desapegado, mas amar é apegar-se ao extremo.
Não existe prova de amor, não espere isso de ninguém, nesta espera há um erro que muda todo o contexto bonito que inventaram pro amor. Qualquer um é capaz de amar, o direito de amar é livre. Por isto, não faça do amor um sinônimo de exigência. Não coloque a culpa do amor que sente em ninguém, se você ama a culpa é sua, se é amado, a culpa é sua também. Se é que existe algum tipo de culpa. Amar não é uma desculpa. Amar é se conhecer e ser responsável por si mesmo. Só assim, se pode chegar aos outros.
Eu não sei do que estou falando. Eu não tenho certeza de nada. Não acredite em nada do que eu disse a respeito do amor. Ou acredite se quiser. Concorde ou não comigo. Ame se quiser. O amor é um risco, estar vivo é um risco. Como garantir o que pode ou não acontecer? Felizmente, nós não sabemos. O ser humano preza e necessita de riscos pra se sentir vivo, e quando ama, ou acha que ama, mais do que nunca a vida lhe parece muito mais viva, literalmente. Permita que a experiência do amor se manifeste em você, do seu modo, você não deve satisfações á ninguém. Mas permita-se ao amor. Repetidas vezes se quiser e puder. O amor é o que o tempo mais precisa para aquietar tudo aquilo que lhe inquieta. O amor...
Vanessa Mayane Melo Valente
Depois de um bom tempo sem produzir, sem postar nada aqui, eis que hoje eu parei para escrever. Escrevi nada com nada... e este nada está escrito ai. Beijos e até a próxima parada!
Postado por Vanessa Mayane às 21:45 6 comentários
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quarta-feira, 7 de abril de 2010
Noite no teatro
Cabe a mim invejar o artista, rei e mago do teatro, cujo teto são estrelas místicas e a bruma amórfica seu chão. Entra a cantora com suas pernas cálidas, voz e saia de veludo e lábios elásticos. Pareço flutuar em uma clave de sol, subindo meio tom a cada nota sustenida, movendo-me, sem rumo, ao som de semifusas.
Minha consciência anula-se, como se ébria, e címbalos dourados com seu som de éter espalham-se no ar numa cadeia cíclica. Minha pele se enrubesce e responde à magnética melodia com um arrepio – cada pêlo se faz também platéia, aplaudindo de pé ao espetáculo onírico. E a lua dança no céu de ébano.
Afasta-se de mim todo caráter sólido, altero minha freqüência para tons amenos de ciano ingênuo, unindo à meia luz desse castelo clássico a minha forma turva de fantasma cósmico. Espero impregnar-me de texturas tímbricas, fazer-me um tijolo da parede sônica, me debater nas ondas de um hammond aquático.
Faz-se silêncio.
A platéia se levanta e meu banco está vazio. Austero, me debruço na abóboda celeste. E não sou mais eu, mas a arte em mim.
Postado por Zé Bokinha às 22:29 1 comentários
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terça-feira, 6 de abril de 2010
Magno post mortem
Quero um "The Best Of” post mortem
E que cantem meus melhores momentos
Em meu momento derradeiro
Editem minha vida com esmero
Glamurizem minha angústia
Reflitam sobre os conflitos
Construam uma lenda, um mito
Escondam o que foi mal-feito e pobre
Mas não tudo, para não perder-se o charme
Riam, complacentes, da minha indolência
Chamem de cautela minha covardia
De racionalidade, minha frieza
Canonizem minhas piadas, meus atos
Como num templo
Como num teatro
Ensaiem aforismos para cada pá-de-terra
Façam com que eu seja, finalmente, um Grande Homem póstumo
E que meus vermes pensem que estão comendo carne nobre
Que assim seja
E se repita
Saecula saeculorum
Postado por Zé Bokinha às 00:00 6 comentários
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segunda-feira, 5 de abril de 2010
Pendrive
Postado por André Safadi às 22:36 2 comentários
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Ainda assim o amor
numa pracinha qualquer,
Postado por Plínio Lopes. às 11:21 3 comentários
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domingo, 4 de abril de 2010
Num envelope qualquer
Tava com cara que carimba postais, que por descuido abriu uma carta que voltou.
‘Querida loira das bandas do Imortal,
Sabe, esses dias vi o velho urso. Não o Hilton, o urso. Sim, o italiano. O Bartô. Está apaixonado. Amando. E tudo começou com uma carta. Inveja? Talvez. Aliás, não. A mais completa contradição. Se não há nada, por que todos temem perder? Queria ser como ele, às vezes. E ele queria ser como eu. Como Pelé que queria ser Maradona e Maradona que queria ser Pelé. O mais técnico dos volantes, o mais raçudo dos meias. Daí a contradição.
Acontece que ele escreveu uma carta para a menina mais linda do Reino da Puc Encantada e deu certo. Mas foi endereçada, ela sabia que era pra ela. Ela tinha uma certeza. A força deixa a história mal contada. A carta era pra ela desde o início, ela sabia que era pra ela. Ela não fez uma suposição. By the way...
A carta dele foi enviada por uma dessas corujas de linhagem européia, que sabem o que fazem. Alguma coisa que ainda me emocione, como um filme de guerra ou uma canção de amor. Enquanto garotos inventam um novo inglês, aqui estou eu, parado, na esquina. Um maço de Marlboro Red Cosmic no bolso, uma cara embriagada e um autógrafo do Pirlo na manga da camisa. Quem oculta o crime tem culpa, não?
Loira, só queria dizer isso. Que por mais que eu grite, o silêncio é sempre maior. Minha loira das bandas do Imortal realmente mora longe demais das capitais. Num lugar onde você nunca ousaria alcançar. Levo o mundo e não vou lá. Triste vocação, ser banal. Mas, assim como o destino é uma vadia inconstante e a nossa elite se empanturra de biscoito fino, um dia, a minha verdadeira loira das bandas do Imortal irá receber as cartas que sempre escrevo, e nunca mandei. Um dia. Quem sabe hoje. Abraços fraternais.’
É, o italiano Bartô é um sujeito de sorte.
Postado por Yuri Montanini às 22:30 9 comentários
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