quarta-feira, 14 de abril de 2010

C'era un ragazzo che come me amava i Beatles e i Rolling Stones





A festa da geral

Volta pra casa, me traz na bagagem, tua viagem sou eu. Essa música não para de tocar na cabeça de um goiano em Porto Alegre, no meio do estádio olímpico. Ele e mais uns 40 mil. Loucos, jornalista, médicos, bêbados, todos do hawaii. No alto pendurada a bandeira que a geral fez para o Humberto, esse sim um ídolo, de músicas que nunca irão tocar, de cartas que eu nunca vou mandar, daquela faixa de capitão que nunca irei pegar. Frio e silêncio lá pras bandas do imortal. De repente uma agitação.Um tambor. Tum-Tum. On and on. É o aniversário de onzenta e um anos das bandas do imortal. Todo ser criativo que não consegue criar deve pular e louvar seus hábitos de sintetizador. A eterna arte de ser medíocre, como ele da bandeira longe longe lá no alto, Gessinger.
Ele, que era um garoto que como eu. Ele, o eterno capitão quixotesco, medíocre potencialmente falho e questionado. De repente um louco vestido de trapos sobe no palo e acende um isqueiro. Todos acendem também. E o tambor continua, tum, tum. E um bêbado sentado lá no canto, aonde alguns miseráveis fumavam drogas, começa a cantar em voz alta. Lá, lá lá ia. Lááá, láláia. E as pessoas começam a repetir. E de repente todos cantando, lá, lá laiá,laláiá. Vamo Vamo Grêmio. Todos começam a pular unísono juntando com o tambor , as luzes se acendem, todos eufóricos e de repente a banda começa a tocar.
A barca negra, o maior sucesso de todos os tempos da última semana. Todos ali, comemorando mais um aniversário, todos que não fumam pedindo cigarros. A bandeira de um garoto como todos aqueles quarenta mil loucos. A bandeira do cara que inspirou cada nota daqueles no palco. Tatuagens, suor, uma camiseta verde, nenhuma camiseta. Cabelos grandes, curtos. Branquinho do shopping, cara de bandido. A magia do espétaculo desce naquele espaço numa profusão de cores sabores, odores e amores. Rimas medíocres, geniais. Tudo ali, azul celeste. Verde por dentro, eternamente. Todos ali para cantar e vibrar.
Acaba o show, tem um louco tomando um chimarrão sentado ao chão. Tem quem tome uma coca e tem quem chore de amor. Tem quem toque uma gaita e tem quem toque um violão. Sento ali no chão, vejo as luzes do engarrafamento, tantas pessoas indo embora da festa. E nós ali, uma, duas horas depois. As luzes se apagam e aquela gaita ecoa solitária e intensa pelas ruas enquanto todos aqueles poucos bêbados divagam. Olho para minha blusa, velha demais. Me lembro de quando eu era um garoto. Me lembro dela. E amaldiçôo minha existência por não tê-la do meu lado.




Anoiteceu em Goiânia.


Em uma cadeira de balanço, numa casa vazia. Uma jovem senhora, com o mesmo rosto de quando tinha 20 anos. Senta, escute sua música. A chuva vem, as folhas crescem. Caem, morrem. Seu cabelo cada dia mais branco. Não consegue conversar, o silêncio é seu dom. Sente falta de seu amor de outrora, de cabelos menos brancos. Sente falta de todas as palavras que nunca disse por não tê-lo do seu lado. E simplesmente olha apaixonada pela janela, pra sempre.
Pela janela vê uma passeata de torcedores do Goiás. O Goiás foi campeão do mundo. São tão jovens quanto seu amor era quando o conheceu. Tão bobos. Tão apaixonados. Tão jovens.
Delira ao imaginar o brilho em seus olhos e chora de tristeza ao pensar em sua alegria. Ela nunca pensou que viveria para ver o Goiás campeão do mundo. Em algum lugar todas as forças das filosofias de nossa existências, ele deve dar aquele sorriso lindo que a deixou apaixonada.
Se cansou de esperar. Dorme essa noite e não espera que acorde amanhã.









-um ruído, alguém coloca a agulha no disco, e a música começa.
Ele olha pela janela. Seu cabelo enorme, a barba por fazer. A janela embaça com sua respiração. Se lembra dela, seu amor.
Um disparo, Um coração.

No meio do peito, dois segundos. Tudo lentamente se vai. O frio. O amor que volta com o vento. Até o fim.
Era um garoto, que como eu, amava uma garota. Pra sempre.

2 comentários:

Yuri Montanini 18 de abril de 2010 às 13:56  

Era um garoto, que como eu, amava uma garota. Pra sempre. Minha morena das bandas do Portal.

Velho, sou seu fã número 1. E acho tri quando você faz essas continuações dos meus textos, ou quando escreve sobre o mesmo tema que eu, ou sei lá, posso estar completamente enganado, mas...

É.

Jéssica Neves 20 de abril de 2010 às 20:15  

Esse eu tinha que comentar que belo texto!

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