quarta-feira, 14 de abril de 2010

Quando a música tocar no rádio

Shopping. Observando um garoto que como eu amava Dunhill e Chopp da Brahma. Só que esse garoto tinha cabelos grisalhos e setenta anos de idade. E escutava no rádio uma canção, depois a mesma, depois a mesma. Mudava a estação, dizia que seu ministro ia ajudar. Só que o curioso é que esse senhor com o rádio ligado estava aleatoriamente colado no meio de um shopping. Peculiar, não?

Eu, três dígitos na balança, uma moeda no bolso e uma mancha no pescoço, observo o velho atentamente. É sempre bom fazer esse tipo de coisa, a experiência de vida é mais útil que a inteligência. Uma senhorinha chega, dá um beijo no homem e se senta do lado dele. Ele a abraça carinhosamente. Incrível. Um print screen mental, como provavelmente iria dizer o Samurai. Percebo que a música que toca no rádio dele é a mesma que toca no meu celular.

Tentoentender aquele momento, mais tento inutilmente. Um momento. E só. Desses que valem o ingresso. Cento e oitenta segundos se passam no relógio. Mais cento e oitenta. Saio do shopping e acendo um cigarro. Tragadas fiéis de quem não consegue ser mais direto. Volto e ele ainda está lá. Continuo pensando. E eu, maluco que sou, só chego a uma conclusão, sobre a música, sobre a vida, sobre o momento. Dica: Coração.

É, a conclusão é realmente essa e vem depressa na garganta. As palavras doem de tão agitadas. As letras se movem como se estivessem correndo atrás de uma locomotiva no Texas, se é que lá existem dessas. Toda estrada empoeirada me remete ao Texas. O 'T' passa depressa, assim mesmo, em maiúsculo. Duplo sentido. O 'e' arrasta uma mala com a etiqueta de 'especial'. O 'a' passa voando, alado, como um texto da última semana. A palavra do texto. O 'm' de Monta's passa montado num cavalo marrom, num galope rápido. 'M' de Monta's, de muito, de mesmo. E o 'o' de olhar, aquele castanho-tempestade que você tem quando acorda do meu lado. As letras correm numa sequência clichê. Na velocidade de uma vida. E a vida tem sempre razão.

Me viro do avesso e o simpático velhinho repete as minhas letras no ouvido da vovó. Ela muda a estação e sintoniza no Outono, na mais perfeita sintonia. Ele ouve um pouco e desliga o rádio. Ela não se incomoda. Por que sabe que mesmo quando o rádio estiver desligado, a música deles vai estar tocando. Por que certas músicas nunca param de tocar.

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