sábado, 17 de abril de 2010

As cartas que eu mando


De volta em casa, resolvi voltar a escrever as cartas que disse que escreveria para nunca mandar. Verdade seja dita, ainda que não pensada. Falei sem pensar, escrevi sem pensar, bati consciente da dor que causaria, mas não consciente da minha falta de vontade de bater. Verdade seja dita, envelheci dez anos ou mais nesse último mês. Eu que não fumo, pedi um cigarro, implorei um perdão que talvez nem merecesse ter. Verdade seja dita, gostei de pedir perdão, gostei do cigarro e gostei da banda que fez a trilha sonora dessa viagem, a melhor dos últimos tempos da última semana. Pois bem, se não for pra falar a verdade, mentiras sinceras também me interessam.



Meu grande amigo louco,




Eu gosto muito de você! Ontem, naquele encontro de saudades, vontades, sonhos e realidades que se ajuntaram, percebi o quanto eu tinha saudade das minhas lembranças dos fatos que nunca aconteceram. Então, como rainha de um reino de um súdito só, resolvi tomar algumas decisões e gostaria de comunicá-las. Farei isso de forma pública para que todos esses seus amigos das bandas do imortal possam também ouvir. Divulguei então a carta a partir de uma coruja, dessas que não dormem de dia. São eficientes, sabe? Agilizam as notícias.
Pois bem, decidi após a melhor noite dos últimos tempos da última semana, mudar e fazer tudo que eu queria fazer. Me libertar da minha vida vulgar e dar uma chance para essa sua geração insana. A melhor forma que encontrei de conseguir isso foi procurando você. Afinal, somos uma única mente dividida em duas, opostas e conexas, como um espelho. A segunda atitude que tomei foi abandonar meu castelo e deixar a coroa de rainha. Enquanto não arrumo outro rumo, ainda moro por lá, no reino tão distante, mas construí uma ponte de acesso rápido pra facilitar as visitas. Você não precisa mais usar tapete, nem pegar carona em estrelas, tem sido bem mais fácil chegar até lá.
Entre sapos e príncipes, resolvi ficar com a cerveja e me juntar ao seu grupo de loucos. Espero que me aceitem apesar de careta. Mas careta até o diabo é. Descobri isso quando lhe ofereci o cigarro que você me deu e ele não quis aceitar. O encontrei quando o inferno entrou pela porta da frente que você deixou aberta ao sair.
Era isso que queria te dizer, te avisar que eu passei um tempo andando no escuro procurando respostas onde eu jamais acharia. Apesar de ser a causa e a saída de tudo, não conseguia achar o caminho de volta. Mas aí veio a chuva, caiu como uma luva na minha casa, na minha cara, um dilúvio, um delírio. Resolvi, a partir disso, pagar pra ver aonde vai nos levar essa loucura. Pois bem, estou de volta.



Loira

1 comentários:

Rafael Rabelo 19 de abril de 2010 às 19:45  

"Eu não tenho pressa, o meu tempo é todo teu..."

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