quarta-feira, 21 de abril de 2010

Telegrama

'Havia lá pra essas bandas loucas , aonde faz um calor do cão e um frio de rachar, um nobre português, que vivia uma maldição. A maldição de ser a encarnação da figura literária do cavaleiro da triste figura. Talvez por ter crescido no meio de tantos livros acabou se tornando um deles, da pior qualidade.'

Tava triste. Sofrendo com essa maldição de ser um eterno e medíocre clichê, sem brilho algum. Nesse meu quixotismo pós-moderno. Andando por aí parei meu rocinante de mil e cem cilindradas e entrei num bar. Não aguentava mais pensar na minha donzela. Que sequer jamais fora minha de verdade. Uma donzela inicialmente eleita por uma força oculta a tomar de assalto.

Queria encontrar alguns moinhos de ventos por aí. Não tenho culpa se nasci numa geração pobre de ideologias e causas. O muro caiu mas ainda sei que existem moinhos abstratos espalhados por algum lugar. Vivo uma aventura heróica em que não só confundo meus vilões, como se quer reconheço-os. E para isso, para alimentar o meu quixotismo, para que possa cavalgar nas estepes desse blog, procuro meus montros em todo lugar. E no final das contas, qualquer beijo de novela me faz chorar. Procuro nas arquibancas, nos muros de lamentações e grafites. Procuro no samba, tango ou nas noites em claro, descendo um serra qualquer nas Minas Gerais. Procuro nas rimas medíocres. Em vão. Não encontro. Jamais.

Entrei no dito bar com meu cabelo de acordo com a mais bela passarela européia, um óculos ray ban e minha jaqueta de couro. No braço um bandeira de rondônia, no peito um escudo do Goiás e no outro braço a bandeira de Goyaz. Arranquei suspiros da garota que estava sentada na cadeira vazia da mesa em frente. A barba por fazer e a morte anunciada no canto da boca. Olhei para a venezuelana doutora em questões transcendetes do balcão e pedi um café.

Dou três passos com minha bota de motoqueiro para a mesa do meio, não sei nem o porquê. Me sento. Percebo um guardanapo largado na mesa com uma marca de beijo, beijo de batom. Minha donzela, que inspirou minhas andanças em um rocinante de mil cilindradas passara por ali antes. Pela milésima vez um encontro casual nos traz de volta. Como o primeiro deles, dez mil anos atrás. Como o último dele, dez segundos atrás. Não sei se ela passara morena, ouvindo sampa no walkman, dez anos mais velha que eu. Não sei se fora loira, encantada e mágica. Ou ruiva, desconhecida. O fato é, que havia ali naquela guardanapo todas as minha sete vidas do amor . Registrados no autográfo mais sublime da arte pela arte.

O fato é que das sete vidas para o amor havia morrido em todos e agora vagava por aí. Na busca de outra garota que ainda me emocione. Sete amores como sete pecados capitais. Nenhum mais pecaminoso que o outro. Já diria a educação de infância: O salário do pecado é a morte.

Sinto saudade da morena, da loira e da outra loira. Sinto saudade do meu coração outrora intacto.
Sinto saudade da arquibancada que pulsa sem mim enquanto tomo um café numa estrada vazia. Sozinho, sozinho. Mais solitário que um paulistano. Pego minha moeda de cruzeiro, especial. Troco da bilheteria do último show dos mamonas. Coloco na jukebox. Essa moeda especial vai deixar ela tocando por dois dias.

Escuta essa música sentindo essa saudade. Do que passou, passa e passará por aqui. Me sinto um louco golpeando o vento, sonhando a dar brilho nos olhos que houvesse alguém pra ser golpeado com aquela espada. Sonhando com o brilho dos olhos de uma criança, que houvesse uma loira igualmente quixotesca, de óculos, a assistir aquele embate e suspirar pelo seu cavaleiro romântico. Dou mil golpes de espada a cada música que me passa. Aí me canso e percebo que realmente o mundo já tem os heróis que precisa e não encontrarei meus monstros. Fecho o meu blog, paro de escrever. Num clique mil e uma cilindradas se desfazem. Num clique não existe loira, não existe banda imortal. Em um clique, ando só.

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