segunda-feira, 21 de setembro de 2009



Ao entrar no blog com essa cara nova me lembrei de uns episódios bastantes singulares de minha vida envolvendo máquinas de escrever. Aqui em casa sempre teve uma e outra, bem antigas diga-se de passagem, herança talvez do período jornalista de meu pai. Daí pensei um jeito legal de começar o texto, que é mais ou menos assim:

No início Deus criou os céus e a terra. A terra era sem forma, vazia, escura e coberta de água. E com 12 anos eu li Bukowski. Veja bem, ele é um desses filhos da mãe que você se nega a compreender a genialidade e importância assim como Nietzsche, Kafka e outros esquisitos por aí. Mas aí um dia você entra em um blog vê uma máquina de escrever e o invisível te salta aos olhos.

Me lembrei de quanto então com uns 17 anos, em uma daquelas crises nostálgicas após assistir quase famosos resolvi então que iria escrever com ... uma máquina de escrever!
Então lá ia eu, sozinho em casa como fiquei bastante na minha adolescência, com um cinzeiro abarrotado de Marlboro vermelho sentado frente a frente com a máquina de escrever. Era encantado com a idéia do velho louco por trás da máquina de escrever fumando seus cigarros e sem o menor receio de falar de tudo aquilo que lhe dava tesão. Que escreveu falando de gozar para uma criança de cinco anos. Um louco. Era encantado com o personagem William Miller digitando seu retrato de uma américa do norte nos anos 70 ao embalo do Led Zeppelin. Queria cantar em versos sutis as viagens por Goiás,Tocantins com meu pai. Falar do pouso nas estradas e das prostitutas que nunca saíram de minha mente em Foz do Iguaçu. Era encantado com aquela filha da revolução industrial que confidenciou Fernando Pessoa a Bukowski. Queria ser um deles.


E após algumas marteladas cheguei a conclusão de que não ia rolar. Aquela parada era desconfortável demais. Percebi então que a nostalgia dos meus heróis (diga se de passagem politicamente incorretos) não poderia ser revivida. Nunca poderia ser louco como Bukowski ou lendário como William Miller. E o que poderia ser feito a respeito era apenas viver para que um dia então,houvesse nostalgia de sobra então para lembrar, dignas das páginas de Bukowski ou da trilha sonora de quase famosos. Que era preciso viver intensamente.


E agora eu pago meus pecados por ter acreditado que só se vive uma vez.

1 comentários:

Yuri Montanini 22 de setembro de 2009 às 13:45  

Belo texto. E eu já tentei escrever com essas máquinas malditas, são horríveis. Nada que um pouco de prática não adiante, mas... Prefiro o tradicional teclado qwert mesmo. Mas há, sem dúvidas, um ar atrativo numa máquina de escrever. São como um piano: dificilmente você vai ver um piano e não vai dedicar dois ou três minutos às suas teclas.

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