domingo, 13 de setembro de 2009

"Relatorioso"



Brasília, 1° de janeiro de 2003.
Através deste venho relatar a posse do 35° presidente da Republica Federativa do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva.
1. Cerca de 10h da manhã, 1° de janeiro de 2003, acordei e o clima estava seco, a baixa umidade do ar de Brasília.  O muco (também conhecido como “meleca”, “ranho”, “titica” e etc...) produzido pelas glândulas do meu nariz estavam secos. Ressecado e ardendo meu nariz estava já as 10 da manhã, logo percebi que o dia não seria muito bom.
2. Por volta das 11h já tinha tomado meu banho matinal, me alimentado e vestido minhas roupas. Já estava pronto para enfrentar a longa tarde da posse do Luiz Inácio Lula da Silva a presidência. Peguei um ônibus rumo ao Congresso Nacional. O motorista corria muito (o que fazia o veículo balançar mais que bunda de popozuda em baile funk).
3. Nas proximidades do Congresso, o clima era o mesmo: seco e o sol escaldante. Mas Brasília, essa não era a mesma. Uma multidão espalhada na Explanada dos Ministérios já aguardava ansiosamente o início da cerimônia com suas camisetas vermelhas, bonés vermelhos e bandeiras vermelhas que balançavam incansavelmente. Até me lembravam as torcidas de times de futebol nos estádios brasileiros. Os ônibus não paravam de chegar dos quatro cantos do Brasil. Os jornalistas também estavam ali, alguns em áreas credenciadas, outros não, de toda parte do mundo, já ficavam de prontidão com suas câmeras, microfones, ternos e terninhos, naquele sol de fritar ovos no asfalto.
4. Ouvi gritos de regozijo, todos festejavam o operário nordestino que venceu as dificuldades que a vida colocou diante de seus olhos, pulou alguns obstáculos, outros passou por baixo, e após 12 anos de persistência e de mudanças, de discursos e roupas mudados e pêlo tosado, chegou ao poder.
5. Por volta das 16h entra o presidente Lula e seu vice, José Alencar. Estavam cercados por batedores, protegidos pelos Dragões da Independência, exército, aeronáutica e... marinha (?!). Ambos, o presidente e o vice, estavam em pé no banco traseiro de um Rolls Royce, presente dado ao Brasil, na época representado por Getúlio Vargas, pela rainha da Inglaterra, Elizabeth II. Sim, essa mesma “velha senhora” de cabelos brancos que ainda hoje vemos por aí nos telejornais (God save the Queen!). Essa versão de presente é contestada, a quem diga que Vargas, na verdade, comprou o veículo.
6. Por incrível que pareça, o povo ainda tinha voz para gritar e exaltar o presidente das massas. Confesso que assustei com tamanho fôlego da parcela da população brasileira lá presente. Alguns diziam que essa força vinha de uma fonte de esperança que brotou em cada um, diante da vitória de Lula, já chamado de “sapo”, pejorativamente, sobre o “príncipe” (?) (que mais parecia ter um rei na barriga) e ex-presidente, Fernando Henrique.
7. As pessoas continuavam a gritar (as vezes me lembravam tietes que viam seus ídolos ao vivo pela primeira vez) e o presidente com um sorriso perdido em meio sua barba, bem mais cuidada do que alguns anos atrás, fazia acenos de cumplicidade a população presente.
8. De repente escutei um barulho que saiu do meio da multidão, que não era aplausos, nem gritos, mas se assemelhava com o barulho de fogos de artifício, mas fogos de artifício não haviam ali. Não eram permitidos. Em milésimos de segundos o presidente desmontou no banco traseiro do Rolls Royce, com uma mancha vermelha no lado esquerdo do seu crânio. Enquanto isso simultaneamente, José Alencar, abaixou e com os braços sobre a cabeça parecia se proteger de um desmoronamento. Era uma bala que alojou nos miolos presidenciais de Lula, e o sangue espirrou por toda parte, nos bancos do carro inglês, no motorista, que também ostentava um bonito traje, e no vice-presidente.
9. Olhei para o lado tentando identificar o autor do crime, o que vi foi algumas pessoas ajoelhadas chorando gritando, barulho de sirenes, Dragões da Independência estáticos  bobos, pessoas sem-reação, chamadas ao vivo das emissoras, repórteres e câmeras correndo em meio a multidão. Podia ouvir o grito de tristeza entoado por uma multidão desolada pela morte da esperança com um tiro na cabeça em um carro de luxo, de 1953. Tudo parecia cenas de um filme Hollywoodiano. O clima era seco, o sol escaldante, mas Brasília, essa não era mais a mesma.       
Sem mais para o momento.
Atenciosamente, Leandro Gel

3 comentários:

Yuri Montanini 14 de setembro de 2009 às 16:24  

Simplesmente sensacional. E se isso realmente tivesse acontecido? Como seria o Brasil hoje? José Alencar seria o que José Sarney representou após a morte de Tancredo Neves? Mesmo com todas as asneiras do Velho Barba, dou 'Graças a Deus' por ele não ter batido as botas. Quando na era Sarney, 'vimos' o que aconteceu e os resultados negativos, principalmente na economia nacional. Provavelmente, o milionário empresário do ramo de tecidos e portador de câncer que herdaria o cajado presidencial cometeria os mesmos erros de Sarney.

Luís Valdívia 14 de setembro de 2009 às 19:18  

acho que lembro de quando o véin fez esse texto, se não me engano foi no primeiro período para a aula de língua portuguesa I.

Leandro Gel 14 de setembro de 2009 às 23:11  

Isso mesmo, Valdívia.

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