sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Memórias Aristocráticas.


Rio de Janeiro, 17 de outuro de 1871.


Olho pela janela de minha casa e vejo um alegre casal de jovens fazendo prováveis especulações. Talvez os instigue o aspecto mal cuidado da grama,as folhas no jardim ou as janelas sujas. Parecem tão felizes e distantes,tão distantes. Enquanto escuto o tique taque do relógio, olho para meu vestido simples, quase íntimo sem a menor condição de receber visitas. Me lembro de todas as visitas, os cafés pelo Rio ou Paris e de todas as músicas. Me lembro de você. No silêncio Beethoven me atormenta cruelmente puxando em cada nota um lágrima que insiste em não sair. Toco todos os dias "patética" do mesmo beethoven. Pelos móveis copos sujos de vinho e já quase não há copos limpos no armário. Revezo copos partituras e lágrimas. Lágrimas cruéis presas em minha garganta me lembrando a efemeridade de minha existênca, secas e eternamente cruéis.
De repente o casal sai de mãos dadas e sou abandonada ao meu infinito particular novamente. Penso o que me deixou assim... Lembro dos barulhos da cidade, dos jovens fidalgos desfilando em suas cartolas reluzentes e dos adoráves concertos. De repente num passe cruel em meu coração novamente ele, Beethoven, Beethoven! Toca e toca, "para elisa". Talvez a minha predileta por seu indescritível êxtase. Linda e sutil, suavemente agressiva. Me lembro das poesias que tanto meu leu em nossos melhores dias, e não há mais poesia em mim. O resto de poesia que sou capaz de absorver sai desse piano cruelmente tocado em meu coração.
Sua memória não sai de minha mente. Te vejo no nascer e por do sol, no cair das folhas e da noite. No casal de namorados que se assusta com o aspecto abandonado de minha casa. Não há mais poesia nessa vida. A poesia se foi e a vida ficou seca como as folhas do outono. As vezes me pergunto porque você se foi e nunca mais voltou. Amaldiçoando o resto dos meus dias. Mas para isso guardo o último sorriso em minha alma e digo a mim mesmo que se eu soubesse antes,o que sei agora, erraria tudo exatamente igual.

talvez em outra vida a gente se encontre,talvez a gente encontre explicação

3 comentários:

isalemes 25 de setembro de 2009 às 21:14  

Sou fã do ser requinte!!!! =D

Rafael Rabelo 30 de setembro de 2009 às 18:19  

Muito bom! Destaque para 'Surfando Karmas & DNA' em: ."...se eu soubesse antes,o que sei agora, erraria tudo exatamente igual."

Marco Antônio 3 de outubro de 2009 às 19:33  

Caraaalho! Fooi um dos melhores textos seu que eu já li. Só há um que o supera que é 'As bandas do imortal'. Mas muito bom o texto. Sempre lembrando que o pra sempre, sempre acaba.

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