segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Status Quo - "Quo"


Cabelo, jeans, e heavy blues. Esse é o trinômio que define o grupo de rock inglês Status Quo. A banda, que começou nos anos 60 tocando pop psicodélico – aquele típico da segunda metade de tal década – se revoltou contra essa sonoridade e as imposições da gravadora, partindo para o rockão seco e baseado no blues que a consagrou. E então, devidamente cabeludos e enjaquetados, lançaram alguns discos clássicos muito admirados pelos dinossauros do rock mundo afora.

É um disco esquecido, porém, o alvo da minha resenha de hoje. Não sei se devo me referir a ele como esquecido ou como subestimado, na verdade. E nem sei se minha admiração por ele dá-se mais por uma nostalgia muito pessoal que pela qualidade do álbum em si. Trata-se, enfim, do “Quo”, de 1974.

Conheci o LP no comecinho da minha pré-adolescência, no saudoso ano 2000, se não me engano. Aconteceu que, quando meus avós resolveram mandar o toca discos pro conserto, a família se reuniu para tirar a poeira dos antigos bolachões, relembrando a infância ainda contida naqueles sulcos furados. Entre célebres discos do Carequinha, Arca de Noé, e afins, encontrava-se uma peça um tanto diferenciada: um álbum que trazia em sua capa uma árvore psicodélica, cujo tronco dava origem às cabeças de quatro sujeitos cabeludos. As raízes da árvore formavam, em uma tonalidade cinzenta, a palavra “Quo”. “Esse é pauleira”, comentou meu tio, atiçando, é claro minha curiosidade. O riff introdutório não me soou pauleira o bastante e, após alguns minutos, passamos para o próximo disco.

Foi na manhã seguinte, porém, que recolocando a agulha sobre o castigado vinil, aquele som me bateu forte aos ouvidos, e eu sucumbi, profundamente, ao som das terças e quintas daqueles acordes de rock n` roll. Aquele som me preencheu e me satisfez de forma espetacular. Foi um daqueles momentos em que se redescobre o rock. “É isso que eu vou tocar quando eu tiver uma banda”, pensei. E fui pra casa, obstinado em comprar aquele álbum em CD, tarefa que só consegui cumprir em 2007, na Galeria do Rock – e com muito suor.

O “Quo” é, na verdade, resultado de um período conturbado na história da banda, em que o baixista Alan Lancaster e o guitarrista Rick Parfitt confrontaram os principais compositores da turma, Francis Rossi e Bob Young, tomando, então, as rédeas do novo álbum e compondo 5 das 8 faixas contidas no mesmo, sendo que uma das 8, “Break the Rules”, é uma composição de todos os membros da banda. Tal mudança permitiu um novo sabor à sonoridade do conjunto, resultando em um fantástico disco de honesto rock n`roll. Essa mudança talvez seja o motivo da indiferença da maioria dos admiradores do Status Quo em relação ao disco. Por outro lado, é essa sonoridade que me laçou irremediavelmente quase uma década atrás.

O disco começa com a sensacional “Backwater”, talvez minha preferida de todo o repertório do grupo, e seu especialíssimo riff de abertura, desembocando nos velhos e tão conhecidos acordes de rock. A bateria e o baixo martelam forte, aumentando a potencia e a virilidade sonora do trecho. Sem pedir licença, uma passagem plácida e reconfortante é executada, ganhando força e volume até explodir, novamente, em um rock n` roll enérgico. Os vocais encaixam-se perfeitamente ao restante da obra, coroando esse espetacular e delicioso som.

“Just Take Me” emenda-se na faixa anterior, abrindo com uma sessão de percussão muito gostosa. A música possui melodia agressiva e um solo de guitarra sensacional, acompanhado apenas pela percussão e, depois, por uma guitarra base muito ritmada e picada. Que espetáculo!

A próxima canção, “Break the Rules”, transporta-nos a uma espelunca em um lugar qualquer na Inglaterra. A faixa é pura fanfarronice, com aquele pianinho que sempre vai muito bem, obrigado, quando o assunto é rock n` roll, sem falar da gaita, que arremata toda a farra sonora.

“Drifting Away” e seu riff infernal fecham em grande estilo o lado A do LP. Os vocais, mais uma vez, são sensacionais.

Vire o disco e prepare-se, pois este guarda uma agradabilíssima surpresa logo de início: a visceral “Don`t Think It Matters”. Mais um espetacular riff de guitarra para a coleção do álbum. Tal riff caberia perfeitamente em qualquer disco do Sabbath ou qualquer grande banda de hard rock – quase heavy metal – da década de 70. Eu realmente não entendo como uma música assim pode ser negligenciada pelos fãs da banda... que lástima. De qualquer maneira, uma faixa que consegue se destacar num álbum de tanta qualidade só pode ser uma baita musica.

“Fine, Fine, Fine”, a mais fraca do disco, ironicamente é uma das únicas feitas pelos compositores veteranos da banda, Rossi e Young.

Que pérola é “Lonely Man”! A única balada do álbum possui enorme força e beleza, tendo como base um delicioso violão, acompanhado, mais adiante, pelos outros instrumentos. A musica possui bela melodia e um solo de guitarra poderoso. Outro ponto de destaque da obra!

O disco termina com outra composição da dupla Rossi e Young, “Slow Train”, a mais longa do álbum, com 7 minutos e 54 segundos de duração. A faixa, como era de se esperar, tem mais a ver com a sonoridade usual do Status Quo – digo, a sonoridade da banda fora desse disco peculiar – com um rock ainda mais vintage. Com todo o respeito aos dois músicos, que já tomaram frente de fabulosos álbuns, como o bem mais aclamado “Piledriver”, “Slow Train” também não está entre minhas favoritas do disco. É, ainda sim, um rock responsa e de qualidade.

E a capa... Pô, esta fala por si só!!!


Haig Berberian

2 comentários:

Plínio Lopes. 29 de dezembro de 2008 às 16:13  

vai me emprestar esse disco também :D

João Lemmos 30 de dezembro de 2008 às 11:57  

Hehehe
Foi malz, cara, mas esse eu nâo empresto nem pro Al Pacino!!!
Mas você é bem vindo pra vir aquí qualquer hora pra gente ouvir ele.
Em LP ele fica melhor ainda!

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