quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Wishbone Ash - "Argus"



Durante as décadas de 80 e 90, tornou-se modismo entre bandas de Metal, como Saxon, Blind Guardian, e Rhapsody, a temática de batalhas épicas e heróicas, em que cavaleiros de espada em punho encontram seu destino em campos de batalha. Algumas bandas, tentando emular a musicalidade erudita ou popular da idade das trevas, produziam obras de tom pseudo-medieval, prática que já se tornou uma espécie de clichê headbanger.

Tal temática, porém, teve inicio na década de 70, principalmente no Hard Rock e no Rock Progressivo. Inserida nesse contexto está a banda Wishbone Ash, com seu terceiro álbum de estúdio, “Argus”, produzido por Derek Lawrence. Estamos nos referindo, contudo, a uma obra-prima absoluta do Rock, lançada no prolífico ano de 1972.

Nunca na história da musica fez-se Rock “de guerra” com tamanha maestria. A começar pela capa do disco, obra do ilustre estúdio Hipgnosis. A capa decodifica em imagem a sonoridade do álbum, como se fosse a fotografia de uma musica. O soldado na fronteira, observando à procura de possíveis intrusos, dá ao disco uma feição épica, mas de forma classuda e natural.

O álbum inicia-se com a doce e matinal “Time Was”, com os violões de Andy Powell e Ted Turner, e a excelente harmonia vocal de Ted e Martin Turner. A melodia da canção apresenta uma rara fusão de leveza e esplendor, possuindo um bucolismo sonoro. Após essa reflexiva aurora, a musica rompe em um Rock mais embalado que, mesmo não tendo a beleza da parte anterior, ainda ostenta grande charme.

A próxima faixa, “Sometime World”, é uma balada que possui a elegância presente em todo o álbum, com a beleza melódica tão característica dessa singular obra. A canção, assim como a faixa anterior, torna-se um Rock classudo com fraseados e harmonias vocais e de guitarras.

“Blowing Free”, a mais descontraída do disco, é simplesmente uma delicia. Sua temática nada tem a ver com o cenário de uma guerra, abordando o velho tema garoto/garota. Mesmo assim, destaca-se no disco como uma de suas faixas mais agradáveis.

A próxima faixa é, sem duvidas, um dos grandes clássicos do Hard setentista. Trata-se de “The King Will Come”, uma canção escatológica sobre o juízo final. A faixa começa com uma gradação em que a musica vai crescendo até explodir em um riff simplesmente alucinante. Os solos, no estilo “twin guitars”, marca registrada da banda, são inspiradíssimos, e o wah-wah nunca soou tão pomposo.

“Leaf and Stream”, mais uma atmosférica balada de caráter etéreo e cigano, é resultado de um belíssimo arranjo de guitarras e inspiradíssima melodia vocal, só pra variar. A faixa é o último suspiro antes da batalha realmente começar.

É chegado o momento. Todos estão preparados, com seus elmos, cotas-de-malha, escudos e espadas. “Warrior” vem com seu poder avassalador, num riff absolutamente bélico e destemido. Sem nenhuma pretensão de soar medieval, a banda evoca, com genuíno e genial Hard-Prog, um sangrento campo de batalha, digno dos exércitos de Gondor e Rohan contra Mordor. Nunca se conseguiu tão plenamente esse efeito na musica pop, com exceção, talvez, em “I Could Never Be a Soldier”, do Gnidrolog.

Após o término da peleja é hora de abaixar a espada, deixar a gloria, e voltar pra casa. “Throw Down the Sword” tem início com uma melodia sensacional feita pelas guitarras harmonizadas de Andy e Ted, a que se junta o rufar da caixa da bateria de Steve Upton. A canção é uma balada que se encaixa perfeitamente à aura do trabalho, fechando-o de forma equilibrada e triunfal, com os característicos solos de guitarra sobrepostos, desta vez acompanhados pelo suave órgão de John Tout, musico emprestado da banda de Folk-Prog Renaissance.

Assim termina essa experiência sonora. A banda nunca mais produziria um álbum de tamanho cacife, ainda que lançasse outras obras de grande qualidade. “Argus” foi votado como o melhor álbum de 72 pelos leitores de dois jornais bastante populares da época, batendo gigantes como “Close to the Edge”, do Yes; “Thick as a Brick”, do Jethro Tull; “Machine Head”, do Deep Purple, entre tantos e tantos outros trabalhos lançados nesse ano fenomenal.


João Lemmos

2 comentários:

Plínio Lopes. 17 de dezembro de 2008 às 16:15  

é por isso que eu sempre achei que você adoraria quase famosos, e deveria ter feito jornalismo.

muito interessante o texto, depois me arruma esse cd.


abraço

João Lemmos 17 de dezembro de 2008 às 17:22  

Obrigado, Plínio! Fico feliz com seu aval positivo!
E Almost Famous é muito legal mesmo, comprei a trilha sonora do filme esses dias... Por coicidencia tava passando ontem, mas não pude ver.

Quanto ao "Argus", não é difícil baixa-lo na net, em programas como SoulSeek.

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