segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Yes - "Close to the Edge"


Assim como Machado de Assis está para o Realismo; Picasso, para o Cubismo; Bach, para o Barroco; está o Yes para o Rock Progressivo. Assim como todo gênio – ou, no caso, grupo de geniais músicos -, a banda também possui sua magnum opus, e seu nome é “Close to the Edge”. Talvez a hermética concha que é o movimento Progressivo nunca tenha produzido uma pérola de tamanha perfeição, tão equilibrada, tão bela. A imaginação e magia contidas nessa obra são impressionantes, justificando o amor dispensado a ela por tantos proggers mundo afora.

Sinceramente, acho que o ano de 1972 tinha algo diferente em sua atmosfera, alguma substancia no ar – não; não me refiro à maconha ou a nenhuma outra substância ilícita, pois estas já estavam presentes antes e continuam presentes hoje. Obras fantásticas encontraram solo fértil naqueles 365 dias para poderem florecer, e com estes cinco rapazes ingleses não foi diferente. Aqui, Jon Anderson, Rick Wakeman, Steve Howe, Chris Squire e Bill Bruford realmente se superaram, produzindo a obra que serviu de referência para diversos outros artistas da época e dos atuais dias. O Yes, com certeza, foi uma das bandas mais influentes do movimento Progressivo, e suas características estão concentradas no álbum em questão.

Já devo avisar que o álbum soará bastante estranho a ouvidos desacostumados, regra que vale para a maioria das obras Progressivas, mas, ainda assim, vale experimentar. O disco tem uma outra característica muito comum em álbuns do gênero e que causa estranhamento aos ouvintes iniciantes: a pouca quantidade de músicas que, em compensação, são obras de longo fôlego. A faixa título possui 18 minutos e 37 segundos; a segunda faixa, 10 minutos e 09 segundos; e a terceira e última faixa, 8 minutos e 57 segundos.

Vamos à análise. O álbum, produzido por Eddie Offord juntamente com a banda, inicia-se com a faixa que talvez possa ostentar o título de melhor suíte Progressiva de todos os tempos, a magnífica “Close to the Edge”. Sua introdução peculiar soará como um caminhão cuja carroceria está cheia de instrumentos musicais se colidindo – como já li uma vez – para marinheiros de primeira viagem, mas trata-se na verdade de um trecho de grande complexidade sonora, passando depois para o tema principal da canção. O baixo de Squire mostra-se inquieto e soberbo, sempre com seu estilo inconfundível. As melodias excepcionais transportam-nos diretamente para o interior de uma floresta verde e úmida, passando por riachos e pássaros cantantes – como na introdução. A guitarra de Howe também exerce papel de grande importância, juntamente com a voz cristalina de Anderson, os teclados virtuosos de Wakeman e a bateria quebrada de Bruford. Que deleite! Após um trecho inspiradíssimo e bastante erudito, um momento delicioso nos espera. É a sessão “I Get Up, I Get Down”, ainda parte da suíte. Esse fragmento da faixa é de beleza e doçura ímpares, como se fosse parte de um sonho; um daqueles que te dão saudades de um mundo mágico em que você nunca esteve. Me desculpem o excesso de comparações absurdas, mas não posso evitar, devido à forte impressão que a obra causa neste humilde escriba. O arranjo vocal é sublime, executado por Anderson, Squire e Howe. A canção segue com um momento de virtuosismo tecladístico de Rick Wakeman, com seu estilo Rococó sintético. A obra caminha para seus momentos finais, em que se executa o tema principal com arranjos diferentes. Fabuloso!

A segunda faixa, “And You And I”, outro clássico absoluto da banda, é outra viagem pelas paisagens naturais de um mundo verde e virgem. É como estar em uma canoa, em um rio calmo, tendo sua bela dama como única companhia. Será que Tolkien escutava Yes?!? A música possui uma originalíssima melodia, apoiada sob as cordas de Howe, possuindo, porém, inúmeras mudanças de tempo e instrumentos, tornando a análise bastante complicada. Em resumo, é o momento mais romântico do disco, podendo, para alguns, soar até um pouco meloso. Mesmo assim, é uma obra digna do álbum em que está inserida.

O álbum fecha com a mais agressiva “Siberian Khatru” – e nem adianta procurar pela palavra “khatru” no dicionário. A faixa possui um caráter meio jurássico, contrastando com a placidez das duas canções anteriores. A linha de baixo, como sempre, é genial, assim como todos os músicos e a voz de Anderson. Trata-se, realmente, de um álbum fora de série.

Tudo isso é embalado pela capa de Roger Dean, brilhante artista responsável por praticamente todas as capas do Yes e de vários outros conjuntos da época. É nesse disco em que aparece pela primeira vez o logotipo clássico da banda. Apesar de não possuir a elaboração usual das capas do desenhista, o design casa-se perfeitamente com a sonoridade do álbum, colorindo-o com o verde bucólico que as músicas sugerem.

Inigualável.


João Lemmos

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