segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Bar do Rock ( escrito em 2008 )


Era mais um dia normal. Tinha ido até a escola, presenciado muito e assistido pouco. O bastante para evidenciar seu egoísmo, arrogância e descaso com tudo aquilo que era indicado. O sino tocou anunciando mais um recreio, mais um passeio pela grande oferta de personalidades. Todos gritando suas habilidades mais medíocres e pedindo, me considere único,me dê por especial. Mas não era desses que ele gostava, ele tinha seus amigos. Em qual deles ele ia parar e absorver um pouco do que lhe faltasse? Ele precisava de futilidade induzida? de nostalgia? ou de pseudo-revolucionários?Agressividade?Talvez. Mas para tudo isso,e muito mais,ele tinha o seu amigo. O mais admirável, o agressivo, o abrangente, suave e delicado, reflexivo ingênuo ou malicioso.
A menina linda demais, que chama a atenção de todos. A menina que não quer a atenção de todos. A menina que é linda demais ,e não dá a mínima sobre ser linda. Que não dá a mínima sobre muita coisa. Que as vezes enquanto o circo pega fogo, ela sorri, mas o sorriso de quem não entendeu e não precisa de piada para sorrir. O brilho de seu cabelo, a simpatia de seu rosto. A irritação do marasmo social, as SUAS roupas. Que vestem ela, para ela, ela ouve, anda, observa, tudo nela é rock and roll. A beleza da apatia, a apatia que rejeita a beleza como é ensinada.
Ele ouve, se diverte em ver como todos os outros são idiotas. Ele observa, ele admira, afinal, ele ama o rock and roll. Acaba o recreio, que bom que ele teve sua dose de rock and roll pura e sem gelo. Sem misturas. Volta para continuar não estando lá e o tempo passa. Com irrelevância passam os segundos minutos e horas. Chega a hora de encontrar de novo o que é digno de sentir saudade. Palavras que te fazem pensar, que fazem com que você se sinta feio,ridículo,pouco interessante. Palavras que te mostram que não há o que temer e sim há muito o que viver. E você se sentiu feio, porque quer ser cada vez melhor, e o que você é ainda não basta, afinal alguns metros de distância os separam. Chega a hora de mudar de faixa,e vamos aos comerciais.
É preciso estudar, ganhar dinheiro educar os filhos para que eles possam ganhar dinheiro e educarem os seus próprios filhos. E isso tudo com todo o anexo embrionário da juventude. Aula de hoje? Você não é o que você diz ou age! Você é a fatura do cartão de crédito do seu pai em 6 vezes no mais caro da loja, com ares emblemáticos de revolução social. Você é quem você cata, você é quem ao qual você bate. Você é baladeiro. Eu te digo você não é nada! Tanta despretensão é uma pilha de nervos e tensas pretensões. Eu digo vocês não são nínguem.
Ligo a televisão em meio ao barulho dos que estão no ar, para fazer o mesmo; ver o jogo do meu time na tela em cores verde e branco. Todos comem bebem e vão. Meu time ganha. Ele volta de bicicleta na noite, olha para o preto do céu que absorve tudo, inclusive a apatia. Ele chega em casa, sua casa, e enfim liga o som. E então é noite, faz um pouco do frio do cerrado. Ele já conhecia o lugar e a cada ano que passava conseguia enxergar mais e mais! No começo, bem no começo ele achou que todos ali eram padronizados, que a língua era o modismo superpotente ocidente-atual. Mas é porque tudo que ele via eram vultos e tudo que ouviu eram susurros de muita gente. Com o tempo, deixou de ver os vultos, aprendeu que haviam várias línguas na multidão, que ficava na porta querendo entrar! Um dia passou a ver tudo, todos!(a porta fechada). O som abafado saindo pelas frestas de ar e o barulho das pessoas de fora. Uns velhos cartazes na parede, umas rachaduras e um letreiro velho,meio caindo,com metade apenas firma na diagonal escrito: Bar do rock and roll.
Havia todo tipo de gente na porta,um velho moço de barba e óculos escuros, terno e gravata, com as mangas cortadas em um gesto rebelde. O velho tinha uma bíblia na mão e dizia pra mim em voz alta, com sua careca reluzente e um rabo de cavalo com o pouco que restava: Jovem,você não sabe o que é rock and roll!
Aceite o verdadeiro rock and roll dentro de você e salve-se! Você é apenas mais um tijolo na parede metido a besta. O rock vai te salvar! Eu achava que era perdido e o rock me salvou progressivamente. Mas queria conhecer mais e olhei para o chão e um filho da puta deitado em meio a cinquenta tocos de cigarro, roupas velhas e cara de nerd olhou para mim,mostrou a língua e acendeu outro cigarro olhando pro céu como se falasse com ele. Um louco mesmo. Na porta, esperando pra conseguir entrar,um mauricinho com all star reluzente e roupa de cores rebeldes combinando com aquela cara enjoativa de primeiro cd, cara de: eu encontrei o bar do rock! Alguns metaleiros bem jovens não sei se esperavam a barba nascer ou o cabelo crescer para que se considerassem metaleiros. Então alguns gritaram, outros correram. E os vi.
Jovens belos e charmosos. Aquele rosto inglês inconfundível. O nerd deitado no chão, deixa de procurar no céu a única equação que nunca conseguiu igualde e grita, hey idiotas, não entrem, a verdadeira diversão é aqui fora! No puro e bom lixo! E eles não ouviram e olhando para o mauricinho da porta disseram antes que ele desviasse o olhar de supresa e admiração contida. Saia da frente. E ele demorou uns dois segundos até abrir a boca. E um deles desferiu um soco que derrubou ele e já emendou o som de sua queda com o chute que deu para arrebentar a porta. E assim,eles entraram no bar do rock. Deixando a porta aberta que eu e muitos outros aproveitaram para entrar. O bar era incrível. Música tocando,visão esfumaçada,muitas mesas de canto com todo tipo de gente. Um bebê chorava no balcão enquanto um palhaço mostrava seu talento.
Ao barman,um bom velho, pedi uma vodca e algo mais em meio a tantas opções. E eles, que haviam entrado de forma agressiva, pularam o balcão abriram a porta de trás do balcão e foram pra uma outra sala. E fecharam, pelo visto, essa porta,apenas seguir os seus passos não bastaria para que eu entrasse, deveria abrir sozinho. Não sei quanto tempo passaria naquele bar, com aquelas pessoas até descobrir como abrir aquela porta.
Quantas doses deveria tomar, quantos cigarros deveria fumar ou em quantas religiões deveriam me converter. Não sabia quantas paixões bastariam ou se uma faria toda a diferença. Se dançaria com todas ou faria um tipo. Olho para o meu lado e lá estava a menina linda do recreio como sempre,linda! Inconfundível. E ela sorriu. Conversamos meia hora, expliquei que não sabia como passar a noite naquela bar novo com uma porta misteriosa a minha frente. Ela estende a sua mão a mim e perguntou: Então vamos dançar? Dançamos, dançamos, quisemos nos sentar, mas dançamos. Alguns anos viriam até que eu me sentasse finalmente e descobrisse mais sobre aquele bar incrível. Afinal, ele era uma criança, não tinha ouvido quase nada, nem vivido. Mas a beleza daquela garota ia durar para sempre como um oásis no deserto.

4 comentários:

Yuri Montanini 20 de outubro de 2009 às 15:01  

Esse texto foi um dos primeiros de sua autoria que eu li. E um dos que eu mais gostei. Foda.

Plínio Lopes. 20 de outubro de 2009 às 20:03  

acho que vou voltar pra facul

^^

Yuri Montanini 20 de outubro de 2009 às 20:34  

AÊÊÊÊÊÊÊ!!!

isalemes 20 de outubro de 2009 às 20:55  

Comecei a ler mentalizando as partes que eu achei mais fantásticas.. por fim eu desisti!!!
cara, vc é mto bom!!!

continua sendo meu ídolo!

=D

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