sábado, 24 de outubro de 2009

Memórias do Norte.


No Ipod tocando Beatles. Norwegian Wood. Tentando ler Bernardo Élis mas sem êxito. Começou a pensar na letra da música e viajando olhou para o banco da fila do lado e viu uma linda garota, seu tipo total, pinta de sulista e tudo mais, roupas descoladas e sentimentos surreais. Desconcentrou-se totalmente. E continuou a alternar seu olhar entre a imensidão da beira da estrada de rondônia e a garota.
Voltava sozinho de um mês em Porto Velho, viagem sem muito sentido apenas para ver os velhos amigos. Pegou um barco em Porto Velho para Manaus, subiu o Madeira e Navegou o Amazonas também. Sozinho em meio a tanta água, olhava para o lado e ficava encantado com tanta mata virgem. Em meio a aquele povo tipicamente índio, prostitutas de terceiro mundo e desbravadores desse fim de mundo do nosso Brasil. E agora voltava para Goiânia, faculdade, jogos do Goiás e tudo mais. Cidades de no máximo 50 em 50 km, lindas garotas e toda aquela vaidade.
Sabia que ia sentir falta do Norte assim como tinha sentido todos esse anos. Mesmo sendo um estranho no ninho em meio aquele povo de outro mundo. Mas eram tantos estranhos no ninho, alguns assasinos, outros fracassados e outros apaixonados tentando ganhar a vida. Mas todos sozinhos naquele outro país se chamado Norte do Brasil. Ia sentir falta daquele povo acolhedor, dos rios magníficos e das belas paisagens. Daquela sensação de que tudo estava para se construir no mais perfeito retrato de um velho oeste brasileiro. Na mais perfeita sensação de Brasil sem a contaminação pós segunda guerra mundial. Caboclos descendentes dos seringueiros, dos garimpeiros ou dos caribenhos que foram construir a ferrovia. Gaúchos e paranaenses que assumiram a farde de outro mundo, outra vida. Ia sentir falta disso tudo.
E de repente, um segundo após ter pensado tudo isso sobre a vida a garota linda olhou para ele. Faltava apenas a última cidade antes de sair de Rondônia rumo ao Mato Grosso. E com o ônibus parcialmente vazio a garota perguntou: Você vai descer em Vilhena? E ele responde: Talvez. E percebe algo estarrecedor. A garota linda que o havia encarado tanto tempo tinha uma aliança de casamento. Com um sorriso meigo e lindo ela o convidou para sentar ao seu lado. E isso eram umas onze da noite. Iam chegar em Vilhena 6 da manhã.
Certamente nunca tinha se relacionado com uma garota tão linda em toda a sua vida. Conversaram sobre tudo que se possa imaginar menos detalhes pessoais. Falaram da história de nosso País, da conquista do Norte, de como a família dela saiu do Paraná e foi parar em Vilhena e ele contou como saiu de Goiânia e foi parar em Rondônia. A química era impressionante, gostavam de história, dos mesmos livros e de ouvir uma moda de viola qualquer. Não demorou muito se amaram. Se amaram intensamente como nunca havia amado uma mulher em sua vida. Pensou como poderia viver com ela para sempre o resto de seus dias, sempre quis viver em Vilhena, era uma cidade tão sedutora em sua altitude elevada, clima agradável e habitantes sulistas.
Não demorou muito e ela comentou sobre a infelicidade do casamento e como mal se lembrava como era ser amada assim. E o chamou para ficar, para descer. Por mais inconsequente que fosse estava disposta a qualquer coisa. Chegaram em Vilhena e desceram na rodoviária. Um abraço e um beijo, os últimos. Disse que tinha que voltar no ônibus para pegar um livro que tinha esquecido. Entrou no ônibus e olhou para ela parada sentada no banco da rodoviária olhando para a janela.
Materializou em sua mente seus amigos em Goiânia. A arquibancada verde e branco do serra pulsando intensamente junto com o seu coração. Pensou em tudo,em todas. E assim esperou o motorista entrar no ônibus e o ônibus começou a sair. Teve que contemplar o olhar atemorizante dela para o banco do ônibus que viria a ser o tormento do resto dos seus dias de sanidade. E o ônibus foi embora. E mais uma vez Rondônia Ficou para trás.

1 comentários:

Unknown 24 de outubro de 2009 às 02:03  

Massa. Acho que todo mundo tem uma "goiânia" e uma "rondonia" na vida.

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