domingo, 4 de outubro de 2009

Uma coisa é certa: é muito dificil viver hoje em dia. Tendemos à mediocridade desde o dia que nossa mãe pariu. Nos pariu. Além da tendência à mediocridade, há também uma grande tendência à hipocrisia. Nós fazemos de tudo para parecer diferente, pra tenter fugir do senso comum, do povão. E nesse ponto estamos certos. Acho mesmo que temos que ter medo do povão. Só que francamente: um dia, se não foi esse domingo, foi a menos de um mês atras, você só achou Faustão pra assistir e ainda achou engraçado ou tinha uma dupla sertaneja se apresentando no prograva e que você gostava (escondido, porque goiano adora falar que odeia sertanejo e que Goiânia é uma roça). Voce foi, há menos de três meses na bôite que tá na moda na sua cidade alegando que só estava ali porque era aniversário de algum amigo. Você tenta ler livros de autores que ninguém conhece ou que são muito conhecidos (aqueles que todo mundo já ouviu falar mas nunca leu nada sobre... tipo, dostoiévsky), mas já parou um dia pra ler um livro de auto-ajuda, Harry Potter ou Crepúsculo ou foi ao cinema assistir a algum best-seller que virou filme (pra poder criticar depois, né?!). Tudo hipocrisia.
É bom lembrar o que é hipocrisia. Tem aquele cara que fala esquisito, que compõe, toca sete instrumentos e adoraria que todos reconhecessem sua intelectualidade e que vara a noite lendo os rodapés dos livros pra saber o que dizer no outro dia. E tem aquele cara que adora falar que ficou bêbado, que durmiu fora de casa porque ele acha que a boemia é um estilo de vida louvável não só pra ele mas para os outros também. que ele vai ter prestígio tendo um gênio rebelde-indomável. Esse cara fuma pra caramba, bebe pra caramba e sempre para pra pensar se é mesmo feliz assim ou não. Os dois estão perto da hipocrisia e pra isso só dependem de como se sentem por dentro e de como conseguem controlar sua personalidade. Entre a autenticidade e a mediocridade, e a hipocrisia, há um alinha muito tênue.
De tanta boa escola, contato com professores e outras pessoas com senso crítico aguçado, Jornal Nacional, a gente aprendeu o que não é visto como cult e tentamos nos desvencilhar disso. Mas poxa, as vezes é legal ir pra uma micareta, ficar bêbado sem ver e aí não lembrar o que fez e etc. É legal não pra chamar atenção é ser "massa". É legal porque às vezes é divertido fazer o que é recríminável (por nós mesmos). O interessante é justamente isso: criamos regras que nos fazem em parte, infelizes ou, pelo menos, reprimidos. Sexo depois do casamento, não poder falar palavrão, estereótipos de beleza, roupas que são ou não são bem aceitas, regras idiotas controlando, mascarando ou proibindo coisas que não fazem mal diante da ciência mas que a gente mesmo se força a obedecer. Vê se isso não é hipocrisia? Quantas mulheres (mães) dizem aos seus filhos (homenzinhos) pra não tirar a virgindade de nenhuma menina "de família", mas ela mesmo não casou virgem. Quantas vezes as meninas vaidosas deixaram de tomar um big sorvete, uma pizza ou deixaram de beber cerveja porque "dava barriga"? E porque barriga tem que ser feio? Na Grécia era sexy. E quem inventou que falar palavrão é deseducado? Quem convencionou as regras de educação? O ser humano não gosta de ser feliz. É como se a felicidade fosse um ultraje.
Entregamo-nos tão facilmente aos estereótipos que nem os percebemos mais. Quem faz Direito deve falar um português impecável, andar bem vestido e de nariz empinado. Quem faz jornalismo, publicidade e propaganda, DEVE ir pra facu de all star ou havaianas. E quando alguem subverte essa lei, é quase expulso para o campos com o qual seu estilo se assemelha. E o professor que não se veste de acordo não tem o respeito dos alunos, se é novo demais tem que dar um duro danado pra conseguir confiança. E tudo na vida é assim: baseado no preconceito. Pré-conceito, o conceito que fazemos baseado em assuntos prévios, generalizações ou na nossa cabeça futurista, jamais na ciência e na racionalidade.
É ridículo, mas é verdade. Nesse mundo nosso em que tudo é convenção, que tudo é criado e imposto, a alteridade sai de moda e dá lugar ao preconceito. Impomos a nós mesmos regras que no fundo não queremos obedecer, coisas das quais na verdade não gostamos ou simplesmente nunca paramos pra pensar e fazer uma verdadeira análise. E é assim que acontece. Aos olhos dos homossexuais, os hetero são aberrações.

12 comentários:

Plínio Lopes. 5 de outubro de 2009 às 11:06  

Já diria um desses autores que todo mundo sabe mas quase nínguem leu: "ser ou não ser,eis a questão."


excelente texto,parabéns mesmo,eu mesmo poderia ter escrito essas palavras,penso exatamente as mesmas coisas sempre.

filmes que vão de acordo ao seu texto:

Clube da luta

Trainspotting

Diários de Motocicleta

Encontros e desencontros.

Yuri Montanini 5 de outubro de 2009 às 15:22  

Parabéns, Bella. Apesar de eu usar All Star e Havaianas, concordo com você. Acho massa uma guria que fala 'porra, vai tomar no cu com essa prova!'. Não precisa ser vulgar, mas uns palavrões e uma companheira pra tomar chá de cevada é muito bom. Acho que não vou casar tão cedo por isso.

Yuri Montanini 5 de outubro de 2009 às 15:24  

Ah, e juro que quando li que o texto era seu me surpreendi. Jurei que era do Plínio. Tem a cara dele. Ou seja, é um ótimo texto. Vocês escrevem pra caralho.

Yuri Montanini 5 de outubro de 2009 às 15:33  

Nossa, eu poderia ter falado tudo num comentário só, né? Mas é que eu li seu texto de novo e concordo com mais algumas coisas. Sou goiano, gosto de rock e percebo isso mesmo. Os que gostam do mesmo estilo musical que eu falam: 'Odeio rock'. Existe alguma voz mais afinada que a do Ralf, da dupla Chrystian e Ralf? Ou alguém melhor que o Paulino (companheiro do Di Paullo) na viola? Sempre ouço esses. Hein, sério, você é foda.

Yuri Montanini 5 de outubro de 2009 às 15:39  

Puta que pariu, era pra sair 'odeio sertanejo'.

isalemes 5 de outubro de 2009 às 20:32  

Yuri, vc é o mais engraçado d todos. Mas obrigada vcs dois... Não imaginei q tivesse ficado realmente bom o texto!

ms é q eu falo palavrao... e é duro o preconceito!
hehehhe

bjão e valeu plinio pelas dicas d filmes!!!

isalemes 5 de outubro de 2009 às 20:40  

ahhh e eu tb uso havaianas e all star e sempre me dizem q eu to no campus errado!

Yuri Montanini 5 de outubro de 2009 às 21:31  

Que isso, nem de longe sou engraçado. ;*

Plínio Lopes. 5 de outubro de 2009 às 21:33  

tô indo lá fazer direito pra chocar a burguesia também.

Lais 6 de outubro de 2009 às 00:02  

Numa boa sempre me senti um passarinho fora do ninho no Bloco A.
Esse texto me fez refletir profundamente...
AMEI.
=]

Chris 7 de outubro de 2009 às 17:06  

Muito bom o blog! ótimos textos! Parabéns aos autores!

isalemes 7 de outubro de 2009 às 19:27  

dois comentários que não pertencem aos responsáveis pelo blog!!! estamos evoluindo!!!!

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