quarta-feira, 3 de março de 2010

As cartas que eu também não mando

Estava pensando desde a semana passada e por coincidência pessoas pensaram como eu: escrever cartas é uma ótima forma de dizer o que quer sem ser censurado. Pois bem... nas próximas (não sei quantas) postagens irei escrever cartas com destinatário certo e conhecido, porem nem sempre declarado. Tentarei me lembrar que disse tudo isso nas próximas postagens.
"Meu caro ex-futuro-grande amigo,
Te escrevo essa carta, que não é de amor, para poder assim lhe dizer um pouco das minhas verdades, duras palavras, para não me dizer depois que é dado a sonhos, que é um dado em minhas mãos e me perguntar até quando eu vou ficar fazendo o que quero com você, e o que mais um poeta louco, louco do que quer que seja, que conversa com putas, outros loucos, outros poetas e tantos feios, que ao se julgarem filósofos torturam-se com seus próprios devaneios, possa dizer.
Pois bem, te digo, meu ex-futuro amigo, que você foi quem estragou tudo. Descobri, sim, através de sábios informantes dessa terra louca, tão louca quanto você, que você me escrevia cartas de amor. Sim, sim... me avisaram inclusive, o conteúdo dessas cartas, tão previsíveis quanto quaisquer outras, já que se trata de amor e o amor nada mais é que um dicionário bem escrito de clichês... Essas meias-verdades repetidas de forma tão incessante que acabam tornando-se poemas decorados e repetidos nas vozes desses tantos portugueses, árabes, feios, sapos e príncipes.
O amor, meu caro, não se resume a poemas decorados e nem mesmo escritos de próprio punho, não se resume a ligações feitas de madrugada do orelhão ou do telefone de um bar que cheira a cigarro e vinho barato, a cartas escritas ou coladas ditas de amor. Por isso mesmo um dia disse que sentia falta de cartas de amor... O amor mais puro, digno e santo é o que se vive calado e não o que se grita aos quatro cantos. O amor não é noticiado, deve ser por isso que você grita. E deve ser disso que eu sentia falta: do que nem mesmo existe. Às vezes a gente se cansa tanto da vida que sente falta de não vivê-la, de ter algo que não tem, de ter algo que não é real.
Foi por isso que um dia eu busquei algo tão próximo de você. Mas ao ver o falso-amor de um poeta e o drama que ele falsamente sente, percebi como é lindo o amor e como é lindo ter amor. Descobri como a vida real pode ser gratificante. Mas não querendo perder algo que julguei já ser meu, quis te trazer à realidade, um amigo. Amigos jamais bastam, e é sempre bom ter mais um. Era só isso que eu queria, ter um amigo. Mas você não veio quando te chamei, por estar longe demais das capitais, por estar fazendo pose e por gostar tanto de andar só. Você preferiu ficar submerso em devaneios, fumando cigarros baratos e conversando com seres mágicos sob a luz de 1001 estrelas, que não quis ser meu amigo. Continuou então escrevendo falsas cartas de amor por também sentir falta de algo que não existia. Começou a sonhar com uma loira linda de óculos que não é linda, apesar de loira e que os óculos só existiam para compor um personagem.
Infelizmente, meu caro ex-futuro-amigo, eu não consegui trazer você. Infelizmente você talvez nem exista e quem esteja delirando ao lado de seres mágicos seja eu, que me ache uma princesa que já encontrou um príncipe. Ou talvez você não considere que no meu castelo não tenha lugar para mais um. Te digo que para amigos, sempre há lugar e que você pode trazer todos que viviam na montanha mágica com você. Eu, por amor a causas perdidas, sempre tenho esperança, todo mundo erra, e é normal entender tudo do jeito que quer e não do jeito que é. Por isso que as vezes dizem que é melhor sonhar que viver, que a realidade não é tão linda como a que vemos em sonhos. Mas se você quiser uma segunda chance de viver a realidade, te busco no meu navio fantasma e tomamos uma cerveja junto com um príncipe, com velhos loucos, com um português, um árabe, e algumas criaturas mitológicas que ando hospedando em minha casa.
Vamos todos juntos, porque ninguém pode faltar.
Com grande apreço,
Loira."

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