terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Miguel












Mais um dia começa na vida de Miguel. Miguel aqui, Miguel lá. Ele está em todo lugar. Ao sair da cama pela manhã e se olhar no espelho do banheiro, Miguel ainda não está bem acordado, na verdade ele continua acanhado. Só no caminho de casa rumo à faculdade que Miguel começa a despertar. Quando está fumando e tomando o primeiro cafezinho com os colegas, Miguel finalmente se manifesta. Com o olhar em direção ao nada ele conta sobre a caçada do fim de semana. Aquela que sempre dá frutos (pelo menos para ele). Miguel demonstra muito orgulho, acaba nem se preocupando com as caras incrédulas de seus amigos. Na verdade, isso o deixa mais que satisfeito, pois acredita que eles estão só espantados.


Depois, mais tarde, estão Miguel e seus amigos na sala de aula, muito interessados na palestra sobre os efeitos maléficos que o cigarro causa às pessoas que o consomem. Eventualmente sentem a necessidade de dar uma pausa para fumar. Miguel, estranhamente, dessa vez preferiu ficar em sala ouvindo a palestra inteira. Ao terminarem de fumar e comentar sobre instrumentos musicais e suas versatilidades melodiosas, os amigos de Miguel voltam à sala.


Eles chegam justamente no momento dos questionamentos. Miguel, que até então estava calado, se manifesta: “Bom, eu acho bem interessante quando você (palestrante) diz que o cigarro causa câncer de pulmão, porque câncer é muito ruim e sem pulmão agente não consegue respirar! Também é muito interessante falar que ele mata! Concordo que pessoas que fumam não prejudicam só a si mesmas, como todos à sua volta. Fico muito irritado, diria até perturbado quando fumam perto de mim, porque eu odeio cigarro, nunca fumei na minha vida!”. Quando Miguel termina, o palestrante continua seu discurso de forma bem indiferente, mas Miguel não se importa, acredita que já conseguiu seu conceito A. Miguel se vira para um de seus colegas e fala: “Me arranja um cigarro, não agüento mais essa aula.”. Pega o cigarro e sai da sala.



Miguel odeia sua jornada de trabalho. Todas as tardes ele fica preso em seu escritório lembrando-se de Descartes. Trabalhando sua alma racional. Mais a noite, Miguel se encontra novamente com seus amigos de faculdade. Alguns deles estão com suas namoradas, outros com seus maços de cigarros e trocadilhos baratos. Miguel parece desconfortável. Estranhamente, nenhuma de suas estórias ele conta mais, pelo menos não da forma como queria, parece aflito, inseguro. Parece que Miguel prefere a companhia de um maço de cigarros. Parece que Miguel só pode ser Miguel longe do cozumel.

2 comentários:

Yuri Montanini 16 de fevereiro de 2010 às 12:15  

Ficou batuta. Não sei por que, me lembrei de membros da resenha.

Plínio Lopes. 16 de fevereiro de 2010 às 14:28  

muito bom o texto mesmo,

como já te disse inicialmente pensei que era sobre você, depois sobre mim.


mas ainda preferia que o título fosse hipocrisia programada.


hahauhaa


parabéns

:*

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