sábado, 27 de fevereiro de 2010

Correio Mágico


Existia então longe longe lá no alto, uma terra encantada. E nessa terra encantada tinha alguns loucos. Filósofos, amantes, burgueses, fumantes, bêbados ou nenhum dos dois. Deveriam estar na faculdade estudando as leis da existência miserável dos encantos da magia de seus tempos. Mas andavam em uma carruagem preta por aí conversando com os mendigos, as putas e os feios. Filosofia de todas as ordens, seitas grupos ou clãs. Viviam em busca nas tribos indígenas da região de princesas. Algumas tinham príncipes, outras tinham sapos.
Um dia estavam em uma taberna, tomando um caldo de cana com os mais sortidos colegas da vida. Tinham curupira, mula-sem-cabeça parada na porta e uma velhinha poeta sentada na porta vendendo alguns doces. Pagaram a conta do caldo de cana da taberna e veio uma nota velha, suja. Nela tava escrito assim:

“Olá. Vocês podem não acreditar em mim, mas sou uma princesa. Talvez você não saiba ler mas escrevo isso porque gosto de pensar que você possa ser um filósofo. Talvez seja só um mágico de truques ridículos que sabe fingir que possa escrever. Mas queria te contar. Me sinto entediada sabe, sinto falta das cartinhas de amor, dos anos que passam e fico ocupada demais pra sentir os anos que virão. Sinto tanto que nem sei o que sinto mais.”

E um dos filósofos membros da carruagem preta perguntou pro português do balcão de quem era essa nota. E ele disse que essa era um nota especial que havia sido deixada lá há alguns anos atrás e nunca havia sido dada. Ele não sabia porque guardou ela todos esses anos. Talvez fosse a simpatia pela camisa verde, talvez não. Disse que era uma princesa linda, linda mesmo, loira, de óculos, que morava lá pras bandas do imortal. Bastava ir reto, virar a direita na segunda curva, contar 1001 estrelas e pronto. Você chegava.

O italiano falou que tinha que ir pra casa tomar um vinho com sua velha senhora.

O árabe falou que aquela deveria ser mais uma princesa comum e preferia fumar seu cigarro.

O nobre perguntou para o português, não o do balcão, o que pegara a nota, se mais uma vez ele ia se apaixonar por cinco minutos.

E ele apenas ficou em silêncio e bebeu sua última taça de vinho.

Saíram, vários dias depois, muita coisa se passou. Algumas batalhazinhas idiotas foram travadas pelas coisas simples da vida ridícula. Um ano se passou e eles ainda estavam sentados tomando vinho e filosofando na mesa daquela taberna mitológica.

Então um dia desses num desses encontros casuais ridículos e banais com as estrelas e algumas incertezas de quem finge que sente, 1001 estrelas na direção contrária ele resolveu escrever. Apagou a vela e escreveu somente com a luz das estrelas do céu.


Querida princesa linda e loira das bandas do imortal,

Não passei do primeiro ano do curso de magia e não sei se isso vai funcionar. Sabe como é , nessa terra encantada feudal tupiniquim, em que tudo é uma bagunça pode ser que funcione. Sei que não te conheço e sei que pode soar ridículo ousar te escrever uma carta. Sei que nunca realmente te vi e você não passa de uns versos soltos que o jornalismo mágico me trouxe. Sei que a realidade não é tão divertida ou agradável aos olhos de quem lê como a ficção mágica. Sei que nossa terra não é média e que daqui dois anos podemos nos encontrar na mesa de um supermercado e sequer nos cumprimentarmos e eu simplesmente não lembrarei que te escrevi uma carta de amor.
Mas sabe como é, acho um absurdo uma princesa sentir falta das cartas de amor. Aonde esse mundo vai parar? Tem uns músicos putos aqui na porta e pedi pra eles tocarem Legião que é pra eu ficar inspirado pra escrever melhor pra você. Até que estão tocando bem em troca de alguns potes de mel.
Infantil isso tudo, eu sei. Assim como minhas palavras e a idéia de me achar no direito de pensar em você. Sim sou infantil, louco e ridículo. Mas nasci sabendo fingir que sentia. Sabe como é, aquele velho lance da maldição de ser um clichê.

Dizem que nossa geração não tem ideologias. Eu não tenho e nunca tive. Sei que no momento sinceramente não sinto um pouco de vergonha nem de ousadia extrema , apenas estou a cargo das palavras que saem de mim. Mas no momento minha única ideologia é escrever uma cartinha besta qualquer pra você ler com seus olhos por trás das lentes. Não há taça de vinho, prostíbulo, taberna ou arquibancada pulsante que me agrade mais do que a idéia de ser um sapo.

Para que você não precisa dormir sem ler seu Jornhaw. Um dia ainda pego um tapete mágico e viajo mil e uma estrelas pra ver essa princesa linda e loira, de óculos, numa terra encantada de indígenas, indigentes, criaturas mitológicas e realmente infelizmente não tão interessantes assim. Um dia, loira. Mas sabe como é, talvez não seja tão legal quanto te escrever umas cartas de amor, dessas que nunca vou mandar.

Acendeu a vela novamente, queimou a carta, a fumaça subiu rumo as estrelas e ele só esperou que um dia a carta chegasse ao destino solicitado.

5 comentários:

Yuri Montanini 27 de fevereiro de 2010 às 16:27  

Sabe aquele jogador novinho que você contrata na Master Liga, o cara já é fera e só vai evoluindo? Pois é. Contratei um aqui. O nome dele é Plínio Lopes.

;*

Jéssica Neves 28 de fevereiro de 2010 às 14:40  

como sempre encantador e poético :)

Rafael Rabelo 1 de março de 2010 às 19:47  

Tenho certeza de quem é o "italiano", quase certeza de quem é o "árabe" e suponho quem seja o "português, não o do balcão"...

isalemes 3 de março de 2010 às 19:45  

vou começar também a escrever cartas que nunca vou mandar... é uma ótima forma de cutucar uma pessoa. Taí, gostei!

Jose Pereira 19 de junho de 2010 às 22:35  

algum dos doutores deste blog sabe o que é um Mapinguari????

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