terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Nostalgia:


Quando pequeno eu achava que isso era nome de remédio. Sei lá, alguma Novalgina querendo ser chic ou algum medicamento contra alergia. E eu cresci e aprendi que nostalgia às vezes pode ser remédio contra dor no peito. Como a de agora.

Sinto saudades de beber Fanta nos copos grandes da casa da minha avó. Comer frango no prato de plástico e depois do almoço matar meia fôrma de pudim. Forma, que seja. Eu ainda posso fazer tudo isso, mas não é mais a mesma coisa. Até o cheiro é diferente. Acho que o amor me torna chato.

Sinto saudades do meu 'vôdrasto', que bateu as botas em 2005. Corinthiano doente, me lembro da última vez que nos falamos antes dele fazer a passagem: 'Você ainda tem dúvidas de que o Corinthians vai ser campeão esse ano?' Foi o que ele me disse, num domingo, segunda quinzena de agosto. Na terça ele morreu. E eu sei que de alguma maneira, mexeu uns pauzinhos lá do céu e fez com que o STJD fizesse o Corinthians campeão.

Sinto saudades de cavar buracos na terra vermelha e jogar biloca. Desenhar no chão usando um tijolo, um círculo pra jogar pião. Passo numa rua estreita e vejo uns guris jogando golzinho usando os chinelos como traves. Foi alta. Quem chuta busca. Voltar pra casa sem o tampão do dedo, que minha irmã insiste em chamar de capotinho. Saudade de betar uma bola daquelas que vem quicando e fechar o jogo numa betada só.

Saudade de dar pezinho pro Cirú pular um muro aleatório e buscar a bola que o vizinho se recusou a devolver. Saudade dos intermináveis campeonatos de futebol de botão com o Pedro Victor. Ou dos gols perdidos pelo Fezes ou pelo Zé Paulo. Acendo um Hilton longo e me recordo da amiga do Gordinho falando que era 'cigarro de coroa louco'. Acho que envelheci mesmo. Dez anos ou mais, nesse último mês.

Sinto saudades como se fossem coisas de 20, 30 anos atrás. E dói, sabe? Sim, eu sei que sabe. Vou tomar uma colher de nostalgia. Mas, sabe o que é pior? Essa saudade que eu sinto de tudo que eu ainda não vi. Essa dói demais. E tenho medo de nem chegar a ver. Durma, medo meu. Eu perdi meu medo da chuva, meu medo de avião. Só não perco meu medo de perder meus amores e minhas nostalgias. Queria ser como nas bandas do imortal. Preciso de xarope, preciso de você.

6 comentários:

Plínio Lopes. 9 de fevereiro de 2010 às 15:26  

arrepiante : )

Leandro Gel 9 de fevereiro de 2010 às 19:44  

Bom texto!

Isabella Lemes 9 de fevereiro de 2010 às 20:42  

arrepiante [2]

Rafael Rabelo 10 de fevereiro de 2010 às 00:37  

Não me lembro de todos, mais na minha opinião esse foi o seu melhor texto no ano! Nostalgia realmente é um ótimo remédio. Acho que todos nós tentamos imaginar o passado e buscar as lembranças do futuro... é isso aê! ;)

Jéssica Neves 10 de fevereiro de 2010 às 09:56  

poético e arrepiante x)

Anônimo 19 de fevereiro de 2010 às 14:15  

Não sei se seria tão legal assim ser como bandas imortais. Imagina você velhaco, quase só pele e osso, olhos fundos, cantando com a voz rouca de cigarro e whisky, lembrande de tudo que lhe passou e - o que é pior - sem nenhuma perspectiva do que virá depois (porque você já está velho demais para fazer qualquer coisa...).

Hm. Talvez viver demais também fuja da linha de destino lá em cima e termine por desorganizar tudo de uma vez e aí todo mundo morre com uma explosão...

:)

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