quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Quatro caras




Cólica menstrual. No meio da madrugada. Dor filha da puta. Me levanto da cama e vou ao banheiro. Curiosamente, chego no banheiro e a dor passa. Odeio ser mulher. Paro de frente o espelho. Sempre fui muito boa em fazer caretas. Realmente boa. Fiz teatro por quatro anos. Só tinha bicha naquela porra. E agora só consigo fazer quatro caras diferentes.

Volto pro quarto e vejo um vulto. Foda-se. Ele que deveria ter medo de mim. No meio do medo, os fantasmas passeiam, arrastam correntes. Zumbis, lobisomens. Morte, num calafrio que sobe dos pés a cabeça. A televisão está ligada, e eu juro que não estava. Tenho medo de tudo que vejo e aparece na televisão. Faço uma prece cósmica pra que Deus me tire do lugar onde ontem, hoje e amanhã são a mesma coisa. Sim, eu acredito em Deus.

Eu queria saber escrever com as metáforas que Chico Buarque usava pra escapar da censura. A cólica volta. Caralho! Pego uma garrafa de rum e me sento no sanitário. Tomo um gole, faço uma das quatro caras: A de angústia. Angústia por não estar aqui e por eu não saber se vai voltar. Pelo menos amanhã tem sol.

Dou outra golada e visto a segunda cara, a de medo. Medo de você não voltar. É quase igual a cara de angústia. Medo de nunca mais te ver e nunca mais colocar minha mão no seu zíper. Medo. Pelo menos amanhã tem sol. Ou não.

Mais um gole e grito 'foda-se!'. Acordei a vizinhança inteira. 'Foda-se!'. Me maqueio com a terceira cara, a de dor. A dor física, a dor no peito que nem nostalgia cura. A dor por não segurar sua mão no avião e não enxugar meu rosto na sua camisa xadrez. A dor de não poder dormir com tua língua em meu mamilo, a dor da escolha. A dor. Foda-se o sol de amanhã.

Viro o restante da garrafa. Vovó queria que eu fosse médica, sabe? Pra ela dizer 'que orgulho'. Mas não. Sou uma desgraça mesmo. A quarta cara, a mais frequente, a de sofrimento. Pela ação do tempo, pelo desprezo. Pela desilusão. Acho que estou bêbada.

Acordo com o telefone tocando. Não consigo ver na tela quem é. 'Alô?' O silêncio do outro lado da linha é ensurdecedor e me joga aqui de cima. Vou me atirar daqui do alto e que me atirem no peito. No esquerdo, que é maior e é onde fica o coração. Volto a dormir. No chão. Mais um porre.

Meus ossos doem. Olho no relógio e puta que pariu!, são três da tarde! Acho que fiquei cega e não vi a luz do céu ou o azul do sol. Ou o contrário. Mas me sinto bem. O álcool ajudou. Pelo menos por algumas horas. Minha intuição feminina não me engana, você faz ser tão Copacabana... E o inferno virar fim de semana. E sim, quando ligar com a voz rouca de tanto fumar e perguntar se vou te esquecer, vou dizer que sim.




Mas só quando eu parar de respirar.

3 comentários:

Plínio Lopes. 11 de fevereiro de 2010 às 00:30  

it´s only rock and roll,


but i like it

Jéssica Neves 11 de fevereiro de 2010 às 13:28  

Eu adorei kkk

Anônimo 19 de fevereiro de 2010 às 14:06  

Você realmente gosta do Teatro Mágico e prefer o album velho do Móveis ao novo?

É. Eu também.

Mas fora a parte do Teatro Mágico...


:)

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