sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

4 cantos, 4 paredes [ in- felizes ]


Caralho, que ressaca.


Minha cabeça parece ser umas quatro vezes do tamanho que ela é dentro do tamanho real que ela tem. Meus dedos tão cheirando cigarro. Tem cerveja espalhada pelo quarto inteiro. Me levanto da cama, parece que estou pisando em ovos que vão me espancar de quebrá-los. Olho pra minha cama, não me lembro direito do cara que tá dormindo lá. Acho que ele é um motorista de caminhão, acho não, era isso mesmo. Tava no mesmo bar que eu. Duas palavras sobre futebol, sobre ser brasileira e morar na Itália e já estávamos na cama. O cara é gordo feio e ronca demais. Acho que vou lá mandar ele vazar. Bora meu, vamo pegar descendo aí que o puteiro fechou. A caridade brasileira já atingiu a cota. Ele olha com aquela cara tipicamente italiana de discordância geral, sobre um penâlti não marcado ou nesse caso, ser despejado. Não entende porra nenhuma que eu falei mas acaba saindo meio com as calças na mão. Escroto.

Olho pro canal, penso. Logo, desisto. Quando terminei a faculdade queria vir pra Europa dar um rumo nessa vida, ter uma experiência bacana. Mas é difícil esquecer os mortos. Ligo o som, alto. Metallica, Enter Sandman. Tá pouco, aumento o volume. Que lixo. Muito prazer, Melissa Pelisaro. Tem 6 anos que eu to falando que ia parar de fumar. Pensei que agora com 27 anos estaria apresentando na SporTv.
Mas cá estou eu, fumante, na europa, trabalhando fora da minha área, trepando um velho bêbado qualquer. Algumas tatuagens a mais e fé de menos.



Não levo fé nenhuma em nada. Não consigo acreditar que são por amor as causas perdidas. Não consigo acreditar que aquele cara bonito que ficou comigo na outra cidade realmente gostou de mim como disse ter gostado, ou que a stripper que dançou no meu colo 5 meses atrás realmente queria me beijar. Não levo fé nenhuma no amor, em nada. Minha existência é desprovida de qualquer tipo de crença. Sou, vou indo. Vazia, Vazia.

São variações sobre o mesmo tema. A minha existência desprovida de paixão e crenças. Todos os amigos que fiz, os amores, larguei para trás. Minha cidade, meu time, esse já não vejo há alguns anos. Minha profissão? Essa não passa de um post qualquer com um cigarro aceso enquanto um menino de 16 anos fica me encarando pela janela. Minha maldição é não ser nada. Enquanto isso, vivo. Intensamente talvez, enquanto a ressaca não chegar.

Milão, Roma, Turim. Berlim, Frankfurt, Londres, Lisboa, Porto. E continuo tão perdida quando estava na porta da escola ouvindo Avril Lavigne e chocando os garotinhos. Será que vale mesmo a pena ir tão longe? Com tantas filosofias, crenças e religiões? Hoje vejo que tudo isso que fiz, toda essa viagem me fez sacrificar minha vida. Não consigo olhar para trás, sentar na arquibancada do serra ou voltar tudo ao normal. Não consigo mais ouvir Avril Lavigne. Os livros, os mistérios, as conquistas e as revoltas da juventude me levaram a um caminho sem volta. Me expus a expressões da mais aguçada sensibilidade artística, em busca da felicidade, em vão, acabei elevando minha consciência. E hoje procuro a felicidade nas coisas simples da vida, como trepar um caminhoneiro bêbado fedido em um bar de periferia. Procuro em vão.

1 comentários:

Yuri Montanini 22 de janeiro de 2010 às 14:49  

'Enquanto isso, vivo. Intensamente talvez, enquanto a ressaca não chegar.'

É isso. Pode não dar tempo da ressaca chegar.

'Você não sabe o que eu sinto
Você não sabe quem eu sou
A gente entrou num labirinto
Eu dancei, você dançou
Agora é tarde, já não tem mais jeito
já não tem saída'

E continua sendo por amor às causas perdidas.

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