quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Meu amigo, o cinzeiro.




Olhem pra esse cinzeiro. Cada cigarro é uma música. Eu contei sete. O primeiro, Exagerado. Logo pela manhã, o melhor do dia. Tudo por conta de um sonho de amor. O melhor cigarro, o amor o melhor da vida. Ambos fazem mal a saúde. O cheiro paralisado em minhas narina. Marlboro Vermelho. Seu perfume. A sensação do seu beijo e o coração palpitante. Trago, amor da minha vida daqui a eternidade. Nossos destinos foram traçados na maternidade.

O segundo, Beethoven. Pra lembrar que eu te perdi e tudo ficou uma merda. Pro meu coração chorar. Sonata Claire de La Lune. O piano seco, tão seco quanto a minha casa vazia, as janelas fechadas, todos os móveis cobertos e as malas prontas no meu pé. A solidão de uma casa vazia, uma caixinha de fósforos de um motel qualquer e do outro lado, Beethoven, gênio cruel, sentimental e intenso me esfaqueia sem que eu tenha tempo de respirar com seu piano.

O terceiro, Negro Amor. Para lembrar que mais uma vez tudo passou. Mais uma vez fiz os melhores amigos da minha vida e eles foram embora. Mais uma vez namorei, me apaixonei e pensei que era amor. Mais uma vez pensei que o Goiás ia ser campeão de alguma coisa. Mais uma vez pensei que era talentoso, que era especial. Mais um cigarro no meio da noite enquanto os cães latem e o seu nome susurra suavemente na minha cabeça na lembrança que insiste em ficar. Te confudem com a de ontem, ou aquela daquele dia. Porque eu não conto para o mundo o tanto que eu te amei. Tenho medo que eles pensem que sou louco.

O quarto, Pink Floyd, Comfortably Numb. A boca seca, a vontade chorar. Olho para essa casa vazia, os móveis cobertos e hesito na minha decisão de ir embora. Talvez farei novos amigos infinitos enquanto dures e conheça novas garotas. Talvez eu encontre um sentido. Minha garganta dói e dentro de mim cada parte da minha existência pede por lágrimas. Mas não consigo chorar. Sou tão duro quanto o chão empoeirado do apartamento vazio em que estou prestes a abandonar. A música entra em meu peito, não encontra um coração e fica ecoando, ecoando, ecoando...


Esses dias conheci uma garota linda em um café perto do trabalho. Linda, loira de óculos. Disse que não dormia sem ler o seu JorHaw. E ela me perguntou porque meus textos eram tão tristes. Não respondi. Talvez agora ela esteja olhando pra mesma noite que eu, talvez em uma casa igualmente vazia mesmo que esteja lotada. Talvez não. Talvez seu amor seja tão falso quanto o sorriso do político do outdoor do outro lado da rua. Nunca mais confiarei em amor alguma.

Olho pra janela, vejo além dos outdoors. Por cima das caixas em que meus livros estão empacotados pego o maço vazio de Marlboro, pego o último. Jogo o maço amassado no chão. E respondo pra ela.

Escrevo tanto sobre amor, perco a conta dos meus dias, das minhas músicas e dos cigarros porque, pra ser sincero, minha amiga. Até mais.

5 comentários:

Unknown 13 de janeiro de 2010 às 01:38  

Você também escreve bem, blogeiro fumante x) :**

Yuri Montanini 13 de janeiro de 2010 às 10:30  

Determinados textos seus eu mesmo poderia ter escrito, tamanha a semelhança com as referências 'cigarro', 'músicas', 'janela', 'amor', 'sofrimento'. Sem contar as alusões de um a outro, de outro a um.

Mais uma vez, bom texto.

Bem que poderíamos lançar o livro dos 'Jornalistas do Hawaii'.

;*

Luís Valdívia 13 de janeiro de 2010 às 12:30  

Arrebentou, desse jeito o papai fica orgulhoso.

Plínio Lopes. 13 de janeiro de 2010 às 12:34  

Calma, a gente ainda lança monta´s.


;D

Rafael Rabelo 14 de janeiro de 2010 às 14:26  

A idéia do livro foi minha... ^^

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