terça-feira, 26 de janeiro de 2010

O bêbado e a equilibrista




Era uma vez um bêbado. Cigarro no canto da boca, roubado do pai. Sim, ele tinha família. Cigarro no canto da boca, barba por fazer e a camisa aberta, deixando aparecer o crucifixo que levava no peito. Uma pulseira preta trajando luto. Diz que tinha tatuagem no braço e dourado no dente, mas isso ninguém nunca viu.

Parava, sentava no viaduto e observava a lua, tal qual a moça do copo. Era sonho, era linda. Era a mulher mais linda que já pisou nessas terras, nessas noites do Brasil. Era mesmo como a lua. E o bêbado, sentindo uma dor pungente, tinha esperanças.

Era uma vez, na mesma vez, uma equilibrista. Cigarro no canto da boca, roubado da mãe. Cabelos curtos e escuros, unhas coloridas e uma sombrinha xadrez. Olhos tão brilhantes que poderiam matar. Diz que tinha uma cicatriz no rosto, mas isso não importava. Continuava sendo a mais linda que já pisara ali.

Observava o bêbado no viaduto, sentado, ainda. Era o sujeito mais doce que qualquer Clarisse tinha visto. A equilibrista, sabendo que em cada passo dessa linha, podia se machucar. Mas andava mesmo assim. Sentindo uma dor pungente, tinha esperanças.

O bêbado se acostumou com a angústia, a equilibrista com o trapezista. Ele achou que o amor nunca viria, e ela achava que vivia no amor. Mas descobriu no bêbado o amor de verdade. E o bêbado não suporta mais a angústia que antes era fiel.

'Quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração? E quem irá dizer que não existe razão?'


2 comentários:

Plínio Lopes. 27 de janeiro de 2010 às 00:58  

fantástico,

vc é grosso no calcio mas quando é pra escrever o tapa é diferenciadíssimo.

Gabriel Maia 27 de janeiro de 2010 às 01:23  

Melomania da boa!

  © Blogger template 'Perfection' by Ourblogtemplates.com 2008

Back to TOP