quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

O rei deposto

Cinqüenta e seis anos de vida. Uns trinta anos de tristeza, trinta e quatro de casado. Oito anos sem transar. Uma casa com três quartos, um casal de filhos, quatro netos. Dos filhos, só o mais velho casou, tem um casal. A outra tem dois filhos, machos, um de cada pai, mas ainda mora aqui. Três quartos e eu durmo no chão da sala, um é dos garotos, um fica a minha mulher e o outro aquela que eu chamava de minha princesinha. Dizem que os números não mentem, os meus dizem: “Potencial suicida!”

Prefiro ficar na oficina, ela é minha, motos e carros, dizem que sou bom nisso, nessa de consertar essas máquinas sobre rodas, mas não tenho o mesmo dom com as finanças, não sei cuidar das verdinhas, nunca juntei dinheiro. Não sou alcoólatra, não uso drogas, nunca fumei um maldito cigarro, não gasto com putas, não sei onde enfiei e enfio a merda do dinheiro. Ele apenas some, sai voando por aí, pula do meu bolso e corre, sei lá o que acontece, mas ele some. Porra! Cinqüenta e seis anos e durmo no chão da sala da casa que meus pais fizeram para mim quando eu tinha 21 anos. E é isso que eu tenho, uma casa que meus pais me deram e um Chevette 73.

Cinqüenta e seis anos... Decidi sair daqui, vou alugar um cômodo, lá perto da oficina mesmo. Estou pensando em começar a beber feito um louco, comer putas. Fumar não, aquela merda enjoa meu estômago só de ficar perto de quem está fumando. Meu Deus! Cadê minha vida, em que buraco a enfiei!? Que merda é essa!? Cinqüenta e seis anos e fui praticamente enxotado de casa. Meus filhos estão nem aí para mim, minha mulher me odeia e eu nem lembro mais qual é o cheiro de uma vulva molhada. A vida, essa é a minha. O único cheiro que eu lembro é de um motor lubrificado pelo óleo.

3 comentários:

Yuri Montanini 28 de janeiro de 2010 às 13:46  

Me lembrei da música Ouro de Tolo. E de Terra de Gigantes. Não muita coisa a ver, mas me lembrei.

Gostei. A infelicidade quando colocada num texto é fascinante.

;*

Plínio Lopes. 28 de janeiro de 2010 às 17:16  

' a infelicidade é tão fascinante '

Plínio Lopes. 28 de janeiro de 2010 às 18:00  

ah, também ia comentar e esqueci:

Viva bukowski.

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