segunda-feira, 29 de março de 2010

Por Armando Nogueira


Brincam que o Acre não existe. Alguns podem até acreditar, pois se conhece um acreano tão genial que é dificil de imaginar que ele realmente fazia parte do nosso mundo. Armando Nogueira era real, sua genialidade é real e vai permanecer para todo sempre nas palavras que esse grande, ético e épico jornalista brasileiro que nos deixou, depois de 83 anos de uma vida que inspira a todos os admiradores do jornalismo e do esporte.


Adeus, grande Armando!



Pelada de Subúrbio




Armando Nogueira





Nova Iguaçu, quatro horas da tarde, sábado de sol. Dois times suam a alma numa pelada barulhenta; o campo em que correm os dois times abre-se como um clarão de barro vermelho cercado por uma ponte velha, um matagal e uma chácara silenciosa, de muros altos.

A bola, das brancas, é nova e rola como um presente a encher o grande vazio de vidas tão humildes que, formalmente divididas, na verdade, juntam-se para conquistar a liberdade na abstração de uma vitória.

Um chute errado manda a bola, pelos ares, lá nos limites da chácara, de onde é devolvida, sem demora, por um arremesso misterioso. Alguns minutos mais tarde, outra vez a bola foi cair nos terrenos da chácara, de onde voltou lançada com as duas mãos por um velhinho com jeito de caseiro.

Na terceira, a bola ficou por lá; ou melhor, veio mas, cinco minutos depois, embaixo do braço de um homem gordo, cabeludo, vestido numa calça de pijama e nu da cintura para cima. Era o dono da chácara.

A rapaziada, meio assustada, ficou na defensiva, olhando: ele entrou, foi andando para o centro do campo, pôs a bola no chão e, quando os dois times ameaçavam agradecer, com palmas e risos, o gesto do vizinho generoso, o homem tirou da cintura um revólver e disparou seis tiros na bola.

No campo, invadido pela sombra da morte, só ficou a bola, murcha.


3 comentários:

Yuri Montanini 29 de março de 2010 às 15:14  

Lamentável. Descanse em paz, MESTRE!

Marco Antônio 29 de março de 2010 às 18:59  

muito lamentável. Um dos maiores gênios do jornalismo esportivo brasileiro. Descanse em paz. O mundo da bola está mais triste por você. Vá com Deus. Ou melhor, se encontrar com ele.

Rafael Rabelo 29 de março de 2010 às 20:51  

Poesia e Esporte! "Fazer mil gols como Pelé é fácil, difícil é fazer um gol como Pélé." Armando Nogueira

  © Blogger template 'Perfection' by Ourblogtemplates.com 2008

Back to TOP