quinta-feira, 4 de março de 2010

Não escrevo mais.


Quando comecei a escrever para o blog, no começo fiquei meio receoso de que as pessoas fossem incapazes de entender o que licença poética significa. Por isso eu sempre quis me mudar para um pedaço de terra no meio do mato, fumar um palheiro e viver de escrever. Sem a menina linda do caixa do supermercado, sem a ruiva mágica da faculdade ou sem desgostos de desportos. Quando eu era crianca tinha mania de chamar isso de olhos poéticos. Se você tem tudo é metáfora. Da borboleta clichê de uma tatuagem nas costas de uma guria, a do jardim ou o menino cego no estádio. Acho que sempre tive os ditos olhos poéticos.

Essa mania besta de ver metáforas a torto e a direita, mesmo que me esqueçam, me julguem boçal louco e normal, sempre me rendeu incidentes, por horas por vezes inconsequentemente desagradáveis. Mas não me importo. Já disse que essa é a maldição do poeta, anunciada pelo imortal [fingir que sente. ]. Sempre tive medo que me considerassem louco em demasia. Talvez poderia ser espancado, acabar sem amigos sentado no canto do pátio rabiscando um texto num bloco de notas. É, uma pena, porque apesar de a violência ser tão fascinante não acabei espancado, mas acabei rabiscando uma baboseira sentimental num bloco de notas no canto do pátio. Talvez se fosse espancado daria algum sentido a tanto drama perdido noir. Tava andando por aí numa dessas esquinas qualquer usando meus princípios medíocres poéticos sentimentais foto jornalistas e vi uma menina com cara de tédio. Pensei em escrever uma carta pra ela. A maldição do poeta é fingir que sente mas a maldição dos contemporâneos do poeta é achar que há algum sentimento que sobre para eles.

Talvez seja um fardo mais cruel do que carregar a poesia em si. Acho que vou fazer um curso pra ser respeitado pelos mais velhos , usar roupas normais e me misturar na multidão. E um dia na fila de uma boate qualquer, poderemos encontrar alguma garota especial, sentir saudade dos velhos tempos poéticos e talvez bata uma ponta de arrependimento por termos perdido todo o espírito sentimental. Então poderemos reviver esse sentimento e nos sentirmos clichês ao nos virarmos e dizer: " Não fui eu, não foi você. Que (m) matou a poesia... que matou a poesia...".

Penso, logo escrevo.

Querida loira e linda das bandas do imortal,

Já tem algum tempo que não te escrevo, desculpe ter te visto e não ter te cumprimentado. Ontem, ruiva na faculdade, antes de ontem, morena no ônibus ou pedindo carona na beira da estrada. Bem, te escrevo com motivos ingratos. Caímas na ingratidão do narcicismo popular. Caímos na rima pobre dos carnavais sem música, caímos nesse vício besta moderno de Rotular.

Ontem a noite uns dez mil anos atrás conheci uma guria. Pensei que era diferente das outras, pensei que poderia ser uma boa amiga, para a qual se mande cartas de amor. Veja bem Loira, O amor nessa ótica moderna, apenas mais um produto que está nas prateleiras, quanto tempo tem ( ? ) eu já não sei. Mais um tema a se combinar como futebol e amigos ou mesmo, futebol e amigos. De todas pensei que ela era diferente, capaz de ler minhas metáforas hipócritas e noir. Não quero ser professor de metáforas e licença poética porque isso seria tema para umas três encarnações pra trás. Serei um cara normal que leva uma vida pequena burguesa dessa que se encaixa num enlatado social qualquer.

Infelizmente, olhos póeticos, sensações abstratas e ilusórias se fazem necessárias. Talvez em lugar algum. As mentiras da arte são tantas, são plantas artificiais. Mas se as flores de plástico não morrem... Artifícios que usamos para sermos ou parecermos mais reais. Por essas, e outras, Loira, que digo, não escrevo mais.

Ciao.

3 comentários:

Isabella Lemes 4 de março de 2010 às 22:18  

Mesmo assim, continuo sendo sua fã. E o convite para a cerveja ainda está de pé... antes da meia noite

Jéssica Neves 5 de março de 2010 às 01:13  

vai fazer falta, se você parar de escrever. Grande texto.. como você mesmo disse, combina com o meu. kkk :)

Jéssica Neves 5 de março de 2010 às 01:28  

Pois eu adorava as cartas a Loira. As mentiras das palavras ou até as metáforas que por tantas vezes se esbarram num clichê, falam de amor que duram segundos, as vezes muito maior que amores que duram vidas :)
E por fim, que viva a boemia! kkkk

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