quarta-feira, 31 de março de 2010

Entrevista com uma Jukebox

Resolvi fazer uma entrevista dessas diferentes. Tava cansado dessas palavras de sempre. Cansado de escrever . Cansado dessas palavras banais. Resolvi ir além, já que estamos longe demais das capitais, além dos outdoors e da arquitetura metafísica das catedrais. Nada de Bandeira, Bauhaus, Caetano ou qualquer curta metragem. Resolvi entrevistar uma jukebox.
O local, esse a licença poética define. Pode ser um café desses de um filme ianque aonde pilotos de caça tomam cerveja com seus óculos Ray Ban. Pode ser uma casa das paredes descascadas aonde o bando de peão vai gastar seu dinheiro com suas senhoras. Pode ser uma catedral urbana com conexão wi-fi longe demais das capitais. Pode ser você.
Isso tudo, em Goiânia Alegre.
Comecei perguntando daonde ela veio. Suas luzes já não são tão modernas e infelizmente tem que carregar músicas que já não prestam. Desembarcou em um Porto Velho qualquer, pensando que ia ser sempre nova, jovem. Hoje sabe que as mentiras da arte são tantas. São plantas artificiais. Sabe que seu conhecimento vale 2 reais, se resume a música do século 20 e nada mais. Assim como o sábio da efeologia de Malba Tahan, ela apenas sabe a história do mundo dos últimos cento e poucos anos que uma música, as vezes, deveras, comercial contou.
Pedi que ela me contasse então, como síntese de suas experiências um apanhado geral do perfil dos seus clientes. Algo como, me diga quem te toca por uma nota de dois reais que eu digo quem tu és.
Um garoto de 13 anos querendo saber o que era rock and roll, o óculos do John ou o olhar do Paul. Colocou os dois. Passeou pela necrofilia da arte, sessão completa. Experimentou algumas tendências suicidas com chantily. Ficou lá por 20 minutos que foram uma eternidade. Depois que a música parou, aprendeu a beber, deixou o cabelo crescer e decidiu trabalhar.
Um prostituta, com a maquiagem borrada denunciando suas lágrimas. Aquele cheiro característico de cigarro cerveja e sexo. Colocou um modão qualquer do interior do Brasil pra fazer sangrar um coração totalmente machucado. Fechou a porta e apagou as luzes pra nínguem ver que ela também chorava. Que esse papo de profissionalismo e falta de amor a camisa é coisa de jogador de futebol. Lembrou dos seus amores, que durassem um segundo ou um ano, suas camas, suas famílias. Lembrou, que uma vez a porta aberta e a luz acesa, era novamente uma prostituta.
Um louco de 20 anos vestindo seus trapos coloridos de sua paixão da cultura de uma massa. Que não tinha medo de nada, muito menos dos avisos de cigarro que avisam que fumar faz mal. Colocou umas músicas pra lembrar da menina mais linda de todos os tempos da última semana. Da menina mais linda de todos os tempos. Pra lembrar que cresceu e que não são meninas mais, são mulheres. Um rock qualquer pra lembrar todos as estradas mal ou não, asfaltadas. Seus buracos e os pedintes na beira da mesma. Pra lembrar das flores que crescem no asfalto. Pra lembrar da batida apaixonante da arquibancada de uma Serra Dourada que pulsa, a batida do seu coração. Uns loucos, aliás. 33, 40, 4, 5, 9, ou mais. Ou menos.
Um pai de família que queria a companhia daquela máquina capaz de tocar música. Pra fugir da rotina urbana. Essa máquina, a versão popular industrial de um velho cigano tocando violino em alguma capital européia, que seu milésimo avô ouviu e chorou, tomando um vinho do Porto. Hoje ele ouvia ali, sentado, lembrando que não fumava, não bebia. Que o seu outrora longíquo sonho da juventude de se aventurar por uma história em quadrinhos com sexo , pseudo ou não intelectualismo, bossa nova e rock and roll falhou. Ouvia aquela música pra se lembrar de como era medíocre e acabou se tornando o famigerado tijolo na parede que tanto temeu um dia quando ainda divagava fumando um palheiro. Divagava sobre a nossa existência. Hoje não tem tempo para divagar. Não fuma mais. Sua esposa não gosta do cheiro, não quer influenciar os filhos. Não tem tempo, está com a mente sempre cansada pra se dispor sobre questões metafísicas. Por dois minutos e uma nota nova de dez reais sacada de um caixa eletrônico conseguiu fugir. Por dois minutos.
Uma mulher, coloca uma música com ares de feminismo, pra se lembrar dos encontros e desencontros daquele que ela julgou ser o amor da sua vida.
Um rebelde, revoltado com a mediocridade da raça humana e como todas as nossas questões banais de uma geração sem ideologias se resume ao amor.
Um bêbado, com uma nota velha amassada. Um louco. Um pintor, um alquimista.
Todos passaram por essa máquina. Chorando suas lágrimas de um século emblemático e que a revolução se tornou um ícone pop de uma camiseta casual.
Depois de tantas almas, tantas vezes, simplesmente simples mentes, eu, um jornalista de 45 anos, com a barba branca por fazer e o cabelo despenteado me cansei de todo esse sentimento que nunca vai parar, desligo o gravador, me sento , pego uma nota e coloco uma música. Me lembro de todas as músicas que eu já toquei, que me encontraram, no elevador, no carro ou em um bar. Partindo de outros corações, sedentos por outras canções, que tinham em si o desgosto de outros lamentos. Penso, logo não consigo viver mais. Sou um homem velho, cheio de saudade. Sou apenas lembranças.

O mendigo de elogios

O mendigo acorda cedo na cidade. Respira a aurora e seu ar de continuação, não de recomeço. A angústia, aplacada pelo sono, já está lá, como uma criança puxando a camiseta do pai, chamando atenção. As noites, se dormidas, não são alívio, pois é como se parássemos de existir. Ao menos eram assim as noites do mendigo: curtas e sem sonhos.

E foi andando pela casa – sim, ele tinha um teto – e engoliu um pedaço de pão – pois pão não lhe faltava – e este desceu seco e amargo na garganta, lento, só de pirraça. Sentiu pena de si. Sentiu ódio ao dia. Foi para seu ponto.

Cada serviço, cada sorriso, cada trejeito, estendeu como quem estende a mão – gelada – à espera de quaisquer infames 10 centavos (falados): sua alma não custava muito caro. E o mendigo, quando com sorte, esticava o pescoço, levava três tapinhas leves na cabeça, ouvia um “bom garoto”. Abanava o rabinho, voltando pra casa ao fim do dia.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Por Armando Nogueira


Brincam que o Acre não existe. Alguns podem até acreditar, pois se conhece um acreano tão genial que é dificil de imaginar que ele realmente fazia parte do nosso mundo. Armando Nogueira era real, sua genialidade é real e vai permanecer para todo sempre nas palavras que esse grande, ético e épico jornalista brasileiro que nos deixou, depois de 83 anos de uma vida que inspira a todos os admiradores do jornalismo e do esporte.


Adeus, grande Armando!



Pelada de Subúrbio




Armando Nogueira





Nova Iguaçu, quatro horas da tarde, sábado de sol. Dois times suam a alma numa pelada barulhenta; o campo em que correm os dois times abre-se como um clarão de barro vermelho cercado por uma ponte velha, um matagal e uma chácara silenciosa, de muros altos.

A bola, das brancas, é nova e rola como um presente a encher o grande vazio de vidas tão humildes que, formalmente divididas, na verdade, juntam-se para conquistar a liberdade na abstração de uma vitória.

Um chute errado manda a bola, pelos ares, lá nos limites da chácara, de onde é devolvida, sem demora, por um arremesso misterioso. Alguns minutos mais tarde, outra vez a bola foi cair nos terrenos da chácara, de onde voltou lançada com as duas mãos por um velhinho com jeito de caseiro.

Na terceira, a bola ficou por lá; ou melhor, veio mas, cinco minutos depois, embaixo do braço de um homem gordo, cabeludo, vestido numa calça de pijama e nu da cintura para cima. Era o dono da chácara.

A rapaziada, meio assustada, ficou na defensiva, olhando: ele entrou, foi andando para o centro do campo, pôs a bola no chão e, quando os dois times ameaçavam agradecer, com palmas e risos, o gesto do vizinho generoso, o homem tirou da cintura um revólver e disparou seis tiros na bola.

No campo, invadido pela sombra da morte, só ficou a bola, murcha.


quinta-feira, 25 de março de 2010

Fragmento de uma biografia


“Quando dei por mim estava sentado no vaso sanitário e comendo uma maçã... Olha isso! É como transar com uma mulher em uma gaveta do IML, o início e o fim. É o mais poético que minha vida consegue ser, baby.” Escrevi em uma folha de papel higiênico e deixei por baixo da porta da casa dela.
No outro dia, na caixa do correio em um papel reciclado, ela mandou os seguintes versos de uma música do Zé Kéti:
“O poeta era eu/ Cujas rimas eram compostas/ Na esperança de que/ Tirasses essa máscara/ Que sempre me fez mal”

quarta-feira, 24 de março de 2010

Violoncelo e ela

Ela chorou ao som do violoncelo
Ao passar as mãos na superfície áspera da parede
Puramente por não confiar em seus pés
Por não confiar no chão frio e sórdido
Que fingia solidez

Somente uma lágrima
Contínua, longa e pesada
Molhando o vestido velho e negro
Refletindo a sombra rubra e o desespero
A língua apertada no céu da boca
Ao som do violoncelo

Olhou a lâmina, cética
Voltou-se à parede, cheiro de mofo
Sentiu o sangue grosso pressionar-lhe as veias
Ao som do violoncelo
E caiu de joelhos aos pés da vitrola
Liquefez-se, mórbida, num tom menor

Pelas barbas de Jacques Morelembaum!
Juntou os cacos, colou os ossos
Deu um tapa na agulha gasta, arranhando o LP
Vestiu-se de macaco e foi dançar a conga
Sete pássaros disseram: “Yippie-ho! Yippie-yey!
Você acaba de arruinar um belo texto.”

terça-feira, 23 de março de 2010

Queria,



Sabe aqueles caras que querem demais? Daquele tipo de cara que acha Engenheiros do Hawaii pós ¡Tchau Radar! uma porcaria pobre intelectualmente e não gosta de Pink Floyd? Pois é. Caras como eu. Hoje cedo meu pai me disse que sou um desses. Porque reclamei do pão de queijo. 'Nada pra você está bom.' É, deveras. Um chato.

Queria mesmo que as nuvens fossem de algodão. Queria que o povo tivesse voz ativa e mandasse no próprio destino. Queria que o acesso nunca fosse negado. Que a torta de maçã do McDonald's fosse maior. Que os bêbados e febris não engolissem a cachaça como forma de matar a fome. Que tatuagens pudessem ser tiradas sem dor. Que a faca, mesmo depois de muito usada, não perdesse o corte. E põe no samba!

Queria que luz, espaço e tempo fossem fáceis. Queria poder limpar a sujeira. Queria te levar pra ver o pôr do sol. Queria saber usar os porquês. Queria ser criativo. Queria não ser uma prostituta nicotinosa. Queria não viver no capitalismo e poder comer a torta de maçã. Queria que Alice estreasse logo. Queria que não existissem armas de brinquedo. Nem vice, Strauss, índios e risadas. Queria que a violência ficasse restrita aos gibis do Wolverine. Queria ser bom em Biologia.

Queria que ela me falasse uma frase legal pra colocar num texto chato. Queria saber colocar imagens legais em textos chatos. Queria não achar meus textos chatos. Queria não ser assim. Denso. Queria mudar minha cara embriagada no espelho do banheiro. Queria seu relógio Tag Heuer. Queria uma guitarra elétrica. Queria não ser tão vítima da loucura ou da paixão. Queria ter sido um pirata. Que Marlboro Light não tivesse cheiro de maconha, às vezes.

Queria um copo de café. Queria não ter o temperamento pouco agressivo. Queria não tomar o chimarrão. Queria que o Vila fosse grande, da imensidão dos meus melhores sonhos, dos meus maiores amores. Queria pegar o meu tênis e atravessar a cidade, ir atrás do meu melhor. Afinal, hoje é um dia quente. Queria que pessoas como Zeca Baleiro fossem eternas. Que Johnny Depp ganhasse um Oscar. Mas não. Melhor assim.

Lâmina na cara, tesoura no cabelo, desodorante manchando a camisa. Visto meu melhor rosto, meu melhor sorriso e o crucifixo no peito. Junto com você. O cigarro tá no bolso, a maldade no olhar. Queria parar de fumar. Queria gritar pelos cinco mil auto-falantes. Queria que ninguém saísse de casa, ninguém. Queria uma dança bem diferente. E queria que fosse pra sempre. Porque nem todo carnaval tem seu fim.

A barca encantada rumo as putas tupiniquins

Tava de bobeira, depois de um dia de trabalho. Resolvi pegar uma viagem dessas malucas. Bati meu ponto de cidadão respeitável de quatro mil cruzeiros por mês, dobrei a censura moral e coloquei no bolso. Sabe como é, uma vez por ano o trabalhador brasileiro tem direito a esse privilégio. Tinha meu amigo, o Boi. Esse não precisava chamar. Apesar de ser animal, era amigo dos mais fiéis. De raça nobre. Passamos na taberna do gaúcho, vimos uma loira linda de óculos ray ban fumar um cigarro de palha e depois fomos para uma praça aonde existia uma alegria que nunca existiu. Lá pegamos uma barca encantada com mais uns loucos nela.
Praonde vamos? Acho que dessa vez rolava de ir além do dergo. Descemos para os pampas de nossos cultuados hawaiianos, assistimos um jogo do Grêmio. Festa estranha com gente esquisita. Grêmio, Grêmio, Grêmio! Um estádio , vivo. Na saída um borracheiro nos pergunta: Quantas horas? Vimos umas putas loiras, tricolores ou não, vendendo sorrisos nas ruas, assim como as outras putas, de outras esquinas em outras canções. Talvez menos loiras. Uma delas me chamou pra dançar. A outra disse: Eu sou a loira das bandas do imortal. Vimos um general farrapo entrando num carro importado num condomínio fechado. Entre muros e grades.
Subimos para São Paulo. Novamente, putas, profissionais. Relações internacionais, poliglotas, pós e afins. Sorrisos na Paulista, no Ibirapuera e nos outdoors. Mas por trás desses sorrisos apenas o céu poluído conseguia ser mais nublado. Conheci um cara, terceiro divórcio, a esposa dele tá trepando com o entregador da pizza hut do alphaville, não consegue parar de fumar , com a barba branca por fazer e um terno da armani. Queria comprar a barca. Disse que vamos ficar famosos e que vai valer muito dinheiro. Vive disso,de ganhar dinheiro. Ganhou tanto que se esqueceu de viver. Mas me deu um sorriso com tanto amor que eu me senti o cara mais legal do mundo e um segundo depois tinha toda a angústia do mundo contraída em seus lábios. Puta de colarinho branco.
Vejo um prostituta sorrindo pra mim no shopping mais caro da cidade, vejo um puto sem amor sorrindo pra mim esbanjando simpatia seduzindo com sua beleza no horário nobre. O pior dia da vida daquele vendedor e ele precisa sorrir, ele precisa vender. O político que se candidata e nunca pensa no povo. Nunca na história desse país um político pensou primeiro no povo. Mas na televisão ele sorri e diz que te ama. E ainda tem uns ou outros que editam os takes da censura moral em que os anúncios avisam que se prostituir faz mal.


Enquanto isso, longe demais das capitais, no mundo real, na mesma esquina de outra canção, ouvindo Goiânia no walkman, uns garotos se perguntam: E aí, praonde Vamos?

E alguém sempre responde:

Pro puteiro.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Sentimento


Uma hora que se passa, é um minuto que atrasa. Vejo o tempo passar, e percebo nitidamente que tudo está mudando. É importante lembrar que nem tudo acaba-se facilmente, nem mesmo uma amizade, ou até mesmo o amor daqueles que você não acreditava. Como era boa aquela infância pura, honesta e clara. Tudo dentro dos conformes, tudo limpo e branco. Queria reviver esses momentos, fugir dessa tecnologia tão viciosa. Acho que posso me dedicar mais aqueles que me cercam, aqueles que me amam de verdade. As frases que agora escrevo tem um sentido menor de quando eu as falo. Eu queria me entender, pois agora já nem sei mais quem sou. Acho tudo tão estranho, todos me olham e entreolham-se em busca de respostas. Posso dar as respostas, juntamente farei perguntas. O meu maior sentimento hoje, é a vergonha. Compreensível. Para não dizer que eu não sei de nada, quero um tempo para pensar, sentir dentro do meu coração, batimentos, sentimentos. Quero só dizer que sinto muito, que isso irá marcar-me para sempre.
Só peço que me desculpem, estou muito arrependido.


Amor é tudo, ninguém vive sem.

domingo, 21 de março de 2010

Coldplay - "Parachutes"


Ultimamente eu ando deixando um pouquinho de lado meu (lindíssimo, magnânimo, fantástico, excepcional) Prog Rock em detrimento de uma musica mais Pop. Os lamentos do Tears for Fears estão cada vez mais freqüentes em meus ouvidos, e o som requintado do Keane já ganhou mais uma execução em meu iTunes. Estava há um tempo, também, querendo re-ouvir “Parachutes”, o primeirão do Colplay, e a impressão causada em mim foi mais uma vez tão boa que eu não resisti em escrever uma resenha dedicada a ele.

Não pode ser desse mundo uma sucessão tão grande de musicas excelentes, formando a mais sublime trilha sonora para um mergulho na escuridão – acabo de me arrepiar ao som da guitarra de “Everything’s Not Lost”, mas deixemos a última música para o final. O álbum me parece um orgasmo de 40 minutos de duração. E não me venham com esse papo de “A Rush of Blood to the Head” que, por mais que seja um álbum notável e extremamente inspirado em vários momentos, não chega aos pés de seu antecessor.

“Parachutes” abre os anos 2000 de uma maneira que nem os mais mirabolantes fogos de artifício nas mais belas praias do planeta puderam fazer, trazendo em sua simplicidade um charme irresistível. O que dizer da beleza melódica do disco? Temas completamente inovadores, dez músicas de uma sonoridade única, assim como dez impressões digitais únicas que só saem de um único par de mãos. O Coldplay não é subproduto de nada.

Subverterei hoje meu paradigma de análise faixa-a-faixa devido à (louvável) homogeneidade sonora do trabalho. Terão espaço apenas as músicas mais excepcionais do álbum – “Yellow” not included – o que poupará o leitor do tédio proporcionado por uma resenha de três páginas. Aliás, aqui vai uma dica: desligue o PC e corra à cópia de “Parachutes” mais próxima à sua casa.

Para o internauta mais obstinado, aqui vão os destaques do disco: após a banda se apresentar ao ouvinte com a ótima balada semi-SciFi “Don’t Panic”, surge o primeiro momento realmente genial do disco, “Shiver”, que tive a oportunidade de conhecer – mesmo que tardiamente – por meio do jogo de PS3 Guitar Hero. Igualmente fantástica, “Spies” nos delicia com sua atmosfera melancólica de cinema noir.

Por mais que eu tente, não consigo segurar o sorriso ao ouvir os primeiros acordes de “Sparks”, uma lindíssima balada basicamente acústica, possuindo o brilho que faltariam nas baladas do disco seguinte da banda. O grande e – pasmem – inspiradíssimo hit “Trouble” tem como protagonistas o bem trabalhado contrabaixo na melodia principal da canção e a slide guitar floydiana no refrão, além da sensacional melodia vocal.

Tão breve quanto um salto a queda livre, a faixa título do álbum termina tão bela e repentinamente quanto começa, dando lugar às hipnóticas e belíssimas guitarras de “High Speed”. “We Never Change” serve de passagem para o grand finale, a apoteótica “Everyting’s Not Lost”, certamente uma das melhores composições não apenas do Coldplay, mas de toda a cena pop da década. Após uma introdução singela feita ao piano e cantada pelo fantástico Chris Martin, Jon Buckland oferece, gratuitamente, o riff mais simples e genialmente encaixado de todo o álbum. A banda nem termina de dizer adeus e já estamos com saudades. Fazer o quê se o disco é bom, né...

Está bem claro que eu falhei em minha tentativa de produzir uma resenha um pouco mais sucinta, com apenas comentários pontuais em algumas das faixas. Não faz mal, uma vez que todos já conhecem a prolixidade crônica desse senhor imaginário chamado João Lemmos. O que realmente importa aqui é a preciosidade de “Parachutes” e seu grande globo giratório amarelo, que a mim parece mais uma medalha de ouro reluzindo no peito de um medalhista olímpico. Ou no peito de um disco. Ou sei lá. Adeus.

sábado, 20 de março de 2010

Frases sobrepostas


Eu achei, olhando por todos os lados enfim achei. Olhei por cima do muro e achei. Depois de tanta angústia e mal estar, la estava ele. Risonho porém muito arrependido. É de se entender, uma coisa dessas não se faz. Não foi igual aquela vez que ele chegou tarde em casa, apesar de fazer tudo errado, nós gostamos dele. Mas ainda sim, muito arrependido, mais do que precisa.


Quando eu abrir os olhos amanhã, vou estar no céu, cara a cara com Deus e lá vou pedir concelhos a ele, preciso da sua sabedoria, para compreender esse mundo sujo, sujo mundo.

Depois de vê-lo com o sorriso na cara, não me conformei, achei aquilo tudo um absurdo, não precisava disso.

Como pode, como pôde. Sai correndo sem olhar para traz e senti algo me puxar de volta para aquele lugar. Meu Deus, me ajude com isso, me dê a luz da força e me faça compreender se tudo é fonte de um caminho sem volta.

Lá estava ele, cara de bobo, arrependido, incompreendido. Se tudo fosse fácil, eu não seria assim. Eu não sou assim. Bem que poderia ser. Ou talvez não.

Ou talvez não.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Pro dia nascer feliz


De repente ele vomita no teclado. Um pedacinho de Platão mal digerido de ontem bem ali, no canto esquerdo. Um pedaço quase dissolvido de Nietzsche, difícil de perceber, mas ainda assim incompletamente dissolvido. Aquela cor de Nirvana e aquele cheiro inconfundível, potencialmente desagradável de Engenheiros do Hawaii. um vômito lindo. esteticamente agradável. assim. sem letras capitais. igual bukowski. sim. é a necrofilia da arte. Ô vomito mais lindo de todos os tempos da última semana, uma obra de arte.


Ri, uma risada despretensiosa. De quem não sabe que é diferente dos outros mortais.
Um único momento com uma garota assim valeria uma vida, pode acreditar.
Isso não é um exagero.
Vocês podem julgar, nunca entender. Falta genialidade para descrever sua beleza em poesia.
Anos atrás e hoje, a mesma opinião. A garota mais linda de todos os tempos. Ponto final.



psicodeliaconfusãotextualMÚSICAbarãovermelhorondôniaGOIÁSnonsensenecrofiliaartisticanoirouvindosampanowalkmanouvindopampanowalkmanparanamelhorviagemimperioalviverdegeralbandaloucadageralbandasdoimortalnegraloiraRUIVAfaculdadecigarrospinkfloydsemrogerwatersPAULOBAIERespetinhodotomconfusoesideologicasloosermanospostoresenhaBARCAforçajovemcopadedoismilequatorzequalquermacumbapraturistamasafinaloqueérockandroll,



O óculos do John ou o olhar do Paul?


Cada dia que passa sinto menos. Hoje já um esboço de algo que um dia esperei que fossem sentimentos. Sei que chegará o dia em que não sentirei nada. A menina bonita do meu lado no ônibus não me impressiona mais tanto assim. Sei que os heróis dela não morreram de overdose. A menina linda que gosta de mim também não me seduz. Os heróis dessa aí morreram de overdose e ela adora meu tipo clichê. Mas não existe amor em mim. Prefiro amar as desconhecidas. Essas pelo menos, nunca me decepcionarão. E seguirão, magistralmente lindas, lindas.







Isso tudo claro, pro dia nascer feliz.

terça-feira, 16 de março de 2010

10 inside

Outro dia o Kreffta me disse que eu tenho 10 anos por dentro. Maneira delicada de dizer que tenho idade mental de uma criança. Eu diria que ele não está de todo errado, e explico nas linhas abaixo o porquê.

Sabem aquela criança assustada que se agarra na saia da mãe e pergunta de vai dar tudo certo? Aquela criança que tem dificuldades em dormir na véspera do natal? A criança que chora antes do primeiro dia de aula só por que gostava da professora antiga, ou porque está com preguiça, ou porque tem medo do novo, ou porque não quer ser o mais burro da sala, mas depois descobre que aquilo tudo não é nenhum bicho de sete cabeças? Essa criança ganhou altura, tem cabelinhos debaixo do umbigo e possui 32 dentes, mas ainda sou eu.

E aquela criança que se empolga com a notícia de uma festa, que pula de um lado pro outro e rola no chão, e tira uma com a cara da menina mal-humorada? Pirralho que faz questão de encarar passionalmente os assuntos racionais e racionalmente os assuntos passionais? Esse carinha já perdeu as contas de quantos professores aporrinhou, de quantos petelecos já deu na irmã, e de quantos amigos nomeou com apelidos esdrúxulos. Só sabe que essas contas, após todos esses anos, ainda não pararam de crescer.

Confesso minha baixa idade mental e levanto uma bandeira pintada com tinta guaxe, e escrevo um manifesto em prol da abolição da maturidade. À fogueira todos os precoces, os meninos-prodígio, os garotos que já aprenderam a ser jovens hipócritas, as meninas que deixaram de brincar de Barbie para se tornarem a Barbie. Abaixo a seriedade prematura, o curso de medicina, a porta do quarto trancada, o cérebro grisalho, o decote sem peitos e o ódio de ser chamado criança quando já se é um “adolescente”. Grandes bostas.

Meu autor favorito, CS Lewis, disse certa vez que a preocupação em ser (ou parecer) maduro era característica justamente de quem não o é. Concordo em gênero, número e grau. Portanto, dê-me aqui minhas Crônicas de Nárnia, prepare meu todinho e corte minhas unhas do pé, que ta na hora de sair pra facul.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Non Stopping Sensless Talk

Caraca... Já é tanto tempo sem escrever que eu já estou perdendo a mão. Acho que não escrevo para não perder a cabeça também – vocês não sabem o quanto é estressante para esse gordo hiperativo produzir um texto que não lhe agrada... ou será que sabem? Para ser mais preciso, eu classificaria meu ócio criativo como uma mistura de medo de falhar e de preguiça. Minha preguiça me preocupa bastante, sabe? Em certas ocasiões ela fica pesada de se carregar.

O Rafael Rabelo sempre me pergunta porque eu não posto mais nada no blog... O Plínio deu uma explicação interessante: talvez me falte um pouco de “domquixotismo”. Muito obrigado, senhor, mas as angústias que eu tenho já bastam, e são muito pessoais. Mas sabe que eu sou mesmo um conformado? Não me incomodo muito com o terremoto no Haiti, e nem mesmo com o do Chile, que é tão pertinho... Quero que se lasquem os impostos e os políticos e tudo o que há de podre no Brasil. Nada – externo – me provoca muito ultimamente.

Estou aqui, curtindo meu som, falando besteira, dando tapinhas nas costas. E a caneta sempre evitando bicar o papel. Sou superficial? Acho que nem tanto. Talvez minha filosofia apenas encontre dificuldades de encontrar seu nicho, muito solta para alguns e extremamente conservadora e radical para outros. Não tiro a razão de nenhuma das partes. Ou talvez eu tenha dificuldades em compartilhar meus interesses. Música e macacos. E malucos. Adoro malucos.

Seria bom se eu voltasse a assistir a algumas aulas junto com meus companheiros de jornhaw e, quem sabe, as deliciosíssimas polêmicas acenderiam em mim um pouco de engajamento e fúria, e fariam brotar de minha boca opiniões. Talvez eu devesse ler mais. Pegar outro caminho para casa. Ver um filme europeu. Ler o jornal local. Nah... ler jornal é muito chato.

Sério, gente, vocês conseguem executar essa função com destreza? Manusear um jornal para mim é algo semi-impossível. Deve ser como amamentar um bebê elefante: aquele trambolho cinza, pesado e desajeitado. As revistas sim são civilizadas, com suas páginas tão coladinhas e irremediavelmente seqüenciais. Ou talvez o problema seja minha desorganização mesmo. Provavelmente o é.

O papo ta bom, mas eu já vou nessa. Não vou revisar meu texto e nem pensar num final. Ele simplesmente acaba assim. Cala-se, vira as costas e abandona a rodinha de amigos.

80

Onde está aquele neon sob o qual andávamos, à noite, pela cidade? Não vejo mais o grande anúncio da Atari na lateral daquele prédio – lembra? – pelo qual passávamos ao ir àquela lanchonete.

Onde estão as ombreiras, os cabelos coloridos que ficavam tão bem com seu All-Star cano longo? Não ouço há tanto tempo aquela bateria com eco, o teclado brega, o baixo insistente no rádio.

Onde estão minhas luvas sem dedo, minha jaqueta vermelha, meu LP favorito... As crianças não querem mais brincar com o Falcon, e não há fila pro Pac Man. Ninguém curtindo a vida adoidado.

Onde estão os brucutus e o banho de sangue na TV; onde estão os vampiros que não brilhavam no escuro? Onde está o mau-gosto inocente da luta - livre? E o mau-gosto chique nas revistas?

Eu quero os anos 80 de volta.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Hells Bells

Trajando sua tradicional camisa xadrez, lá vem ele de novo. No ouvido, Your Hand In Mine. Explosions In The Sky. Por entre espíritos, carros e praças, praças onde a alegria fingiu existir um dia e realmente existiu alguns cafés depois. Por toda a minha vida na tela da Globo. Mas o pra sempre, sempre acaba. A angústia torpe subia pelas escadas como uma aranha atrás de uma presa. Mas resolveu descer. E deu lugar a mordidas.

Espíritos tomam conta da estrada, acidentes aleatoriamente colados numa sessão provavelmente patrocinada pelo Capiroto. Quem sabe sejam apenas coincidências vistas numa bola de cristal por olhares sombrios e mãos amareladas de Lucky Strike. Certeza das semelhanças entre o que se canta e o que se sente, até quando o que é sentido é um medo. O que era uma brincadeira colorida toma corpo e esbranquiça os cabelos de quem antes não acreditava no que havia detrás da montanha. Mas não. Frase clichê, mas realmente, nada é por acaso. O acaso não existe. Os dândis me contaram num refrão de...

Insiste, persiste. O saravá estuda e ao mesmo tempo registra as fraquezas de cada um, acontecimentos que colocam em desvantagem o mais puro dos corações. Pilotando um avião, vejo da janela um barranco, um português, uma loira e alguns papelotes perdidos no bolso de um casaco. Parece cocaína. Mas é só tristeza. Mãos suadas, coisa estranha. Sensação de impotência diante de mim mesmo num futuro não tão distante. Vendo o futuro em flashback... Vendo minhas ideologias pelo pão nosso de cada dia. O pão que o diabo amassou. Meu pai, minha filha, nossa casa. Um castelo. De destinos cruzados.

Mais uma noite em claro com as perturbações espirituais de sempre. Só um pesadelo normal, caminhões, sangue, devaneios de um rapaz latino americano que não tem a sombra de um dragão cravada no peito. Mas que quer voar nas nuvens, em busca de alguma coisa que ficou pra trás. Uma guitarra elétrica, um café solúvel, cabelos compridos ou uma saudade de tudo que agora ele vive. Letras, lados, lestes. Mas Exu, por favor... Vá pro inferno.

Aliás, não vá; Sente-se na sala, sente no peito. Ligue a TV. Desligue. Ligue de novo. Sem horas e sem dores. Num silêncio de chumbo. Acenda um cigarro e é inevitável, veja o dia passar. O ruído de alguma coisa vai te incomodar. Um sino. Um sino infernal. Nenhuma droga te sacia. Diabo, por favor... Você, o cara mais underground que eu conheço, me deixe viver meus dias mais felizes. Prometo te recompensar. Mas não com minha alma. Só se for preciso. Mas me deixe, por agora.

Acupuntura intelectual ( Anoiteceu em Goiânia )




Agulhas, Agulhas, Agulhas! Acupuntura intelecutal. Nietzsche, Pessoa, Waters, Beethoven, Cobain, Steinbeck. A necrofilia da arte. Shakespeare. Todos agulhas enfiadas ao mesmo tempo. Morri. Estou desmaiado para o mundo fedido que me cerca. Um corpo em estado vegetativo para essa sociedade comercial que me cerca. Um corpo morto no sofá com a televisão ligada enquanto passam os melhores momentos da sua vida.


Apenas o rádio tocando.


No rádio, BLM. Berberian, Lopes & Montanini.

Anoiteceu em Goiânia.

Na escuridão a luz vermelha,
De trás, pra frente.
Nas esquinas que passaram,
Nas esquinas que ( nunca? ) virão
Verde, Vermelhas.

Anoiteceu. Em Goiânia.

Na escuridão só você ouve a canção
Na esquinas que virão,
Há sempre alguém correndo.

Atrás da praça existe uma alegria,
Que na verdade nunca existiu,
Aconteceu ontem, amanhã, toda noite.


Anoiteceu. Em Goiânia.
Porto: Alegre, Velho.
[Saudade]Aconteceu a noite inteira.

Eu disse que o Goiás não iria ser rebaixado.
O Fernandão vai ser campeão do mundo.


Cabelos vermelhos, estranhos sinais.
De hoje em diante, de ontem pra frente,

Chegamos finalmente,

Um pseudo amante.
De hoje em diante, não escrevo mais.

Trazemos conosco os estragos da noite.





Acordo no meu sonho. Como sempre, diferente. A mesma esquina de outras canções.

Escrevo para a Loira.


Loira,


Era uma vez um garotinho de 13 anos que se apaixonou por uma garota de uma forma que achou ser impossível de se repetir. Conversavam sentados em um banquinho, choravam juntos quando separados. Mas havia uma cruel distância entre eles. O tempo.

Hoje o garotinho cresceu e se tornou um garotão. E o garotão ainda não esqueceu esse amor. Gosta de pensar que seu caso de amor será como nos filmes do século passado que o vento levou. Ele sabe que o amor se tornou mais um produto industrializado e que suas palavras são apenas juras banais de amor. Não sonha em ganhar na mega sena ou ser bom de bola.

Tudo que sonha é que na fila do supermercado com algumas maçãs na sacola a encontre e diga oi. Tudo que sonha é que pegue um avião, um tapete mágico, um furacão e diga Oi. Mas isso não acontece. A vida passa claro, o amor não passa jamais.

Sabe que o mundo já tem os heróis que precisa e que provavelmente essa será mais uma história. De regras gramaticais ultrapassadas e verdades nunca ditas. Contará a si mesmo por mil e uma noites uma mentira pré-fabricada anti-suicida antes de dormir.


Mas no fundo sabe que é apenas mentira. Sabe que ela é o amor da sua vida. Vive uma vida de mentiras, porque a verdade não existe. E com ela, não há vida.


Tchau, Loira.

terça-feira, 9 de março de 2010

Re-direcionar




É assim que se faz, com muita luta e dedicação, que re-direciono meus sentimentos. Re-direciono meus pensamentos, empurro para o fundo toda angústia e temor que me acompanha até hoje. Vou andar pelos campos sem me preocupar aonde vou chegar, e com quem vou estar. Não fará parte da minha vida a tristeza, que mais "motivou" meus pensamentos. Não farão parte as mentiras e preocupações com o bem estar alheio, contando que eu esteja feliz, é isso que importa. Re-direcionando as ações e reações do passado, que estavam presentes no meu dia-a-dia, fazer com que a razão do meu ser, não seja apenas a minha humilde presença no mundo, nada como a mera coincidência de re-direcionar minhas atitudes, seguidas das atitudes vizinhas. Fazer com que me vejam pelo que eu sou, pelo que fui designado a fazer. Enviaram-me a Terra com um intuito, é isso que vou fazer. Não sei se devo confiar naqueles que puseram na minha frente, não sei se foram escolhidos como eu, peço ajuda aos meus superiores que me digam qual é o melhor caminho. A partir de de agora, não será mais assim. Todos verão aonde vou chegar, sobre tudo e todos, sem medo de machucar, sem medo de morrer, sem medo de re-direcionar.

Pro dia nascer feliz




As vezes quando tudo parece triste, me dá vontade fumar. Pegar umas moedinhas e comprar um cigarro picado. Mas não, não dessa vez. Não farei isso pois isso é o que me aproxima deles. Essa tristeza travestida em sorrisos casuais/ocasionais/banais, que se vinga em um cigarro picado. Se fizer isso em pouco tempo tudo estará normal estarei.com/dor.

Acordei numa terça-feira nublada em que o frio me arrepia mais do que deveria. Acho que não é apenas mais uma questão climática. Jurei não escrever mais. Não sinto amor e não se pode fingir que sente. Apenas comentarei. Hoje Cazuza.

Gênio indiscutível esse. Não sei porque sua história sempre calou em minha alma. Algumas pessoas são simplesmente mais evoluídas. Seus níveis de percepção, captação de sentidos estão acima das outras pessoas. Logo se perdem na estrada de tijolos dourados ( que não chega em Oz ) que parte do senso comum. Essa estrada leva á overdose, aids, dez mandamentos, pink floyd, nirvana ou outra filosofia oriental comercial qualquer.

Tinham a mente tão sensível e elevada que fizeram o que fizeram. Logo, pagaram . O preço foi pago alto demais por acreditar que só se vive uma vez. Cazuza, Freddie Mercury, Pessoa e outros. Isso tudo para o meu dia nascer feliz.

Acupuntura intelecutal. Nietzsche, Pessoa, Waters, Beethoven, Cobain, Steinbeck. A necrofilia da arte. Shakespeare. Todos agulhas enfiadas ao mesmo tempo. Morri. Estou desmaiado para o mundo fedido que me cerca. Um corpo em estado vegetativo para essa sociedade comercial que me cerca. Um corpo morto no sofá com a televisão ligada enquanto passam os melhores momentos da sua vida.

Um estrangeiro, passageiro de algum trem. Que não passa por aqui, definitivamente não. O frio aperta, mas não tomo chimarrão. Já não sei se é frio ou o meu coração que bate cada vez mais devagar porque estou morto. Prefiro assim, de volta as tendências suicidas que são mais emocionantes. O abandono ao amor em suas várias questionáveis nuances. Mas o amor em si, nunca deixou e nunca deixará de ser uma tendência suicida.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Ação e Reação




Entre tantos casos, acasos são respostas. Entre tantas verdades, mentiras são para sempre. Em todo caso, tudo transmite um sentido, um lado pode ser o seu e do outro o meu. Acordo cedo hoje e me deparo com a vida curta e sem sentido, caio na mesmice do dia-a-dia e não sei a hora de parar. Ando pra lá e pra cá, sem rumo, ou hora para chegar. Tenho medo do mundo que me apunhala pelas costas, da verdade que transcorre o entardecer dos dias selvagens, que hoje me corrompe. É estranho ir adiante, e concertando as ações do passado. Tudo já passou, hoje não tenho medo de morrer, mas sei que o canto do pássaro é bonito, o bater das ondas nas praias e o verde das matas me prende nessa realidade tão vívida. Ainda quero ter o que não tenho, saber o que não sei, para que um dia eu possa cair na boca do povo, ser exemplo para tudo e todos, que o sonho de um possa ser representado, fazer com que isso, pelo menos um dia possa ser parte da minha vida.

sábado, 6 de março de 2010

O Palhaço

Meus melhores contos foram escritos no pensamento, se perderam e não têm mais graça. A lata de lixo está lá fora com alguns pedaços transcritos e com um palhaço procurando comida. Dois pedaços de pizza e ketchup. Murro no gato enquanto enforca o rato. Besta, besta. A maquiagem não sai, daqui vai trabalhar em algum sinal. Sai feliz, economizou umas oito pratas. Oito a mais de pinga para mais tarde. “Não, não fumo” ele me disse um dia. Palhaços que bebem e não fumam são grandes filhos da puta, minha avó disse um dia.

Balelas e balelas, mentiras e mentiras com temperos documentais se espalham pelo texto. Leio, leio. Fodas-se, não gostei. Vai para a lata. Uma vez vi o palhaço depois da refeição, recolher alguns pedaços dos textos, colocava no bolso. Palhaço, o cara sabe viver, ser escritor é uma merda, ser palhaço que mete as fuças no lixo é melhor, mais real. Então, então... Lá vem o filho da puta de cara pintada de novo. Remexe o lixo, pedaços de papeis no bolso e meio whopper com queijo para dentro da barriga. Cara de sorte. Grande filho da puta. Eu deveria escrever uma história com esse louco. Qualquer dia desses o sigo e escrevo tudo que eu ver que preste para uma história.

Há três dias o palhaço não vem. O filho da puta deve ter morrido. Foda, Foda. Laranja Mecânica na TV. Vá lá, Alex, vá lá!

Cinco meses, o palhaço morreu mesmo, o procurei pelos sinais e nada. E eu achando que o cara tinha sorte. Antes de ir para casa, passo na livraria, quero ler algo. Algo que me deixe tonto, entorpecido. E na prateleira está, entre os dez mais vendidos da semana, “Recortes de um palhaço louco”. Que merda é essa!? Filho da puta! Vovó tinha razão.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Sutileza inflamável

Numa manhã remota
Perdi meu controle
Feito de tinta, mancha e parênteses
(Eu, não o controle)

Menina forte essa,
Sutileza inflamável
Coloca um espanador
No 'bolso' de uma skinny

São duas da tarde
Gotas de analgésico no cereal
Vodka na garrafa de chá
Nunca é tarde

O boato rola
Por corredores amarelos-hipocrisia
Só sei ser eu
Quando estás comigo

Perdoe a pobreza de meus versos
Guardo o meu melhor pra sussurar
Baixinho, no seu ouvido
Com suas mãos entre as minhas.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Não escrevo mais.


Quando comecei a escrever para o blog, no começo fiquei meio receoso de que as pessoas fossem incapazes de entender o que licença poética significa. Por isso eu sempre quis me mudar para um pedaço de terra no meio do mato, fumar um palheiro e viver de escrever. Sem a menina linda do caixa do supermercado, sem a ruiva mágica da faculdade ou sem desgostos de desportos. Quando eu era crianca tinha mania de chamar isso de olhos poéticos. Se você tem tudo é metáfora. Da borboleta clichê de uma tatuagem nas costas de uma guria, a do jardim ou o menino cego no estádio. Acho que sempre tive os ditos olhos poéticos.

Essa mania besta de ver metáforas a torto e a direita, mesmo que me esqueçam, me julguem boçal louco e normal, sempre me rendeu incidentes, por horas por vezes inconsequentemente desagradáveis. Mas não me importo. Já disse que essa é a maldição do poeta, anunciada pelo imortal [fingir que sente. ]. Sempre tive medo que me considerassem louco em demasia. Talvez poderia ser espancado, acabar sem amigos sentado no canto do pátio rabiscando um texto num bloco de notas. É, uma pena, porque apesar de a violência ser tão fascinante não acabei espancado, mas acabei rabiscando uma baboseira sentimental num bloco de notas no canto do pátio. Talvez se fosse espancado daria algum sentido a tanto drama perdido noir. Tava andando por aí numa dessas esquinas qualquer usando meus princípios medíocres poéticos sentimentais foto jornalistas e vi uma menina com cara de tédio. Pensei em escrever uma carta pra ela. A maldição do poeta é fingir que sente mas a maldição dos contemporâneos do poeta é achar que há algum sentimento que sobre para eles.

Talvez seja um fardo mais cruel do que carregar a poesia em si. Acho que vou fazer um curso pra ser respeitado pelos mais velhos , usar roupas normais e me misturar na multidão. E um dia na fila de uma boate qualquer, poderemos encontrar alguma garota especial, sentir saudade dos velhos tempos poéticos e talvez bata uma ponta de arrependimento por termos perdido todo o espírito sentimental. Então poderemos reviver esse sentimento e nos sentirmos clichês ao nos virarmos e dizer: " Não fui eu, não foi você. Que (m) matou a poesia... que matou a poesia...".

Penso, logo escrevo.

Querida loira e linda das bandas do imortal,

Já tem algum tempo que não te escrevo, desculpe ter te visto e não ter te cumprimentado. Ontem, ruiva na faculdade, antes de ontem, morena no ônibus ou pedindo carona na beira da estrada. Bem, te escrevo com motivos ingratos. Caímas na ingratidão do narcicismo popular. Caímos na rima pobre dos carnavais sem música, caímos nesse vício besta moderno de Rotular.

Ontem a noite uns dez mil anos atrás conheci uma guria. Pensei que era diferente das outras, pensei que poderia ser uma boa amiga, para a qual se mande cartas de amor. Veja bem Loira, O amor nessa ótica moderna, apenas mais um produto que está nas prateleiras, quanto tempo tem ( ? ) eu já não sei. Mais um tema a se combinar como futebol e amigos ou mesmo, futebol e amigos. De todas pensei que ela era diferente, capaz de ler minhas metáforas hipócritas e noir. Não quero ser professor de metáforas e licença poética porque isso seria tema para umas três encarnações pra trás. Serei um cara normal que leva uma vida pequena burguesa dessa que se encaixa num enlatado social qualquer.

Infelizmente, olhos póeticos, sensações abstratas e ilusórias se fazem necessárias. Talvez em lugar algum. As mentiras da arte são tantas, são plantas artificiais. Mas se as flores de plástico não morrem... Artifícios que usamos para sermos ou parecermos mais reais. Por essas, e outras, Loira, que digo, não escrevo mais.

Ciao.

quarta-feira, 3 de março de 2010

As cartas que eu também não mando

Estava pensando desde a semana passada e por coincidência pessoas pensaram como eu: escrever cartas é uma ótima forma de dizer o que quer sem ser censurado. Pois bem... nas próximas (não sei quantas) postagens irei escrever cartas com destinatário certo e conhecido, porem nem sempre declarado. Tentarei me lembrar que disse tudo isso nas próximas postagens.
"Meu caro ex-futuro-grande amigo,
Te escrevo essa carta, que não é de amor, para poder assim lhe dizer um pouco das minhas verdades, duras palavras, para não me dizer depois que é dado a sonhos, que é um dado em minhas mãos e me perguntar até quando eu vou ficar fazendo o que quero com você, e o que mais um poeta louco, louco do que quer que seja, que conversa com putas, outros loucos, outros poetas e tantos feios, que ao se julgarem filósofos torturam-se com seus próprios devaneios, possa dizer.
Pois bem, te digo, meu ex-futuro amigo, que você foi quem estragou tudo. Descobri, sim, através de sábios informantes dessa terra louca, tão louca quanto você, que você me escrevia cartas de amor. Sim, sim... me avisaram inclusive, o conteúdo dessas cartas, tão previsíveis quanto quaisquer outras, já que se trata de amor e o amor nada mais é que um dicionário bem escrito de clichês... Essas meias-verdades repetidas de forma tão incessante que acabam tornando-se poemas decorados e repetidos nas vozes desses tantos portugueses, árabes, feios, sapos e príncipes.
O amor, meu caro, não se resume a poemas decorados e nem mesmo escritos de próprio punho, não se resume a ligações feitas de madrugada do orelhão ou do telefone de um bar que cheira a cigarro e vinho barato, a cartas escritas ou coladas ditas de amor. Por isso mesmo um dia disse que sentia falta de cartas de amor... O amor mais puro, digno e santo é o que se vive calado e não o que se grita aos quatro cantos. O amor não é noticiado, deve ser por isso que você grita. E deve ser disso que eu sentia falta: do que nem mesmo existe. Às vezes a gente se cansa tanto da vida que sente falta de não vivê-la, de ter algo que não tem, de ter algo que não é real.
Foi por isso que um dia eu busquei algo tão próximo de você. Mas ao ver o falso-amor de um poeta e o drama que ele falsamente sente, percebi como é lindo o amor e como é lindo ter amor. Descobri como a vida real pode ser gratificante. Mas não querendo perder algo que julguei já ser meu, quis te trazer à realidade, um amigo. Amigos jamais bastam, e é sempre bom ter mais um. Era só isso que eu queria, ter um amigo. Mas você não veio quando te chamei, por estar longe demais das capitais, por estar fazendo pose e por gostar tanto de andar só. Você preferiu ficar submerso em devaneios, fumando cigarros baratos e conversando com seres mágicos sob a luz de 1001 estrelas, que não quis ser meu amigo. Continuou então escrevendo falsas cartas de amor por também sentir falta de algo que não existia. Começou a sonhar com uma loira linda de óculos que não é linda, apesar de loira e que os óculos só existiam para compor um personagem.
Infelizmente, meu caro ex-futuro-amigo, eu não consegui trazer você. Infelizmente você talvez nem exista e quem esteja delirando ao lado de seres mágicos seja eu, que me ache uma princesa que já encontrou um príncipe. Ou talvez você não considere que no meu castelo não tenha lugar para mais um. Te digo que para amigos, sempre há lugar e que você pode trazer todos que viviam na montanha mágica com você. Eu, por amor a causas perdidas, sempre tenho esperança, todo mundo erra, e é normal entender tudo do jeito que quer e não do jeito que é. Por isso que as vezes dizem que é melhor sonhar que viver, que a realidade não é tão linda como a que vemos em sonhos. Mas se você quiser uma segunda chance de viver a realidade, te busco no meu navio fantasma e tomamos uma cerveja junto com um príncipe, com velhos loucos, com um português, um árabe, e algumas criaturas mitológicas que ando hospedando em minha casa.
Vamos todos juntos, porque ninguém pode faltar.
Com grande apreço,
Loira."

Ser ou não ser


Quando eu digo que é, será. Quando me dizem que não é, não foi. Falo que é, mas me dizem que não foi. Ela me diz que é. Ele me diz que não é. Todos dizem que é. Acredito que é. Ainda não tenho certeza se foi, mas compreendo que pode não ser. Ser ou não ser, isso não importa. Tanto eu como outros, podemos crer que realmente é. É estranho entender se isso realmente aconteceu. Olho pra ele e digo que é. Ele insiste e diz que não é. Por que quando olho vejo que é, e também já foi. Ser ou não ser, talvez importaria se fosse. Já que todos dizem que não é, vou confiar e aceitar que não foi. Mas um dia eu estava com ele e vi, continuo em dizer que foi, mas hoje já não estou certo do que vi, creio que eu possa estar enganado, minha consciência diz que é. Tamanha confusão me causa uma dúvida gigantesca. Ele ao menos poderia dizer a verdade, já que diz que não foi. Vou continuar sendo seu amigo, mesmo vivendo com essa dúvida. Ser ou não ser, quem sabe não foi mesmo.

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